Sunday, June 30, 2013

O x do problema


O problema não está nas reformas, no SNS, na educação ou nos funcionários públicos. Está nos milhares de milhões injectados nos sistemas bancários, que em vez de emprestar à economia real estão a recomprar dívidas com juros mais altos.

(Publico)








Saturday, June 29, 2013

A noite do mundo

Deixa que a escuridão se instale completamente sobre a terra
e acende só então o pequeno candeeiro
para que a tua sombra encontre a noite do mundo.



Wednesday, June 26, 2013

Un ami m'a dit


A force d’avoir le nez penché sur la crise européenne, on a fini par oublier qu’elle est globale pour se perdre dans ses aspects spécifiques. Contemplant de loin, comme ne nous affectant pas, ses manifestations au Japon, aux États-Unis, et depuis peu en Chine. Que la Fed annonce envisager de réduire ses injections des liquidités a agi comme un rappel à l’ordre, vu la vive réactions des marchés : tout est étroitement interconnecté et demande une vue d’ensemble.
Les taux obligataires se sont brutalement tendus, non seulement en Europe mais également aux États-Unis, et les places boursières ont accusé le coup, entraînées à la baisse par les valeurs financières. Prenant sa revanche, Mario Draghi en a profité pour affirmer que le programme OMT de la BCE était plus justifié que jamais (bien qu’il vienne d’être pris en défaut). Le mouvement de reflux aux États-Unis des capitaux américains n’est pas étranger à cette onde de choc. Certains l’ont présenté comme une « sur réaction », d’autres y vont vu l’effet de l’entrée de la Chine dans la crise. Mais le fait est que les investisseurs sont sur le qui-vive, expression de l’instabilité persistante du système financier, à constater la volatilité des marchés.
La Fed a voulu tester le marché et a obtenu sa réponse. Logique avec lui-même et avec sa lutte constante contre toute régulation, le monde financier réclame la poursuite des injections de liquidités, une fuite en avant ne pouvant qu’aboutir à l’éclatement tôt ou tard d’une nouvelle bulle financière. Pour l’alimenter, les injections de la Fed se sont substituées aux instruments financiers par qui le malheur est précédemment arrivé, leur marché en panne pour avoir été découverts trop risqués (quand c’était trop tard). Ce qui explique que l’annonce de la Fed soit si mal vécue !
Il se confirme que celle-ci est aux prises avec des impératifs contradictoires et que l’arrêt des mesuresnon conventionnelles des banques centrales n’est pas aussi simple que présenté. Qui, des marchés ou des banques centrales, tient l’autre dans sa main ? Il était d’usage de présenter ces dernières comme toutes puissantes et ayant toujours le dernier mot, doit-on maintenant considérer qu’elles sont prisonnières pour avoir accompli leur mission de prêteur en dernier ressort, et qu’elles se trouvent désormais en territoire inconnu ? En attendant, les paris sont ouverts sur la manière avec laquelle la Fed va procéder pour se retirer…
La question ne se pose pas pour la BCE, dont les programmes sont expressément maintenus et qui annonce détenir en réserve des munitions, toujours les mêmes, dont l’effet est problématique. À l’exacerbation des tensions avec le FMI a succédé la mise en cause des mesures de la BCE, puis les polémiques avec la Commission, tout ne va pas pour le mieux dans les cercles dirigeants. Le retour sur le marché de l’Irlande et du Portugal va, s’il intervient, devoir faire l’objet de soins intensifs. Une nouvelle grève générale y aura lieu le 27 juin, les organisations patronales portugaises appelant le gouvernement à changer de cap pour « sauver le pays de la récession »…
La Grèce n’échappera pas à un troisième restructuration de dette que l’on ne veut pas voir pour l’instant, tandis que l’Italie et l’Espagne continuent de lentement mais inexorablement glisser vers le précipice. On en vient à prendre les petits cadeaux électoraux d’Angela Merkel pour l’amorce d’une inflexion de sa politique européenne, comme si cela seul pouvait permettre de sortir la tête hors de l’eau. C’est en attendant le cadeau venu d’outre-Atlantique qui fait sentir ses effets déstabilisateurs. Et la Chine ? Cela viendra plus tard, progressivement, et atteindra comme cela a déjà commencé les autres pays émergés. On dit des portes que l’on ouvre qu’elles le sont dans les deux sens, on pourrait dire de même de la mondialisation, grâce à laquelle la crise se propage et se poursuit. Des réponses globales seraient nécessaires, mais elles sont inconcevables.
(François Leclerc, no blog de Paul Jorion)

Monday, June 24, 2013

Da Revolução ou "O Capital" agora em três dimensões

Há diferentes ideias de Revolução:  no Marx do "Manifesto" a luta das classes oprimidas com as classes opressoras, perpetuum mobile da História; no Marx do "Capital" a contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas e o atraso das relações de produção, que torna inevitável o confronto das classes que possuem com as classes que produzem; em Tocqueville, o próprio crescimento económico e tecnológico faz uma promessa à sociedade que a ordem das coisas jamais consegue satisfazer.

Penso que para qualquer leitor de Marx será clara a ideia de que o capitalismo é por natureza dinâmico e destruidor (Schumpeter entendeu bem isto).  O capitalismo não é estático e pacífico, como os teóricos do liberalismo nos tentaram fazer acreditar, de Marshall a Hayek.  O capitalismo é uma dinâmica cega e imparável que acaba por devorar-se a si própria. O capitalismo é uma lógica desumana (ou trans-humana, para adoptar um conceito de Fukuyama), que procura gerar lucro, mesmo ao custo da destruição final daqueles mesmos que estão a lucrar. O capitalismo é o computador do "2001 Odisseia no Espaço", cuja missão passa pela aniquilação daqueles mesmo que o construíram.

Que o capitalismo não é conservador parece-me evidente a quem leia os jornais. Que o capitalismo se está a auto-destruir parece-me também o único sentido plausível do que se está a passar, com os mercados financeiros desregulamentados a minar implacavelmente a economia real, à velocidade da luz. Estamos a assistir a uma versão em altíssima rapidez e em três dimensões do guião da famosa obra do século XIX "O Capital". Que, lido desta forma, já não nos promete a Revolução. Talvez porque vivemos numa sociedade que Tocqueville anteviu melhor.

(Demasiado apocalíptico, não é? Dormi mal esta noite e fiquei talvez como o saudoso José Sesinando, homem de cultura vasta, porém confusa...)

  

Sunday, June 23, 2013

Um imenso adeus - 2: a música

Um imenso adeus - 1: a letra


As tensões que têm vindo a público entre Bruxelas e o FMI podem ditar o fim da 'troika', noticiou hoje o diário espanhol El País.
Na manchete do jornal lê-se "A 'troika' entra em crise devido às tensões entre Bruxelas e o FMI", com o jornal a citar várias fontes comunitárias para quem a equipa constituída por Comissão Europeia (CE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE) tem os dias contados.
Segundo "fontes próximas do FMI", a Europa "continua em Estado de negação com a Grécia", que necessita de uma nova reestruturação da dívida, e também "com Portugal e Irlanda", que vão precisar de outro tipo de apoios e "algo mais no caso português". Quanto ao Chipre, diz a mesma fonte, está no "caminho do desastre".
"Morte à troika", resume de forma mais dura um alto funcionário de Bruxelas, que diz que este vai ser o resultado dos erros cometidos nos resgates aos países da periferia europeia, sobretudo na Grécia e em Chipre e, em menor medida, em Portugal e na Irlanda.
Por estes motivos, diz o El País, o casamento entre Bruxelas e o FMI está à beira do divórcio, talvez porque começou mal. Em 2010, explica o jornal, com a Grécia em graves problemas, a Comissão Europeia apresentou aos Estados-membros o esboço de um Fundo Monetário Europeu para gerir resgates, mas a Alemanha negou de imediato. Berlim não confiava na CE devido à sua inexperiência em resgates e receava os riscos de politização.
No entanto, lê-se no El País, a excelência técnica da 'troika' acabaria por não surgir o que levou recentemente a acusações mútuas entre a CE e o FMI, com o BCE a estar semiausente da discussão
No início de Junho, o FMI fez 'mea culpa', num relatório em que admitiu "erros notáveis" na abordagem do programa do primeiro resgate financeiro à Grécia (2010), o que foi visto como um ataque a Bruxelas.
O Fundo veio ainda dizer que é impossível lidar com uma miríade de primeiros-ministros, ministros das Finanças, comissários, funcionários do Eurogrupo e falcões do BCE e que o programa de ajustamento feito em Atenas se baseou em pressupostos irrealistas.
Bruxelas não gostou da deslealdade e, a 07 de Junho, o comissário europeu para os Assuntos Económicos acusou o FMI de "lavar as mãos e deitar a água suja para os europeus".
Apesar destas palavras duras, em público, Olli Rehn continua a afirmar que os programas seguem no bom caminho, mas já em privado, escreve o El País, fontes comunitárias assumem que o resgate à Grécia "não funciona" e prevêem uma nova reestruturação da dívida como pede a instituição liderada pela francesa Christine Lagarde. E dizem que também os resgates de Portugal e da Irlanda deixam muitas dúvidas.

(Diário Económico)

Parabéns a Coimbra, Património Mundial da UNESCO


Carminho e António Zambujo - Sabiá

Saturday, June 22, 2013

Alemanha, mãe pálida


        Gotterdammerung, Fura del Baus, dir. Zubin Mehta, Florença, 2009



Nacht und Nebel, niemand gleich
(Wagner, Rheingold)


Do outro lado do Reno
fez-se música a poesia:
é o pensar que mais temo,
estremece-me a fantasia.

Catástrofe criadora,
negação dos humilhados,
cruza o Reno, predadora,
redime os nossos pecados.

Só a música da morte
faz nascer de novo o mundo.
Que não vacile o mais forte
e as barcas cheguem ao fundo.

Ouro do Reno quem o viu?
Dos deuses veio o final.
E o futuro nos fugiu,
incêndio do capital.








A minha gente


Nestes dias do lixo, o desprezo pelo "humano" concreto tornou-se a regra e, de uma ponta a outra do nosso mundo quotidiano, varreu-se a preocupação humanista não só da política como de muitos outros aspectos da nossa vida. A tecnologia é usada, numa sociedade cada vez mais pobre, para criar novas exclusões. Valores civilizacionais como a privacidade e a intimidade são dissolvidos na "facilidade" do Facebook. O universo público mediatizado gera uma cultura de superficialidade e ignorância presumida. Os valores não circulam numa sociedade que vive na moda e na novidade. Todas as mediações, dificilmente construídas pela luta cultural consciente dos homens para viverem sem ser na selva, estão em crise.
E a política em democracia perdeu esse sentido de melhoria da vida dos homens comuns, da "felicidade terrestre", na única vida que conta para a democracia, que é a vida na Terra e não a eterna. A demagogia que sacrifica o presente em nome de um futuro construído ao sabor dos interesses desse mesmo presente reconstrói a ideia de que a salvação está outra vez num paraíso celeste, agora prefigurado nos "nossos filhos e nos nossos netos", em nome de quem a vida das pessoas que existem, tenham um dia ou cem anos, é desprezada.
Eu sei que são velhas queixas, muitas vezes repetidas. Mas talvez tenha sentido repeti-las para renovar dia a dia, ano a ano, uma pulsão humanista que, se pode não fazer uma vida melhor, pode pelo menos fazer-nos melhores.
(José Pacheco Pereira)

Thursday, June 20, 2013

Decência


                                                  George Orwell


Da minha amiga Cora Rónai, do Brasil:

"A meu ver, as manifestações não são contra A, B ou C, mas contra a classe política como um todo. Cansamos de ver o nosso dinheiro indo para o lixo, cansamos de ver Brasília transformada num balcão de negócios, cansamos da roubalheira e do deboche dos nossos governantes. Todos eles. De todos os partidos, de todos os poderes e de todas as esferas."

Estão a pensar em populismo, em perigo para a democracia, em abrir caminho a soluções autoritárias anti-partidos? Tenho os mesmos receios. Mas porque não pensar também nas pessoas comuns, nas esperanças traídas, e sobretudo, sobretudo, numa coisa a que Orwell chamava "common decency" e que este capitalismo financeiro que nos governa está a destruir por esse mundo fora? Em toda a parte, em todos os cantos do mundo, dos desempregados em Portugal aos soterrados no Bangladesh...

Victor Hugo




Au moment où une monarchie va s’écrouler, plusieurs phénomènes peuvent être observés. Et d’abord la noblesse tend à se dissoudre. En se dissolvant elle se divise, et voici de quelle façon : le royaume chancelle, la dynastie s’éteint, la loi tombe en ruine ; l’unité politique s’émiette aux tiraillements de l’intrigue ; le haut de la société s’abâtardit et dégénère ; un mortel affaiblissement se fait sentir à tous au dehors comme au dedans ; les grandes choses de l’état sont tombées, les petites seules sont debout, triste spectacle public ; plus de police, plus d’armée, plus de finances ; chacun devine que la fin arrive. De là, dans tous les esprits, ennui de la veille, crainte du lendemain, défiance de tout homme, découragement de toute chose, dégoût profond.
Comme la maladie de l’état est dans la tête, la noblesse, qui y touche, en est la première atteinte. Que devient-elle alors ? Une partie des gentilshommes, la moins honnête et la moins généreuse, reste à la cour. Tout va être englouti, le temps presse, il faut se hâter, il faut s’enrichir, s’agrandir et profiter des circonstances. On ne songe plus qu’à soi. Chacun se fait, sans pitié pour le pays, une petite fortune particulière dans un coin de la grande infortune publique. On est courtisan, on est ministre, on se dépêche d’être heureux et puissant. On a de l’esprit, on se déprave, et l’on réussit. Les ordres de l’état, les dignités, les places, l’argent, on prend tout, on veut tout, on pille tout. On ne vit plus que par l’ambition et la cupidité. On cache les désordres secrets que peut engendrer l’infirmité humaine sous beaucoup de gravité extérieure. Et, comme cette vie acharnée aux vanités et aux jouissances de l’orgueil a pour première condition l’oubli de tous les sentiments naturels, on y devient féroce. Quand le jour de la disgrâce arrive, quelque chose de monstrueux se développe dans le courtisan tombé, et l’homme se change en démon.
L’état désespéré du royaume pousse l’autre moitié de la noblesse, la meilleure et la mieux née, dans une autre voie. Elle s’en va chez elle, elle rentre dans ses palais, dans ses châteaux, dans ses seigneuries. Elle a horreur des affaires, elle n’y peut rien, la fin du monde approche ; qu’y faire et à quoi bon se désoler ? Il faut s’étourdir, fermer les yeux, vivre, boire, aimer, jouir. Qui sait ? A-t-on même un an devant soi ?
Préface de Ruy Blas (1838)

Tuesday, June 18, 2013

Até o "Economist" entendeu...

"Germany is expecting southern Europe to reform at a time of austerity, but when Germany undertook its reforms in 2003 it broke the euro's budget-deficit roles. And Germany's recent success owes a lot to the cheapness of the euro, which has allowed its exports to boom. What is more, many of the loans that enabled the southern Europeans to spend extravagantly were made by German banks, which are among the main beneficiaries of German-financed bail-outs"

(The Economist, 15/6/2013)

Uma luz ao fundo do túnel...


                             ... mas no sentido proibido!

                            (uma rua em La Valletta, Malta)

Desilusão



                       (de El Pais)

O bom, o mau e o vilão

LE MONDE, La « troïka » à hue et à dia, lundi 17 – mardi 18 juin 2013
17 juin 2013 par Paul Jorion | Print LE MONDE, La « troïka » à hue et à dia, lundi 17 – mardi 18 juin 2013
À la mi-mars, un étrange incident retenait l’attention de la presse financière : la Troïka, la force d’intervention chargée d’expliquer aux pays en difficulté de la zone euro ce qui est attendu d’eux en échange d’un plan de sauvetage financier, se clivait. Cette tripartite composée de la Commission européenne, de la Banque centrale européenne (BCE) et du Fonds monétaire international (FMI) laissait en présence deux camps antagonistes composés, d’un côté du FMI, de la BCE et de l’Allemagne, et de l’autre, de la seule Commission européenne. On lisait dans le Financial Times en date du 17 mars, ces propos étonnants : « Arrivé à ce point […] la Commission [européenne] avait perdu toute crédibilité à Berlin ».
La publication, le 20 mai, par le FMI, d’un rapport d’évaluation de la politique adoptée durant deux ans à l’égard de la Grèce (*), constitue un second épisode de la guerre intestine qui déchire désormais la Troïka. Témoignage de la profondeur du fossé qui s’est creusé, la réaction violente d’Olli Rehn, économiste en chef de la Commission européenne, exprimant son « désaccord fondamental » avec les conclusions du rapport.
Bien que recourant aux euphémismes d’usage, les reproches qu’adresse le FMI à la Commission européenne sont en effet dévastateurs : incompétence, amateurisme et, plus sérieusement encore, complicité de deux poids lourds jouant contre leur propre camp, tirant parti du rapport de force en leur faveur pour faire payer les pots cassés, non seulement par la Grèce, mais aussi par les pays situés en-dehors d’un axe Berlin-Paris, et par le contribuable européen en général et ceci, au bénéfice exclusif des établissements financiers.
Ce qu’affirme le rapport du FMI pour qui sait lire entre les lignes, c’est que l’Allemagne et la France laissèrent pourrir la situation pour permettre à leurs banques de récupérer les prêts « accordés à la Grèce », l’ardoise étant réglée par la Banque centrale européenne devenue « banque de défaisance » ou « bad bank » comme disent plus crûment les Anglo-Saxons, c’est-à-dire, réglée à l’arrivée par le contribuable européen. Pour que le mistigri puisse ainsi être passé, le FMI a dû contrevenir à ses principes en avançant des fonds à un emprunteur incapable de jamais les rembourser. La justification de la Commission européenne : un « risque systémique exceptionnel », autrement dit, d’effondrement global qui, comme le note amèrement le rapport : « … continua semble-t-il d’être invoqué à chaque réexamen de la question, en dépit du fait que le risque de contagion se réduisait à mesure que la dette souveraine grecque migrait du secteur privé vers le secteur public ».
Selon la Banque des règlements internationaux, au 1er octobre 2010, le bilan des banques allemandes était grevé de dette publique grecque à hauteur de 19,2 milliards d’euros, celui des banques françaises à hauteur de 14,4 milliards et, secteur commercial et public confondus, de 50,6 milliards d’euros pour l’Allemagne, et de 67 milliards pour la France, représentant, à elles seules, 58,1% du total. Le temps passé en tergiversations, interprété par une opinion publique distraite comme une simple marque d’amateurisme de la Commission européenne, avait en réalité pour but de permettre aux banques allemandes et françaises de se délester de ces actifs dévalorisés auprès de la BCE.
Plus de deux ans ont été perdus avant que n’intervienne la restructuration de la dette grecque en février 2012, affirme le FMI. Piqué au vif, Olli Rehn ne peut s’empêcher de rejeter le blâme adressé à la Commission européenne sur l’axe Berlin-Paris, déclarant : « Je n’ai pas le souvenir que Dominique Strauss-Kahn ait appelé de ses vœux en début de période une restructuration de la dette grecque, je me souviens distinctement par contre de Christine Lagarde y étant opposée ». L’époque dont il parle, c’est l’année 2010 : Dominique Strauss-Kahn était alors à la tête du FMI, Christine Lagarde était ministre française de l’économie, des finances et de l’emploi.
Visée dans ce récent rapport du FMI, pourquoi l’Allemagne avait-elle alors conclu à la mi-mars, dans l’affaire de Chypre, une alliance avec celui qui la montre aujourd’hui du doigt ? Parce que l’Allemagne imagine que sa tactique est passée inaperçue et que les commentateurs se contenteront, à l’instar de ce qu’ils font depuis plusieurs années, d’expliquer le comportement de l’Allemagne comme conséquence du seul souci de Mme Merkel de se retrouver à la tête du gouvernement qui résultera des élections législatives du mois de septembre.
Qu’émerge-t-il de tout cela ? L’image d’un axe Berlin-Paris faisant marcher la zone euro au son de sa propre musique, sans grand souci des quinze autres nations qui la composent. La Grèce se trouve bien entendu au premier rang de celles-ci, victime expiatoire toute désignée en raison de ses crimes : exonération criante des grosses et des moyennes fortunes de toute logique fiscale, secteur étatique pléthorique et généreusement rémunéré, enfin, désinvolture non sans arrière-pensées dans la production des statistiques économiques du pays.
Le jeu « perso » de l’Allemagne et de la France aura coûté très cher aux autres membres de la zone euro, et mis le Fonds monétaire international en contravention avec ses propres principes, lequel vient de le signaler au monde entier, tout en rappelant discrètement aux deux intéressées qu’il n’était pas dupe de ce qui s’était passé…
============================
(*) Greece : Ex Post Evaluation of Exceptional Access under the 2010 Stand-By Arrangement International, IMF Country Report No. 13/156, June 2013

Thursday, June 13, 2013

Em Malta

Ainda nao deu para entender Malta. O que posso agora dizer e que estar junto ao Mediterrâneo e para nos estar em casa. Mediterrâneos e atlânticos, como bem definiu Orlando Ribeiro, nos somos definitivamente do Sul. E nao queremos ouvir o lamento do verso de Pavese: " Piu nessuno mi portera nel Sud"...

Conversa com os amigos turcos, suspensos do que se passa no seu pais. Tão importante a Turquia para nos, europeus que nos queremos mais pequenos do que somos! E eles acusam: " se a Europa nao nos tivesse deixado a porta, isto nao se passaria". Nao sei se tem razão, sei que a Europa precisa deles. E sinto- me solidário incondicionalmente com os democratas turcos.

Tuesday, June 11, 2013

A nossa juventude


"Hoje é muito simples dizer: “Ah, as pessoas todas sabiam em 1968 que ele ia durar pouco, as pessoas todas sabiam que ele ia acabar de um dia para o outro…” Sabiam, uma treta. Podiam pensar analiticamente que não podia durar muito, mas ter a consciência vívida de que o regime podia acabar de um momento para o outro, duvido que muita gente a tivesse… E muitas opções de vida tomadas nessa altura – as opções de militância, por exemplo -, contrariamente ao que hoje se diz com algum facilitismo, não eram opções de carreira. Pelo contrário, eram opções de não carreira, porque toda a gente sabia que o ciclo que se colocava à sua frente era eventualmente a prisão ou o exílio. Não estavam propriamente à espera de que a uma determinada altura fossem premiadas as suas virtudes como oposicionistas"

(José Pacheco Pereira)

Monday, June 10, 2013

Camões





No mais Musa, no mais, que a Lira tenho
Destemperada, e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda, e endurecida:
O favor com que mais se acende o engenho,
Não no dá a pátria, não, que está metida,
No gosto da cobiça, e na rudeza
D' hua austera, apagada, e vil tristeza.

(Os Lusíadas, X, 145)

Saturday, June 8, 2013

Não acreditaram na queda do Império Romano...


(pintura mural romana descoberta na Alsácia)

Thursday, June 6, 2013

Estamos a ver...

"Concernant l'économie, l'idée que les mesures d'austérité pourraient provoquer une stagnation est incorrecte. Les politiques inspirant la confiance vont renforcer et non gêner la reprise"

(Jean-Claude Trichet, Governador do Banco Central Europeu, em 24 de Junho de 2010) 

Crivelli


"Respondendo à pergunta de Raquel Henriques da Silva: "Um país como o nosso pode ter um Crivelli e deixá-lo sair?" A verdade é que o país não tem coisíssima nenhuma, Raquel. O Crivelli é de Pais do Amaral." (João Miguel Tavares, no "Publico" de hoje).
Pois é. O problema é que nenhum país do mundo deixa as obras de arte, propriedade de privados, circularem pelo mundo sem quaisquer restrições, sob a bênção de São Adão Smith. Salazar teve a maior dificuldade em convencer os comunistas De Gaulle e Malraux a deixarem vir de Paris para Portugal o espólio de Gulbenkian. Mas para o liberalismo em voga e em vigor não há regras, nem leis, nem Estado.  Valha-me São Wolfgang Schauble, que dá hoje uma entrevista a elogiar o "capitalismo renano", o "ordo-liberalismo" e a necessidade de muita regulamentaçãozinha, à alemã.  Uma maçada, João Miguel Tavares...

Wednesday, June 5, 2013

António Pinto da França



A voz alegre e entusiasmada dele, ao telefone, em Janeiro, a convidar-me para um debate em Tomar, a ter lugar em Maio, sobre a nossa comum condição de escritores e diplomatas, juntamente com o Paulo Castilho - e com um aliciante convite para ficarmos na Quinta, agasalhados (como se dizia antigamente) por ele e pela Sofia e ainda com a promessa de visitarmos a biblioteca do antepassado António Bernardo da Costa Cabral...

Como resistir a este convite, de um dos homens de mais fina sensibilidade aos outros e empatia com outras culturas e modos de vida que me foi dado conhecer?

Entretanto o acidente, a incerteza, a hipótese (talvez, talvez) de ainda o termos connosco, a certeza de que não o iríamos encontrar a fechar-se progressivamente à nossa volta, a decisão de irmos de qualquer modo ao colóquio em Tomar (era o que ele quereria certamente que nós fizéssemos) e o que eu escrevi então aqui:


O convite fora-nos feito pelo nosso comum amigo e finíssimo memorialista e contista António Pinto da França, que iria orientar o debate. Tal não foi possível e desejo daqui as melhoras e a pronta recuperação do nosso colega e amigo, alguém "fino como um coral", como antigamente se dizia e um dos diplomatas que eu conheci mais capazes de compreender e de se deixar transformar (sem se converter) por uma cultura estranha, por um modo de vida diferente, pelo plural e mestiço tecido das civilizações. Fazem tanta falta pessoas assim!

António, faz-nos mesmo falta!

 



O Rapto da Europa


Ticiano, O Rapto da Europa

Tuesday, June 4, 2013

A origem da Europa



Selon une version du mythe, Europe, fille du roi de Tyr, une ville de Phénicie (actuel Liban) fait un rêve2. Le jour même, Zeus la rencontre sur une plage de Sidon, se métamorphose en taureau blanc, afin de l'approcher sans l'apeurer et échapper à la jalousie de son épouse Héra. Imprudente, attirée par l'odeur d'un crocus qui se trouve dans sa bouche, Europe s'approche de lui. Chevauchant l'animal, elle est emmenée sur l'île de Crète à Gortyne (ou au nord du Bosphore selon certaines versions). À Gortyne3, sous un platane qui depuis lors est toujours vert, ils s'accouplent après que jupiter fut redevenu humain. De leur union naissent MinosRhadamanthe (qui deviendront tous deux juges des Enfers) et Sarpédon4 qui s'exila en Anatolie, à Milet. Plus tard, Europe est donnée par Zeus comme épouse au roi de Crète, Astérion.

O sono dos justos


Monday, June 3, 2013

Já em 1962...


Caricatura da revista satírica alemã Simplicissimus, de 1962

Legendas traduzidas : Uma mulher chamada Europa

                                    Grande mulher - mas cara, pecaminosamente cara!

Sunday, June 2, 2013

Mais um recuo...


A chanceler alemã diz não ver necessidade em entregar mais direitos à Comissão Europeia, mas defende uma melhor coordenação dos 27 Estados em algumas matérias.
A chanceler alemã, Angela Merkel, está contra a cedência de novas competências nacionais a Bruxelas, afastando uma possível eleição direta do presidente da Comissão Europeia (CE).
Numa entrevista hoje publicada no semanário "Der Spiegel", a líder do Governo alemão referiu que "não vê a necessidade de entregar mais direitos à CE [Bruxelas] nos próximos anos".
Não obstante, lembrou que está de acordo com o Presidente francês, François Hollande, no sentido de os 27 Estados que pertencem à UE deverem coordenar melhor certas matérias.
"Pensamos, por exemplo, na política laboral e nas reformas, mas também na política social", especificou.
Merkel destacou ainda que a "coordenação económica na Europa tem sido desenhada de uma forma muito débil" e que "deve ser reforçada", o que em seu entender é "algo diferente de dar mais competências a Bruxelas".
A chanceler Angela Merkel descartou, desta forma, as propostas sobre uma possível eleição direta do presidente da Comissão Europeia, lugar que atualmente é ocupado pelo português José Manuel Durão Barroso.
"Um presidente da Comissão que fosse eleito diretamente pelo povo teria que ter outras competências totalmente diferentes das atuais", salientou.
Segundo Merkel, esta alteração "romperia com o equilíbrio atual entre as estruturas da União Europeia".

Teresa Salgueiro em Bruxelas

Saturday, June 1, 2013

Os mimados

A Professora Fátima Bonifácio está a explicar na televisão que o povo português "foi mimado".  Augusto Mateus, por seu lado, analisa o processo com racionalidade e inteligência. A mediocridade das análises leva sempre às grandes exortações morais.

E o burro sou eu?

E foi por culpa dos agricultores portugueses ou das directivas da UE que passámos de 50% de suficiência alimentar para 20%?


Dois pesos, duas medidas

Um empresário que abandonou uma das melhores indústrias de concentrados de madeira do mundo para se dedicar ao comércio a retalho é um herói e um patriota. Um desgraçado que aproveitou os juros baixos para comprar uma casa é um malandro que viveu acima das suas possibilidades. Ambos seguiram a racionalidade económica, mas são submetidos a juízos morais diferentes.

O túnel ao fundo do túnel



Voltámos às declarações conjuntas franco-alemãs! Para quem, como eu, que por muito crítico que seja em relação a esta Europa que temos, reconhece que os nossos problemas só têm solução a uma escala europeia, isto é uma boa coisa. Vem, aliás, na sequência do clima de "Grande Coligação" que se sentia em Leipzig, no 150º aniversário do SPD.

O reconhecimento pela França da necessidade de um governo económico da zona euro, o reconhecimento pela Alemanha da necessidade de avançar com mais determinação no sentido da união bancária são dois bons sinais. O método comunitário é atropelado pelo intergovernamental (veja-se a dureza com que Hollande tratou agora a Comissão, depois das críticas feitas por Berlim à mesma instituição)? A Europa, gostemos ou não, avançou sempre por impulso dos governos e sob a égide do eixo franco-alemão (Delors só foi possível graças a Kohl e Mitterrand) contra as resistências britânicas (e vamos vê-las já no próximo Conselho Europeu, mas cada vez com menor cumplicidade de Berlim, que agora percebeu o que aí vem e já aprendeu a "domesticar" a França). A questão séria da democraticidade das instâncias deste governo económico irá ser necessariamente colocada, pelo Parlamento Europeu como pelo Tribunal de Karlsruhe. E o delicado problema das relações entre a União Europeia dos 27 e a Eurozona dos 17 terá que se decidir necessariamente numa futura revisão dos tratados. Mas essa revisão deixou de ser, para os alemães, condição prévia para uma união bancária e para um Presidente do Eurogrupo a tempo inteiro. E isso foi um avanço real.

Não é o melhor dos mundos possíveis. Não é ainda a luz ao fundo do túnel, é só um bocadinho mais de túnel. Para nós portugueses continuará a penitência, a troika, o pão e a água (privatizada). Mas a única maneira de nós, portugueses, sairmos disto será pela Europa. Por uma outra Europa. E nunca será saindo do euro.