Sunday, February 15, 2015

Cinzas

È un brusio la vita, e questi persi
in essa, la perdono serenamente,
se il cuore ne hanno pieno: a godersi
 
eccoli, miseri, la sera: e potente
in essi, inermi, per essi, il mito
rinasce... Ma io, con il cuore cosciente
 
di chi soltanto nella storia ha vita,
potrò mai più con pura passione operare,
se so che la nostra storia è finita?

(Pier Paolo Pasolini, Le Cenere di Gramsci)

Saturday, February 14, 2015

Catar feijão

CATAR  FEIJÃO

1.
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco. 
2. 
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.

JOÃO CABRAL DE MELO NETO

Sunday, February 1, 2015

Lisboa revisitada


Perdem as casas suas várias cores
e as barcas novas aguardam melhor maré,
à falta de vento.
Deixámo-nos ficar?

Há uma nau que nunca regressou.
Essa será a nossa.