Este frio que trouxe a primavera
é o estímulo que a natureza nos oferece
para que consideremos a relatividade da nossa roupa,
a sua impotência face a todo este vulcão mental,
que em nós, poetas, se transforma em dura lava,
a mesma que esculpimos nas palavras,
enquanto oferecemos o corpo mal agasalhado
a esta gelada brisa que passa sobre as flores
e os nossos corpos arrepiados,
mas ainda assim gloriosos por estarem vivos.
Noto-o distraído, absorto em si mesmo, Senhor Kappus.
Este frio que nos traz a primavera
só promete a pobreza como solução
e, para mais, faz-nos sair de casa
à procura de um sol radioso
que só alguns vêem, os eleitos e os ungidos,
mas a que nós somos convidados
a abrir os nossos sorrisos e os nossos corações.
A primavera é dos que têm razão,
nós não.
Um jovem poeta não pertence aos descartáveis,
ainda que a exportação dos versos não convença ninguém.
Anime-se, Senhor Kappus, pode sempre escrever
para a Revista de Comércio e Contabilidade,
inventar slogans publicitários
e elaborar guias de Lisboa para os turistas.
Mas está realmente frio e a chuva não ajuda
a nossa agudeza e arte de engenho.
Se saíssemos por hoje desta esplanada?
creio que em seguida se dirigiram para a abel pereira da Fonseca ao poço do bispo onde tomaram uns copinhos que os reconfortou ao mesmo tempo que se abrigavam da chuva oblíqua, o que se passou depois, de que falaram, se comentaram a desastrosa mas malévola e intencional forma de anunciar medidas do governo, ou para onde foram e se se separaram ou não, etc, etc, não sei, espero pelo próximo episódio...
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