Friday, November 22, 2013

Revisão (agora em Paris)

Um aniversario em Paris, onde nasceram dois dos meus filhos, onde vivi há vinte anos e onde voltei a viver, por breves e esquecidos meses, há dois anos, faz um no na meada dos tempos de que se teceu a minha vida e faz ao mesmo tempo um no na garganta de pura alegria ao ver comigo alguns dos que me acompanharam, tu, a filha que veio morar para Paris, os amigos de ha muito ou pouco tempo, os amigos que se juntaram esta noite a volta de uma mesa fraterna.

Eu tenho uma relação ambivalente com Paris, que me deu o melhor e o pior da vida. Daqui lutei tenazmente para conseguir publicar "A Ilha dos Mortos" em Portugal, aqui fui descobrindo contigo e com o Eduardo Prado Coelho o múltiplo esplendor de uma cidade que aprendemos a ler desde a infância. Paris nunca me deu muito, nunca a medida do que tanto me seduziu. Hoje tenho uma filha duplamente parisiense, porque aqui nasceu e porque aqui vive e trabalha. Talvez seja esta a resposta de Paris, a bela desdenhosa, aos meus desejos insatisfeitos. Vejo a minha filha voltar de moto para a casa dela e penso que ela nao tem, como Rastignac, que conquistar Paris, que ela já e Paris, tao naturalmente como eu sei que nao sou, nao fui, nunca serei Paris.

"A Ilha dos Mortos" foi publicada finalmente em 1991. Nesse ano deixamos Paris.




5 comments:

  1. feliz aniversario portanto nessa cidade que deu o melhor e o pior, afinal paris oferece o que tem, e é boa a ocasião para reviver o tempo passado, com familia, é escrever o poema merecido, etc etc

    ReplyDelete
  2. A 'velha senhora' insiste, obstinada, em tentar entender o "etc etc" do caro Patrício Branco:

    etc etc é sinal
    de patrícia intervenção
    inútil? vale o que vale
    as coisas são o que são
    não uso eu ponto final
    será pla mesma razão

    ReplyDelete
  3. Li este seu texto e senti-o como algo familiar.
    Vivi em Paris os melhores anos da minha vida, numa fase em que a maioria de nós pouco espera dela. Mas também foi em Paris que chorei lágrimas amargas. Por isso, hoje, tenho uma relação ambígua com essa cidade. Desde Fevereiro que penso lá voltar e desisto. Possivelmente já não retornarei...

    ReplyDelete
  4. Conheço Paris desde a alegria da maternidade de Baudelocque ao desespero do Hospital do Cancro de Villejuif. Paris vivido e bem diferente do Paris sonhado. Mas eu continuo a preferir o Paris vivido. Hoje jantamos com os nossos dois filhos e com mais amigos de há muito tempo. Para a Helena, une fleur de Paris...

    ReplyDelete
  5. Obrigada meu querido Alcipe. Um bom jantar para a família toda!

    ReplyDelete