Nos versos não fica nada
do que pensamos ou sentimos:
não se iluda, senhor Kappus.
Nós só jogamos com as palavras que nos deram,
como jogadores profissionais com cartas marcadas
num filme passado no Mississipi,
dentro de um daqueles barcos de rodas a subir o rio.
Bem me pareceu estranho o seu chapéu
e os seus modos alterados, senhor Poeta.
Está em flagrante delitro, hoje não vale a pena de todo
falar consigo.
Não se zangue, senhor Kappus, ouça-me até ao fim.
Anda aí muita banha de cobra nesse negócio da poesia.
Temos muitas vezes que cantar a canção do infinito dentro de uma capoeira
e arrancar a máscara que se agarrou à outra máscara por cima da máscara
que nós próprios somos. Pense bem
se podia algum dia viver sem escrever poesia.
Pense muito na sua infância, diga baixo o Nininho quer jinhos,
e veja se é capaz de não ter a menor vergonha
de escrever sem ter nada para dizer.
Por hoje é tudo. Amanhã encontramo-nos à mesma hora,
neste mesmo café.
(Franz Xaver Kappus foi o destinatário das "Cartas a um Jovem Poeta" de Rainer Maria Rilke; o personagem "em flagrante delitro" que "canta a canção do infinito dentro de uma capoeira" e diz que "o Nininho quer jinhos" é reconhecível por detrás de todas as suas máscaras)
do que pensamos ou sentimos:
não se iluda, senhor Kappus.
Nós só jogamos com as palavras que nos deram,
como jogadores profissionais com cartas marcadas
num filme passado no Mississipi,
dentro de um daqueles barcos de rodas a subir o rio.
Bem me pareceu estranho o seu chapéu
e os seus modos alterados, senhor Poeta.
Está em flagrante delitro, hoje não vale a pena de todo
falar consigo.
Não se zangue, senhor Kappus, ouça-me até ao fim.
Anda aí muita banha de cobra nesse negócio da poesia.
Temos muitas vezes que cantar a canção do infinito dentro de uma capoeira
e arrancar a máscara que se agarrou à outra máscara por cima da máscara
que nós próprios somos. Pense bem
se podia algum dia viver sem escrever poesia.
Pense muito na sua infância, diga baixo o Nininho quer jinhos,
e veja se é capaz de não ter a menor vergonha
de escrever sem ter nada para dizer.
Por hoje é tudo. Amanhã encontramo-nos à mesma hora,
neste mesmo café.
(Franz Xaver Kappus foi o destinatário das "Cartas a um Jovem Poeta" de Rainer Maria Rilke; o personagem "em flagrante delitro" que "canta a canção do infinito dentro de uma capoeira" e diz que "o Nininho quer jinhos" é reconhecível por detrás de todas as suas máscaras)
será que o franz se tornou poeta depois de receber as cartas de rilke? conheço mal o assunto, não sei mesmo que tipo de conselhos lhe dava rilke, não li.
ReplyDeletepois esse livrinho é como um bestseller, traduzido e publicado desde então, fernanda de castro traduziu entre nós, a portugalia editou, não tenho, mas até me dá agora curiosidade, tambem poderá ser considerado uma arte poetica, ou regras, conselhos destinadas ao aspirante a poeta, fernando pessoa não deve ter já lido, nem a rigor precisava pois já tinha várias máscaras, mas rilke é a encarnação do poeta, não sei que fez alem de escrever poesia, viajar, encontrar mecenas, envolver se com lou salomé, etc etc