Friday, January 17, 2014

José Terra (1928 - 2014)



Para O Poema da Criação

Porque tu percorres o meu sangue 
e paras de repente no meu cérebro. 
Teus olhos procuram a flor da pele 
buscando a existência fugidia 
das árvores, dos rios, da paisagem. 
E se te reconheço é porque apenas 
és um sinal qualquer de outro país 
donde fui expulso para sempre. 
E se te reconheço é porque foges 
pelas longas margens longamente 
e teu sorriso concreto só existe 
para a boca oleosa do veneno. 
E se te reconheço é porque quero 
entre meus dedos destruir teus olhos. 
Para que tu existas e eu exista 
nenhum sinal de nós deve existir. 

2 comments:

  1. tento perceber o que é ou quem é o tu, portugal? sim, deve ser...e então a criação?

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  2. Conheci José Terra há muitos, muitos anos, em casa dos meus pais, quando era miúdo. Foi amigo do meu pai João Pedro de Andrade e visita frequente antes de se fixar em França, menos frequente depois. Lembro-me de ele contar as dificuldades que passou depois de publicar o seu primeiro livro de poesia "Canto da Ave Prisioneira". Perdi-lhe o rasto depois e só agora tive notícia dele, a notícia da morte.

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