Com a monção chegou este sentimento
de que há muito eu sei:
não tenho lugar. Se eu fosse poeta diria antes:
tenho todos os lugares do mundo!
Ou, mais simplesmente:
eu não sou eu nem outro,
eu simplesmente não sou. Eu sou tudo o que me atravessa e transforma,
tudo o que amo e tudo que
(mesmo inexplicavelmente)
de repente passo a odiar.
E esgueiro-me sempre nos desvãos
de entre ser e não ser.
Bom, está bem, não serei um verdadeiro poeta:
sou uma nostalgia sem objecto, uma saudade por aplicar,
um investimento perdido
para o mercado dos capitais poéticos.
Estou muito velho para não ter qualidades
e sou ainda novo para me imolar pelo fogo.
Deixem-me ficar por aqui
entre a chuva e a lama das estradas,
que aqui vão crescendo com a monção.
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