HORA DO POENTE
Na hora do poente
há mais melancolia e mais sigilo
no quase nocturno voo das aves.
Como se a penumbra
lhes censurasse as asas.
Como se a grande apoteose do ocaso
fosse um presságio do fim
de todas as coisas.
Como se a noite fosse ainda mais escura
do que a escuridão em que se enrola.
Como se o dia desembocasse
na morte directamente,
sem passar primeiro pelos portais da noite.
(A.M. Pires Cabral, Gaveta do fundo, Tinta da China, Lisboa, 2013)
a m pires cabral aprecio o muito mais como ficcionista, os contos, o cónego, são peças de muita qualidade narrativa, mas não tanto como poeta, o poeta está comandado pelo romancista ou prosador, caracteristica aliás doutros escritores, mia couto, j l peixoto.
ReplyDeleteeste poema hora do poema p ex poderia se disposto em forma de prosa ser uma passagem duma peça de ficção, à excepção do ultimo terceto.
talvez a limitação seja minha, por vezes leio um poema de pires cabral (na livraria) mas chego sempre à mesma conclusão, há ali descrição, narração, é prosa de romance, mas de repente salta um poema poetico, na cobra d'agua há pelo menos 1
estou sempre à espera dum novo romance de a m p c, entretanto leio os seus bons contos e folheio ocasionalmente a poesia/na livraria... .