Claro que, por menos que se dê por elas no quotidiano da grandes cidades e por mais que sejam alheias ao discurso dos nossos amigos das classes média e alta de expressão inglesa, elas existem, mesmo banidas pela Constituição, e ganham hoje maior dimensão no espaço público até, com a força política que têm conquistado nos últimos anos através dos "partidos de castas" e também através das quotas resultantes das complexas discriminações positivas em vigor nas escolas, universidades e concursos para a função pública...
Uma observação de Dipankar Gupta (autor que já aqui antes citei) fez-me pensar : ao contrário do que sustenta Louis Dumont e a sua escola, as castas inferiores não aceitam interiormente o seu baixo lugar na hierarquia como necessariamente impuro pela força do karma - e se muitos, é certo, lutam e lutaram contra o seu estatuto inferior (Ambedkar, Lohia, etc, mas podemos também pensar no budismo, no jainismo, no sikhismo, todos anti-castas), há outros de casta inferior que simplesmente denegam: consideram a sua casta, ela sim, como superior. Eles é que são superiores aos outros...
Claro que isto é diferente conforme a casta de que se trate - e é particularmente gravoso no caso dos dálits - mas não deixa de nos fazer pensar...
É que como diz Gupta, a sociedade hierárquica indiana é uma manifestação peculiar e religiosamente codificada da geral necessidade humana de hierarquia e distinção - não uma exclusiva aberração civilizacional. O que não quer dizer que não se deva lutar contra ela - do mesmo modo que lutamos contra as nossas próprias mazelas sociais.
(Reflexões de um ignorante)
PS É curioso que venha de um autor goês (Kosambi) a reflexão marxista mais interessante sobre a questão das castas, que o marxismo vulgar nunca soube analisar...
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