Saturday, June 26, 2010

Propostas poéticas para a próxima terça feira

"Era o mez de Dezembro. Enfim desperto
depois de sessenta anos de lethargo,
olhava Portugal ao ceo e ao largo!
chovia-lhe o maná no seu deserto!

(...)

"Que mais querem de nós? após tamanha
galhardia d'algoz, ébrios de glória,
apagaram acaso a luz da História?
não lêm seus feitos?... Que nos quer a Hespanha?

Quer insultar a lápide funérea
Que pesa sobre nós, heroes de Ourique!...
Estremecei de horror, filhos de Henrique!...
Repercuti meu canto, echos da Iberia!"

Thomaz Ribeiro, "D.Jayme"

Estão-se a rir? Na época, este poema foi considerado superior a Camões...

6 comments:

  1. Adolescente, decorei uma passagem do "D. Jayme".
    Era assim:

    "Um dia, numerosa cavalgada
    apeia-se ao portão,
    limpac a poeira, sobe a escada,
    entra pelo salão.

    — «0 senhor D. Martinho d'Aguilar?“

    — «Eu sou— lhe diz o ancião;
    (...)

    «A quem me cabe a honra de falar?”

    —Justiça de Castela.

    —Bem-vinda seja ela;
    (...)

    Sentai-vos e dizei”.

    Acercou-se o alcaide, e em voz pausada
    disse :

    —«Em nome d'El-Rei!
    como pai de D. Jayme d'Aguilar,
    que é réu d'alta traição,
    tendes vossa fortuna confiscada.

    (...)
    Faísca-lhe nos olhos fogo irado,
    no rosto se lhe acende a indignação.
    —Mentis — lhe bradou convulso; -
    mentis, senhor D. vilão;
    ou não tendes coração,
    ou não lhe pedis conselho;
    El-Rei de Castela é nobre,
    não manda insultar um velho !”

    Não garanto a exactidão da versalhada, a que faltam versos, e que decorei porque corria nos corredores do Liceu uma paródia assaz desrespeitosa e imprópria para salões. Fui, por curiosidade, consultar o poema original e...ADOREI! Outros tempos, outros gostos...
    Seja como for, teria preferido que a selecção, em lugar da foleirice da designação "Os Navegadores" (as coisas de que eles se lembram...), se tivesse chamado "Os D. Jaymes".

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  2. Epígrafe para o jogo de amanhã:

    "Portugal é lauta boda
    onde come a Espanha toda:
    lobos famintos, comei!"

    (do mesmo "D. Jayme")

    Gil, a paródia era melhor...

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    1. D. Jaime é um poema belíssimo do Tomás Ribeiro. Nada de paródias. - Abaixo o espírito cruel, o riso impuro dos cínicos. O poema deve ser amado e o poeta louvado. E tem mais, esse poema foi escrito no Rio de Janeiro, quando o Tomás Ribeiro era embaixador de Portugal no Brasil. Ivan da Mata Machado

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  3. Na realidade, este poema D. Jayme de Tomás Ribeiro, não passava de uma versalhada puída e conservadora pelo conteúdo, ainda que bem escrita pela forma.
    A versão de que fala, considero-a eu muitíssimo divertida, posto que ordinária e obscena.
    Muito me fez rir nos meus tempos de rapazola.
    Pena que já não me recorde da maioria dos versos.

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  4. Pois eu, meus Senhores, procuro a "pérfida" poesia que, também ouvi da boca de gentes muito mais velhas que eu, naquela época.
    Onde a encontrarei ?

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  5. Um dia numerosa cavalgada apeia-se ao portão
    limpa da poeira, sobe a escada,
    apalpa as mamas à criada e pergunta de raspão:
    - D. Martinho de Aguilar está?
    - não, saiu.
    -vá prá puta que o pariu
    não me esteja a enganar!
    Subindo devagarinho por aquelas escadas se mete
    e vai dar com D. Martinho
    a espremer-se na retrete.
    - D. Martinho de Aguilar!!!
    - Como vedes estou a cagar
    - Vede com quem estáis falando,
    não temeis um carcere, uma masmorra?
    . ?
    . ?
    D. Martinho de Aguilar pegou no cagalhão torneado
    ainda quente e fumegante e perpega com ele na cara do tratante
    .?
    .?
    e depois desta luta de natureza tão rara,
    na rua, o filho da puta
    limpava a merda da cara.

    (era assim que o meu avo recitava , faltam algumas partes que não me lembro)

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