Monday, March 31, 2014

Tubingen, torre de Holderlin


Friedrich Hölderlin: "Hälfte des Lebens" / "Metade da vida": trad. de Manuel Bandeira




Metade da vida


Peras amarelas
E rosas silvestres
Da paisagem sobre a
Lagoa.

Ó cisnes graciosos,
Bêbedos de beijos,
Enfiando a cabeça
Na água santa e sóbria!

Ai de mim, aonde, se
É inverno agora, achar as
Flores? E aonde
O calor do sol
E a sombra da terra?
Os muros avultam
Mudos e frios; à fria nortada
Rangem os cata-ventos.



Hälfte des Lebens


Mit gelben Birnen hänget
Und voll mit wilden Rosen
Das Land in den See,
Ihr holden Schwäne,
Und trunken von Küssen
Tunkt ihr das Haupt
Ins heilignüchterne Wasser.

Weh mir, wo nehm ich, wenn
Es Winter ist, die Blumen, und wo
Den Sonnenschein,
Und Schatten der Erde?
Die Mauern stehn
Sprachlos und kalt, im Winde
Klirren die Fahnen.



HÖLDERLIN, Friedrich. Sämtliche Werke und Briefe. München: Carl Hanser
Verlag, 1970.

Tradução:
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.

Saturday, March 29, 2014

A entrada de Cristo em Bruxelas


James Ensor, A entrada de Cristo em Bruxelas


Há momentos para tudo. A vida circula
sobre um rio de miséria e nem a morte
consola de tanto desperdício
do que era simplesmente humano
e simplesmente se deixou matar.
Cristo nunca entrou em Bruxelas,
mas o que um pintor aqui viu foi o que nunca poderemos esquecer,
o que nos segue como um remorso pelos esconsos da nossa vida,
o que nos levará um dia a sair em multidão para uma praça,
loucos de raiva ou mirrados pela indiferença
ao que jaz dentro de nós. Cristo
entrou em Bruxelas.


Friday, March 28, 2014

A primavera dos poetas

Este frio que trouxe a primavera
é o estímulo que a natureza nos oferece
para que consideremos a relatividade da nossa roupa,
a sua impotência face a todo este vulcão mental,
que em nós, poetas, se transforma em dura lava,
a mesma que esculpimos nas palavras,
enquanto oferecemos o corpo mal agasalhado
a esta gelada brisa que passa sobre as flores
e os nossos corpos arrepiados,
mas ainda assim gloriosos por estarem vivos.
Noto-o distraído, absorto em si mesmo, Senhor Kappus.

Este frio que nos traz a primavera
só promete a pobreza como solução
e, para mais, faz-nos sair de casa
à procura de um sol radioso
que só alguns vêem, os eleitos e os ungidos,
mas a que nós somos convidados 
a abrir os nossos sorrisos e os nossos corações.
A primavera é dos que têm razão,
nós não.

Um jovem poeta não pertence aos descartáveis,
ainda que a exportação dos versos não convença ninguém.
Anime-se, Senhor Kappus, pode sempre escrever
para a Revista de Comércio e Contabilidade,
inventar slogans publicitários
e elaborar guias de Lisboa para os turistas.
Mas está realmente frio e a chuva não ajuda
a nossa agudeza e arte de engenho.
Se saíssemos por hoje desta esplanada? 


Saturday, March 22, 2014

Boletim meteorológico



Ilya Repine (1844 - 1930) , A resposta dos Cossacos Zaporogues


Varrida pela chuva a álea rasa,
abre o inverno nesta primavera.
O tempo quis negar-nos sua casa,
a História fez de farsa ou de quimera

prometida por doutos e por santos
que nos levam, de cegos, ao abismo:
folheio pela noite fólios tantos,
que já não sei se sonho no que cismo.

Este tempo não sabe da desgraça,
repete sem cessar a ladainha:
liberdade que nasce em cada praça,
alvorecer enfim que se avizinha!

Mas no amanhecer entre destroços
o tempo varre cinzas, restos, ossos.







O poeta

Le Crapaud

Un chant dans une nuit sans air…
– La lune plaque en métal clair
Les découpures du vert sombre.

… Un chant ; comme un écho, tout vif
Enterré, là, sous le massif…
– Ça se tait : Viens, c’est là, dans l’ombre…

– Un crapaud ! – Pourquoi cette peur,
Près de moi, ton soldat fidèle !
Vois-le, poète tondu, sans aile,
Rossignol de la boue… – Horreur ! –

… Il chante. – Horreur !! – Horreur pourquoi ?
Vois-tu pas son œil de lumière…
Non : il s’en va, froid, sous sa pierre.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Bonsoir – ce crapaud-là c’est moi.

              Ce soir, 20 Juillet.

Tristan Corbière - Les Amours jaunes

(por indicação de Matilde Barahona Castro Mendes)

Friday, March 21, 2014

Literatura e diplomacia

Daniel Rondeau, Vingt ans et plus, Flammarion, Paris, 2014, p.742

Daniel Rondeau foi embaixador de França em Malta e na UNESCO

Dia Mundial da Poesia

Neste dia da poesia, trouxe-lhe, Senhor Kappus, alguns exemplos
do honesto comércio com as palavras.
Quem trata o seu poema com a dureza
com que o escultor trabalha a pedra
está mais perto do ofício do que todos esses videntes
que aos dezassete anos dizem Bof! à poesia
e vão depois traficar escravos para a Abissínia...

Senhor Poeta, apanhei-o em flagrante delito de ressentimento
e o ressentimento, já se sabe, não deixa medrar
o espírito criador. A poesia tem mais moradas
do que um prédio de Xangai, sabia?
Deixe os meninos, os bruxos e as profetisas
em paz. O tempo lhes fará justiça.
Não é o tempo afinal o maior escultor?
(Esta é da Yourcenar, desculpe o mau jeito).

O Senhor Kappus está a fazer progressos
e respondeu bem à minha provocação
(fora a Yourcenar, de que não havia realmente necessidade).
E afinal, mais do que todos os poetas que respeito,
trouxe para comemorarmos juntos este dia da poesia
uma garrafa do mesmo vinho que Fernando Pessoa bebeu
no seu "dia triunfal". Parabéns!







Wednesday, March 19, 2014

Dia do Pai

MEMENTO MORI


Death is not in life

(Wittgenstein)

Eu vi morrer três pessoas:
a uma acompanhei até ao fim,
no que seria talvez o que lhe restava de vida
ou porventura o que lhe sobrava de morte;
outra morreu quando eu dormia,
longe do hospital:
e tive que atravessar pela madrugada
uma cidade estrangeira
para chegar à sua morte;
e meu Pai, enquanto eu ia
comprar-lhe uma garrafa de oxigénio,
que nunca soube a quem serviu depois.

Nós nunca vemos ninguém morrer,
porque morrer é por dentro de cada um,
como talvez tudo o que tenha algum sentido,
como talvez o amor.

O que verdadeiramente importa
é opaco ao nosso olhar
e cada prova que vivemos
é só e única:
morrer ou ver morrer

e o amor também.

(De Lendas da Índia, Dom Quixote, Lisboa, 2011)

Monday, March 17, 2014

Sonhos da História (2)


Sonhos da História (1)


Crimeia



"The Charge of Light Brigade", Tennyson

The Charge of the Light Brigade

BY ALFRED, LORD TENNYSON
I
Half a league, half a league,
Half a league onward,
All in the valley of Death
   Rode the six hundred.
“Forward, the Light Brigade!
Charge for the guns!” he said.
Into the valley of Death
   Rode the six hundred.

II
“Forward, the Light Brigade!”
Was there a man dismayed?
Not though the soldier knew
   Someone had blundered.
   Theirs not to make reply,
   Theirs not to reason why,
   Theirs but to do and die.
   Into the valley of Death
   Rode the six hundred.

III
Cannon to right of them,
Cannon to left of them,
Cannon in front of them
   Volleyed and thundered;
Stormed at with shot and shell,
Boldly they rode and well,
Into the jaws of Death,
Into the mouth of hell
   Rode the six hundred.

IV
Flashed all their sabres bare,
Flashed as they turned in air
Sabring the gunners there,
Charging an army, while
   All the world wondered.
Plunged in the battery-smoke
Right through the line they broke;
Cossack and Russian
Reeled from the sabre stroke
   Shattered and sundered.
Then they rode back, but not
   Not the six hundred.

V
Cannon to right of them,
Cannon to left of them,
Cannon behind them
   Volleyed and thundered;
Stormed at with shot and shell,
While horse and hero fell.
They that had fought so well
Came through the jaws of Death,
Back from the mouth of hell,
All that was left of them,
   Left of six hundred.

VI
When can their glory fade?
O the wild charge they made!
   All the world wondered.
Honour the charge they made!
Honour the Light Brigade,
   Noble six hundred!

O ponto de encontro


Ao jovem poeta

Muitos, senhor Kappus, não acreditarão na sua poesia.
As suas funções militares, o seu uniforme, a sua patente
afastarão de si os que vêem o poeta antes da poesia,
o nome do artesão antes do artefacto,
a griffe antes do vestido.
Lamento dizer-lhe, mas a grande maioria procede desse modo.
E se não fosse assim, como se venderia esse luxo
que é a poesia?

Só vendo as coisas do lado de dentro
e realizando em cada dia o comércio com os outros
através do exercício da sua solidão
é que conseguirá subsistir
vivo e consciente. Vejo que hoje não me interrompeu.
Dorme, talvez?

NOTA: Franz Xaver Kappus foi durante muitos anos oficial do Exército Austro-Húngaro

Friday, March 14, 2014

Ainda o jovem poeta

Senhor Kappus, hoje não se pode falar de poesia
sem um desprezo inteligente na voz,
uma abjecção no seu exercício e a negação das qualidades
ou da própria ideia de obra,
como mecanismo para tudo legitimar através da "quebra da aura".
Esse hábil movimento de desqualificação,
teoricamente mais ou menos fundamentado,
conforme o estado de espírito de cada um,
permitirá exaltar o eu do poeta, esse eu abjecto, marginal, maldito,
nimbado da sua insatisfação.

Faz-me isso lembrar, senhor Poeta, 
o modo como se defende agora o chamado Estado Social
exatamente através da sua minuciosa destruição. A poesia
desses anti-poetas vai no fundo...

Mais uma vez, com o seu oportunismo insidioso
e à espera dos aplausos da galeria,
vem o Senhor Kappus levar a conversa para a política.
Desista. Não interromperá facilmente este meu discurso.
Pacientemente continuarei a chamar-lhe jovem poeta
e dificilmente resistirá a este apelo.
À mesma hora, no dia combinado.







Sunday, March 9, 2014

Conselhos a um velho poeta

Leia todas as manhãs o que o irrita,
a baixeza acocorada destes tempos,
a alegria dos ricos por haver mais pobres,
a submissão dos pobres a esta globalizada
Metropolis de Fritz Lang,
todos os jovens guardas vermelhos do capital,
de livro na mão e raiva no coração,
depois volte-se devagar para tudo o que não disse,
para tudo o que não fez
ou deixou que os outros fizessem em seu nome
e não ouse sequer pronunciar a palavra "culpa".

Hoje vejo-o alterado, senhor Kappus.
Eu já lhe disse que trazer política para a poesia
é como dar um tiro de pistola no meio de um concerto.
Também o vejo inclinado a toda essa erudição que me critica,
arriscando-se assim a confundir o seu público:
alguém levou a sério o filme Metropolis de Fritz Lang?
Um exagero, um exagero, de Caligari a Hitler
aquilo foi um ver-se-te-avias…
Volte quando estiver mais calmo,
porque a poesia afinal é uma emoção recordada na tranquilidade.
Pronto, eu digo-lhe, esta é de Wordsworth.





Saturday, March 8, 2014

Às mulheres

Diálogos com um jovem poeta

Fugir a si próprio, senhor Kappus,
pode assumir modos completamente diferentes
e até a histeria autobiográfica
pode não ser mais que uma fuga. Lembre-se disso
antes de falar da sua infância, adolescência
ou desinteressante vida adulta. Os tempos,
como vê, não estão para causas
e os poetas passaram de legisladores da Humanidade
a criaturas que cultivam para a galeria o desprezo de si próprios,
criaturas que fariam a vergonha de Zaratustra,
fosse vivo o Mestre, que acabou a vida a chorar
por um miserável cavalo em Turim… Está-me a ouvir, senhor Kappus?

Senhor Poeta, essas alusões eruditas
escapam ao meu público, temos que ser acessíveis,
maleáveis, flexíveis,
temos que tornar a poesia rentável
ou em alternativa
iremos todos dissolver-nos numa maré negra de narrativas,
o lodo confessional, o magma pueril...

Senhor Kappus, a memória de tudo desaparece,
eu próprio sei lá quem era o filho de Minos e Pasifaé,
ou o que fizeram as filhas de Lot!
Aprenda comigo a não ter vergonha
de fingir que é só saber o não saber que deveras sabe.
E por hoje é tudo. Ainda está alguém aí fora?

NOTA DA WIKIPÉDIA: Dans la mythologie grecque, Glaucos est le fils de Minos et de Pasiphaé. Il est le frère d'AndrogéeArianePhèdreDeucalionCatrée, Acallis et de Xénodicé. Il y a des familles comme ça!

NOTA DO SENHOR KAPPUS: Et la Phèdre de Racine, "la fille de Minos et de Pasiphaé", "le plus beau vers de la langue" (Valéry), hein, connasse?

NOTA DO SENHOR POETA: I don't use French language anymore, sorry.






Thursday, March 6, 2014

Sunday, March 2, 2014

Guerra da Crimeia (1853 - 1856)

According to Shepard Clough, professor of history at Columbia University, the war:
"was not the result of a calculated plan, nor even of hasty last-minute decisions made under stress. It was the consequence of more than two years of fatal blundering in slow-motion by inept statesmen who had months to reflect upon the actions they took. It arose from Napoleon's search for prestige; Nicholas’s quest for control over the Straits; his naïve miscalculation of the probable reactions of the European powers; the failure of those powers to make their positions clear; and the pressure of public opinion in Britain and Constantinople at crucial moments."[11]

(Wikipédia, claro)

"Os Citas" de Blok, agora em tradução inglesa

The Scythians

You are but millions. Our unnumbered nations
Are as the sands upon the sounding shore.
We are the Scythians! We are the slit-eyed Asians!
Try to wage war with us—you'll try no more!

You've had whole centuries. We—a single hour.
Like serfs obedient to their feudal lord,
We've held the shield between two hostile powers—
Old Europe and the barbarous Mongol horde.

Your ancient forge has hammered down the ages,
Drowning the distant avalanche's roar.
Messina, Lisbon—these, you thought, were pages
In some strange book of legendary lore.

Full centuries long you've watched our Eastern lands,
Fished for our pearls and bartered them for grain;
Made mockery of us, while you laid your plans
And oiled your cannon for the great campaign.

The hour has come. Doom wheels on beating wing.
Each day augments the old outrageous score.
Soon not a trace of dead nor living thing
Shall stand where once your Paestums flowered before.

O Ancient World, before your culture dies,
Whilst failing life within you breathes and sinks,
Pause and be wise, as Oedipus was wise,
And solve the age-old riddle of the Sphinx.


That Sphinx is Russia. Grieving and exulting,
And weeping black and bloody tears enough,
She stares at you, adoring and insulting,
With love that turns to hate, and hate—to love.


Yes, love! For you of Western lands and birth
No longer know the love our blood enjoys.
You have forgoten there's a love on Earth
That burns like fire and, like all fire, destroys.

We love cold Science passionately pursued;
The visionary fire of inspiration;
The salt of Gallic wit, so subtly shrewd,
And the grim genius of th German nation.


We know the hell of a Parisian street,
And Venice, cool in water and in stone;
The scent of lemons in the southern heat;
The fuming piles of soot-begrimed Cologne.

We love raw flesh, its color and its stench.
We love to taste it in our hungry maws.
Are we to blame then, if your ribs should crunch,
Fragile between our massive, gentle paws?

We know just how to play the cruel game
Of breaking in the most rebellious steeds;
And stubborn captive maids we also tame
And subjugate, to gratify our needs…

Come join us, then! Leave war and war's alarms,
And grasp the hand of peace and amity.
While still there's time, Comrades, lay down your arms!
Let us unite in true fraternity!

But if you spurn us, then we shall not mourn.
We too can reckon perfidy no crime,
And countless generations yet unborn
Shall curse your memory till the end of time.

We shall abandon Europe and her charm.
We shall resort to Scythian craft and guile.
Swift to the woods and forests we shall swarm,
And then look back, and smile our slit-eyed smile.

Away to the Urals, all! Quick, leave the land,
And clear the field for trial by blood and sword,
Where steel machines that have no soul must stand
And face the fury of the Mongol horde.

But we ourselves, henceforth, we shall not serve
As henchmen holding up the trusty shield.
We'll keep our distance and, slit-eyed, observe
The deadly conflict raging on the field.

We shall not stir, even though the frenzied Huns
Plunder the corpses of the slain in battle, drive
Their cattle into shrines, burn cities down,
And roast their white-skinned fellow men alive.

O ancient World, arise! For the last time
We call you to the ritual feast and fire
Of peace and brotherhood! For the last time
O hear the summons of the barbarian lyre!

A Rússia: tradução do poema "Os Citas" de Alexander Blok (1880 - 1921)

Vous êtes des millions. Et nous sommes innombrables comme les nues ténébreuses.
Essayez seulement de lutter avec nous !
Oui, nous sommes des Scythes, des Asiatiques
Aux yeux de biais et insatiables !

À vous, les siècles. À nous, l’heure unique.
Valets dociles,
Nous avons tenu le bouclier entre les deux races ennemies
Des Mongols et de l’Europe.

Durant des siècles, votre antique haut-fourneau forgeait,
Étouffant les tonnerres de l’avalanche.
C’était un conte bizarre pour vous que l’effondrement
De Lisbonne et de Messine !

Durant des siècles vous avez regardé à l’Orient,
Thésaurisant et refondant nos perles.
Et, nous raillant, vous n’attendiez que l’heure
De diriger sur nous les gueules de vos canons.

L’heure est venue. Le malheur bat de l’aile,
Et chaque jour augmente l’offense.
Et le temps viendra où il ne restera pas même de trace
De vos Pœstums, peut-être !

Ô vieux monde ! Avant que tu ne meures,
Pendant que tu languis encore, attaché à ta souffrance,
Arrête-toi, sage comme Œdipe,
Devant le Sphinx et son énigme ancienne !

La Russie est un Sphinx. Heureuse et attristée à la fois,
Et couverte de son sang noir,
Elle regarde, regarde à toi
Avec haine et avec amour !

Oui, aimer comme peut aimer notre sang,
Personne de vous, depuis longtemps, n’en est capable.
Vous avez oublié que dans l’univers il y a l’amour
Qui peut brûler et détruire !

Nous aimons tout — et l’ardeur des froides mathématiques,
Et l’inspiration des visions divines.
Nous comprenons tout — et la subtile raison gauloise,
Et le sombre génie germain.

Nous gardons le souvenir de tout — de l’enfer des rues parisiennes
Et des fraîcheurs de Venise,
De l’arôme lointain des bois de citronniers
Et des masses fumeuses dans Cologne…

Nous aimons la chair, et son goût, et sa couleur,
Et de la chair, l’odeur suffocante et mortelle…
C’est malgré nous s’il craque, votre squelette,
Dans nos pattes si lourdes et si tendres !

Nous sommes habitués à tenir sur le mors
Les étalons trop vifs,
Pour d’un coup briser leur puissante croupe,
Et nous matons les femmes qui désobéissent…

Venez à nous ! Sortez des horreurs de la guerre
Pour tomber dans nos bras !
Tant qu’il est temps encore — remettez la vieille épée au fourreau,
Camarades ! Nous serons frères !

Mais si vous refusez, — nous n’avons rien à perdre.
Et nous aussi nous pouvons être perfides.
Durant des siècles vous serez maudits
Par vos enfants et les enfants de vos enfants, tous malades !

Partout, nous nous retirerons
Dans l’épaisseur de nos forêts.
À la séduisante Europe
Nous montrerons notre gueule asiatique.

Arrivez, tant que vous êtes, sur l’Oural !
Nous viderons la place pour la bataille
Entre les machines d’acier qu’anime le calcul intégral,
Et la horde sauvage des Mongols !

Mais nous, dès maintenant, nous ne sommes plus votre bouclier,
Dès aujourd’hui, nous abandonnons la lutte ;
Nous regarderons de nos yeux étroits
Grouiller le combat à mort.

Nous ne bougerons pas, quand le Hun bestial
Fouillera dans les poches des cadavres,
Incendiera vos villes, logera ses chevaux dans vos églises,
Et fera rôtir la chair des frères blancs…

Une dernière fois ! — prends garde, vieux monde !
Au festin fraternel du travail et de la paix,
Au clair festin fraternel, — une dernière fois,
Te convie ma lyre barbare !