Thursday, November 4, 2010

Autocrítica

Sei que não soube (não fui capaz) de experimentar e de pensar tudo o que a Índia me ofereceu, simplesmente pela sorte que eu tive de aqui ter vivido quase quatro anos.

Algo em mim se crispou e a experiência precisa de leveza; algo em mim endureceu e o pensamento precisa de equanimidade (estou com Séneca: nunca louvar nem lamentar, mas sim compreender).

O pensamento indiano pode ser agressivo, mas é ao mesmo tempo acolhedor, ricamente diversificado e heterogéneo e profundamente argumentativo, para usar a conhecida expressão de Amartya Sen. O pensamento ocidental sobre a Índia tem montes de lixo, mas encontram-se pérolas e jóias lá dentro (e autores incontornáveis).

Agora que parto, prometo a mim próprio repensar de longe a Índia, esta Índia impossível de reduzir a fórmulas e a frases, mas infinita no dom da sua experiência.

Esta Índia que é muito mais do que os milionários do crescimento dos 9% do PIB e os gurus da espiritualidade cobrada ao dólar.

Esta Índia, que tem a maior pobreza da Terra, mas que não é uma terra de mendigos.

Esta Índia que tem a maior diversidade religiosa da Humanidade, mas que constantemente trabalha, cria e inventa.

Esta Índia que construíu a mais improvável democracia do Mundo, no meio de um dos mais terríveis exemplos de "som e de fúria" da História.

Assim me ajude Ganesha!

3 comments:

  1. Meu caro Alcipe
    Permita-me que o trate deste modo e lhe diga que este belo texto me emocionou. Porque as gentes são assim mesmo. Porque é precisa muita força para se ser o que se quer. Porque nem sempre o conseguimos. Porque nem sempre podemos dizer tudo o que precisamos. Porque nem sempre as nossas palavras são entendidas. Porque nem sempre entendemos as palavras dos outros. Porque viver é um exercício de ascese e de aceitação do que é diferente de nós.
    Um bem haja pelo muito e bom que aqui li!

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  2. A very moving tribute to India. Your work here has not been easy and we admire the grace and resilience of your mind and spirit.

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