Sunday, April 28, 2013

Saudades da grandeza





I think continually of those who were truly great.
Who, from the womb, remembered the soul's history
Through corridors of light where the hours are suns
Endless and singing. Whose lovely ambition
Was that their lips, still touched with fire,
Should tell of the Spirit clothed from head to foot in song.
And who hoarded from the Spring branches
The desires falling across their bodies like blossoms.

What is precious is never to forget
The essential delight of the blood drawn from ageless springs
Breaking through rocks in worlds before our earth.
Never to deny its pleasure in the morning simple light
Nor its grave evening demand for love.
Never to allow gradually the traffic to smother
With noise and fog the flowering of the spirit.

Near the snow, near the sun, in the highest fields
See how these names are feted by the waving grass
And by the streamers of white cloud
And whispers of wind in the listening sky.
The names of those who in their lives fought for life
Who wore at their hearts the fire's centre.
Born of the sun they travelled a short while towards the sun,
And left the vivid air signed with their honour. 

Thursday, April 25, 2013

Os derrotados de Abril


Preferiam a guerra, os anos de cinza,
a morte devagar distribuída
e os muros pintados a cal.

E eles pensam : terá voltado a nossa hora?
Mas é tudo tão diferente.
O dinheiro nunca teve cor, mas agora
não tem mundo nem maneiras.

Seja como for, por caminhos ínvios
ou por mecanismos que não se entendem,
mas que filhos de gente conhecida explicam,
ainda que fiquemos sem o nosso dinheiro,
o importante é que os pobres vão perder a grimpa
e o arrojo:
o nosso tempo voltou.




Tuesday, April 23, 2013

Sunday, April 21, 2013

Poesia e diplomacia: um exemplo brasileiro

O diplomata poeta: Ricardo Primo Portugal, cônsul-adjunto do Brasil em Cantão

(...)
Camões na poesia chinesa
Luís de Camões é o herói de Ricardo Portugal e um ponto de partida decisivo para as traduções da poesia chinesa. Quando estava a estudar o trabalho da poetisa Yu Xuanji, o diplomata conta que procurou valer-se das influências do escritor português. “Quando traduzimos a poesia clássica chinesa, o nosso objectivo é que também seja muito próxima à clássica portuguesa. Há citações de Camões que trazemos para textos de Xuanji, há inúmeras expressões usadas em Os Lusíadas. O trabalho elaborado de musicalidade, de aliterações e assonâncias na língua portuguesa foi-nos transmitido pela lírica de Camões, e não creio que seja possível traduzir bem poesia chinesa clássica sem a utilização desses recursos. Estudei cuidadosamente a literatura portuguesa. Sou de origem portuguesa e os meus apelidos são claros nesse aspecto.”
O diplomata reconhece que quando se fala no ensino da língua portuguesa no estrangeiro, o sotaque brasileiro está anos-luz atrás das iniciativas já consolidadas por Portugal na divulgação do idioma. Ricardo Portugal refere que o Brasil ainda não conseguiu agarrar a oportunidade de investir na formação de falantes com sotaque brasileiro. “O Brasil só muito recentemente conseguiu se estabilizar economicamente. O momento é promissor, a economia do país está bastante sólida e vem crescendo com distribuição de riqueza, grande preocupação do Governo brasileiro. Estamos confiantes de que o português com sotaque brasileiro passe a ser mais difundido num futuro próximo.”
Contudo, Ricardo frisa que entende as diferenças entre as formas de se falar e escrever o português, mas não gosta de pensar de maneira redutora em nenhuma delas. “O Estado português é brilhante, extremamente bem preparado e reconhece a importância da divulgação da língua portuguesa. No entanto, por vezes, sentimos algum tipo de resistência em que se fale português nos seus mais variados sotaques. Para mim, só existe um português e diversas formas de falá-lo. O Brasil não deixa de ser uma parte de Portugal que cresceu e se transformou num outro país. Jamais relegaremos a nossa história.”
O cônsul-adjunto frisa que há modelos clássicos para o Brasil que, na verdade, são portugueses. Tal referência, considera Ricardo, não deixa de ser importante para Portugal e as demais nações de língua portuguesa. “É um dado positivo: o Brasil é a principal economia do mundo lusófono, com aproximadamente 200 milhões de falantes, definitivamente um dos principais países emergentes no cenário internacional. As pessoas estudam português no mundo de hoje, principalmente, para trabalhar com o Brasil. Quando traduzo Yu Xuanji, penso em Camões, em Sophia de Mello Breyner Andresen.”

Admirável mundo novo
Há oito anos, a China já era o quarto parceiro comercial do Brasil. Hoje é o principal e, segundo o diplomata, há ainda muitas barreiras a ultrapassar para melhorar as relações bilaterais. “Para os brasileiros, a China mal deixa de ser uma absoluta novidade, o que representa um grave problema. Temos ainda pouca gente que saiba da China, que conheça a cultura e a literatura chinesa ou que fale mandarim, apesar da floração de cursos de chinês e Institutos Confúcio em universidades em anos recentes. O Brasil acordou para esta realidade tarde demais e tenta agora recuperar o tempo perdido”, aponta o cônsul-adjunto de Cantão.

(da revista Macau)

Saturday, April 20, 2013

Mais uma declaração criadora de confiança

Ministro alemão diz que solução para Chipre é "modelo" para o futuro


Wolfgang Schauble, ministro das Finanças da chanceler Merkel, afirma hoje no semanário económico alemão "Wirtschaftswoche" que o confisco dos "grandes depositantes" vai ser a norma para resgates futuros de sector financeiro.





Ler mais: http://expresso.sapo.pt/ministro-alemao-diz-que-solucao-para-chipre-e-modelo-para-o-futuro=f801726#ixzz2R1IUXk5q

Um mestre vindo da Alemanha



"After the Second World War and the Holocaust, Germany lay in ruins both morally and physically. Now, after barely seventy years, it has advanced from the status of eager pupil to that of schoolmaster of Europe."

(Ulrich Beck, German Europe, Polity Press, 2013)

De uma exposição


                        (Combat pour une femme, 1905Franz von Stuck)

O Monde de hoje refere em pormenor a polémica, a que aludi aqui há alguns dias, surgida na Alemanha  à volta de uma exposição de arte alemã actualmente exibida no Museu do Louvre.

Para os seus críticos na imprensa alemã, o sentido desta exposição seria mostrar as raízes do nazismo na cultura alemã, vendo em todas as manifestações da arte e da pintura alemã passos na direcção do horror nazi.

O que é preocupante aqui é ver, não só que a leitura da exposição não é de forma alguma aquela que estes críticos supõem ( ela não mostra um só caminho na arte alemã e, quanto ao nazismo, mostra pelo contrário como os artistas alemães do século passado puseram em causa, sem complacências, a desumanização do mundo que culminou no nazismo - e que esses grandes artistas alemães tenham sido perseguidos e expulsos pelo governo alemão nazi da época não é da culpa dos outros!), mas sobretudo que os alemães se possam sentir hoje ofendidos por uma análise crítica das relações entre o nazismo e a cultura alemã, que foi já feita no século passado pelos melhores expoentes do pensamento alemão.

As críticas nos jornais alemães assumiram, aliás, desconfianças de germanofobia contra tudo e todos, desde o facto de a exposição ser em Paris (os franceses, destruídos como potência económica, querem ofender os alemães, por ressentimento) até à menção hostil a um recente artigo do filósofo italiano Agamben a defender a cultura latina, face a esta cisão Norte-Sul, credores-devedores, que está a desfazer a Europa. A desconfiança recíproca cresce. Não só na economia, começa a alastrar na cultura e vai chegar ao trato entre as pessoas.

Wednesday, April 17, 2013

Previsões




Além do Fiscal Monitor, o FMI apresentou também ontem o World Economic Outlook, onde dá a conhecer as suas projecções económicas para o planeta.
Para os países onde a troika está presente, a capacidade do FMI para antever a evolução da economia tem sido, no último ano, nula. Há um ano, estava a apontar para 2013 como o início da recuperação. A Grécia conseguiria uma variação nula do PIB, Portugal cresceria 0,3% e a Irlanda 2%. Os resultados são, decorridos três meses e meio do ano, bastante decepcionantes. Afinal, a Grécia terá o seu PIB a recuar mais 4,2%, a economia portuguesa cairá 2,3% e a Irlanda crescerá, mas apenas 1,1%.
Recentemente, o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, reconheceu a existência de erros nas previsões, especialmente no cálculo do impacto da austeridade na economia.
Agora, o FMI volta a apostar numa retoma relativamente breve, a começar em 2014 nestes três países. Portugal e Grécia crescerão em 2014 a uma taxa igual, de 0,6%, diz o FMI, que mostra pouca confiança na capacidade portuguesa para crescer no médio prazo. Para 2018, projecta um crescimento anual de 1,8%, menos do que os 2,7% da Irlanda e os 3,3% da Grécia.
(Público de hoje)

Tuesday, April 16, 2013

Ulrich Beck : uma Europa alemã?

Nombreux sont ceux qui voient en la chancelière allemande la reine sans couronne de l'Europe. Quand on pose la question de savoir d'où Angela Merkel tient son pouvoir, on est renvoyé à l'une des caractéristiques qui définissent sa façon de faire : une habileté machiavélique.

Selon Nicolas Machiavel (1467-1529), premier penseur à se pencher sur la nature du pouvoir, le prince ne doit tenir sa parole donnée hier que si elle peut lui apporter des avantages. Si l'on transpose cette maxime à la situation d'aujourd'hui, cela donne : il est possible de faire aujourd'hui le contraire de ce que l'on a annoncé hier, si cela augmente les chances de gagner les prochaines élections. Les affinités politiques entre Merkel et Machiavel - le fameux modèle Merkiavel, comme je l'appelle - reposent en gros sur quatre composantes destinées à se compléter les unes les autres.
1. L'Allemagne est le pays le plus riche et économiquement le plus puissant de l'Union européenne. Dans l'actuel contexte de crise financière, tous les pays endettés dépendent de la bonne volonté des Allemands prêts à se porter garants des crédits nécessaires. Le machiavélisme de la chancelière tient au fait que, dans le conflit virulent qui oppose les architectes de l'Europe et les souverainistes, elle se garde de prendre parti - ou plutôt elle reste ouverte aux deux options.
Elle n'est pas solidaire des Européens (ni en Allemagne ni à l'étranger) qui demandent à cor et à cri des garanties allemandes, pas plus qu'elle ne soutient la fraction des eurosceptiques qui s'opposent à toute aide. Mme Merkel préfère - et c'est là toute l'ironie machiavélique de sa posture - faire dépendre la disposition de l'Allemagne à accorder des crédits de la disposition des pays endettés à accepter les conditions de la politique allemande de stabilité. C'est le premier principe de Machiavel : quand il s'agit d'aider les pays endettés avec l'argent allemand, la position d'Angela Merkel n'est ni un oui franc ni un non catégorique, mais un "mouais" entre les deux.
2. Comment est-il possible de faire passer cette position paradoxale dans la pratique politique ? Chez Machiavel, il conviendrait à cet endroit de faire preuve de vertu, mélange d'énergie politique et de pugnacité. C'est ici que nous touchons du doigt une autre forme d'ironie : le pouvoir de Merkiavel repose en effet sur le désir de ne rien faire, sur son penchant pour le ne-pas-encore-agir, à agir plus tard, à hésiter. Cet art de l'atermoiement sélectif, ce mélange d'indifférence, de refus de l'Europe et d'engagement européen est à l'origine de la position de force de l'Allemagne dans une Europe malmenée par la crise.
Certes, il y a de multiples raisons qui poussent à hésiter - la situation mondiale est si complexe que personne n'est capable de la débrouiller ; on n'a souvent plus le choix qu'entre des alternatives dont on ne peut mesurer les risques. Mais ces raisons justifient en même temps la politique de l'atermoiement comme stratégie de pouvoir. Angela Merkel a mené à un point de perfection la forme de souveraineté involontaire légitimée par le credo de l'austérité.
La nouvelle puissance allemande en Europe ne repose donc pas, comme ce fut le cas par le passé, sur la violence en tant qu'ultima ratio. Elle n'a besoin de recourir à aucune arme pour imposer sa volonté à d'autres Etats. Voilà pourquoi il est absurde de parler de "IVe Reich". La nouvelle puissance fondée sur l'économie est bien plus souple et bien plus mobile : elle est partout présente, sans qu'il soit nécessaire de lancer les troupes.
3. C'est de cette façon que peut être réalisé ce qui apparaissait comme la quadrature du cercle : réunir en une seule et même personne la capacité à être réélue dans son propre pays et à passer en même temps pour une architecte de l'Europe. Mais cela veut dire aussi que toutes les mesures nécessaires au sauvetage de l'euro et de l'Union européenne doivent d'abord réussir leur test d'aptitude à l'intérieur des frontières allemandes - savoir si elles sont propices aux intérêts de l'Allemagne et à la position de force de Merkel.
Plus les Allemands deviennent critiques à l'égard de l'Europe, plus ils se sentent encerclés par des pays peuplés de débiteurs qui n'en veulent qu'au porte-monnaie des Allemands, plus il sera difficile de maintenir ce grand écart. Merkiavel a répondu à ce problème en sortant sa carte "l'Europe allemande", qui est un véritable atout autant à l'intérieur qu'à l'extérieur des frontières de l'Allemagne.
En politique intérieure, la chancelière rassure les Allemands, qui ont peur pour leurs retraites, leur petit pavillon et leur miracle économique, et elle défend avec une rigueur toute protestante la politique du non - bien dosé -, tout en se profilant comme la maîtresse d'école seule capable de donner des leçons à l'Europe. En même temps, elle conçoit, dans les affaires extérieures, sa "responsabilité européenne", en intégrant les pays européens dans une politique du moindre mal. Son offre qui a aussi valeur d'appât se résume en cette formule : mieux vaut que l'euro soit allemand plutôt qu'il n'y ait pas d'euro du tout.
En ce sens, Mme Merkel continue à se révéler une très bonne élève de Machiavel. "Vaut-il mieux être aimé que craint ?" demande celui-ci dans Le Prince. "La réponse est qu'il faudrait l'un et l'autre, mais comme il est difficile d'accorder les deux, il est bien plus sûr d'être craint qu'aimé, si l'on devait se passer de l'un d'eux." La chancelière allemande recourt à ce principe de façon sélective : elle veut être crainte à l'étranger et aimée dans son pays - peut-être justement parce qu'elle a enseigné la crainte aux autres pays. Néolibéralisme brutal à l'extérieur, consensus teinté de social-démocratie à l'intérieur : telle est la formule qui a permis à Merkiavel de consolider sa position de force et celle de l'Europe allemande.
4. Angela Merkel veut prescrire et même imposer à ses partenaires ce qui passe pour être une formule magique en Allemagne au niveau économique et politique. L'impératif allemand est le suivant : Economiser ! Economiser au service de la stabilité. Mais dans la réalité, cette politique d'économie révèle qu'elle est surtout synonyme de coupes claires au niveau des retraites, de la formation, de la recherche, des infrastructures, etc. Nous avons affaire à un néolibéralisme d'une extrême violence, qui va maintenant être intégré dans la Constitution européenne sous la forme d'un pacte budgétaire - sans faire cas de l'opinion publique européenne (trop faible pour résister).
Ces quatre composantes du merkiavellisme - la liaison opérée entre souverainisme et leadership de la construction européenne, l'art de l'atermoiement comme stratégie de mise au pas, le primat donné aux échéances électorales et enfin la culture allemande de stabilité - se confortent les unes les autres et constituent le noyau dur de l'Europe allemande.
Et on trouve même chez Merkel un parallèle avec ce que Machiavel appelle la necessita, cette situation d'urgence à laquelle le prince doit être capable de réagir : l'Allemagne comme "aimable hégémon", position tant vantée par Thomas Schmid, directeur de la publication du quotidien Die Welt, se voit contrainte de placer ce qui résulte d'un danger au-dessus de ce qui est interdit par les lois. Pour élargir à toute l'Europe, et de façon contraignante, la politique d'austérité de l'Allemagne, les normes démocratiques peuvent, selon Merkiavel, être assouplies ou même contournées.
Certes on assiste en ce moment à l'émergence d'un front d'opposition constitué par tous ceux qui pensent que l'avancée rapide de l'européanisation met à mal les droits du Parlement allemand et qu'elle est contraire à la Loi fondamentale, l'équivalent de la Constitution. Mais, en habile manoeuvrière, Mme Merkel parvient à instrumentaliser ces bastions de résistance en les intégrant dans sa politique de domestication par atermoiement. Une fois de plus, elle gagne sur les deux tableaux : davantage de pouvoir en Europe et davantage de popularité à l'intérieur, tout en recueillant la faveur des électeurs allemands.
Il se pourrait néanmoins que la méthode Merkiavel touche peu à peu à ses limites, car il faut bien reconnaître que la politique d'austérité allemande n'a pour l'instant enregistré aucun succès. Au contraire : la crise de l'endettement menace maintenant aussi l'Espagne, l'Italie et peut-être même bientôt la France. Les pauvres deviennent encore plus pauvres, les classes moyennes sont menacées de déclassement et l'on ne voit toujours pas le bout du tunnel.
Dans ce cas, ce pouvoir pourrait bien conduire à l'émergence d'un contre-pouvoir, d'autant plus qu'Angela Merkel a perdu l'un de ses plus solides alliés en la personne de Nicolas Sarkozy. Depuis que François Hollande est arrivé au pouvoir, les équilibres ont changé. Les représentants des pays endettés pourraient se regrouper avec les promoteurs de l'Europe à Bruxelles et à Francfort pour mettre sur pied une alternative à la politique d'austérité de la chancelière allemande, souvent très populiste, surtout axée sur les seuls intérêts allemands et motivée par la peur de l'inflation, et repenser ainsi la fonction de la Banque centrale européenne pour qu'elle se cale davantage sur la politique de croissance de la Banque centrale américaine.
Un autre scénario est aussi possible : on pourrait assister à un duel entre Angela Merkiavel, l'européenne hésitante, et Peer Steinbrück, candidat du SPD contre Mme Merkel en 2013, passionné d'échecs, qui s'est découvert une vocation de Willy Brandt sur le plan européen. Si la formule gagnante de ce dernier était "le changement par le rapprochement" [entre l'Est et l'Ouest], la formule de M. Steinbrück pourrait être : plus de liberté, plus de sécurité sociale et plus de démocratie - par le biais de l'Europe. On pourrait alors assister à une surenchère de deux proeuropéens. Soit Peer Steinbrück parvient à mettre Merkiavel mat au niveau européen ; soit Merkiavel l'emporte parce qu'elle aura découvert l'importance stratégique de l'idée européenne et se sera convertie en fondatrice des Etats-Unis d'Europe.
D'une façon ou d'une autre, l'Allemagne est confrontée à la grande question de l'Europe : être ou ne pas être. Elle est devenue trop puissante pour pouvoir se payer le luxe de ne pas prendre de décision.
Traduit de l'allemand par Pierre Deshusses

Uma Europa alemã?

Para o sociólogo alemão Ulrich Beck a actual Chanceler alemã Angela Merkel prática um princípio de orientação político que pode ser designado por “Merkiavelismo”. Há quatro componentes que orientam a prática do Merkiavelismo como política na relação entre a Alemanha e os restantes Estados Europeus. O primeiro reside em posicionar-se entre os adeptos da ortodoxia do Estado nação e os da construção Europeia, mas sem tomar posição por nenhum dos dois. O segundo princípio assenta em gerir por via da arte da dúvida e da hesitação, utilizando esses posicionamentos como meio de coerção perante os restantes países, ora dando a entender que poderá ou não intervir e deixando espaço para que os outros interpretem o que devem fazer para que seja feito o que é pretendido. A elegibilidade nacional é o terceiro princípio de actuação do Merkiavelismo e funciona como posicionamento face à construção europeia, isto é, só se pode fazer na Europa o que for aceitável fazer em casa (isto é na Alemanha). E, por último, a adopção da cultura alemã da estabilidade alicerçada em tudo sacrificar (cortar e poupar) em nome da estabilidade como um valor em si.
Como refere Beck o que vemos no final da crise do euro é a construção europeia de uma Europa Alemã. No fim de contas, a defesa da austeridade constitui um pilar da própria prática do Merkiavelismo na construção e uma Europa Alemã pós-crise financeira e do Euro.
Mas, como o Presidente do Conselho de Ministros Espanhol Mariano Rajoy referiu, tomando como exemplo Portugal, a austeridade não basta. Pelo menos, não basta se o objectivo for o crescimento e a recuperação do emprego. Como se depreende das palavras de Rajoy, já não se está a discutir se a austeridade funciona (não funciona) mas sim se se mantém a estabilidade política Europeia da Zona Euro assente nas políticas de austeridade e defendida pelo país mais forte da zona, terceiro exportador mundial de armamento, líder industrial global e porto de destino do aforro dos euros dos restantes dezasseis países da zona euro – isto é a Alemanha.
Há hoje muitos comentadores e políticos na Europa que acreditam que após as eleições alemãs do segundo semestre de 2013 a austeridade se tornará mais leve e que tudo mudará para melhor, que é uma questão de tempo, mas o problema é que o Merkiavelismo pode perdurar para além das eleições alemãs e de Angela Merkel, porque não se trata de um projecto pessoal mas de uma corporização num indivíduo de uma percepção cultural do lugar de um país na Europa.

(Gustavo Cardoso, in Público de 10/4/2013)

Sunday, April 14, 2013

Homenagem a Boecklin

                                                 A guerra

Mais loucuras americanas



Barack Obama não desiste da intenção de ir buscar 535 mil milhões de euros às grandes fortunas norte-americanas para ajudar a reduzir uma dívida federal de 12 biliões de euros.
Na quarta-feira, o Presidente democrata apresentou um orçamento que prevê novamente o fim das deduções fiscais para os 2% mais abastados e um imposto mínimo de 30% para os agregados familiares com rendimentos anuais superiores a um milhão de dólares (765.000 euros).

Da Alemanha



                    ( Ecce Homo, Lovis Corinth)


A exposição de arte alemã em Paris chamada "De l'Allemagne" (títulos de duas obras publicadas em francês por Madame de Stael (1810) e por Heinrich Heine (1855), sucessivamente) levantou objecções e censuras sérias por parte do jornal Die Zeit, o semanário mais ligado ao pensamento crítico alemão contemporâneo e bem longe de ser reaccionário.

A exposição, apresentada actualmente no Louvre, organiza-se em volta de dois eixos: a ligação do pensamento e da arte romântica alemã ao classicismo greco-latino e ao medievismo, por um lado e, por outro lado, a oposição nietzscheana entre apolíneo e dionisíaco, que teria levado alguns altos representantes da arte alemã, tal como Boecklin, a aparecerem como representantes do Sonderweg, da especificidade romântica alemã contra o racionalismo latino e a hegemonia cultural francesa (Apolo o racionalismo ocidental, Dionisos a paixão alemã - visão bem redutora e grosseira do verdadeiro pensamento de Nietzsche, por certo, mas que circulou).

Todos estes temas foram amplamente glosados no pós-guerra pelos pensadores alemães, de Thomas Mann a George Lukács (húngaro de cultura alemã), de Adorno a Siegfried Kracauer. Que a menção desta temática (certamente déjà vue) provoque esta reacção do melhor do jornalismo cultural alemão da actualidade, significa muito simplesmente que a Alemanha não quer mais ser vista através desta grelha de conceitos (ou destes estereótipos, se preferirem). E é muito significativo que uma das razões de escândalo para Die Zeit tenha sido o excerto do filme Olympia de Leni Riefenstahl, projectado na exposição (mas não é também arte alemã?).

Enfim, a Alemanha recusa-se neste momento a ser reduzida à imagem que o pós-guerra dela fez. Tudo isto é mais importante do que uma mera querela à volta dos critérios de uma exposição.

  

Quando os alemães eram menos pobres...


Saturday, April 13, 2013

A Alemanha de hoje, segundo o Banco Central Europeu


Germania, Anno Zero, Roberto Rossellini, 1948


Os números dizem o que nós quisermos que eles digam




On les prenait pour des pingres et des égoïstes. Les ménages allemands seraient, en réalité, les grandes victimes de la crise de la zone euro : des pauvres qui paient pour les riches, et non l'inverse.
Voilà le sentiment qui plane outre-Rhin, depuis la parution, mardi 9 avril, de l'étude de la Banque centrale européenne (BCE) sur la richesse comparée des citoyens des dix-sept pays membres. En Allemagne, ce rapport fait grand bruit.
On y découvre qu'un ménage allemand est moins riche (avec un patrimoine médian par foyer de 51 400 euros) que son équivalent espagnol (182 000 euros), italien (173 500 euros) et plus étonnant encore, qu'un foyer chypriote (266 900 euros). De quoi alimenter le sentiment d'injustice que ressentent les Allemands lorsqu'il faut payer pour sauver des pays d'Europe du Sud au bord de la faillite.Chypre étant le dernier exemple en date. "Dans la presse allemande, c'est une grande affaire, les conservateurs, surtout, sont très mécontents", observeGuntram Wolff, du think tank européen Bruegel.

Le Monde

Friday, April 12, 2013

Wednesday, April 10, 2013

A condução europeia


As loucuras americanas




PARIS — The two-day effort by the United States Treasury secretary,Jacob J. Lew, to persuade Europe to consider shifting its focus from budget balance to growth highlighted a deep trans-Atlantic policy gulf that is likely to leave Europe as a drag on the global economy.
Patrick Kovarik/Agence France-Presse — Getty Images
The Treasury secretary, Jacob Lew, left, with Pierre Moscovici, the French finance minister. France, facing a slump, has said it would welcome a looser approach.
Mr. Lew pointed to evidence that increased government spending and looser monetary policy had helped the United States recover at a much faster pace than the Continent has. But even as some European leaders expressed concern about rising unemployment and deepening recession, it was clear that Europe’s political constraints — and Germany’s insistence that bringing down deficits and reassuring lenders was the best route to sustained growth — were preventing a more expansionary approach from taking hold.
“Nobody in Europe sees this contradiction between fiscal consolidation and growth,” said Wolfgang Schäuble, the German finance minister, sitting beside Mr. Lew at a joint news conference in Berlin on Tuesday. “We have the common position of a growth-friendly process of consolidation, or sustainable growth.”
Consumed by the problems of the American economy and its efforts to hold off deep budget-cutting proposals from Republicans in the United States, the Obama administration has hardly been in a position in recent years to lecture other nations on good policy.
But Mr. Lew’s trip to Brussels, Frankfurt, Berlin and Paris — his first swing through Europe since becoming Treasury secretary — gave the administration an opportunity to highlight the diverging economic fortunes of the United States and Europe and to make the case that more expansionary policies could actually help with budget deficits.
The United States has pointed out that its quick rescue of the financial system, front-loaded stimulus measures and delayed budget-cutting have helped foster 14 straight quarters of growth and a falling unemployment rate — even if the recovery has proved sluggish by historical standards.
In contrast, Europe has lurched from one crisis to another, hobbled by a complicated political structure and skittish financial markets. It continues to suffer through rising joblessness and economic stagnation. Greece, Spain and Portugal all remain mired in deep recessions, and even the large economies of Germany, Italy and France were contracting as well at the end of 2012.
A Treasury official, speaking on condition of anonymity to discuss the diplomatic conversations, said that while the Americans did not endeavor to lecture the Europeans, they did focus on the profound need for growth on the Continent, for the good of Europe as well as the world.
As Mr. Lew said in Berlin, “The driver for economic growth will be consumer demand and policies that would help to encourage consumer demand in countries that have the capacity would be helpful.”
But some of the biggest levers that governments employ to bolster their economies during a downturn are seemingly out of the question in Europe, given its political constraints and some countries’ heavy debt burdens. Any calls for more stimulus spending, less austerity or looser monetary policy face entrenched resistance in powerful Germany. The view there, shared in other Northern European countries like Austria and Finland, is that the European Central Bank has already gone far out on a limb with measures to prevent a collapse of the 17-nation euro zone.
(International Herald Tribune, 10/4/2013)

Tuesday, April 9, 2013

Monday, April 8, 2013

Margaret Thatcher e o futuro

On se souvient de Friedrich von Hayek , selon qui la notion de « justice sociale est une expression entièrement vide, privée de tout contenu déterminable » ou de Milton Friedman , pour qui « la notion de responsabilité sociale […] conduit immanquablement au totalitarisme ». Remarques qui ne manquent pas de piquant quand on sait que l’un et l’autre tinrent à prodiguer leurs conseils au général Augusto Pinochet. Von Hayek précisa lors d’un voyage au Chili : « Je préfère personnellement un dictateur libéral à un gouvernement démocratique qui ne serait pas libéral ». 

(Paul Jorion)

Da corrupção


Notre rejet instinctif de la corruption est tout ce qui reste d’un autre monde, en voie de disparition, où s’affirmait l’indépendance de la sphère politique. (…) La corruption n’est qu’un mot archaïque par lequel les nostalgiques d’un autre temps désignent avec aigreur l’inévitable valorisation de la puissance relationnelle. La transaction est consacrée comme seule vérité de notre âge, et toute demande solvable est une demande légitime. Comment ne ferions-nous pas du veau d’or la vérité suprême ?
La multiplication des scandales d’argent dans les grandes démocraties n’est donc pas une anomalie, mais la conséquence logique du triomphe de la seule universalité qui nous reste, celle de l’argent, mesure de la réussite individuelle comme de celle des sociétés, étalon commun qui permet d’établir une communication immédiate avec nos « semblables », semblables par la révérence qu’ils partagent pour le veau d’or, enfin offert à l’admiration, sinon à l’appropriation de tous.
(Jean Marie Guéhénno, La Fin de la démocratie, 1993)

Ach Europa!


Da Bíblia



                            (Gustave Doré, Moisés quebrando as Tábuas da Lei)

Até ao fundo



(Félix Vallotton,  L'Enlèvement d' Europe)

O 7º de Cavalaria também chegava sempre tarde...

Monday, April 1, 2013

Iniciativa corajosa da Comissão Europeia


Selon sa nationalité, un chien de bande dessinée fait « ouah ouah », « bao bao », « wuf wuf », « guau guau ». Et c’est vrai d’à peu près tous les animaux. Ce qui pose des problèmes de traduction (et surtout génère des coûts) aux éditeurs qui veulent exporter leurs BD à travers l’Union européenne. Partant de ce constat, la Commission va donc proposer, mercredi, une directive « harmonisant les cris des animaux dans les BD ». Un poisson d’avril ? Michel Barnier, le commissaire au marché intérieur, s’en défend :« la BD est l’un des rares secteurs qui échappent à la crise qui frappe durement l’Europe. Il faut donc favoriser le développement de cette économie culturelle et supprimer toutes les entraves au marché intérieur. Un chien doit faire “ouah ouah” dans les 23 langues officielles ».

Il ne s’agit pas d’une lubie de la Commission, puisque ce texte est issu d’une consultation publique ouverte il y a deux ans (le fameux livre vert sur « les obstacles au développement de l’économie culturelle »). L’idée est de progresser par étape afin de ne pas heurter les particularismes locaux. Dans un premier temps, seuls les cris de onze animaux seraient harmonisés : ceux du chien, du chat, du cochon, du coq, de l’âne, du gorille, du lion, de la pie, du loup, du pingouin et, bien sûr, du marsupilami. Mais une procédure dite de « comitologie » permettra d’ajouter des animaux au fil du temps: il faudra une majorité qualifiée d’États membres pour s’opposer à la proposition de la Commission, ce qui rendra très difficiles les résistances isolées.
L’adoption de cette proposition de directive, mercredi, n’est pas encore certaine, tant les débats sont passionnés au sein du collège des 27 commissaires. Un certain nombre de commissaires estiment qu’elle va trop loin dans le souci d’harmonisation, au risque de donner un nouvel argument aux eurosceptiques. Ainsi, Jean-Luc Mélenchon, le leader du Front de Gauche (FdG), que j’ai pu joindre au téléphone ce week-end, a piqué une colère en découvrant que le coq gaulois ne ferait plus « cocorico » : « si ces 27 salopards croient qu’ils vont pouvoir s’attaquer au patrimoine culturel français, ils se trompent. Je commence à en avoir assez de ces technocrates non élus qui ne pensent pas français, mais commerce international ». En termes plus mesurés, l’Élysée est sur la même longueur d’onde : « il s’agit d’une attaque frontale contre la diversité culturelle, un pilier de la construction communautaire ».
Androulla Vassiliou, la commissaire à la culture, ou Viviane Reding, vice-présidente chargée de la justice et des droits fondamentaux, s’opposent d’ailleurs à cette directive au nom du respect du multilinguisme. Elles soupçonnent même le président Barosso, qui veut absolument conclure un accord de libre-échange avec les États-Unis avant la fin de son mandat l’année prochaine, de faire le jeu des éditeurs anglo-saxons qui dénoncent depuis longtemps ces « obstacles non tarifaires aux échanges ». Il s’agirait d’enfoncer un premier coin dans l’exception culturelle européenne.
Mais, on peut se demander si la directive profitera réellement aux Américains, sachant qu’ils exportent peu de BD (en dehors des comics). Dans une note que j’ai pu me procurer, le commissaire au commerce, Karel de Gucht, milite pour que les cris des animaux s’alignent sur les cris chinois, de plus en plus de traductions étant délocalisées dans ce pays… Autrement dit, il s’agirait plutôt de faire le jeu de la Chine, et ce, afin de faire baisser le prix des BD. Michel Barnier écarte tous ces soupçons : il estime que son texte est un enjeu de puissance. « Henri Kissinger s’est un jour exclamé : “savez-vous comment aboie un chien en Europe ?” Il faut en terminer avec cette cacophonie si on veut être pris au sérieux ». Je me demande si le cher Henri a vraiment dit ça… 

(do blog Coulisses de Bruxelles, bruxelles.blogs.liberation.fr)