A música faltou-me:
e de repente ela volta e senta-se ao pé de mim,
como se fosse uma pessoa de família;
e é como se eu voltasse aos meus dezasseis anos, aos discos de vinil
que comprava com meu pai
e de que lia com muita atenção as capas
antes de os pôr a tocar no (chamava-se assim) "pick-up" da nossa casa.
É tudo mais difícil com a poesia.
Pick-up, pick-up...
ReplyDeleteEra azul e amarelo pintainho. Era lindo. Lindo mesmo. Os meus primeiros discos eram pequenos apenas no tamanho.Desejados um a um, mealheiro comum com a minha irmã Carmo, que fazia questão de ter preferências diferentes das minhas. Afinal era aluna da Faculdade de Letras, corria à frente da Polícia, estava no centro do nosso pequeno mundo, habitava o mais moderno lar universitário de Lisboa, o Domus Nostra, e eu, irmã mais velha já era bancária e ajudava nas despesas.
(Que saudades tenho tuas, caçula)
O pick -up era o mesmo mas os meus discos eram muito meus. Há no entanto dois que não sei onde páram mas que não esquecerei nunca. Un homme et une femme e Vivre pour vivre. Duas bandas sonoras. Claude Lelouch. O primeiro devo te-lo visto três ou quatro vezes. Nunca me cansei.Quase o sabia de cor.
Através da música recordava a cena do abraço destemido na praia, do cão que corria e saltitava celebrando o amor daqueles dois, da primeira refeição quando ele, a medo, lhe tocava ao de leve nas costas...e ela fingia não perceber, o receio e desejo contido de se olharem, a descoberta da minha tão amada música brasileira da época, enfim...um festival de sedução.
Para mim,este filme foi e será sempre um grande e doce poema de amor.
Há dez anos atrás os meus filhoss (queridos filhos) ofereceram-me o DVD.Trouxeram de fora.
Tive medo. Hesitei. Será que madura na idade, tudo me vai parecer ridículo? Um dia foi dia e revi " Um homem e uma mulher". O mesmo encantamento...
Raras vezes acontece.
O amor afinal nunca é ridículo, ou será sempre."Todas as cartas de amor..."dizia Pessoa.
Acredito que algures hei-de encontrar os meus pequenos discos.
E também o meu bem amado pick-up azul/amarelo pintaínho.
Tão frágil e tão nosso, mana!!!
Era uma vez
ReplyDeleteGuardo religiosamente os meus discos de vinyl. E o pick up de marca alemã. Com uma tampa de plexiglass. O álbum da Paixão segundo S. Mateus é o meu preferido. E, quando entro em período de maior estridência interior, vou à casa onde cresci e os tenho e fico-me a ouvi-los.
Não pode calcular o quanto esta Paixão me apazigua!
Todos temos, afinal, um pick up para tocar os nossos discos...
O nosso (dos meus irmãos e meu, menos da irmã mais nova, que preferiu um urso de peluche e por isso levou dezenas de berros: não podes tocar no pic-up, sai daqui que estamos a ouvir música etc. etc.) era um magnífico Dual que tocava Nat King Col (estas son las ... que tocava el rei David)Gilbert Bécaud (et maintenant qui sera ma vie e nesse preciso momento ficava angustiadíssimo) etc etc: inesquecível – que burra foi a minha querida irmã mais nova ... preferir um peluche!
ReplyDeleteJoão Vieira