(…)
A AIA
Mas então … o que os jornaes dizem, é verdade? … Leio … e não posso crêr … não quero crêr …
O MINISTRO
Estamos todos assim. Não queremos acreditar, não podemos acreditar (com sarcasmo). Foi o nosso maior vício a esperança. (Sublinhando as palavras, n'uma grande agitação nervosa). Há oito dias já, não existimos …; desde que os representantes dos nossos crédores, reunidos em conferência internacional, o decidiram. Pois bem: o conselho de ministros reuniu hoje… Tratou-se d'ir, o mais polidamente possível, à despedida dos embaixadores, que receberam ordem dos governos p'ra partir …; calculou-se a hora a que chegarão, p'ra tomar posse de nós, as esquadras extrangeiras …; e alguns dos meus collegas, prevendo um protectorado moderno, no espírito da nossa civilisação, dizem constar-lhes: que além da rigorosa administração da fazenda que foi nossa, nada soffreremos … Vão dar-nos mesmo um parlamento … Só não existimos… De resto, um parlamento posthumo…comícios posthumos… Como até aqui, afinal… como até aqui…
(…)
António Patrício, O Fim, 1909
A AIA
Mas então … o que os jornaes dizem, é verdade? … Leio … e não posso crêr … não quero crêr …
O MINISTRO
Estamos todos assim. Não queremos acreditar, não podemos acreditar (com sarcasmo). Foi o nosso maior vício a esperança. (Sublinhando as palavras, n'uma grande agitação nervosa). Há oito dias já, não existimos …; desde que os representantes dos nossos crédores, reunidos em conferência internacional, o decidiram. Pois bem: o conselho de ministros reuniu hoje… Tratou-se d'ir, o mais polidamente possível, à despedida dos embaixadores, que receberam ordem dos governos p'ra partir …; calculou-se a hora a que chegarão, p'ra tomar posse de nós, as esquadras extrangeiras …; e alguns dos meus collegas, prevendo um protectorado moderno, no espírito da nossa civilisação, dizem constar-lhes: que além da rigorosa administração da fazenda que foi nossa, nada soffreremos … Vão dar-nos mesmo um parlamento … Só não existimos… De resto, um parlamento posthumo…comícios posthumos… Como até aqui, afinal… como até aqui…
(…)
António Patrício, O Fim, 1909
bonito diálogo dramático sobre penosa situação...e a historia repete-se...
ReplyDelete