Sunday, March 9, 2014

Conselhos a um velho poeta

Leia todas as manhãs o que o irrita,
a baixeza acocorada destes tempos,
a alegria dos ricos por haver mais pobres,
a submissão dos pobres a esta globalizada
Metropolis de Fritz Lang,
todos os jovens guardas vermelhos do capital,
de livro na mão e raiva no coração,
depois volte-se devagar para tudo o que não disse,
para tudo o que não fez
ou deixou que os outros fizessem em seu nome
e não ouse sequer pronunciar a palavra "culpa".

Hoje vejo-o alterado, senhor Kappus.
Eu já lhe disse que trazer política para a poesia
é como dar um tiro de pistola no meio de um concerto.
Também o vejo inclinado a toda essa erudição que me critica,
arriscando-se assim a confundir o seu público:
alguém levou a sério o filme Metropolis de Fritz Lang?
Um exagero, um exagero, de Caligari a Hitler
aquilo foi um ver-se-te-avias…
Volte quando estiver mais calmo,
porque a poesia afinal é uma emoção recordada na tranquilidade.
Pronto, eu digo-lhe, esta é de Wordsworth.





1 comment:

  1. curioso, meu pai levou a serio o metropolis de fritz lang, com que idade o teria visto? 15, 16 anos? ou melhor, impressionou o esse mundo novo, os edifícios, as ruas aéreas, a visão paisagística dum possível futuro, falava disso.
    não me lembro de ter visto o metropolis inteiro, do principio ao fim, algumas imagens apenas, também nunca li o 1984 nem o admirável mundo novo, bem, não será o meu género de literatura.
    pois a redução de Portugal a um país empobrecido, barato, mão de obra pouco qualificada, não competitivo, um quintalinho da europa rica, pois...
    poesia emoção recordada na tranquilidade, criada portanto na emoção, lida na sala com atenção, também se lê no autocarro, no café, no escritório, no quarto.
    e assim vamos, na televisão não há nada de jeito, o livro que ele lê não é entusiasmante, kappus espera a próxima carta, o tiro no meio do concerto nem sempre acerta, as filhas de lot esperam agora, etc etc

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