Saturday, November 30, 2013

Leituras

Leitura de poemas na Associação Portuguesa de Estrasburgo. O público é heterogéneo e de muitas línguas ( ate um casal de cazaques apareceu!) por isso leio traduções  francesas primeiro, antes de ler alguns poemas em português.

Começo por apresentar ao público alguns (uns poucos) dos poetas portugueses que me formaram e fizeram: leio-lhes Pessoa (a "Autopsicografia" traduzida pelo Quillier - na verdade não há nenhuma tradução deste poema que satisfaça! - e depois o "Natal, na província neva", que aproveito para ligar a um poema meu, que fiz a partir desse), o Jorge de Sena (foi o poeta que deixou o público mais frio, as raivas dele já não passam tão bem os Pirinéus - nada de confusões, acho-o um enorme poeta, mas o seu grande ressentimento às vezes joga contra uma melhor recepção da sua poesia), a Sophia ( sempre aplaudida, sem restrições, como merece) e um poema do Fernando Echevarría, dedicado ao pai, que me diz muito, e que eu aproveitei também para ligar ao meu poema "Memento mori", que evoca a morte do meu pai.

A sequência que tinha escolhido para a apresentação dos meus poemas cedo foi interrompida (e no seu pleníssimo direito) pelos meus amáveis anfitriões. Escolhi assim entremear as intervenções dos meus amigos da Associação com alguns poemas meus, mais ligeiros (como o "Fon Fon Fon", poema  dedicado aos Deolinda), abandonando assim o percurso autobiográfico que tinha encetado, com algum gosto. O importante é mostrar a poesia e dizer que quem faz poesia a faz sempre com ( e às vezes contra) todos os que o precederam. E que se começa a amar a poesia, na infância, através de coisas que hoje nos parecem menores, como "Baçus, mulher de Ali, pastora de camelas/ uma noite ao fulgor das rútilas estrelas" ("O Juramento do Árabe", Gonçalves Crespo), mas que é aí que nasce o amor pelas palavras e a alegria da língua. A professora de Português da primária aqui de Estrasburgo dá-me uma boa surpresa, dizendo que vai dar a ler aos seus alunos os poemas para crianças do Manuel António Pina. Quem acha que estes professores de Português no estrangeiro são uma despesa inútil para o  Estado, não sabe o que é defender e promover uma língua, não sabe o que é defender e promover uma Pátria!

Agradeço pois à Associação Portuguesa de Estrasburgo esta oportunidade de falar de poesia, e não só da minha, mas da poesia portuguesa em geral.


1 comment:

  1. Parabéns sr. Embaixador Poeta estivemos decerto muito bem representados.
    Também concordo plenamente com a importância que os professores de português têm no estrangeiro, ao promover a língua portuguesa.

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