Thursday, May 27, 2010

Im Abendrot

the original German by Eichendorff…

Im Abendrot
Wir sind durch Not und Freude
gegangen Hand in Hand;
vom Wandern ruhen wir
nun überm stillen Land.

Rings sich die Täler neigen,
es dunkelt schon die Luft,
zwei Lerchen nur noch steigen
nachträumend in den Duft.

Tritt her und laß sie schwirren,
bald ist es Schlafenszeit,
daß wir uns nicht verirren
in dieser Einsamkeit.

O weiter, stiller Friede!
So tief im Abendrot.
Wie sind wir wandermüde–
Ist dies etwa der Tod?

tradução para inglês:

Evening
We have gone through sorrow and joy
hand in hand;
from wandering we now rest
on the silent land.

Around us, the valleys bow;
the air is growing darker;
two larks soar still
with reverie into the fragrant air.

Come close to me and let them fly about;
soon it will be time to sleep;
let us not lose our way
in this solitude.

O vast, tranquil peace!
so deep at sunset.
How weary we are of wandering -
Is this perhaps death?


Renee Fleming - Strauss' 4 Last Songs - Im abendrot

Alemanha, mãe pálida (Brecht) : leituras cruzadas

Aujourd’hui, tout se passe comme si l’Europe semblait tout entièrement soumise à des diktats de l’Allemagne, décidant ce qu’on peut ou pas faire pour la Grèce, imposant des plans de rigueur à toute l’Europe et même dictant à d’autres des réformes constitutionnelles.

Cette situation est inacceptable. D’abord, parce qu’on ne peut qu’être irrité par la pusillanimité de la Chancelière d’Allemagne, qui change sans cesse d’avis, au point de faire très souvent le contraire de ce qu’elle annonce. Ensuite parce qu’on ne peut que regretter la façon dont l’Allemagne annonce en solitaire un plan anti spéculation, d’une grande naïveté et totalement inapplicable : les banques allemandes continueront de pouvoir faire à Londres ce que la Chancelière prétend leur interdire de faire à Francfort. Enfin, parce que nous n’avons pas de leçons à recevoir de ce pays : par bien des cotés, l’Allemagne va bien plus mal que ses voisins .


De plus, la façon dont l’Allemagne prétend imposer aux autres la rigueur est contraire à ses propres intérêts : par exemple, en menaçant les autres pays de les pousser hors de la zone euro, c’est à elle qu’elle risque surtout de faire du tort : si la Grèce fait défaut, les banques allemandes pourraient y perdre un montant égal aux fonds propres de la Deutsche Bank et même 4 fois plus si c’était l’Espagne qui faisait défaut.

En fait, le leadership allemand ne s’explique que par la faiblesse des autres : En politique, comme en physique, la nature a horreur du vide. Si l’Allemagne prend des positions unilatérales contre la spéculation, c’est parce que l’Europe est incapable d’en proposer. Si elle nous donne l’impression de nous imposer une discipline budgétaire c’est parce que nos dirigeants sont incapables d’expliquer clairement que l’équilibre des finances publiques n’est pas un ukase de l’Allemagne, ou des marchés, mais une nécessité stratégique, dans l’intérêt des prochaines générations ; dans l’intérêt de nos enfants.

L’arrogance allemande n’est que le miroir de notre incapacité à proposer une stratégie européenne, faite d’équilibre national et de relance collective.


(Jacques Attali, no seu blog no "Express")



"In 1945 Germany was a primitive society such as Europe had not known since the Middle Ages. The former citizens of Hitler's Thousand-Year Reich were living a hand-to-mouth existence, scavering for food, drinking for drainpipes, cooking over wood fires, living in the basements of destroyed houses or in hand-built trailers and cabins"


(Alex Ross, The Rest is Noise)

Wednesday, May 26, 2010

Deolinda - Movimento Perpétuo Associativo

Noel Coward: Mad Dogs and Englishmen

Considerações pré-monção



Voltar a escrever : é um acto de resistência. O corpo pede a inércia, a profunda eternidade da inércia. Mas o yoga ensina a contrariar os equilíbrios naturais do corpo.

A crise financeira veio mostrar que já ninguém no mundo lidera coisa nenhuma, como os vulcões e os tufões nos lembraram que não somos senhores da natureza. Lema para os líderes de hoje : Quand les évènements nous dépassent, feignons de les organiser (Jean Cocteau).

Calor de antes da monção

Como Noel Coward genialmente cantou, só "mad dogs and Englishmen" conseguem fazer as suas vidas normais com este calor!

A alguns estiola a inteligência (se existe), esmorece a inspiração (se houve) - e fica-se assim "sem graça", como dizem os brasileiros...

Este blog hoje é um termómetro acéfalo!

Saturday, May 22, 2010

Leitores


Todos os que leram e atravessaram o livro
como uma cidade
souberam demorar-se numa rua mais densa,
apressar o passo numa longa avenida,
ou não fazer nada disto e simplesmente caminhar,
andar através do livro na passada que escolheram.

Andamos só
por onde não há caminhos feitos.

Friday, May 21, 2010

A leitora perfeita


Esquece o que eu escrevi, deita-te aqui perto
e ouve só as minhas palavras sem sentido,
o balbuciar que eu solto antes da voz,
tudo o que há tanto tempo trago preso na garganta.

Nem o ritmo da cantilena aprendida na infância,
nem a música da poesia de que alguns não gostam:

ouve apenas o balbuciar, o sopro antes da voz,
quase um estertor, mas a dizer agora
que estamos vivos.


Thursday, May 20, 2010

A mulher de Ajanta



Os poemas são acontecimentos:
só que onde de verdade ecoam é por dentro de nós
e não, nenhum poema refez o mundo
nem o destruíu
como um verme.
A toupeira da História só passou por nós
e nem nos acenou...

Olhemos as grutas de Ajanta
e pensemos na nobreza e na miséria da nossa condição,
no momento em que o mendigo
(tão profissional como aquele amigo do Álvaro de Campos
nas ruas da Baixa) se chegar a nós, com os cotos dos braços erguidos.

Ficam-nos na memória os gloriosos seios
da cortesã pintada nas paredes da gruta, por alturas do século IV,
enquanto o nosso baixo pensamento
discorre já entre actrizes de Bollywood,
"longe da moral hindu" (segundo os devotos do Sangh Parivar),
mas perto desta mulher de outro século,
que nem nos olha, porque a si mesmo
e à flor se olha,
apenas no cuidar de si que a corte manda.

Por isso é acontecimento a poesia:
entre nós, o mundo que não nos vê
e alguém mais desprendido que nos lê.








Wednesday, May 19, 2010

O tempo europeu, debaixo do vulcão...

De repente o tempo é parceiro mudo,

na viagem que há muito começou.

De repente seca em quase tudo

o desafio de vida que brotou:

mesmo que seja num poema mudo

a bordo de uma lancha que encalhou!

Le gusta a usted este jardín? Impida que sus hijos lo destruyan!

(citação de Malcolm Lowry, Under the Volcano)

Friday, May 14, 2010

Homenagem ao juiz Baltazar Garzón

Um poema de Jaime Gil de Biedma:

AÑOS TRIUNFALES

Media España ocupaba España entera
con la vulgaridad, con el desprecio
total de que es capaz, frente al vencido,
un intratable pueblo de cabreros.

Barcelona y Madrid eran algo humillado.
Como una casa sucia, donde la gente es vieja,
la ciudad parecía más oscura
y los Metros olían a miseria.

Con luz de entardecer, sobresaltada y triste,
se salía a las calles de un invierno
poblado de infelices gabardinas
a la deriva, bajo el viento.

Y pasaban figuras mal vestidas
de mujeres, cruzando como sombras,
solitarias mujeres adiestradas
- viudas, hijas o esposas -

en los modos peores de ganar la vida
y suplir a sus hombres. Por la noche,
las más hermosas sonreían
a los más insolentes de los vencedores.

Jaime Gil de Biedma, Moralidades, 1966
(na sua primeira edição este poema intitulava-se De los años cuarenta)

Thursday, May 13, 2010

Sophia fala de nós

Nestes últimos tempos é certo a Esquerda muita vez
desfigurou as linhas do seu rosto.
Mas que diremos da meticulosa eficaz expedita
degradação da vida que a Direita pratica?

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Borges fala de Goa ... e de Camões

EL MAR

El mar. El joven mar. El mar de Ulises
Y el de aquel otro Ulises que la gente
Del Islam apodó famosamente
Es - Sindibad del Mar. El mar de grises
Olas de Erico el Rojo, alto en su proa,
Y el de aquel caballero que escribía
A la vez la epopeya y la elegía
De su patria, en la ciénaga de Goa.
El mar de Trafalgar. El que Inglaterra
Cantó a lo largo de su larga historia,
El arduo mar que ensangrentó de gloria
En el diario ejercicio de la guerra.
El incesante mar que en la serena
Mañana surca la infinita arena.

Jorge Luis Borges, El oro de los tigres (1972)

Tuesday, May 11, 2010

Um soneto de David Mourão Ferreira

E por vezes as noites duram meses

E por vezes os meses oceanos

E por vezes os braços que apertamos

nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses

o que a noite nos fez em muitos anos

E por vezes fingimos que lembramos

E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos

só o sarro das noites não dos meses

lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos

E por vezes por vezes ah por vezes

num segundo se envolam tantos anos.

Sunday, May 9, 2010

Homenagem a uma cidade, desfocada no poema


Ali ninguém me esperava. Nem eu disse
que queria ficar.
Um jantar solitário, a chuva a doer nos vidros,
um quarto simples e preparado à pressa.
Na manhã seguinte o ar era limpo como as palavras num bom poema
e as ruas e as casas, despidas de retórica,
desenhavam-nos o dia, simplesmente.

Sinto-me tão melhor nos lugares
que não finjem estimar-nos,
que não nos impõem memórias nem partilhas,
que se deixam simplesmente ser
e nos permitem não pertencer!

(Porque escrevemos sempre contra alguma coisa
mesmo quando falamos de felicidade?)



Friday, May 7, 2010

Os poetas e a República

Embora o autor deste blog tenha a sua opinião pessoal e o seu voto como cidadão, este blog obviamente não irá tomar qualquer posição ou assumir qualquer preferência relativamente às próximas eleições presidenciais.

Não posso, porém, deixar de me sentir incomodado com frases como esta:

Mas, quando vivemos a maior crise dos últimos 100 anos, seria surpreendente que os portugueses se entregassem nas mãos de um poeta

(Paulo Pinto de Mascarenhas, no jornal i)

Atenção: Se em vez de "poeta" estivesse escrito apenas o nome do candidato Manuel Alegre, esta frase não me suscitaria qualquer reparo : poderia pessoalmente concordar ou discordar, mas parecer-me-ia inteiramente curial e aceitável.

Pode dizer-se que Manuel Alegre não é o Presidente de que os portugueses precisam : não pode é usar-se a palavra "poeta" como sinónimo de "tontinho irresponsável" ou "louco inimputável". Quem andou a brincar com o nosso dinheiro: foram os poetas ou respeitáveis banqueiros, todos homens honrados, como dizia Marco António no discurso fúnebre de César, na peça de Shakespeare?

Recomendo a leitura do último número da revista "Relâmpago" sobre "Poesia e Dinheiro".

E dedico este post à memória de Dom Diniz, Rei de Portugal, poeta e estadista.

Monday, May 3, 2010

Uma rua (Nova Deli)


Pequenos templos,
com deuses toscos que sorriem,
incenso e bosta de vaca

ou apenas a imagem doutros deuses
no oco da árvore da esquina.

Os seres simples
não têm necessariamente o coração puro:
mas a arrogância do mundo
parece não morar nesta rua.