só depois de reler o bateau ivre posso comentar a bicicleta, o nome da rua, a parede, a direcção proibida, o carrinho e mais alguma coisa que agora não sei que dizer, e pode ser que para mim isto não se aplique à europa mas a outras situações, não sei, não sei, não me precipito...
Não é que à velha senhora lhe deu para implicar consigo, caro ("querido" - escreve e diz ela, carinhosa) Patrício Branco! E não duvide do carinho da senhora, pois até me autorizou a pôr pontos e vírgulas na rimalhice em sua atenção. Mas olhe só:
precipitou-se querido afinal. justificou-se escrever de seguida? eu, por velhice, me digo: mais vale a versalhice suster quem duvida. todas as vezes que me antecipei tive revezes que até já nem sei
(rimalhadeira, sou velha prá dança; na brincadeira e à zé gomes ferreira: o rimar sempre, porra, também cansa)
A Piedade deixaria de existir Se não fizéssemos nós os Pobres de pedir; E a Compaixão também acabaria Se a todos, como nós, feliz chegasse o dia.
E a paz se alcança com mútuo terror, Até crescer o egoísmo do amor: A Crueldade tece então a sua rede, E lança seu isco, cuidadosa, adrede.
Senta-se depois com temores sagrados, E de lágrimas os chãos ficam regados; A raiz da Humildade ali então se gera Debaixo do seu pé, atenta, espera.
Em breve sobre a cabeça se lhe estende A sombra daquele Mistério que ofende; É aí que Verme e Mosca se sustentam Do Mistério que ambos acalentam.
E o fruto que gera é o do Engano Doce ao comer e tão malsano; E o Corvo o seu ninho ali o faz No mais espesso da sombra que lhe apraz.
Todos os Deuses, quer da terra quer do mar, P'la Natureza esta Árvore foram procurar; Mas foi em vão esta procura insana, Esta Árvore cresce só na Mente Humana.
William Blake, in "Canções da Experiência" Tradução de Hélio Osvaldo Alves
só depois de reler o bateau ivre posso comentar a bicicleta, o nome da rua, a parede, a direcção proibida, o carrinho e mais alguma coisa que agora não sei que dizer, e pode ser que para mim isto não se aplique à europa mas a outras situações, não sei, não sei, não me precipito...
ReplyDeleteTrata-se da melhor forma de ir contra uma parede, ainda por cima com um sinal de sentido proibido à vista : num bateau ivre, talvez?
ReplyDeleteÉ sempre à volta dos caminhos da Europa...
a) Alcipe
Não é que à velha senhora lhe deu para implicar consigo, caro ("querido" - escreve e diz ela, carinhosa) Patrício Branco! E não duvide do carinho da senhora, pois até me autorizou a pôr pontos e vírgulas na rimalhice em sua atenção. Mas olhe só:
ReplyDeleteprecipitou-se querido afinal.
justificou-se escrever de seguida?
eu, por velhice, me digo: mais vale
a versalhice suster quem duvida.
todas as vezes que me antecipei
tive revezes que até já nem sei
(rimalhadeira, sou velha prá dança;
na brincadeira e à zé gomes ferreira:
o rimar sempre, porra, também cansa)
A Humana Súmula
ReplyDeleteA Piedade deixaria de existir
Se não fizéssemos nós os Pobres de pedir;
E a Compaixão também acabaria
Se a todos, como nós, feliz chegasse o dia.
E a paz se alcança com mútuo terror,
Até crescer o egoísmo do amor:
A Crueldade tece então a sua rede,
E lança seu isco, cuidadosa, adrede.
Senta-se depois com temores sagrados,
E de lágrimas os chãos ficam regados;
A raiz da Humildade ali então se gera
Debaixo do seu pé, atenta, espera.
Em breve sobre a cabeça se lhe estende
A sombra daquele Mistério que ofende;
É aí que Verme e Mosca se sustentam
Do Mistério que ambos acalentam.
E o fruto que gera é o do Engano
Doce ao comer e tão malsano;
E o Corvo o seu ninho ali o faz
No mais espesso da sombra que lhe apraz.
Todos os Deuses, quer da terra quer do mar,
P'la Natureza esta Árvore foram procurar;
Mas foi em vão esta procura insana,
Esta Árvore cresce só na Mente Humana.
William Blake, in "Canções da Experiência"
Tradução de Hélio Osvaldo Alves