"Era o mez de Dezembro. Enfim desperto
depois de sessenta anos de lethargo,
olhava Portugal ao ceo e ao largo!
chovia-lhe o maná no seu deserto!
(...)
"Que mais querem de nós? após tamanha
galhardia d'algoz, ébrios de glória,
apagaram acaso a luz da História?
não lêm seus feitos?... Que nos quer a Hespanha?
Quer insultar a lápide funérea
Que pesa sobre nós, heroes de Ourique!...
Estremecei de horror, filhos de Henrique!...
Repercuti meu canto, echos da Iberia!"
Thomaz Ribeiro, "D.Jayme"
Estão-se a rir? Na época, este poema foi considerado superior a Camões...
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Adolescente, decorei uma passagem do "D. Jayme".
ReplyDeleteEra assim:
"Um dia, numerosa cavalgada
apeia-se ao portão,
limpac a poeira, sobe a escada,
entra pelo salão.
— «0 senhor D. Martinho d'Aguilar?“
— «Eu sou— lhe diz o ancião;
(...)
«A quem me cabe a honra de falar?”
—Justiça de Castela.
—Bem-vinda seja ela;
(...)
Sentai-vos e dizei”.
Acercou-se o alcaide, e em voz pausada
disse :
—«Em nome d'El-Rei!
como pai de D. Jayme d'Aguilar,
que é réu d'alta traição,
tendes vossa fortuna confiscada.
(...)
Faísca-lhe nos olhos fogo irado,
no rosto se lhe acende a indignação.
—Mentis — lhe bradou convulso; -
mentis, senhor D. vilão;
ou não tendes coração,
ou não lhe pedis conselho;
El-Rei de Castela é nobre,
não manda insultar um velho !”
Não garanto a exactidão da versalhada, a que faltam versos, e que decorei porque corria nos corredores do Liceu uma paródia assaz desrespeitosa e imprópria para salões. Fui, por curiosidade, consultar o poema original e...ADOREI! Outros tempos, outros gostos...
Seja como for, teria preferido que a selecção, em lugar da foleirice da designação "Os Navegadores" (as coisas de que eles se lembram...), se tivesse chamado "Os D. Jaymes".
Epígrafe para o jogo de amanhã:
ReplyDelete"Portugal é lauta boda
onde come a Espanha toda:
lobos famintos, comei!"
(do mesmo "D. Jayme")
Gil, a paródia era melhor...
D. Jaime é um poema belíssimo do Tomás Ribeiro. Nada de paródias. - Abaixo o espírito cruel, o riso impuro dos cínicos. O poema deve ser amado e o poeta louvado. E tem mais, esse poema foi escrito no Rio de Janeiro, quando o Tomás Ribeiro era embaixador de Portugal no Brasil. Ivan da Mata Machado
DeleteNa realidade, este poema D. Jayme de Tomás Ribeiro, não passava de uma versalhada puída e conservadora pelo conteúdo, ainda que bem escrita pela forma.
ReplyDeleteA versão de que fala, considero-a eu muitíssimo divertida, posto que ordinária e obscena.
Muito me fez rir nos meus tempos de rapazola.
Pena que já não me recorde da maioria dos versos.
Pois eu, meus Senhores, procuro a "pérfida" poesia que, também ouvi da boca de gentes muito mais velhas que eu, naquela época.
ReplyDeleteOnde a encontrarei ?
Um dia numerosa cavalgada apeia-se ao portão
ReplyDeletelimpa da poeira, sobe a escada,
apalpa as mamas à criada e pergunta de raspão:
- D. Martinho de Aguilar está?
- não, saiu.
-vá prá puta que o pariu
não me esteja a enganar!
Subindo devagarinho por aquelas escadas se mete
e vai dar com D. Martinho
a espremer-se na retrete.
- D. Martinho de Aguilar!!!
- Como vedes estou a cagar
- Vede com quem estáis falando,
não temeis um carcere, uma masmorra?
. ?
. ?
D. Martinho de Aguilar pegou no cagalhão torneado
ainda quente e fumegante e perpega com ele na cara do tratante
.?
.?
e depois desta luta de natureza tão rara,
na rua, o filho da puta
limpava a merda da cara.
(era assim que o meu avo recitava , faltam algumas partes que não me lembro)