Os poemas são acontecimentos:
só que onde de verdade ecoam é por dentro de nós
e não, nenhum poema refez o mundo
nem o destruíu
como um verme.
A toupeira da História só passou por nós
e nem nos acenou...
Olhemos as grutas de Ajanta
e pensemos na nobreza e na miséria da nossa condição,
no momento em que o mendigo
(tão profissional como aquele amigo do Álvaro de Campos
nas ruas da Baixa) se chegar a nós, com os cotos dos braços erguidos.
Ficam-nos na memória os gloriosos seios
da cortesã pintada nas paredes da gruta, por alturas do século IV,
enquanto o nosso baixo pensamento
discorre já entre actrizes de Bollywood,
"longe da moral hindu" (segundo os devotos do Sangh Parivar),
mas perto desta mulher de outro século,
que nem nos olha, porque a si mesmo
e à flor se olha,
apenas no cuidar de si que a corte manda.
Por isso é acontecimento a poesia:
entre nós, o mundo que não nos vê
e alguém mais desprendido que nos lê.
Vi este post em "miniatura" noutro blogue. Por um segundo - juro! - pareceu-me que se tratava da abordagem da interessante questão da profissional de ensino que foi afastada do serviço letivo (mas, em boa hora, recolhida por uma biblioteca) por virtude de ter explicitado à curiosidade de quem se interessa por essas coisas os seus estimáveis atributos físicos, através de uma revista da "especialidade".
ReplyDeleteO Tim Tim, como vários estudos documentam, não "cobria" essas temáticas, por uma opção de Hergé que chegou a levantar infundadas suspeitas. Mas, quem sabe!, talvez as montanhas do Tibet tivessem aguçado a imaginação do dono do blogue...
A corte de Ajanta não tinha o rigor moral de Mirandela... Diferentes civilizações!
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