Sunday, January 5, 2014

Literatura e diplomacia: António Nobre

A VidaÓ grandes olhos outomnaes! mysticas luzes! 
Mais tristes do que o amor, solemnes como as cruzes! 
Ó olhos pretos! olhos pretos! olhos cor 
Da capa d'Hamlet, das gangrenas do Senhor! 
Ó olhos negros como noites, como poços! 
Ó fontes de luar, n'um corpo todo ossos! 
Ó puros como o céu! ó tristes como levas 
De degredados!
Ó Quarta-feira de Trevas!
















(…)

Quantos são, hoje? Horror! A lembrança das datas… 
Olha essas rugas que têm certos diplomatas! 
Olha esse olhar que têm os homens da politica! 
Olha um artista a ler, soluçando, uma critica... 
Olha esse que não tem talento e o julga ter 
E aquelle outro que o tem... mas não sabe escrever! 
Olha, acolá, a Estupidez! Olha a Vaidade! 
Olha os Afflictos! A Mentira na Verdade! 

(…)

Ó meu amor! é para ver tantos abrolhos, 
Ó flor sem elles! que tu tens tão lindos olhos! 
Ah! foi para isto que te deu leite a tua ama, 
Foi para ver, coitada! essa bola de lama 
Que pelo espaço vae, leve como a andorinha, 
A Terra! 

    Ó meu amor! antes fosses ceguinha… 

(António Nobre, )


1 comment:

  1. um esforço para gostar de antonio nobre, ou talvez não, o poeta que leio com gosto e entusiasmo dessa altura é cesário, sim, um poeta são e concreto, realista, mas exprimindo emoções, estados, ambientes, falando da beleza da mulher, de cidades (lisboa), dos sinais do tempo, verde sim, nobre menos, no entanto é curioso esse convite dele para ela olhar o diplomata enrugado e a pergunta quantos são hoje, agora diz se doutra maneira, etc etc

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