Monday, November 11, 2013

Poetas, políticos e diplomatas

A rever as provas de um curto artigo que irei publicar sobre os poetas que sao (ou foram) diplomatas e os diplomatas que sao (ou foram) poetas, dou-me conta que enquanto alguns (e nao dos menores, como Neruda, Joao Cabral de Melo Neto ou Saint-John Perse) foram diplomatas de carreira, isto e, servidores do Estado, funcionários públicos que ascenderam as embaixadas atraves do "cursus" e da tarimba da carreira, outros, como Octávio Paz ou Murilo Mendes, foram diplomatas de nomeação política, isto e, escolhidos pelos seus governos por nomeação directa, fora do contingente da carreira diplomática.

Tive ocasião de o dizer noutra ocasião, em blog amigo, e repito-o: nao tenho, enquanto profissional da diplomacia, a reacção corporativa de defender o feudo; admito que qualquer governo tem o direito de nomear para determinados postos de especial melindre político ou especialização funcional figuras políticas competentes e respeitadas, de comprovada capacidade técnica e politica na área em questão. O que considero inadmissível e afrontoso para a profissão que tenho e para o respeito pela noção mesma de servidor do Estado e a pratica (hoje felizmente abolida entre nos) de transformar o embaixador de nomeação política em embaixador de carreira, passando um nomeado político a servir sucessivos governos de partidos opostos, o que e dever para um funcionário, mas oportunismo para um político.

Isto dito, ocorrem-me  os nomes de dois amigos meus, de partidos diferentes, que souberam recusar ou abandonar funções diplomáticas, por naturalmente nao admitirem trabalhar sob a direcção de governos a que se opunham. Justamente por serem políticos e nao funcionários e nao admitirem  misturar os estatutos por conveniência pessoal. Penso no Jose Pacheco Pereira e no Eduardo Ferro Rodrigues.








13 comments:

  1. interessante o tema sem duvida, e especializado, o poeta diplomata e o diplomata poeta, espero com interesse, curiosidade...

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  2. Meu querido Alcipe
    O que é que é mais? Poeta ou diplomata?
    E o que é que gosta mais de fazer? Diplomacia ou poesia? Porque se gosta sempre mais de alguma coisa...

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  3. Li o seu comentário à 'velha senhora', que não se conteve e me ditou de imediato:

    não é pra contrariar
    eu gosto das coisas todas
    brincar rir ler rimalhar
    do que mais gosto é de modas

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  4. Querida Helena, a servidão e a grandeza da diplomacia são mesmo assim menos duras e exigentes do que o rigor e a impiedade da poesia. É, eu fico sempre assim depois de um bom Riesling, influências daquela misteriosa Velha Senhora...

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  5. Aguardo o texto definitivo. Estou muito curioso em conhecer a tua perspetiva que, desde logo, verifico que não coincide com a minha, a qual deixei expressa no meu blogue, durante o mês de agosto.

    Da mesma maneira que Soeiro Pereira Gomes falava dos "homens que nunca foram meninos" eu também tenho uma posição muito mais reservada do que a tua quanto aos "embaixadores que nunca foram adidos". Embora nestes últimos tenhamos amigos comuns, ao lado de outrosque o não são.

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  6. Meu caro Francisco, não pretendo desenvolver este tema. Penso aliás que as nossas posições não são assim tão distantes.

    a) Alcipe

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  7. Meu querido Alcipe
    Cá me queria parecer. E vou estar atenta - se viva e com juízo -, àquilo que, terminada a Diplomacia, a Poesia nos vai trazer. É que eu gosto tanto do que o meu amigo poeta!

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  8. Meu caro: não estamos de acordo! Tu não admites a especificidade da função de embaixador, considerando que ela pode ser exercida por um político (ou por uma figura da cultura ou por um jornalista). Aceitas o mesmo para o lugar de comandante da Região Militar Norte? A tecnicidade da função diplomática está acessível a quem

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  9. ... quer que seja? Isso era nos tempos do António José de Almeida e do Palmela. Ou na lógica dos americanos, que não é a minha,

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  10. Correcção do poema à Velha Senhora:

    Ó minha Velha Senhora,
    comove-me o seu pudor.
    Essas modas lá de fora
    trocam letra no andor.

    Entre a moda de mentira
    e a f*** de verdade
    a gente passa e respira
    passada a ansiedade:

    "Vá lá que não veio bujarda.
    Isto é que ela se esforçou!
    O Pranto da Maria Parda
    alguma vez encenou?"

    Não é pra contrariar,
    também eu gosto de si.
    Andamos na mesma roda,
    onde foi mesmo que a vi?

    a) Alcipe

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  11. não creio que la fontaine tenha escrito uma fábula metendo um diplomata e um poeta que se cruzam num caminho cada um pensando nos seus problemas e entabulando um diálogo donde sai algo, uma solução, um ensinamento, mas imagino que seria um exercicio interessante para um poeta actual, ou para um diplomata.
    o pranto de maria parda...esplendida combinação de 5 palavras !!

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  12. Comovida e ansiosa, a 'velha senhora' responde:

    foi sorte ora é azar
    manter esta preferência
    ando eu na roda a rodar
    não vejo vossa excelência
    - a fome turva o olhar?

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  13. Ó raio, esqueci-me de transcrever o dístico final da rimalhice. A minha velha amiga ainda me despede!

    é bom o riesling amor?
    o verde branco é melhor

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