Wednesday, June 29, 2011

A referência do post anterior

Waiting for the Barbarians

by Konstantinos (Costantinos) Kavafis


What are we waiting for, assembled in the forum?

The barbarians are to arrive today.

Why such inaction in the Senate?
Why do the Senators sit and pass no laws?

Because the barbarians are to arrive today.
What laws can the Senators pass any more?
When the barbarians come they will make the laws.

Why did our emperor wake up so early,
and sits at the greatest gate of the city,
on the throne, solemn, wearing the crown?

Because the barbarians are to arrive today.
And the emperor waits to receive
their chief. Indeed he has prepared
to give him a scroll. Therein he inscribed
many titles and names of honor.

Why have our two consuls and the praetors come out
today in their red, embroidered togas;
why do they wear amethyst-studded bracelets,
and rings with brilliant, glittering emeralds;
why are they carrying costly canes today,
wonderfully carved with silver and gold?

Because the barbarians are to arrive today,
and such things dazzle the barbarians.

Why don't the worthy orators come as always
to make their speeches, to have their say?

Because the barbarians are to arrive today;
and they get bored with eloquence and orations.

Why all of a sudden this unrest
and confusion. (How solemn the faces have become).
Why are the streets and squares clearing quickly,
and all return to their homes, so deep in thought?

Because night is here but the barbarians have not come.
And some people arrived from the borders,
and said that there are no longer any barbarians.

And now what shall become of us without any barbarians?
Those people were some kind of solution.

(1908 - Konstantinos Kavafis)

Os bárbaros


Afinal os bárbaros chegaram à cidade, meu caro Kavafis!
Recebemo-os com a mesma alegria com que os parisienses
viram Hitler descer os Campos Elíseos.
O meu caro poeta não chegou a conhecer esses tempos,
foi pena.

O convívio com os bárbaros é doce e polido:
Abetz também convivia com os melhores escritores franceses
e Arno Breker era profundamente admirado por Cocteau.
Tudo tem paralelos na História, meu caro Balthazar
(não foi assim que lhe chamou o Durrell?), mesmo que estes que agora faço
o possam chocar e escandalizar. Coisas de poesia, deixe lá.

Deste que não lhe chega às solas dos sapatos e respeitosamente se assina

Rómulo Augusto

Rmulus Augustus (fl. 461/463 – after 476, before 488), was the last Western Roman Emperor, reigning from 31 October 475 until 4 September 476. His deposition by Odoacer traditionally marks the end of the Western Roman Empire, the fall of ancient Rome, and the beginning of the Middle Ages in Western Europe.

(Wikipedia)


Monday, June 27, 2011

Ensaio sobre o quotidiano


O quotidiano não cega:
nós é que estamos distraídos.
Não pensamos, ouvimos falar na televisão
pessoas que pensam que estão a pensar
e assim ganham a sua vida.
Dói-nos a vida, mas dizem-nos que merecemos,
porque pensámos em viver do mesmo modo
que as pessoas que pensavam que estavam a pensar
e falavam na televisão.
Agora as pessoas que pensam que estão a pensar
e ganham a vida na televisão
dizem-nos que perdemos a nossa
e é bem feito
e ainda devia doer mais!

O quotidiano não cega : nós
é que estamos distraídos.


Sunday, June 26, 2011

Os ciclistas nus


"O homem que pedala
ped'alma"

(Alexandre O'Neill)


Porquê ter esperado dez anos?


Sabe esperar, aguarda que la marea fluya
- así en la costa un barco - sin que el partir te inquiete.
Todo el que aguarda sabe que la victoria es suya;
porque la vida es larga y el arte es un juguete.
Y si la vida es corta
y no llega la mar a tu galera,
aguarda sin partir y siempre espera,
que el arte es largo y, además, no importa.


ANTONIO MACHADO

2050


Em 2050

Quando um mundo se desfaz não sabemos de quem foi a culpa,
porque os culpados são sempre os vencidos.
Certamente seremos nós os culpados
e assim o escreverá a Academia de Pequim.
Mas haverá um historiador dissidente,
da Universidade de Xangai,
que apresentará uma visão inovadora e contra a corrente
das causas do desastre europeu.
Assim espero.


Friday, June 24, 2011

Outra observação

A poesia tem que ver, sim, com a economia real e com o mundo da produção, enquanto trabalho sobre as palavras e alargamento das possibilidades da linguagem. A poesia é do mundo do trabalho, não é do mundo dos casinos...

Observação

A poesia tem que ver com os mercados financeiros, sim : ambos pertencem ao mundo da fantasia. Ambos lidam com a capacidade humana de criar ilusões e viver como se elas fossem realidade.

Nada que o Rudolf Hilferding não tivesse visto... Quem é o Rudolf Hilferding? Esquece...

Thursday, June 23, 2011

Balanço e contas

Para acabar o dia
o poema perfila-se, como um auditor de contas,
e obriga-nos a olhar o (pouco) que hoje fomos.


Nada representamos. Não damos lucro.
Os mercados ignoram a poesia
e os editores toleram-nos por enquanto,
como um luxo secreto ou fantasia.


Mas que fomos nós hoje, na verdade?
Que vimos, que experiências transformámos
em dura consciência, que coisas do dia a dia
convertemos no ouro puro da poesia?


(Nenhum deus nos poderá salvar, é certo,
mas, por enquanto,
ninguém nos liga nos mercados ...).

Cultura clássica


Dos gregos que mal geriam
sua dívida aos cretenses
memórias não se desfiam,
nem contaram os pertences!

A História conta outra coisa
que a ninguém preocupava:
e a quem quer partir a loiça,
é tarde para o golpe de asa!

Tuesday, June 21, 2011

"L'Europe, ce cap de l'Asie" (Valéry)


Porque cai a Europa do touro ferido,
agora que Zeus não tem força para andar?
Os Persas triunfaram dos livros antigos,
mas perde o marinheiro toda a graça do mar.

Vai Ulisses buscá-la ou será Marco Polo?
Dinamene sabia, mas o barco afundou.
Os chineses escrevem a lei nos seus rolos
que Fernão Mendes Pinto há muito nos contou.

Nós os descobridores assistimos ao caos.
O ocidente calou-se e no horizonte sai
o sol do Oriente, o sol dos dias maus,
o sol que não aquece quem entende que cai.

Sunday, June 19, 2011

Jornal da noite

Já a cinza em chuva figurada
me veio encher o verso e a nostalgia
de olhar pelas janelas desta casa
e abarcar ainda menos nossa vida.


O tempo fez de chumbo a cinza fria.
Mas a esperança estará nalgum lugar.
As notícias não dão margens de alegria,
mas a vida resiste sem pensar.


Olhemo-nos por dentro na certeza
que teu olhar vai perto da beleza.

Depois de um concerto na Salle Pleyel


A música faltou-me:
e de repente ela volta e senta-se ao pé de mim,
como se fosse uma pessoa de família;
e é como se eu voltasse aos meus dezasseis anos, aos discos de vinil
que comprava com meu pai
e de que lia com muita atenção as capas
antes de os pôr a tocar no (chamava-se assim) "pick-up" da nossa casa.

É tudo mais difícil com a poesia.

Salle Pleyel, 18/6 : Haitink dirigindo a 4ª Sinfonia de Bruckner


POBRE BRÜCKNER

Monumental, informe, derivante,

repetitivo e não sabia música,

discípulo de Wagner...-pois sim.

Mas todo o estrondo à volta de singelos

temas ingénuos mal desenvolvidos

(se à maneira de um outro, é claro) pela orquestra

que vai massiça em pompa de incessantes ritmos

à conquista de ser-se esta paisagem

de som em panoramas de severa altura:

às botas lhe assobiem. Que ainda ecoa

de uma amplidão de humanidade dentro

como a que existe no silêncio de alma

ao ver-se quanto em espaço de vazio

o amor humano se conhece e perde

por um divino que em si mesmo está

sonhando-se de vida e sobrehumana paz.


JORGE DE SENA, "Arte de Música"

Saturday, June 18, 2011

You are the top

Paráfrases à volta do Círculo de Giz Caucasiano


Qualquer poema abre um círculo
à sua volta.
Podemos ser-lhe indiferentes:
estamos então para além do círculo.
Ou pode o poema, de algum modo
(até por irritação),
chamar por nós.
Neste caso, enredamo-nos no círculo:
saltar ou não?
Passar para dentro do poema,
ficar de lado
ou entrar nesse lugar feito de coisa nenhuma
de onde vêm todos os poemas?

A poesia e a política

Este blog não faz comentários políticos, a não ser através de poemas.

O poema de Byron (uma espécie de Bernard Henri Lévy da época, com a diferença de ter talento), reproduzido no post anterior, denuncia a conivência dos poderes do tempo com a opressão otomana sobre os gregos.

Historicamente, pode não ser bem assim (e os gregos acabaram por ser independentes, sob a tutela e nas condições que as grandes potências quiseram). Mas o paralelismo histórico é irresistível.

E Byron um grande poeta.

Friday, June 17, 2011

À Grécia

"THE ISLES OF GREECE" BY LORD BYRON

THE isles of Greece! the isles of Greece!
Where burning Sappho loved and sung,
Where grew the arts of war and peace,---
Where Delos rose and Phoebus sprung!
Eternal summer gilds them yet,
But all, except their sun, is set.

The Scian and the Teian muse,
The hero's harp, the lover's lute,
Have found the fame your shores refuse;
Their place of birth alone is mute
To sounds which echo further west
Than your sires' "Islands of the Blest."

The mountains look on Marathon---
And Marathon looks on the sea;
And musing there an hour alone,
I dream'd that Greece might yet be free
For, standing on the Persians' grave,
I could not deem myself a slave.

A king sat on the rocky brow
Which looks on sea-born Salamis;
And ships, by thousands, lay below,
And men in nations;---all were his!
He counted them at break of day---
And when the sun set, where were they?

And where are they? and where art thou,
My country? On thy voiceless shore
The heroic lay is tuneless now---
The heroic bosom beats no more!
And must thy lyre, so long divine,
Degenerate into hands like mine?

'Tis something, in the dearth of fame,
Though link'd among a fetter'd race,
To feel at least a patriot's shame,
Even as I sing, suffuse my face;
For what is left the poet here?
For Greeks a blush---for Greece a tear.

Must we but weep o'er days more blest?
Must we but blush?---Our fathers bled.
Earth! render back from out thy breast
A remnant of our Spartan dead!
Of the three hundred grant but three,
To make a new Thermopylae.

What, silent still, and silent all?
Ah! no; the voices of the dead
Sound like a distant torrent's fall,
And answer, "Let one living head,
But one arise,---we come, we come!"
'Tis but the living who are dumb.

In vain---in vain: strike other chords;
Fill high the cup of Samian wine!
Leave battles to the Turkish hordes,
And shed the blood of Scio's vine!
Hark! rising to the ignoble call---
How answers each bold bacchanal!

You have the Pyrrhic dance as yet,
Where is the Pyrrhic phalanx gone?
Of two such lessons, why forget
The nobler and the manlier one?
You have the letters Cadmus gave---
Think ye he meant them for a slave?

Fill high the bowl with Samian wine!
We will not think of themes like these!
It made Anacreon's song divine;
He served---but served Polycrates---
A tyrant; but our masters then
Were still, at least, our countrymen.

The tyrant of the Chersonese
Was freedom's best and bravest friend;
That tyrant was Miltiades!
Oh! that the present hour would lend
Another despot of the kind!
Such chains as his were sure to bind.

Fill high the bowl with Samian wine!
On Suli's rock, and Parga's shore,
Exists the remnant of a line
Such as the Doric mothers bore;
And there, perhaps, some seed is sown,
The Heracleidan blood might own.

Trust not for freedom to the Franks---
They have a king who buys and sells:
In native swords and native ranks,
The only hope of courage dwells:
But Turkish force and Latin fraud
Would break your shield, however broad.

Fill high the bowl with Samian wine!
Our virgins dance beneath the shade---
I see their glorious black eyes shine;
But, gazing on each glowing maid,
My own the burning tear-drop laves,
To think such breasts must suckle slaves.

Place me on Sunium's marble steep---
Where nothing, save the waves and I,
May hear our mutual murmurs sweep:
There, swan-like, let me sing and die;
A land of slaves shall ne'er be mine---
Dash down yon cup of Samian wine!

Wednesday, June 15, 2011

A minha alma está parva, como dizia a minha avó

Director-adjunto do CEJ considera que nota 10 para quem copiou foi a melhor solução

15.06.2011 - 18:49 Por Lusa

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Luís Eloy, director-adjunto do Centro de Estudos Judiciários (CEJ), defendeu esta quarta-feira que a atribuição de nota positiva (10) aos futuros magistrados que copiaram num teste de Investigação Criminal e Gestão de Inquérito (ICGI) foi a melhor opção face às alternativas.

O blogger cortou o texto
escandalizado!

Tuesday, June 14, 2011

Boletim clínico de hoje

Common Cold


Go hang yourself, you old M.D.!
You shall not sneer at me.
Pick up your hat and stethoscope,
Go wash your mouth with laundry soap;
I contemplate a joy exquisite
I'm not paying you for your visit.
I did not call you to be told
My malady is a common cold.

By pounding brow and swollen lip;
By fever's hot and scaly grip;
By those two red redundant eyes
That weep like woeful April skies;
By racking snuffle, snort, and sniff;
By handkerchief after handkerchief;
This cold you wave away as naught
Is the damnedest cold man ever caught!

Give ear, you scientific fossil!
Here is the genuine Cold Colossal;
The Cold of which researchers dream,
The Perfect Cold, the Cold Supreme.
This honored system humbly holds
The Super-cold to end all colds;
The Cold Crusading for Democracy;
The Führer of the Streptococcracy.

Bacilli swarm within my portals
Such as were ne'er conceived by mortals,
But bred by scientists wise and hoary
In some Olympic laboratory;
Bacteria as large as mice,
With feet of fire and heads of ice
Who never interrupt for slumber
Their stamping elephantine rumba.

A common cold, gadzooks, forsooth!
Ah, yes. And Lincoln was jostled by Booth;
Don Juan was a budding gallant,
And Shakespeare's plays show signs of talent;
The Arctic winter is fairly coolish,
And your diagnosis is fairly foolish.
Oh what a derision history holds
For the man who belittled the Cold of Colds!



Ogden Nash

Monday, June 13, 2011

Autocrítica


Aqui tens o teu blogue.
Mas que fazes tu com ele?
Dás-lhe sentido que sobre
ou ficas só com a pele

das coisas abandonadas,
do que ninguém vai cuidar,
esperando madrugadas
de que possamos falar?

Aqui tens a tua voz.
Somos inteiros e sós.

Sunday, June 12, 2011

In memoriam poema de Fernando Echevarria


Um grande poeta, um grande poema.

O meu boletim clínico de hoje


Poema aos homens constipados

Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

António Lobo Antunes

Dez de Junho em Paris


DEZ DE JUNHO EM PARIS

(quadras a Santo António)

Trouxe versos de Lisboa.
Mas Lisboa veio comigo,
seu edil à nossa proa,
trazendo o fado consigo.

No Teatro da Cidade
Paris perdeu a medida
e cantou a felicidade
como se fosse da vida.

Não é, sabemo-lo bem.
Mas no canto até parece.
Acorda então o vai-vem
da paixão que se conhece.

Paris qui bat la mesure,
Paris qui mesure notre émoi
canta agora nossa pura
canção trazida de lá.

Tudo merece um poema
e o fado por certo mil:
sigamos pois este lema
com alegria infantil.


Nova poesia portuguesa : Renata Correia Botelho


A Seta

para o meu pai

o tempo, espelho tosco com que
fintamos a morte, apontado para nós
como a lança do arqueiro;

hesita, por um instante apenas,
para depois avançar, implacável,
e sem retorno, na nossa direcção.

mas a feroz verdade da seta
(a um brevíssimo suspiro do embate)
é aplacada pela memória,

um libertador bater de asas
que nos recolhe das águas
quando a tempestade nos arrasta.

(Renata Correia Botelho, in "Small Song", Lisboa, Averno)

Ainda o momento mágico no Théâtre de la Ville, 10 de Junho

Marketing : numa livraria perto de si

Os meus feriados de Junho

UM POEMA DE ÁLVARO DE CAMPOS

Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.
.
Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.
.
Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.
.
(de Poemas/Álvaro de Campos)

Saturday, June 11, 2011

Imagens actuais

Só a beleza salva


Excelente modo de dar a ver Portugal neste Dia de Camões, em Paris : no Théâtre de la Ville fez-se a festa do fado, com uma exposição sobre Amália Rodrigues trazida do Museu do Fado e um dos melhores e mais intensos espectáculos de fado a que me foi dado assistir, uma promoção da Câmara de Lisboa em colaboração com a Mairie de Paris e o inestimável apoio do Director do Théâtre de la Ville, Emmanuel Demarcy-Mota. Ricardo Ribeiro, Carminho, Camané, Cristina Branco e Carlos do Carmo mantiveram o público num permanente entusiasmo e numa empatia perfeita com o canto, que criou ali naquele palco um verdadeiro momento de grandeza.

Portugal esteve todo ali na força tranquila da sua beleza.

Thursday, June 9, 2011

Je rentre à la maison


Todos os lugares me são ausência,
por isso nunca posso regressar.

Queria só escutar essa cadência
que as palavras nos tecem ao falar.

E talvez alguém tenha paciência
para ler o que escrevo se voltar.

Tuesday, June 7, 2011

Pedro Tamen recebe hoje o Grande Prémio de Poesia da APE


Impenitente criador de mastros,
quanto a velas nem vê-las
- mais que de fugida
quando me olhas de olhos como estrelas,
minha vida.

Dos astros
desço então à hora parca
que o destino nos deu:
e fecho a arca
e tapo o céu.

PEDRO TAMEN

(poema publicado no número 27 da revista "Relâmpago")

Sunday, June 5, 2011

Reflexão em dia de eleições


REMÉDIOS PARA A POESIA


Já que o dia não perdoa
a quem nasce dia a dia,
digo hoje o que me enjoa
nesta coisa da poesia:
nunca ela desculpou
a quem pronto a não servisse
em fazer quanto mandou
com fervor e até crendice.
A poesia é como o sal,
lá dizia o Gombrowicz:
tomada só faz-nos mal.
Não há medida que fixe
o quantum satis do dia,
nossa ração de poesia!

Mesmo assim ela faz falta.
Tremo de a ver doentinha,
tomo-lhe o pulso que salta,
preparo-lhe uma mezinha.
Poesia, tu não me deixes,
vais-te curar, não te queixes!