Foi uma noite de vários aplausos de pé. Mas o que saudou o evento Carminho / Sabiá dizia coisas de que as mesmas pessoas que se levantavam não tinham tempo de conscientizar-se. Carminho é a mais nova e a mais bela floração desse renascimento do fado entre jovens portugueses que já faz agora mais de década. Ouvi-la cantar essa canção de exílio brasileira com voz de quem mal atravessou o oceano para vir aqui nos ensinar tanto, foi de fazer chorar. A plateia se levantou crendo ser levada a isso pela exuberância vocal e musical da jovem cantora. Seria um aplauso entusiástico diante de uma interpretação virtuosística. Justo. Mas era claro que havia mais. Muito mais. As pessoas repassaram (era perceptível), num instante, a história da canção (que lutou com o tempo para ser devidamente amada), a história do Brasil, a história da nossa língua. A voz e a pronúncia de Zambujo eram mesoatlânticas. O canto de Carminho era purissimamente lusitano. Mas o acontecimento Carminho cantando assim nosso passarinho (nos dois gêneros: "uma sabiá" e "o meu sabiá", como o dicionarismo de Tom conversou com o de Chico, trazendo de volta minhas lembranças de uso do nome da ave, em minha Santo Amaro natal, tanto no masculino quanto no feminino) era, no auge do arrebatamento das notas altas com arabescos ibéricos, a consolidação desse mesoatlântico que busco e que Zambujo anunciou. Não seria preciso conscientizar-se de tudo isso para vivenciar o todo da experiência: cada pessoa que foi arrebatada pelo momento desse breve milagre sabia, em sua carne, que todas essas implicações estavam em jogo." E a fechar: "Carminho elevou a festa modesta à sua verdadeira altura histórica. É claro que a música entranhada de Rosa Passos [superlativa cantora baiana] já continha tudo sem precisar dizer. Mas o sabiá de Carminho disse."
carminho tem presença, uma certa beleza, funciona bem em duetos, mas tem algo que deve corrigir ou melhorar: a sua dicção a cantar o fado: metade (talvez 35%) das palavras das letras não se percebem bem, perdemos bastante do texto, embora a voz tenha bonito timbre
Foi uma noite de vários aplausos de pé. Mas o que saudou o evento Carminho / Sabiá dizia coisas de que as mesmas pessoas que se levantavam não tinham tempo de conscientizar-se. Carminho é a mais nova e a mais bela floração desse renascimento do fado entre jovens portugueses que já faz agora mais de década. Ouvi-la cantar essa canção de exílio brasileira com voz de quem mal atravessou o oceano para vir aqui nos ensinar tanto, foi de fazer chorar. A plateia se levantou crendo ser levada a isso pela exuberância vocal e musical da jovem cantora. Seria um aplauso entusiástico diante de uma interpretação virtuosística. Justo. Mas era claro que havia mais. Muito mais. As pessoas repassaram (era perceptível), num instante, a história da canção (que lutou com o tempo para ser devidamente amada), a história do Brasil, a história da nossa língua. A voz e a pronúncia de Zambujo eram mesoatlânticas. O canto de Carminho era purissimamente lusitano. Mas o acontecimento Carminho cantando assim nosso passarinho (nos dois gêneros: "uma sabiá" e "o meu sabiá", como o dicionarismo de Tom conversou com o de Chico, trazendo de volta minhas lembranças de uso do nome da ave, em minha Santo Amaro natal, tanto no masculino quanto no feminino) era, no auge do arrebatamento das notas altas com arabescos ibéricos, a consolidação desse mesoatlântico que busco e que Zambujo anunciou. Não seria preciso conscientizar-se de tudo isso para vivenciar o todo da experiência: cada pessoa que foi arrebatada pelo momento desse breve milagre sabia, em sua carne, que todas essas implicações estavam em jogo." E a fechar: "Carminho elevou a festa modesta à sua verdadeira altura histórica. É claro que a música entranhada de Rosa Passos [superlativa cantora baiana] já continha tudo sem precisar dizer. Mas o sabiá de Carminho disse."
ReplyDeleteEste foi o comentário de Caetano Veloso no "Globo"
ReplyDeletecarminho tem presença, uma certa beleza, funciona bem em duetos, mas tem algo que deve corrigir ou melhorar: a sua dicção a cantar o fado: metade (talvez 35%) das palavras das letras não se percebem bem, perdemos bastante do texto, embora a voz tenha bonito timbre
ReplyDeleteDeslumbrante...
ReplyDeleteUm dia escrevi um texto para Zambujo e Carminho
as minhas duas vozes do momento
a emoção
o sentimento
o diamante
e este gostinho
esta forma
tão simples e tão linda de cantar
talvez nunca venha a ser
talvez não chegue lá
...mas um dia eu vou voltar...um dia eu vou voltar