Thursday, December 30, 2010
Wednesday, December 29, 2010
Este tempo
a delicada
exposição do verso,
mas aqui, no meio do mundo,
a respirar com os outros
e a dissipar a raiva,
como um anjo esquecido
e necessário.
O resto é aproximarmo-nos do que não faz sentido
e entender que disso exactamente
é que precisamos.
Monday, December 27, 2010
Contra a evidência das coisas, o saber dos iluminados
(João Salgueiro, no PUBLICO de hoje)
Saturday, December 25, 2010
Crisofilia
Friday, December 24, 2010
En étrange pays dans mon pays lui même (Aragon)
É o lugar onde te sentes estrangeiro
na tua própria terra.
É como se fosses
"o idiota da família":
só vês gente cheia de certezas,
ninguém se põe em questão,
nem a si nem a nada.
E depois toda esta alegria sado-masoquista com a crise
("eu bem dizia")...
E ainda falam dos pobrezinhos como se falava nos versos de João de Deus!
Lisboa, sei.
O Império Austro-Húngaro era melhor!
(Disse salamaleques? Isso a alguns franceses pode lembrar a ocupação nazi, dada a origem da palavra! Je m'excuse...)
Wednesday, December 22, 2010
Para nascer, Portugal; para morrer, todo o mundo (Vieira)
buscando grandeza "qual a sorte a não dá",
obstinados numo pertinaz desânimo,
aqui continuamos, a Ocidente do Ocidente,
a sonhar com o mundo todo na nossa mão
e ao mesmo tempo
a invejar o quintal do vizinho,
desesperadamente
Ladainha dos Póstumos Natais, David Mourão Ferreira
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito
David Mourão-Ferreira
Monday, December 20, 2010
Portugal
e mais o céu que te cobre,
serás nossa,
mãe pobre de gente pobre!"
(Carlos de Oliveira)
Monday, December 13, 2010
A Europa connosco (1891, Ultimatum) ou o utilitarismo
Salisbury found the Portuguese the least satisfactory negotiators of any he had dealt with, for, as he told Morier, when pressed in argument, "instead of arguing back, they throw themselves on their backs and scream"."
(Andrew Roberts "Salisbury: A Victorian Titan", Londres, Phoenix, 1999)
Tuesday, December 7, 2010
Varanasi 2010 : homenagem no momento
www.bbc.co.uk
At least 20 people have been injured by an explosion in the Indian holy city of Varanasi, Indian media reports say.
Sunday, December 5, 2010
Um historiador chinês do futuro olha uma borboleta
Apenas durante um pequeno período de seis séculos
conseguiram os bárbaros do Ocidente desinquietar
a harmonia do Mundo.
Deixaram-nos finalmente todo o capital, as armas e as técnicas
e vivem hoje entre as ruínas da sua inteligência,
sonhando com passados: os que existiram
e os que nunca existiram.
Nós olhamos uma borboleta
antes de construir a arma definitiva e fatal
e pensamos que o tempo da borboleta é como o nosso ciclo de vida:
um dia cabe num milénio e um milénio não é mais do que um dia.
Há que explicar isto aos indígenas da Europa:
um dia voltará a crescer alguma coisa a Ocidente
e teremos então que sabiamente estar precavidos
com a nossa arma definitiva e fatal.
Outra Despedida
a poesia não é edificante.
Se eu te amei ou te guardei rancor,
nunca o irás entender se me leres.
Os anos que passei junto de ti tornaram-me cada vez mais alheio,
mas isto nada tem que ver com o amor.
Os anos que passei junto de ti chamaram-me para bem longe de ti,
mas isto nada tem que ver com o amor.
Porque o amor é muitas vezes só
a alegria de eu não ser tu,
a alegria de tu não seres eu.
(Publicado em 2001 no meu livro "Os Dias Inventados", sob o título "Outra Despedida do Brasil". Hoje revivido noutro lugar.)
Saturday, December 4, 2010
Tuesday, November 30, 2010
Monday, November 29, 2010
Saturday, November 27, 2010
Recado pessoal
Saudades de viver
à míngua do teu corpo
-iremos esquecer
a sede nesse rosto?
Ou é porque lembramos
e não queremos dizer
que dura nestes anos
toda a luz por esconder?
(do meu livro "O Jogo de Fazer Versos", 1994)
Sunday, November 21, 2010
Mais uma vez Goa...
When Goa was Goa
my grandfather says
the bandits came
over the mountain
to our village
only to splash
in cool springs
and visit Our Lady's Chapel.
Old ladies were safe
among their bags
of rice and chillies,
unperturbed
when souls restless in purgatory
stoned roofs
to ask for prayers.
Even the snakes bit
only to break the monotony.
Eunice de Souza, in "Fix" (1979)
Thursday, November 18, 2010
Wednesday, November 17, 2010
Adeus a Goa : 1871
(Eça de Queiroz, "As Farpas", Setembro de 1871)
Tuesday, November 16, 2010
Adeus a Goa : 1888
(Moniz Barreto, in "O Reporter", 2 de Junho de 1888)
Monday, November 15, 2010
Adeus a Goa
e os que te ofenderam,
esses ficarão?
"What you lovest well remains,
the rest is dross"
(Ezra Pound)
Farewell, my dear friends!
Good bye, my dear dross!
Thursday, November 4, 2010
Autocrítica
Algo em mim se crispou e a experiência precisa de leveza; algo em mim endureceu e o pensamento precisa de equanimidade (estou com Séneca: nunca louvar nem lamentar, mas sim compreender).
O pensamento indiano pode ser agressivo, mas é ao mesmo tempo acolhedor, ricamente diversificado e heterogéneo e profundamente argumentativo, para usar a conhecida expressão de Amartya Sen. O pensamento ocidental sobre a Índia tem montes de lixo, mas encontram-se pérolas e jóias lá dentro (e autores incontornáveis).
Agora que parto, prometo a mim próprio repensar de longe a Índia, esta Índia impossível de reduzir a fórmulas e a frases, mas infinita no dom da sua experiência.
Esta Índia que é muito mais do que os milionários do crescimento dos 9% do PIB e os gurus da espiritualidade cobrada ao dólar.
Esta Índia, que tem a maior pobreza da Terra, mas que não é uma terra de mendigos.
Esta Índia que tem a maior diversidade religiosa da Humanidade, mas que constantemente trabalha, cria e inventa.
Esta Índia que construíu a mais improvável democracia do Mundo, no meio de um dos mais terríveis exemplos de "som e de fúria" da História.
Assim me ajude Ganesha!
Sunday, October 31, 2010
"Europa, sonho por vir" (Casais Monteiro)
Europa, mãe pálida,
espectro da História num eterno presente,
aprende outra vez a escutar o esplendor do mundo,
não te feches na mágoa dos ressentidos,
na amargura dos vencidos,
no niilismo que o velho Frederico temia em ti!
Às vezes ocorrem-nos poemas assim pretensiosos,
como se dizer estas coisas tivesse alguma importância.
Eu vi a luz em um país perdido,
mas eu sou dessas casas, dessas ruas,
e há muito aprendi que sou europeu!
Europa, mãe pálida,
reaprende a ser europeia!
(tem citações de Brecht, Nietzsche, Pessanha, Eugénio e Natália... e é para quem quer!)
Thursday, October 28, 2010
Nós, Portugal, o poder ser
Que jaz no abysmo sob o mar que se ergue?
Nós, Portugal, o poder ser.
Que inquietação do fundo nos soergue?
O desejar poder querer.
Isto, e o mysterio de que a noite é o fausto...
Mas subito, onde o vento ruge,
O relampago, pharol de Deus, um hausto
Brilha, e o mar scuro struge.
26-2-1934
Fernando Pessoa, "Mensagem"
Poema para o dia de hoje!
Thursday, October 21, 2010
O Cônsul Geral
Ni les attraits des plus aimables Argentines,
Ni les courses à cheval dans la pampa,
N’ont le pouvoir de distraire de son spleen
Le Consul général de France à la Plata !
On raconte tout bas l’histoire du pauvre homme:
Sa vie fut traversée d’un fatal amour,
Et il prit la funeste manie de l’opium;
Il occupait alors le poste à Singapoore...
— Il aime à galoper par nos plaines amères,
Il jalouse la vie sauvage du gaucho,
Puis il retourne vers son palais consulaire,
Et sa tristesse le drape comme un poncho...
Il ne s’aperçoit pas, je n’en suis que trop sûr,
Que Lolita Valdez le regarde en souriant,
Malgré sa tempe qui grisonne, et sa figure
Ravagée par les fièvres d’Extrême-Orient...
(Henry Jean-Marie LEVET, CARTES POSTALES, 1902)
Outras Índias...
A Rudyard Kipling
Les bureaux ferment à quatre heures à Calcutta;
Dans le park du palais s'émeut le tennis ground;
Dans Eden Garden grince la musique épicée des cipayes;
Les équipages brillants se saluent sur le Red Road...
Sur son trône d'or, étincelant de rubis et d'émeraudes,
S.A. le Maharadjah de Kapurthala
Regrette Liane de Pougy et Cléo de Mérode
Dont les photographies dédicacées sont là...
- Bénarès, accroupie, rêve le long du fleuve;
Le Brahmane, candide, lassé des épreuves,
Repose vivant dans l'abstraction parfumée...
- A Lahore, par 120 degrés Fahrenheit,
Les docteurs Grant et Perry font un match de cricket, -
Les railways rampent dans la jungle ensoleillée...
Henry J.-M. Levet.
Poète, chroniqueur au Courrier français, 1895-1896, puis à La Plume, obtient par l'intermédiaire de son père une mission en Inde, 1897. Il devient diplomate, en 1902, ayant choisi cette carrière par goût du voyage. Elle le conduit aux Philippines (secrétaire-archiviste, à Manille, en 1902), puis en Argentine, en 1906, (chargé de la Chancellerie de Las Palmas). Il meurt de phtisie à Menton âgé de 33 ans.
Le meilleur de son œuvre consiste en 11 poèmes, les Cartes postales, parues en revue en 1902 et rééditées après la mort de l'auteur par Valery Larbaud et Léon-Paul Fargue à La Maison des amis des livres en 1921, sur qui elles eurent une grande influence, ainsi que sur d’autres poètes du voyage.
Wednesday, October 20, 2010
Magistratura e poesia: para não nos levarmos demasiado a sério
Adoro levantar cedo
E ter a obrigação cumprida
dos falsos tenho medo
são o pior que há na vida
(...)
São sete e pouco da manhã
Viajo de metro para o trabalho
Fi-lo ontem, falo-ei amanhã
Só sou aquilo que valho
Os comboios já vão cheios
Muitos se levantam cedo
Nas mulheres aprecio os seios
Mas têm outro enredo
(...)
Viajam brancos e pretos
Nacionais e estrangeiros
Alguns vivem em “guetos”
Outros em lugares foleiros
(...)
Entram uns, saem outros
É o frenesim da manhã
Levam-se alguns encontrões
Levo eu, e mulher minha.
E com este verso anunciou o procurador ser tudo “quanto a quadras”
(PUBLICO de hoje)
Diplomacia e Poesia
Diplomats are like sentinels at an outpost scrutinising the desert beyond. Expecting the barbarians never to appear over the hazy horizon, they sceptically await the inevitable improbable. Meanwhile, drill replaces skill. From dawn till dusk and deep into the night beyond, on the parade grounds, they are made to practice coherence and coordination as if their career depended on it. In an attempt to strengthen morale and impart character, chanting of ‘public diplomacy’ mantras has been taken up. Numbing menial jobs – arranging ministerial junkets, tripping bleary-eyed through dilapidated factories – replace detention.
Diplomats are like watchmakers: their art is hidden inside a bland, if polished, case. Only a couple of hands, forever going round and round to no apparent purpose, betray the existence of an intelligent design. The best designer is the one who leaves no signature – just invariant perfection. Creating a masterpiece, however, is a rare opportunity.
In daily diplomatic routine one is to judge the quality of a negotiated text not by its content, but by its discards. At the end of the day, under a diplomat’s table one may find crumpled amendments, execrable points of order, and many a plain word. The box of useless qualifiers, the well of slimy compromises, lie about empty.
To survive, a diplomat needs poetry. Filed amidst the many layers of the brief, the short poem will refresh the bleary mind. Poetry brings distance – hence perspective and insight. Poetry reminds the diplomat that the best professional is the amateur.
Most deeply – poetry is truth.
(Aldo Mateucci)
Mr Aldo Matteucci graduated from the Swiss Federal Institute of Technology (ETHZ) in Agriculture, and from Berkeley in Agricultural Economics. He spent three years in East Africa doing research on land use, then in Maryland, working on rural development. In 1977 he joined the Swiss Federal Office of Economic Affairs. He was deputy director of the EUREKA Secretariat in Brussels, and from 1994 to 2000, deputy secretary general of EFTA. He obtained early retirement upon leaving EFTA.
Monday, October 18, 2010
"Un misérable tas de petits secrets" (Malraux)
que me fez esquecer o molho de segredos
trazidos do nascer.
O túnel
por este túnel escuro onde amarga
todo o mel que nos deram ao nascer.
Somos nós que cavamos fundo
na flor ou no deserto
de uma vida.
Saturday, October 16, 2010
Days of Wine and Roses
e as rosas murcharam,
o que é que mudou
do que te deixaram?
Quem te prometeu
que serias feliz?
Teu pai já morreu
e ninguém mais diz
que o vinho faria
junto com as rosas
promessa do dia
em cores vitoriosas.
Thursday, October 14, 2010
One Art
One Art
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three beloved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
-- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) a disaster.
Elizabeth Bishop
Wednesday, October 13, 2010
Obituários
(Agustina Bessa Luís, "A Muralha")
Monday, October 11, 2010
Meeting poets (Eunice de Souza)
Meeting poets I am disconcerted sometimes
by the colour of their socks
the suspicion of a wig
the wasp in the voice
and an air, sometimes, of dankness.
Best to meet in poems:
cool speckled shells
in which one hears
a sad but distant sea.
(Eunice de Souza, from "Five London Pieces")
Saturday, October 2, 2010
Nova poesia portuguesa: Margarida Vale de Gato
Há tanto tempo eu
trazia um vestido curto nós
subíamos as escadas eu
à frente sem reparar deixava
as pernas ao desamparo do teu
agrado, tínhamos bebido ao meu
futuro e era uma fuga o teu
presente um disco que me deste
reluzia em semi-círculo e a nós
excitava seriamente escapar eu
fazia vinte anos tu
relanceavas-me as pernas eu
abandonava a adolescência
nem olhara para trás tu
miravas-me as pernas de trás. Nós
subíamos ao telhado eu
trazia um vestido curto nós
estávamos tristes creio tu
fingias-te um sátiro e nós
subíamos ao alto desarmados.
O tambor do sol batia
nos olhos que a luz e o álcool e a luz
e o álcool diminuíam
e os brancos raiavam o solstício
incandescentes eu
fazia vinte anos tu
tinhas-me dado uma música eu
rodava-a na mão e o sol
girava no gume do metal eu
de vestido curto descrevia
um círculo de desejo nós
estávamos tristes creio nós
tínhamos subido e a crista
das telhas beliscava na pele
petéquias de luz e tu
ao disco do sol dançavas e eu
de olhos cegos espiava fazia calor nós
tínhamos bebido e tínhamos calor eu
já tinha vinte anos nós
éramos o grande amor.
(Margarida Vale de Gato, "Mulher ao Mar", Mariposa Azual, Lisboa, 2010)
Tuesday, September 28, 2010
La Solitude
Mas escrever em público é estranho : porque a escrita é uma actividade solitária, a que o leitor só deveria chegar no fim do percurso.
Podemos comentar a vida : e Mathew Arnold chamava à poesia "a criticism of life"... Podemos contar histórias. Podemos lançar boatos. Podemos fazer maldades.
E tudo isso pode ser escrita.
Mas a solidão faz falta. Agora faz-me falta.
Pus no Facebook (aqui não consigo copiar do YouTube) "La Solitude" do Léo Ferré.
É do que às vezes precisa a escrita.
Wednesday, September 22, 2010
Lendo Ruy Duarte de Carvalho
O Brasil é a nossa desmedida. O Agostinho da Silva tem a clássica fórmula "o brasileiro é o português à solta". Eu penso que esta imagem produzida pelo Ruy do Brasil como "fábrica do inédito" é ainda melhor e mais generalizante. Reparem o que o Brasil faz dos imigrantes de todas as etnias. E reparem na complexidade do processo de branqueamento, que está a ser agora deturpado com acções afirmativas copiadas dos americanos, não que não haja injustiças no Brasil em relação aos negros que têm de ser corrigidas, mas acontece que o Brasil não tem nada que ver com os Estados Unidos (sorry, Mr. Vianna Moog!...).
Pergunto-me : e a Índia? E Goa? E Damão e Diu, tão diferentes de Goa? E Cochim e Calicute? Em que nos vem a Índia confrontar enquanto portugueses?
É muito complicado. Areia demais para a minha camioneta? Ou inibição fatal do diplomata em posto? Só soube responder, até agora, com um livro de poemas, que, em princípio, irá sair em Maio : "Lendas da Índia". Mas talvez se sigam mais reflexões, com tempo e com distância...
Dormente é que não estou!
Tuesday, September 21, 2010
Thursday, September 16, 2010
Uma carta de Eça de Queiroz sobre a França
" Quatro quintos da França desejaram, aplaudiram a sentença. A França nunca foi, na realidade, uma exaltada da Justiça, nem mesmo uma amiga dos oprimidos. Esses sentimentos de alto humanitarismo pertenceram sempre e unicamente a uma elite que os tinha, parte por espírito jurídico, parte por um fundo inconsciente de idealismo evangélico. Não nego que, aí por 1848, essa elite conseguiu propagar o seu sentimento na larga burguesia, sensibilizada, amolecida desde 1830 pela educação romântica. Mas logo, com o Império, a França se recuperou, regressou à sua "natureza natural" e recomeçou a ser como sempre a Nação videira, formigueira, egoísta, seca, cúpida"
(carta a Domício da Gama de 26 de Setembro de 1899; a sentença referida foi a segunda condenação de Dreyfus)
Tuesday, September 14, 2010
Passeio matinal
Sunday, September 12, 2010
Friday, September 10, 2010
Intempestivas (reflexões com o jet lag)
Os europeus ante a Índia oscilam entre o fascínio e o esquecimento. Considerada ora como uma fonte de sabedoria, ora como um manancial de charlatanismo, o pensamento indiano foi ganhando contornos tanto míticos como mistificadores para a chamada consciência ocidental.
A seguir veio a promoção da imagem do novo gigante emergente, pronto para arrumar as nossas ineptas idealizações do Estado Social (Bismarck não chegou a conhecer Hayek e o próprio Adam Smith tinha umas ideias morais extravagantes!). A vida num slum de Bombaim conviria perfeitamente aos nossos trabalhadores. Mas a constatação do dinheiro que este gigante gasta a impedir os camponeses de morrerem de fome e a sustentar os luxos e consumos dos funcionários públicos, os mais inúteis e perniciosos dos seres, logo virou os entusiasmos liberais de novo para a grande e democrática China, terra das mais amplas liberdades...
E assim voltámos ao tio Mao, que já nem temos o Simon Leys para dizer que o rei vai nu!
Thursday, September 9, 2010
Fado do Amigo da Onça
Nenhum destino me espera
à beira de entristecer:
se um amigo me faz guerra,
traição o fará morrer.
Trago o soluço comigo
de um choro que jamais tive:
não era amigo o amigo,
nem sei se morre se vive!
Se mentiu ou se levou
a minha amada com ele,
largou memória, passou
por baixo do rio, aquele
que os mortos vão conhecer
quando o tempo se esconder.
Tuesday, September 7, 2010
Monday, September 6, 2010
Para encerrar o ciclo do Algarve
1
A luz mais que pura
Sobre a terra seca
2
Um homem sobre o monte desenhando
A tarde transparente das aranhas
3
A luz mais que pura
Quebra a sua lança
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Sunday, September 5, 2010
Homenagem ao Algarve e a António Ramos Rosa
(António Ramos Rosa)
Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.
António Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa"
Homenagem à Ria de Faro
Dunas atrás da casa
gafanhotos cor de
madeira cardos cor de areia
ao fim da tarde,
barcos na água rósea
onde a cidade, em frente à casa, cai
De madeira caiada a
casa está
sobre a areia, que escurece quando
a maré devagar desce na praia
Gastão Cruz
Crateras
Lisboa, Assírio & Alvim, 2000
Wednesday, September 1, 2010
Homenagem à Ria de Alvor
(à Elisabeth Enders e à Lena Abreu)
Gritam grilos na noite serrilhada, cosidos a ela
como lantejoulas
gritam grilos como as estrelas
no infinito imaginado:
a invisibilidade dos números
faz os brilhos
um gato passa no seu passo lento e fino
um gato temerário que me fita
um comboio corta a noite correndo
pelo som que faz
o romper do ar que há na sua voz
na sua voz
Velocidade é tempo e o comboio é a sua
mais perfeita imagem
- tudo o que corre ocorre no sentido inverso
à marcha do comboio
no sentido inverso à terra, ao seu relógio,
pois que a velocidade é tempo e o comboio
é dela a mais perfeita imagem
Os comboios que eu amo não sabem de onde vêm
perdem-se na noite e refocilam como portentosos sonhos
pelos campos espalham uma quimérica limalha
dispersam-na e refocilam, portentosos bisontes
pois que algo no comboio livremente o toma
como as obstinações, a febre
e porque é febre a pressa que o acirra
(Maria Andresen, "Lugares,3", Relógio d'Água, Lisboa, 2010)
Homenagem à Mexilhoeira Grande
É uma luz que desce a escada do poema e
se senta à porta, esperando que o dia entre
para dentro da estrofe.
É uma voz que se encosta ao corrimão
da palavra e sobe sílaba a sílaba até chegar
ao patamar do verso.
É o eco que nasce de um canto perdido
nos quintais do poema, e atrai os pássaros
para dentro da sua imagem.
É a mão que percorre as linhas da frase,
como se fossem as linhas da vida, e decide
em cada cesura um ponto final.
Como se a poesia nascesse do silêncio, ou
um grito a empurrasse para a vibração
de um último eco.
(Nuno Júdice, "Guia de Conceitos Básicos", D.Quixote, Lisboa, 2010)
Monday, August 30, 2010
Comigo me desavim...
Bernard Kouchner, que antes de entrar na política foi durante longos anos defensor dos direitos humanos, afirmou "não estar contente com o que aconteceu" e admite que a imagem de França foi afectada por esta política do Governo, que mereceu críticas das Nações Unidas e do Vaticano.
Kouchner considerou no entanto que a França, enquanto um dos principais países receptores de candidatos a asilo, "não tem nada de que se envergonhar".
O ministro afirmou que, de "coração apertado" com este caso, pensou na hipótese de se demitir, mas não o fez por considerar ser mais importante "tratar melhor" do assunto: "É importante continuar. Sair é desertar, é aceitar".
Questionado sobre se abordou essa hipótese de se demitir com o Presidente, Nicolas Sarkozy, o ministro respondeu: "Se não falarmos com o Presidente, falamos com quem?".
O Governo francês foi fortemente criticado pela sociedade civil, pela esquerda e pela Igreja pela sua política de desmantelamento dos acampamentos ilegais de ciganos e a expulsão de centenas de pessoas desta etnia em situação irregular para a Roménia."
(Diário de Notícias)
"Comigo me desavim
Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.
Com dor da gente fugia,
Antes que esta assi crecesse:
Agora já fugiria
De mim , se de mim pudesse.
Que meo espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?"
(Sá de Miranda)
Sunday, August 29, 2010
Wednesday, August 25, 2010
Anónimos ficam à porta (2)
Uma citação triste de Eça de Queiroz
Carta a Domício da Gama, 26 Set. 1899
EÇA DE QUEIROZ
Saturday, August 21, 2010
Thursday, August 19, 2010
Divertimento
poeta e diplomata, isso é demais!
Fica bem nas fronteiras do incrível:
Vinícius e Cabral não quero mais!
Foi você que pediu Octavio Paz?
Não sei o que ele fez nem o que faz.
Poetas são patetas com plumas
e diplomatas são coisas nenhumas.
Claudel que vá rezar avé marias
e o Perse consertar as avarias
que fez à Resistência no exílio.
Não pensem que esquecemos o Abílio
Guerra Junqueiro, toda uma ameaça:
o Rei a cair morto numa praça!
Poetas diplomatas, vão pastar!
Poetas presidentes?! Nem pensar...
E não julguem que sou qualquer reaça!
Eu sou da nobre estirpe de um talassa...
Despedidas de verão
nada esqueci, porventura nada aprendi.
Sento-me na rocha sobre a foz do rio
e digo que voltei para te reencontrar.
Escrevo à tua vista e deixo cair a sombra
negra sobre as margens do rio.
Sol negro da melancolia, sempre voltarei aqui;
nem sequer peço já para te reencontrar.
Friday, August 13, 2010
Ruy Duarte de Carvalho
Um escritor mais importante do que parece, uma personalidade complexa, mas bem grande em toda a sua acidez e lucidez.
Ruy, devo-te sabedoria. E nada te dei.
Thursday, August 12, 2010
Monday, August 9, 2010
Manuel Teixeira Gomes
O Algarve não está parado
Fica-se com boa impressão desta geração nova de autarcas (sobretudo depois de um ano na Índia a ler pela internet os nossos inefáveis jornais, que repetem "ad nauseam" o queiroziano chavão "isto é um país perdido").
Há na nossa terra gente que faz, sem precisar do coro de harpias neo-conservadoras ou neo-liberais que dominam hoje a nossa imprensa (se viesse para esta nossa praia a grande iniciativa privada, faziam disto ou uma gigantesca Quarteira ou uma inacessível Quinta do Lago).
Há autarcas activos, surgem pequenos empresários ... mas não desbloqueiam para trabalhar nem um dos 200 desempregados da freguesia inscritos no Centro de Emprego, porque tudo pára em Lisboa! Deve haver uma razão para isso : é melhor ter mais desemprego e gastar menos com as autarquias. Será?
"As monstruosidades vulgares" (Régio) que prevalecem na Costa Sul do Algarve estão aqui proibidas pelo Parque Natural da Costa Vicentina, apesar da oposição feroz da santa iniciativa privada... e do PCP!
Há sempre estranhos "compagnons de route" nesta vida...
O Algarve não é Paris...
"Minha senhora, não seja repetitiva!".
Venham-me depois dizer que os "garçons" dos restaurantes parisienses são arrogantes... os algarvios são bem superiores na arrogância! Temos a arrogância mais alta da Europa! Bravo!
(Tenho que reconhecer aqui, com humildade de algarvio, que o Norte de Portugal é diferente!)
Sunday, August 8, 2010
Um soneto ao Algarve para os meus amigos de Poço Barreto
quando a noite desiste de ser mar
e o coração da gente mais se aferra
à âncora perdida sem lugar.
Embarcação errante a tua vida,
inteira cabe nua neste mar:
que fizeste de ti, canção esquecida
sem sal nem búzios soltos a ecoar?
O erro sem discurso dos meus anos
deu-me estes versos só para partilhar
com quem viveu os mesmos desenganos
e o mesmo porto teve que deixar.
Dedico este soneto a uma terra
que em âncora se faz quando desferra...
O meu Algarve, poema (longo) de João Lúcio
Oh meu ardente Algarve impressionista e mole,
Meu lindo preguiçoso adormecido ao sol,
Meu louco sonhador a respirar quimeras,
Ouvindo, no azul, o canto das esferas
- A marcha triunfal dos mundos pelo ar. –
Para te adormecer, Deus pôs-te perto o mar,
E, para fecundar a tua fantasia,
No vasto palco azul, erguido nos espaços,
Fez mais belo para ti o drama em oiro – o Dia,
E deu, pra te abraçar, à luz, mais fortes braços.
Romântico torrão de doidas fantasias,
Namorado gentil, sensual e troveiro,
Onde o luar se orquestra em novas harmonias
E faz de neve em vez das neves de Janeiro…
Terra doirada, aonde as tardes caem mansas,
Como verga uma flor na haste delicada,
E onde os lírios são amigos das crianças
Numa amizade sã, divina, imaculada,
Algarve, onde os perfis, romanescos, dolentes,
Têm um ar de sonho e de fadiga mole,
E parecem abrir-se em curvas indolentes,
Como flores também, ao palpitar do Sol…
Campos de um verde álacre, onde zumbem as cores,
Onde transborda a seiva, alegres e felizes:
Sentem-se germinar as raízes e flores,
Na luxúria de Luz dos tropicais países.
Às tardes, cada monte eleva-se sereno,
Na fluida limpidez dos poentes de rosa,
E a paisagem tem um distender ameno
De mulher sensual, fecunda e preguiçosa.
Algarve das paixões, do amor violento,
Que fana, quando passa, as bocas, de desejos;
Aromática terra, onde a asa do vento,
Em vez de ser de ferro, é branda como os beijos…
Terra dos figueirais e das vinhas Formosas
Do luar novelesco, embriagante, albente,
Onde o Sol sensual cansa os nervos das rosas,
Numa volúpia de oiro intensa, absorvente…
Algarve do morghot, dos rostos escondidos,
Das lendas, das visões, das moiras encantadas!
Onde as línguas do Ar murmuram aos ouvidos
Com vocáb`los de sonho, as histórias de fadas…
Encantado jardim fremente de matizes,
Onde a cor dá concerto em sinfonias de oiro,
E onde, sob o solo, as ávidas raízes
Vão às vezes tocar nalgum velho tesoiro…
Costas do meu Algarve, onde é tão terno o mar,
Dum veemente azul em ritmos de veludo,
Com neblinas de prata, ao nascer do luar,
Espumantes de luz, quando o sol cobre tudo…
Costas azuis de sonho, onde os navios parecem
Lírios que vão boiando e voando serenos,
E as velas, correndo, ao longe se esmaecem
E semelham, assim, uns malmequeres pequenos…
Canta suavemente a água, sob as quilhas,
Com um vago rumor, cetinosa e azul,
As líquidas canções, as finas baladilhas
Deste mar sonhador, do meigo mar do Sul.
Como to és diferente, oh mar doce e saudoso,
Oh mar do meu Algarve, enternecido mar,
Do sinistro oceano escuro e ardiloso
Que esmaga os navios para os poder roubar!
Tu nunca, como ele, assassinaste, rindo,
Noivos a viajar, poetas, marinhagem,
Que sonham no convés, quando o luar, subindo,
Risca em prata na água o sulco da viajem…
Tu vais cantar de noite à beira dos moinhos,
Das colinas, dos cais, das praias murmurosas,
Para embalar o sono às aves nos seus ninhos
E para destruir a insónia das rosas…
Quando perto de ti as namoradas choram,
Meu belo aventureiro azul, vais consolá-las;
Por isso, lindo mar, elas tanto te adoram:
Abrem-te o coração, sempre que tu lhes falas…
Tu vais adormecer sobre o barco, cantando,
O pobre pescador cansado de remar…
Pra poderes tornar o seu mais brando;
Nem o barco, sequer, lhe fazes oscilar…
Tu vais fazer vibrar as pequeninas ilhas,
Emergindo de ti, brancas, silenciosas,
Na melodia azul das vagas e das quilhas
E das velas correndo, alvas e luminosas.
Vais fazer latejar, numa glauca harmonia,
As rochas junto a ti erguidas e soldadas,
Meu lindo mar do Sul, oh mar da Fantasia,
Da Aventura, do Amor, da Lenda e das Baladas!
Luar do meu Algarve, imaculado e fino,
Luar fluido, de neve, opalas e jasmins,
Romântico luar, transparente e divino,
Que inundas de Quimera as áleas dos jardins.
Cetinoso luar, querido dos marinheiros,
Luar sentimental do sonho e dos amores,
Que nevas com a luz a água dos ribeiros
E dos lagos azuis deitados entre flores.
Tu vais tecer, de leve, em brancas musselinas,
A baías, o mar: entulhá-los de estrelas;
Romantizas os cais, as ilhas, as colinas,
As curvas dos perfis, o voo ágil das velas.
Vais rolar, sobre a serra e nos vales floridos,
O teu alvo fulgor de mármore e de arminhos:
Tornas os corações bons e compadecidos,
Idílicos; o campo, as estradas, os ninhos…
Negrejantes pinhais vivendo à beira-mar,
Vales sorvendo luz, colinas maceradas,
Silenciosos navios ao longe a navegar
Sobre o trémulo seio das águas desmaiadas.
Toca-vos o clarão evocador da lua
E tendes logo o ar dum sonho desenhado,
Como um fluido véu por sobre vós flutua
Esse pólen da luz, que os mundos tem criado…
Oh sol, vibrante sol, do meu Algarve de oiro,
Que fazes palpitar os peitos e os jardins
No mesmo grande amor, fecundo, imorredoiro,
Que rebenta, na Vida, em olhos e jasmins:
Oh sol que pões no Céu um brilho violento
E fazes chamejar, ao longe, os horizontes;
Que pões fogo no ar e pões brasas no vento
E que vais calcinar a epiderme aos montes:
Adoro a tua luz vigorosa e sadia,
Que moldura no campo a música das cores,
Que rega, em nossa alma, os cactos da Alegria
E esculpe na semente os bustos das flores:
Cai-me sobre o olhar: banha-me em teu fulgor,
Oh sol que pões no Céu um latejante azul:
Dá-me a tua alegria e dá-me o teu vigor,
Oh sol, imortal sol, do meu país do Sul…
Manhãs do meu Algarve, auroras grandiosas,
Abrindo pelo Céu girândolas de cores,
Feitas de seda e oiro e mármores e rosas,
Acordando de manso as sonolentas flores!
V`luptuosas manhãs triunfais e supremas,
Em que o ar não tem mancha, a luz não tem algemas!
Auroras que deixais as montanhas eztáticas,
No triunfal fulgor com que ides inundá-las:
Deslumbrantes manhãs intensas e dramáticas,
Dilúvios de rubis e liquidas opalas!
Plo ar imaculado o vosso oiro palpita,
Como um pólen de luz celeste e fecundante,
Que vem tornar a terra a santa mãe bendita,
Que, sob os astros, gera a vida, a cada instante.
Oh manhãs sobre o mar, vossa frescura trago-a
Dentro do coração e na curva do olhar!
Manhãs, que pareceis incêndios sobre a água,
Quem me dera um pincel pra vos poder pintar!
Oh mar, oh sol, oh noites transparentes,
Campos a burbulhar a seiva que os invade,
Horizontes sem mancha, alvoradas ardentes,
Olhos frescos de amor ensinando a saudade,
Eu amo a vossa cor, o vosso brilho forte,
A fecunda alegria que de vós se evapora;
Detesto a palidez que cobre os céus do norte,
Onde a Cor se desbota e onde a Luz se descora.
Frio encanto polar das montanhas geladas,
Com um sinistro alvor de sepulcral luar,
Alva graça mortal das campinas nevadas,
Que a natureza fez para o cinzel imitar:
O vosso encanto é um encanto de morte,
Vossa beleza é a paralisação:
Oh arte glacial das regiões do norte
Não fazes palpitar jamais o coração!
Natureza imortal, tu que soubeste dar
Ao meu país do sul a larga fantasia,
Que ensinaste aqui as almas a sonhar
Nessa frescura sã da crença e da alegria:
Que inundaste de azul e mergulhaste em oiro
Esta suave terra heróica dos amores,
Que lançaste sobre ela o canto imorredoiro
Que vibra a sinfonia oriental das cores:
Tu que mostraste aqui mais do que em toda a parte
O intenso poder do teu génio fecundo,
Que fizeste este Céu para inspirar a Arte
E lhe deste por isso o melhor sol do mundo:
Ensina algum pintor a fixar nas telas
Este brilho, esta cor, inéditos, diversos,
E põe a mesma luz que chove das estrelas
Na pena que debuxa estes humildes versos.
Thursday, August 5, 2010
Sunday, August 1, 2010
Monday, July 26, 2010
Saturday, July 24, 2010
In my end is my beginning (T S Eliot)
The world becomes stranger, the pattern more complicated
Of dead and living. Not the intense moment
Isolated, with no before and after,
But a lifetime burning in every moment
And not the lifetime of one man only
But of old stones that cannot be deciphered.
There is a time for the evening under starlight,
A time for the evening under lamplight
(The evening with the photograph album).
Love is most nearly itself
When here and now cease to matter.
Old men ought to be explorers
Here or there does not matter
We must be still and still moving
Into another intensity
For a further union, a deeper communion
Through the dark cold and the empty desolation,
The wave cry, the wind cry, the vast waters
Of the petrel and the porpoise. In my end is my beginning.
T S Eliot , "East Coker", "Four Quartets"
Tuesday, July 20, 2010
In my end is my beginning
Com o passar do tempo, apareceu dentro dele o que poderá vir a ser um livro de poemas... mas, como em toda a poesia, a Índia será nele um pretexto, um ponto de partida para uma coisa de que uns gostam e outros não, mas que é só coisa de poesia.
"In my end is my beginning" (T.S. Eliot)
Thursday, July 15, 2010
Lendo sobre castas
Uma observação de Dipankar Gupta (autor que já aqui antes citei) fez-me pensar : ao contrário do que sustenta Louis Dumont e a sua escola, as castas inferiores não aceitam interiormente o seu baixo lugar na hierarquia como necessariamente impuro pela força do karma - e se muitos, é certo, lutam e lutaram contra o seu estatuto inferior (Ambedkar, Lohia, etc, mas podemos também pensar no budismo, no jainismo, no sikhismo, todos anti-castas), há outros de casta inferior que simplesmente denegam: consideram a sua casta, ela sim, como superior. Eles é que são superiores aos outros...
Claro que isto é diferente conforme a casta de que se trate - e é particularmente gravoso no caso dos dálits - mas não deixa de nos fazer pensar...
É que como diz Gupta, a sociedade hierárquica indiana é uma manifestação peculiar e religiosamente codificada da geral necessidade humana de hierarquia e distinção - não uma exclusiva aberração civilizacional. O que não quer dizer que não se deva lutar contra ela - do mesmo modo que lutamos contra as nossas próprias mazelas sociais.
(Reflexões de um ignorante)
PS É curioso que venha de um autor goês (Kosambi) a reflexão marxista mais interessante sobre a questão das castas, que o marxismo vulgar nunca soube analisar...
Monday, July 12, 2010
Friday, July 9, 2010
Os anos 60
confundem-se com as suaves e ariscas raparigas
que namorávamos nos bailes e cinemas mais escuros
e cada verso que lembro
é um acto de amor que ficou por praticar.
Trabalho hoje o poema sem um sorriso de mágoa,
escrevo para ti ou viro-me de costas para o mundo,
porque tudo mudou.
A memória nada é sem este puro imaginar:
transforma-se o amador no seu próprio vazio
junto da coisa amada.
Thursday, July 8, 2010
Também não deixa de ser verdade...
(do EL PAIS de hoje, ainda)
Todos com os holandeses!
Ahora bien, tampoco es muy decoroso, como recuerdan los expertos, que nuestros empresarios y políticos se cuelguen ahora la medalla de la defensa del libre mercado. España también ha sido protagonista de maniobras intervencionistas. "No podemos jugar a ser los reyes del juego limpio. España se resistió en su momento a suprimir la acción de oro, se ha retocado la legislación del mercado eléctrico...", recuerda Jordi Fabregat.
El Gobierno español derogó la acción de oro en 2005, diez años después de su entrada en vigor con la Ley de Privatizaciones. La decisión llegó tras un largo pulso con la Comisión Europea. Desde 1998 Bruselas reclamaba a nuestro país la supresión de este blindaje. El Gobierno español nunca llegó a utilizar la golden share, pero la posibilidad de hacerlo bastó para frustrar la fusión de Telefónica con KPN, donde el Estado holandés tenía el 43% de las acciones, en 2000.
Además, cuando España no ha contado con la acción de oro, se ha valido de otros instrumentos. Rodrigo Rato, ministro de Economía con el PP, vetó en mayo de 2001 la compra de Hidrocantábrico por parte de la alemana EnBW y la portuguesa EDP. Para ello recurrió a una disposición adicional de la Ley de Presupuestos de 2000, que fijaba que cuando una empresa con capital público entraba en el capital de una empresa energética española, sus derechos políticos se limitaban al 3%. En el caso de la opa de E.On sobre Endesa, el entonces ministro de Industria, el socialista José Montilla, reforzó las competencias de la Comisión Nacional de la Energía para que pudiera analizar la operación bajo el prisma de la denominada Función 14. Bruselas se pronunció en contra de esta maniobra. Otra situación de blindaje, esta aún en vigor, se da en el gestor bursátil Español, BME: toda adquisición de acciones superior al 1% del capital debe contar con el visto bueno de la Comisión Nacional de Mercado de Valores (CNMV).
Tuesday, July 6, 2010
Poema da quarta monção
de que há muito eu sei:
não tenho lugar. Se eu fosse poeta diria antes:
tenho todos os lugares do mundo!
Ou, mais simplesmente:
eu não sou eu nem outro,
eu simplesmente não sou. Eu sou tudo o que me atravessa e transforma,
tudo o que amo e tudo que
(mesmo inexplicavelmente)
de repente passo a odiar.
E esgueiro-me sempre nos desvãos
de entre ser e não ser.
Bom, está bem, não serei um verdadeiro poeta:
sou uma nostalgia sem objecto, uma saudade por aplicar,
um investimento perdido
para o mercado dos capitais poéticos.
Estou muito velho para não ter qualidades
e sou ainda novo para me imolar pelo fogo.
Deixem-me ficar por aqui
entre a chuva e a lama das estradas,
que aqui vão crescendo com a monção.
Sunday, July 4, 2010
O escritor e a perda do seu capital simbólico
Com esse comportamento vão perder o seu lugar nas elites culturais?
Têm-no perdido, ultimamente. Se os escritores se encontram numa mesa em que há um jurista, um médico, um jornalista e um professor universitário, é natural que a opinião do escritor não apareça. Não é por desconsideração, é por desconfiança de que é um lírico e não tem resposta adequada.
(entrevista de Lídia Jorge ao "DN" de hoje)
Saturday, July 3, 2010
Transformações do maoísmo
A partir do momento em que o marxismo se tornou decisivo na questão delicada das reincarnações de Buda, outras áreas de inquietação estão abertas ao pensamento comunista : a Imaculada Conceição de Maria ; a Santíssima Trindade; o regresso do profeta Ali; o local onde nasceu o deus Rama - um novo mundo de problemas para o socialismo científico!
O Partido Comunista Chinês invoca como precedente que já os imperadores Qing tiveram esse privilégio quanto às reincarnações de Buda - também os Reis de Portugal Fidelíssimo aprovavam a nomeação dos Bispos pelo Papa, pelo que os comunistas esperam legitimamente conhecer as posições do Senhor Presidente da República sobre a composição da Conferência Episcopal Portuguesa!
Friday, July 2, 2010
Miguel de Vasconcelos, Cristóvão de Moura...
Thursday, July 1, 2010
Wednesday, June 30, 2010
Carlos Queiroz
Por tudo o que me deste:
– Inquietação, cuidado,
(Um pouco de ternura? É certo, mas tão pouco!)
Noites de insónia, pelas ruas, como um louco…
– Obrigado! Obrigado!
Por aquela tão doce e tão breve ilusão.
(Embora nunca mais, depois que a vi desfeita,
Eu volte a ser quem fui), sem ironia: aceita
A minha gratidão!
Que bem me faz, agora, o mal que me fizeste!
– Mais forte, mais sereno, e livre, e descuidado…
Sem ironia, amor: – Obrigado, obrigado
Por tudo o que me deste!
Carlos Queiroz (n. Lisboa 5 Abr 1907; m. 27 Out 1949),
um excelente poeta esquecido
Memórias de um ministro dos negócios estrangeiros muito peculiar...
--Nous y mettrons, dit-il, Boukharine. Il faut opposer Lev Davidovitch à l'Europe. Qu'il prenne les Affaires étrangères...
--Que seront maintenant nos Affaires étrangères ? répliqua Lénine.
Mais, à contrecoeur, il consentit. A contrecoeur; je consentis aussi. C'est ainsi que pour un trimestre, sur l'initiative de Sverdlov, je me trouvai à la tête de la diplomatie soviétique.
Le commissariat des Affaires étrangères signifiait qu'en somme j'étais exempté d'un travail ministériel. Aux camarades qui m'offrirent leur concours, je proposai presque invariablement de chercher une carrière moins ingrate pour leurs capacités. L'un d'eux, dans la suite, rapporta assez savoureusement dans ses Mémoires l'entretien qu'il avait eu avec moi bientôt après la formation du gouvernement soviétique.
«--Que peut être, lui dis-je, comme il le raconte, notre travail diplomatique ? Je vais publier quelques proclamations révolutionnaires et je n'aurai plus qu'à fermer boutique.»
Mon interlocuteur était sincèrement chagriné de cette insuffisance du sens diplomatique en moi. Bien entendu, j'avais fait exprès d'exagérer l'expression de mon point de vue, désirant souligner que le centre de gravité ne portait pas alors sur la diplomatie.
L'essentiel du travail était, en effet, de développer la révolution d'Octobre, de l'étendre à tout le pays, de repousser l'incursion de Kérensky et du général Krasnov marchant sur Pétrograd, de combattre la contre-révolution. Nous remplîmes ces tâches en dehors des attributions. ministérielles et ma collaboration avec Lénine fut tout le temps la plus étroite et incessante.
(...)
Au cours de l'insurrection, nous avions autre chose à faire que de nous intéresser aux «radios» de l'étranger. Mais lorsque je fus commissaire du peuple aux Affaires étrangères, je dus m'occuper de savoir ce que pensait le monde capitaliste de notre coup d'Etat. Inutile de dire que les félicitations ne se faisaient entendre de nulle part. Si disposé que fût le gouvernement de Berlin à user de coquetterie à l'égard des bolcheviks, il envoya de la station de Nauen une onde hostile lorsque la station de Tsarskoïé-Sélo transmit mon communiqué relatant notre victoire sur les troupes de Kérensky. Mais si Berlin et Vienne hésitaient tout de même entre leur haine de la révolution et l'espoir d'une paix avantageuse, tous les autres pays, non seulement les belligérants, mais même les neutres, exprimaient en diverses langues les sentiments et les réflexions des classes dirigeantes que nous venions de renverser dans la vieille Russie.
Dans ce choeur, la tour Eiffel se distinguait par ses fureurs; elle se mit même à parler russe, espérant évidemment atteindre ainsi directement les consciences du peuple russe. Quand je lisais les «radios» de Paris, il me semblait parfois que Clemenceau en personne était juché au sommet de la tour. Je le connaissais assez, en sa qualité de journaliste, pour reconnaître, sinon son style, du moins son inspiration. La haine montait à s'étouffer elle-même dans ces «radios», la fureur arrivait au plus haut degré. Il semblait parfois qu'au haut de la tour un scorpion allait, de lui-même, se planter son dard dans la tête.
Nous avions à notre disposition la station de Tsarskoïé-Sélo, et nous n'avions aucune raison de nous taire. Plusieurs jours durant, je dictai des répliques aux insultes de Clemenceau. J'avais de l'histoire politique de la France des connaissances assez étendues pour donner sur les principaux personnages des renseignements peu flatteurs et rappeler certains traits de leur biographie que l'on avait oubliés depuis l'affaire de Panama. Pendant quelques journées, ce fut un duel serré entre les tours de Paris et de Tsarskoïé-Sélo: l'éther, fluide neutre entre tous, transmettait consciencieusement les arguments des deux parties. Et qu'arriva-t-il? Je ne m'attendais pas moi-même à de si rapides résultats. Paris changea brusquement de ton: il s'expliqua dans la suite avec hostilité, mais poliment. Plus tard, je me suis rappelé bien des fois avec plaisir que j'avais débuté dans la carrière diplomatique en apprenant à la tour Eiffel les bonnes manières.
(Trotsky, "Ma Vie")
Mais Paul Krugman : ortodoxias
So I don't think this is really about Greece, or indeed about any realistic appreciation of the tradeoffs between deficits and jobs. It is, instead, the victory of an orthodoxy that has little to do with rational analysis, whose main tenet is that imposing suffering on other people is how you show leadership in tough times"
(IHT, 29/6)
Tuesday, June 29, 2010
Intervalo (Portugal - Espanha)
Que ao coração acode o sangue amigo!
Que nos perigos grandes o temor
É maior muitas vezes que o perigo"
("Os Lusíadas")
Antes de começar o jogo...
horrendo, fero, ingente e temeroso;
(...)
Começa-se a travar a incerta guerra:
De ambas partes se move a primeira ala:
Uns leva a defensão da própria terra,
Outros a esperança de ganhá-la.
Logo o grande Pereira, em que se encerra
Todo o valor, primeiro se assinala:
Derriba e encontra e a terra enfim semeia
Dos que a tanto desejam, sendo alheia."
""Os Lusíadas"
(onde se lê Pereira (Nuno Álvares) leia-se Ronaldo (Cristiano)... se ele o vier a merecer!
"I think on those who were truly great" (Spender)
(Peter Clarke, "Keynes", 2009)
Saturday, June 26, 2010
Propostas poéticas para a próxima terça feira
depois de sessenta anos de lethargo,
olhava Portugal ao ceo e ao largo!
chovia-lhe o maná no seu deserto!
(...)
"Que mais querem de nós? após tamanha
galhardia d'algoz, ébrios de glória,
apagaram acaso a luz da História?
não lêm seus feitos?... Que nos quer a Hespanha?
Quer insultar a lápide funérea
Que pesa sobre nós, heroes de Ourique!...
Estremecei de horror, filhos de Henrique!...
Repercuti meu canto, echos da Iberia!"
Thomaz Ribeiro, "D.Jayme"
Estão-se a rir? Na época, este poema foi considerado superior a Camões...
Friday, June 25, 2010
Eram outros tempos, meus amigos...
A Europa curvou-se ante o Brasil
7 a 2
3 a 1
A injustiça de Cette
4 a 0
2 a 1
2 a 0
3 a 1
E meia dúzia na cabeça dos portugueses
(Oswald de Andrade, "Pau Brasil", 1925 - já eram assim!)
Cette é Sète, cidade francesa, cantada por Valéry e Brassens, onde pelos vistos a turma brasileira de 1925 não conseguiu ganhar...
Ainda o caso Mathis
É o que se chama "fair play"...
Thursday, June 24, 2010
À la mère du petit Mathis (adapté de Victor Hugo)
Monsieur qu'on nomme grand, c'est son nom au vitriol.
Est métèque et même prince; il aime les palais;
Il lui convient d'avoir des victoires, des valets,
Des joueurs pour son jeu, sa table, sa télé,
Ses sports; par la même occasion, il sauve
La famille, l'entreprise et la société;
Il veut avoir la Coupe, pleine de roses l'été,
Que viendront l'adorer les préfets et les maires;
C'est pour cela qu'il faut que toutes les bonnes mères
De leurs pauvres doigts gris que fait trembler le temps
Décousent les chemises des portugais de cinq ans...
(Adapté librement de Victor Hugo, "Les Châtiments", "Souvenir de la Nuit du 4")
(ver "Carta ao Mathis" no blog duas-ou-tres.blogspot.com/)
Tuesday, June 22, 2010
No sétimo céu
"PORTUGAL IN THE SEVENTH HEAVEN!"
Sunday, June 20, 2010
Private joke...mas é sempre bom reler Eça!
Ao nababo que nos agita diante da face uma bolsa cheia de ouro, dizendo : - "Pobretões! eu cá sou rico!" Responde-se tranquilamente : -"Talvez, mas és grosseiro!"
Ao mata-sete que nos mostra os seus pulsos de Sansão e nos grite: - "Fracalhões, eu cá sou forte"! Replica-se friamente: - "Talvez, mas és brutal!"
E ao sabichão que com quatro volumes debaixo de cada braço nos venha dizer de alto : - "Ignorantes! eu cá sou sábio!"! Responde-se serenamente - "Talvez, mas és pedante!"
E este tom meu caro Chagas, é indispensável. Se não, os ricaços, os valentes e os sabichões, coligados entre si, tornariam bem cedo a sociedade inabitável"
Eça de Queirós, "Carta Aberta a Pinheiro Chagas"
Saturday, June 19, 2010
Paul Krugman : o bom senso parece maior daquele lado!
There will, of course, be a price for this posturing. Only part of that price will fall on Germany: German austerity will worsen the crisis in the euro area, making it that much harder for Spain and other troubled economies to recover. Europe’s troubles are also leading to a weak euro, which perversely helps German manufacturing, but also exports the consequences of German austerity to the rest of the world, including the United States.
But German politicians seem determined to prove their strength by imposing suffering — and politicians around the world are following their lead.
How bad will it be? Will it really be 1937 all over again? I don’t know. What I do know is that economic policy around the world has taken a major wrong turn, and that the odds of a prolonged slump are rising by the day.
(in New York Times 17/6)
Do "Público" de hoje, aliás um bom artigo sobre a Índia
E porque não andaremos nós vestidos de campinos e minhotas pelo Chiado? Não seria de estarmos nós também angustiados? Veja as fotografias de Lisboa em 1900 e pense se gostava de viver assim...
Friday, June 18, 2010
José Saramago
(José Saramago, "Caim", 2009, final)
Thursday, June 17, 2010
Novas candidaturas
Ruy Belo
Nem palavras nem coisas tenho para o teu altar
e é hoje a tua festa, agora é que me lembra, ó Senhora da Assunção.
Estás muito bonita; estiveram aos teus pés alguns momentos
brilhantes de fervor as presidentes de importantes movimentos.
Mas tens a fronte fria e dois olhos brilhantes.
Estava distraído. Não te sentes feliz
se o povo reza livremente o terço no país
e são muito cristãos os nossos governantes?
(...)
de "Boca Bilingue" (1966)
Wednesday, June 16, 2010
Comentários
Tuesday, June 15, 2010
Poema com endereço
nos que assumiram esse risco na beira das suas vidas
e por isso foram fuzilados, estripados ou gazeados;
e penso nos que fazem dessa ambiguidade o seu negócio,
ou lisonjeando as suas diversas pátrias
ou insultando-as a todas, para nosso absorto desvelo!
Penso nos que não têm verdadeira pátria:
nos que arriscaram a vida e foram carne para canhão,
alvo de fogueiras e campos de concentração;
e penso nos que fizeram desse estado o seu modo de vida,
com raiva e ressabiamento avulsos
para nos cobrar.
Penso nos que lutaram como homens
e penso nos que rabiaram como bebés.
Monday, June 14, 2010
Jacques Brel
Les flamandes
by Jacques Brel
Les Flamandes dansent sans rien dire
Sans rien dire aux dimanches sonnants
Les Flamandes dansent sans rien dire
Les Flamandes ça n'est pas causant
Si elles dansent, c'est parce qu'elles ont vingt ans
Et qu'à vingt ans il faut se fiancer
Se fiancer pour pouvoir se marier
Et se marier pour avoir des enfants
C'est ce que leur ont dit leurs parents
Le bedeau et même son Eminence
L'Archiprêtre qui prêche au couvent
Et c'est pour ça et c'est pour ça qu'elles dansent
Les Flamandes
Les Flamandes
Les Fla - Les Fla - Les Flamandes
Les Flamandes dansent sans frémir
Sans frémir aux dimanches sonnants
Les Flamandes dansent sans frémir
Les Flamandes ça n'est pas frémissant
Si elles dansent, c'est parce qu'elles ont trente ans
Et qu'à trente ans il est bon de montrer
Que tout va bien, que poussent les enfants
Et le houblon et le blé dans le pré
Elles font la fierté de leurs parents
Et du bedeau et de son Eminence
L'Archiprêtre qui prêche au couvent
Et c'est pour ça et c'est pour ça qu'elles dansent
Les Flamandes
Les Flamandes
Les Fla - Les Fla - Les Flamandes
Les Flamandes dansent sans sourire
Sans sourire aux dimanches sonnants
Les Flamandes dansent sans sourire
Les Flamandes ça n'est pas souriant
Si elles dansent, c'est qu'elles ont septante ans
Qu'à septante ans il est bon de montrer
Que tout va bien, que poussent les p'tits-enfants
Et le houblon et le blé dans le pré
Toutes vêtues de noir comme leurs parents
Comme le bedeau et comme son Eminence
L'Archiprêtre qui radote au couvent
Elles héritent et c'est pour ça qu'elles dansent
Les Flamandes
Les Flamandes
Les Fla - Les Fla - Les Flamandes
Les Flamandes dansent sans mollir
Sans mollir aux dimanches sonnants
Les Flamandes dansent sans mollir
Les Flamandes ça n'est pas mollissant
Si elles dansent, c'est parce qu'elles ont "chent" ans
Et qu'à "chent" ans il est bon de montrer
Que tout va bien, qu'on a toujours bon pied
Et bon houblon et bon blé dans le pré
Elles s'en vont retrouver leurs parents
Et le bedeau et même Son Eminence
L'Archiprêtre qui radote au couvent
Et c'est pour ça qu'une dernière fois elles dansent
Les Flamandes
Les Flamandes
Les Fla - Les Fla -Les Flamandes.
JACQUES BREL
Sunday, June 13, 2010
Onde é que eu já vi este filme?
Cai Fang, director do Instituto da População e da Economia do Trabalho na Academia de Ciências Sociais, afirmou ao China Daily que os custos laborais irão continuar a subir. Wang Min, director do instituto de segurança social e recursos humanos de Shenzhen, disse que o governo pretende que as empresas apostem mais em tecnologias e que, se estas não conseguirem "adaptar-se ao desenvolvimento da cidade, terão de ir para outro local".
À medida que os custos laborais das regiões forem aumentando, há a hipótese de as empresas deslocalizarem algumas das suas fábricas para outros territórios, de modo a manter os baixos custos de produção.
Para Li Xiaogang, director do Centro de Investigação de Investimento Estrangeiro da Academia de Ciências Sociais de Xangai, "na teoria, a subida dos salários poderá fazer com que haja um movimento de deslocalização" da China para outros países vizinhos, como o Vietname, onde os custos de mão-de-obra são mais baratos
(do PÚBLICO de sábado)
A monção em Goa
E olho o mar turbado da monção
com a distância infinda do meu não
e o corpo já entregue à nua, plana
certeza de viver fora de mim.
Faço do que vivi matéria chã:
pois respiro escondido de manhã
para certo ficar bem do meu fim.
Duram mais as estrelas na monção?
Quem sabe do inferno ou paraíso
mais do que cabe num mortal juízo?
Olho a chuva pesada da monção:
e por breve que seja a minha vida,
foi meu destino vir dizer que não,
recusar as mentiras consentidas.
Saturday, June 12, 2010
À nossa Selecção!
A esfera desce
do espaço
veloz
ele a apara
no peito
e a pára
no ar
depois
com o joelho
a dispõe a meia altura
onde
iluminada
a esfera
espera
o chute que
num relâmpago
a dispara
na direção
do nosso
coração.
Ferreira Gullar
Friday, June 11, 2010
A era de Kali e a actualidade
"As the age of Kali ends
all will be demons, who
in the shape of human beings,
eat other men, not in the flesh,
but by devouring their money"
Thursday, June 10, 2010
Dia de Portugal
(Eça de Queirós, "Brasil e Portugal", artigo publicado em resposta a Pinheiro Chagas)
Dia de Portugal
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
(de Vinicius de Moraes, "Pátria Minha")
Dia de Camões : a nós, Portugueses
De prémio vil, mas alto e quase eterno"
(Lusíadas, I, 10)
Tuesday, June 8, 2010
Em Aveiro gostam desta poesia...
Como brinde aos admiradores da coisa, aqui está o poema fundador da instituição (agradecemos ao blog "Conspiração às sete", aonde o fomos buscar):
Escrito por Mário Beirão, surgiu pela primeira vez em 1937 na Revista da Mocidade, com esta letra:
"Cale-se a voz que, turbada,
Já de si mesma se espanta;
Cesse dos ventos a insânia;
Ante a clara madrugada,
Em nossas almas nascida:
E, por nós, oh Lusitânia,
-Corpo de Amor, terra santa
Pátria! serás celebrada;
E por nós serás erguida,
Erguida ao alto da Vida l
- Nau de Epopeia, a varar,
Ao longe, na praia absorta,
De novo, faze-te ao Mar!
Acesa de ébria alegria,
Soberba de Galhardia,
De novo, faze-te ao Mar,
Que o teu rumo é o verdadeiro!
Se a Morte espreita, - que importa?
«Morrer é partir primeiro»,
Como Camões anuncia !
Querer é a nossa divisa;
Querer, - palavra que vem
Das mais profundas raízes:
Deslumbra a sombra indecisa,
Transcende as nuvens de além
Querer, - palavra da Graça,
Grito das almas felizes!
Querer! Querer! E lá vamos!
- Tronco em flor, estende os ramos
À Mocidade que passa!
Lá vamos, cantando e rindo,
Levados, levados, sim,
Pela voz de som tremendo
Das tubas,- clangor sem fim . . .
Lá vamos, (que o sonho é lindo!)
Torres e torres erguendo,
Rasgões, clareiras abrindo!
-Alva da Luz imortal,
Roxas névoas despedaça,
Doira o céu de Portugal!
Querer! Querer! E lá vamos!
- Tronco em flor, estende os ramos
À Mocidade que passa!"
Crida em 1936, a Mocidade Portuguesa tinha por objectivo "estimular o desenvolvimento integral da sua capacidade física, a formação do carácter e a devoção à Pátria, no sentimento da ordem, no gosto da disciplina, no culto dos deveres morais, cívicos e militares". Objectivo, aliás, muito ao gosto das organizações fascistas da época.
Sunday, June 6, 2010
Cabo de Rama, Goa, Março de 2010
Um poema de Eunice de Souza
Saturday, June 5, 2010
Um poema de Yehuda Amichai
You mustn't show weakness and you've got to have a tan. But sometimes I feel like the thin veils of Jewish women who faint at weddings and on Yom Kippur. You mustn't show weakness and you've got to make a list of all the things you can load in a baby carriage without a baby. This is the way things stand now: if I pull out the stopper after pampering myself in the bath, I'm afraid that all of Jerusalem, and with it the whole world, will drain out into the huge darkness. In the daytime I lay traps for my memories and at night I work in the Balaam Mills, turning curse into blessing and blessing into curse. And don't ever show weakness. Sometimes I come crashing down inside myself without anyone noticing. I'm like an ambulance on two legs, hauling the patient inside me to Last Aid with the wailing of cry of a siren, and people think it's ordinary speech. Translated by Chana Bloch and Stephen Mitchell Yehuda Amichai |
Um poema de Mahmoud Darwish
In Jerusalem | ||
by Mahmoud Darwish Translated by Fady Joudah | ||
In Jerusalem, and I mean within the ancient walls, | ||