Thursday, June 23, 2011

Balanço e contas

Para acabar o dia
o poema perfila-se, como um auditor de contas,
e obriga-nos a olhar o (pouco) que hoje fomos.


Nada representamos. Não damos lucro.
Os mercados ignoram a poesia
e os editores toleram-nos por enquanto,
como um luxo secreto ou fantasia.


Mas que fomos nós hoje, na verdade?
Que vimos, que experiências transformámos
em dura consciência, que coisas do dia a dia
convertemos no ouro puro da poesia?


(Nenhum deus nos poderá salvar, é certo,
mas, por enquanto,
ninguém nos liga nos mercados ...).

4 comments:

  1. Ainda bem que os mercados
    não gostam de poesia

    que sabem eles de amor
    de afecto
    desta inquietação
    que nos aflige
    que não sobe
    não cai
    nem tem cotação?

    Quem se lembra
    do NasdaK e Psi vinte
    de antigamente?
    Quem sabe o preço
    de bolsa
    do ouro
    num certo dia
    exactamente?

    Decerto dirão um número à toa...
    mas nós e tantos outros
    saberemos sempre
    (e de cor)
    os mais belos versos de Pessoa...

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  2. Ai os mercados, são duros de mais para merecer tão belos poemas.

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  3. Os mercados somos nós
    Todos nós a escolher
    A escolher como viver
    A escolher o que fazer

    Aqui neste rectângulo
    Escolhemos acumular dívida
    Acumular dívida sem pagar
    Sem pagar, mas a construir
    Obra sem fim, e sem pensar
    Que o presente é enganador
    E que um dia o futuro
    Nos acabaria por apanhar

    Acumulámos olímpicas ilusões
    Gravadas com giz em ardósia
    Devorávamos flor-de-lótus
    Pensávamos comer ambrósia

    A poesia não nos salva
    Porque não a procurámos
    Vivemos no momento
    Procurámos o efémero
    O eterno? Ignorámos

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  4. Se for abençoado
    um poeta verdadeiro
    jamais é dinheiro ou mesmo mercado

    de estatura infinita
    mesmo o escrivão derradeiro
    maldiz ou bemdiz, timoneiro,a escrita



    o primeiro no começo
    per si nunca o pioneiro
    certo que nem poeta ou poesia têm preço...
    Isabel Seixas

    Do valor incalculavel
    do valor dos Seus poemas
    só posso pagar um preço
    a leitura insaciável
    num encontro com um mecenas
    conquistador do maior apreço

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