Para acabar o dia
o poema perfila-se, como um auditor de contas,
e obriga-nos a olhar o (pouco) que hoje fomos.
Nada representamos. Não damos lucro.
Os mercados ignoram a poesia
e os editores toleram-nos por enquanto,
como um luxo secreto ou fantasia.
Mas que fomos nós hoje, na verdade?
Que vimos, que experiências transformámos
em dura consciência, que coisas do dia a dia
convertemos no ouro puro da poesia?
(Nenhum deus nos poderá salvar, é certo,
mas, por enquanto,
ninguém nos liga nos mercados ...).
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Ainda bem que os mercados
ReplyDeletenão gostam de poesia
que sabem eles de amor
de afecto
desta inquietação
que nos aflige
que não sobe
não cai
nem tem cotação?
Quem se lembra
do NasdaK e Psi vinte
de antigamente?
Quem sabe o preço
de bolsa
do ouro
num certo dia
exactamente?
Decerto dirão um número à toa...
mas nós e tantos outros
saberemos sempre
(e de cor)
os mais belos versos de Pessoa...
Ai os mercados, são duros de mais para merecer tão belos poemas.
ReplyDeleteOs mercados somos nós
ReplyDeleteTodos nós a escolher
A escolher como viver
A escolher o que fazer
Aqui neste rectângulo
Escolhemos acumular dívida
Acumular dívida sem pagar
Sem pagar, mas a construir
Obra sem fim, e sem pensar
Que o presente é enganador
E que um dia o futuro
Nos acabaria por apanhar
Acumulámos olímpicas ilusões
Gravadas com giz em ardósia
Devorávamos flor-de-lótus
Pensávamos comer ambrósia
A poesia não nos salva
Porque não a procurámos
Vivemos no momento
Procurámos o efémero
O eterno? Ignorámos
Se for abençoado
ReplyDeleteum poeta verdadeiro
jamais é dinheiro ou mesmo mercado
de estatura infinita
mesmo o escrivão derradeiro
maldiz ou bemdiz, timoneiro,a escrita
o primeiro no começo
per si nunca o pioneiro
certo que nem poeta ou poesia têm preço...
Isabel Seixas
Do valor incalculavel
do valor dos Seus poemas
só posso pagar um preço
a leitura insaciável
num encontro com um mecenas
conquistador do maior apreço