Saturday, November 30, 2013
De burros e homens
After decades of neglect and, some argue, misunderstanding, the fate of the donkey has come to resemble that of its human counterparts in hard-pressed European hinterlands: threatened by declining population and dependent for its survival on, yes, subsidies from the European Union.
(New York Times)
(New York Times)
Leituras
Leitura de poemas na Associação Portuguesa de Estrasburgo. O público é heterogéneo e de muitas línguas ( ate um casal de cazaques apareceu!) por isso leio traduções francesas primeiro, antes de ler alguns poemas em português.
Começo por apresentar ao público alguns (uns poucos) dos poetas portugueses que me formaram e fizeram: leio-lhes Pessoa (a "Autopsicografia" traduzida pelo Quillier - na verdade não há nenhuma tradução deste poema que satisfaça! - e depois o "Natal, na província neva", que aproveito para ligar a um poema meu, que fiz a partir desse), o Jorge de Sena (foi o poeta que deixou o público mais frio, as raivas dele já não passam tão bem os Pirinéus - nada de confusões, acho-o um enorme poeta, mas o seu grande ressentimento às vezes joga contra uma melhor recepção da sua poesia), a Sophia ( sempre aplaudida, sem restrições, como merece) e um poema do Fernando Echevarría, dedicado ao pai, que me diz muito, e que eu aproveitei também para ligar ao meu poema "Memento mori", que evoca a morte do meu pai.
A sequência que tinha escolhido para a apresentação dos meus poemas cedo foi interrompida (e no seu pleníssimo direito) pelos meus amáveis anfitriões. Escolhi assim entremear as intervenções dos meus amigos da Associação com alguns poemas meus, mais ligeiros (como o "Fon Fon Fon", poema dedicado aos Deolinda), abandonando assim o percurso autobiográfico que tinha encetado, com algum gosto. O importante é mostrar a poesia e dizer que quem faz poesia a faz sempre com ( e às vezes contra) todos os que o precederam. E que se começa a amar a poesia, na infância, através de coisas que hoje nos parecem menores, como "Baçus, mulher de Ali, pastora de camelas/ uma noite ao fulgor das rútilas estrelas" ("O Juramento do Árabe", Gonçalves Crespo), mas que é aí que nasce o amor pelas palavras e a alegria da língua. A professora de Português da primária aqui de Estrasburgo dá-me uma boa surpresa, dizendo que vai dar a ler aos seus alunos os poemas para crianças do Manuel António Pina. Quem acha que estes professores de Português no estrangeiro são uma despesa inútil para o Estado, não sabe o que é defender e promover uma língua, não sabe o que é defender e promover uma Pátria!
Agradeço pois à Associação Portuguesa de Estrasburgo esta oportunidade de falar de poesia, e não só da minha, mas da poesia portuguesa em geral.
Começo por apresentar ao público alguns (uns poucos) dos poetas portugueses que me formaram e fizeram: leio-lhes Pessoa (a "Autopsicografia" traduzida pelo Quillier - na verdade não há nenhuma tradução deste poema que satisfaça! - e depois o "Natal, na província neva", que aproveito para ligar a um poema meu, que fiz a partir desse), o Jorge de Sena (foi o poeta que deixou o público mais frio, as raivas dele já não passam tão bem os Pirinéus - nada de confusões, acho-o um enorme poeta, mas o seu grande ressentimento às vezes joga contra uma melhor recepção da sua poesia), a Sophia ( sempre aplaudida, sem restrições, como merece) e um poema do Fernando Echevarría, dedicado ao pai, que me diz muito, e que eu aproveitei também para ligar ao meu poema "Memento mori", que evoca a morte do meu pai.
A sequência que tinha escolhido para a apresentação dos meus poemas cedo foi interrompida (e no seu pleníssimo direito) pelos meus amáveis anfitriões. Escolhi assim entremear as intervenções dos meus amigos da Associação com alguns poemas meus, mais ligeiros (como o "Fon Fon Fon", poema dedicado aos Deolinda), abandonando assim o percurso autobiográfico que tinha encetado, com algum gosto. O importante é mostrar a poesia e dizer que quem faz poesia a faz sempre com ( e às vezes contra) todos os que o precederam. E que se começa a amar a poesia, na infância, através de coisas que hoje nos parecem menores, como "Baçus, mulher de Ali, pastora de camelas/ uma noite ao fulgor das rútilas estrelas" ("O Juramento do Árabe", Gonçalves Crespo), mas que é aí que nasce o amor pelas palavras e a alegria da língua. A professora de Português da primária aqui de Estrasburgo dá-me uma boa surpresa, dizendo que vai dar a ler aos seus alunos os poemas para crianças do Manuel António Pina. Quem acha que estes professores de Português no estrangeiro são uma despesa inútil para o Estado, não sabe o que é defender e promover uma língua, não sabe o que é defender e promover uma Pátria!
Agradeço pois à Associação Portuguesa de Estrasburgo esta oportunidade de falar de poesia, e não só da minha, mas da poesia portuguesa em geral.
Thursday, November 28, 2013
Tuesday, November 26, 2013
O jogo de fazer versos
Georges de la Tour, La Diseuse de Bonne Aventure
El juego de hacer versos
—que no es un juego— es algo
parecido en principio
al placer solitario.
El juego de hacer versos
—que no es un juego— es algo
parecido en principio
al placer solitario.
Con la primera muda
en los años nostálgicos
de nuestra adolescencia,
a escribir empezamos.
en los años nostálgicos
de nuestra adolescencia,
a escribir empezamos.
Y son nuestros poemas
del todo imaginarios
—demasiado inexpertos
ni siquiera plagiamos—
del todo imaginarios
—demasiado inexpertos
ni siquiera plagiamos—
porque la Poesía
es un ángel abstracto
y, como todos ellos,
predispuesto a halagarnos.
es un ángel abstracto
y, como todos ellos,
predispuesto a halagarnos.
El arte es otra cosa
distinta. El resultado
de mucha vocación
y un poco de trabajo.
distinta. El resultado
de mucha vocación
y un poco de trabajo.
Aprender a pensar
en renglones contados
–y no en los sentimientos
con que nos exaltábamos–,
en renglones contados
–y no en los sentimientos
con que nos exaltábamos–,
tratar con el idioma
como si fuera mágico
es un buen ejercicio,
que llega a emborracharnos.
como si fuera mágico
es un buen ejercicio,
que llega a emborracharnos.
Luego está el instrumento
en su punto afinado:
la mejor poesía
es el Verbo hecho tango.
en su punto afinado:
la mejor poesía
es el Verbo hecho tango.
Y los poemas son
un modo que adoptamos
para que nos entiendan
y que nos entendamos.
un modo que adoptamos
para que nos entiendan
y que nos entendamos.
Lo que importa explicar
es la vida, los rasgos
de su filantropía,
las noches de sus sábados.
es la vida, los rasgos
de su filantropía,
las noches de sus sábados.
La manera que tiene
sobre todo en verano
de ser un paraíso.
Aunque, de cuando en cuando,
sobre todo en verano
de ser un paraíso.
Aunque, de cuando en cuando,
si alguna de esas nubes
que las carga el diablo
uno piensa en la historia
de estos últimos años,
que las carga el diablo
uno piensa en la historia
de estos últimos años,
si piensa en esta vida
que nos hace pedazos
de madera podrida,
perdida en un naufragio,
que nos hace pedazos
de madera podrida,
perdida en un naufragio,
la conciencia le pesa
—por estar intentando
persuadirse en secreto
de que aún es honrado.
—por estar intentando
persuadirse en secreto
de que aún es honrado.
El juego de hacer versos,
que no es un juego, es algo
que acaba pareciéndose
al vicio solitario.
que no es un juego, es algo
que acaba pareciéndose
al vicio solitario.
JAIME GIL DE BIEDMA
De Moralidades, 1990.
En Poéticas
Monday, November 25, 2013
Revisão: A Ilha dos Mortos
Arnold Bocklin, A Ilha dos Mortos, 1880
O confronto com a morte e o lento despir (e despertar) do amor constituíram os eixos deste livro, que foi na sua maior parte escrito naquele apartamento abafado de Paris, enviado entretanto poema por poema em cartas para ti e depois reunido em livro, que eu tinha pronto para editar sem ter qualquer editor em vista. Lembro-me dos que procurei, dos que encontrei e desencontrei, da ajuda dos amigos, dos conselhos de alguém muito próximo, que resolveu ha pouco tempo deixar de ser meu amigo, das duvidas terríveis sobre se valia ou nao a pena (o meu primeiro livro tivera ja uma recusa liminar de uma editora, por parecer negativo do Joaquim Manuel Magalhães), das promessas vagas, das visitas sem sequência. Tive o Nuno Júdice (além de ti, e claro) sempre a defender junto de mim que valia a pena. E encontrei então quem foi sempre, durante todos estes anos e todos estes livros (com a referida interrupcao dos dez anos sem escrita entre 2001 e 2011) a minha atenta, exigente e sensível editora e muito querida amiga, Maria da Piedade Ferreira. O meu próximo livro nao sera já editado pela Maria da Piedade, e nao por vontade de nenhum de nos dois, ira sair na Assírio e Alvim, em excelentes maos e para inteira satisfação de todos, penso eu. E a vida continua.
Sunday, November 24, 2013
Revisão
Escrevi em Paris muitos poemas da "Ilha dos Mortos", sozinho com a minha filha mais velha (os outros estavam ainda por nascer), num medonho apartamento mobilado, onde a partir das dez da noite eu não podia andar no corredor (entre o meu quarto e o telefone onde te vinha ouvir, de Lisboa) sem provocar enérgicos e solidários protestos dos vizinhos de baixo, tão sensíveis ao barulho quanto empenhados no sono desde muito cedo. A alusão feita num poema desse livro a "um telefone que não funcionava" era bem anterior a este tempo que agora vivemos, em que o amor pode correr por sms, mensagens ou chats do facebook, em viva voz e imagens no Skype, mil caminhos tem hoje o amor para correr os espaços e desafiar as distâncias. Escrevia em cadernos, foste tu que mais tarde me passaste o livro à máquina (Achetée à crédit la machine à écrire/ nous mettait tous les mois dans un bel embarras, Aragon, também não era tanto assim) e os poemas respondiam a um encontro precoce com a morte e a solidão e a um caminhar para ti, o que muito claramente emerge do conjunto. O José Tolentino de Mendonça disse-me, já faz algum tempo, que esse era o meu melhor livro.
Friday, November 22, 2013
O excerto do poema "Dispersão" de Mário de Sá Carneiro, que glosei
O Domingo de Paris
lembra-me o desaparecido
que sentia comovido
os domingos de Paris:
Porque um domingo é família,
é bem-estar, é singeleza.
E os que amam a beleza
nao têm bem-estar nem família.
lembra-me o desaparecido
que sentia comovido
os domingos de Paris:
Porque um domingo é família,
é bem-estar, é singeleza.
E os que amam a beleza
nao têm bem-estar nem família.
Sobre um poema de Mário de Sá Carneiro
Os domingos de Paris
para mim são a família
e só me digo feliz
quando despeço a mobília
da casa que se desfez
e volto à vida refeita,
uma vez e outra vez,
dizendo adeus à maleita
de aqui me fingir feliz
só por ter tido o acaso
de vir parar a Paris.
Os domingos de Paris,
qual beleza no ocaso,
são o que deles se diz.
Revisão (agora em Paris)
Um aniversario em Paris, onde nasceram dois dos meus filhos, onde vivi há vinte anos e onde voltei a viver, por breves e esquecidos meses, há dois anos, faz um no na meada dos tempos de que se teceu a minha vida e faz ao mesmo tempo um no na garganta de pura alegria ao ver comigo alguns dos que me acompanharam, tu, a filha que veio morar para Paris, os amigos de ha muito ou pouco tempo, os amigos que se juntaram esta noite a volta de uma mesa fraterna.
Eu tenho uma relação ambivalente com Paris, que me deu o melhor e o pior da vida. Daqui lutei tenazmente para conseguir publicar "A Ilha dos Mortos" em Portugal, aqui fui descobrindo contigo e com o Eduardo Prado Coelho o múltiplo esplendor de uma cidade que aprendemos a ler desde a infância. Paris nunca me deu muito, nunca a medida do que tanto me seduziu. Hoje tenho uma filha duplamente parisiense, porque aqui nasceu e porque aqui vive e trabalha. Talvez seja esta a resposta de Paris, a bela desdenhosa, aos meus desejos insatisfeitos. Vejo a minha filha voltar de moto para a casa dela e penso que ela nao tem, como Rastignac, que conquistar Paris, que ela já e Paris, tao naturalmente como eu sei que nao sou, nao fui, nunca serei Paris.
"A Ilha dos Mortos" foi publicada finalmente em 1991. Nesse ano deixamos Paris.
Eu tenho uma relação ambivalente com Paris, que me deu o melhor e o pior da vida. Daqui lutei tenazmente para conseguir publicar "A Ilha dos Mortos" em Portugal, aqui fui descobrindo contigo e com o Eduardo Prado Coelho o múltiplo esplendor de uma cidade que aprendemos a ler desde a infância. Paris nunca me deu muito, nunca a medida do que tanto me seduziu. Hoje tenho uma filha duplamente parisiense, porque aqui nasceu e porque aqui vive e trabalha. Talvez seja esta a resposta de Paris, a bela desdenhosa, aos meus desejos insatisfeitos. Vejo a minha filha voltar de moto para a casa dela e penso que ela nao tem, como Rastignac, que conquistar Paris, que ela já e Paris, tao naturalmente como eu sei que nao sou, nao fui, nunca serei Paris.
"A Ilha dos Mortos" foi publicada finalmente em 1991. Nesse ano deixamos Paris.
Wednesday, November 20, 2013
Revisão (agora em verso)
Começamos a olhar para o que vivemos
e de repente vemos, ao interromper uma frase,
que afinal não sabemos verdadeiramente o que vivemos.
O único modo então de continuar
é através da poesia, essa "prosa lenta"*
que nos permite, de uma maneira sonsa,
dizer como Bartleby "I prefer not to"**.
Eu podia trazer poemas do meio da vida,
mas a vida esgota-se em vivê-la
e na verdade eu fiquei parado no meio de uma frase
a pensar que preferia não pensar em a escrever.
*Nicholson Baker
** Melville e um agradecimento especial ao Ricardo Gil Soeiro
(continua, em prosa, no próximo post)
(continua, em prosa, no próximo post)
Tuesday, November 19, 2013
Revisão
A rever provas de um novo livro. O que significou para mim estar dez anos (entre 2001 e 2011) sem publicar, para além da inevitável desaparição da paisagem literária da minha terra ( já que o "meio literário", vivendo eu longe e exercendo funções consideradas por alguns pouco compatíveis com a "razão ardente" da poesia, nunca o cheguei a entender bem) ?
Sem publicar? Não, sem escrever. Alimentado na minha infância poética pela influência mágica de Rilke, sempre tive como adquirido que escrever um poema sem ter disso absoluta necessidade era um pecado contra o espírito. Não quer dizer que não considere a poesia como um trabalho (tive neste ponto um grande mestre, Fernando Echevarría e um grande exemplo, Vasco Graça Moura), aliás o Rilke do mesmo modo o considerava. Mas não é um trabalho a que se possa acudir sem necessidade. Por isso fiquei muitos anos (entre 1983 e 1991, como entre 2001 e 2011) sem publicar, sem aparecer ao público na praça da poesia.
A conversa sobre o Saint-John Perse que noutro post referi levou-me a confrontar comigo mesmo a duração desses períodos de silêncio com o que eu andava fazer então da minha vida.
Na verdade só atingi alguma maturidade e um mínimo de voz própria na minha publicação de 1991 (aos quarenta anos) "A Ilha dos Mortos" (o meu primeiro livro, "Recados", foi primeiro recusado sumariamente pelo Joaquim Manuel Magalhães e publicado depois em 1983 pela generosidade do Vasco Graça Moura, o meu segundo livro, "Seis Elegias", um exercicio rilkeano, com grande influência de muita poesia espanhola, teve em 1985 um prémio no Porto, gracas ao Jose Viale Moutinho). Nao sou, nunca fui, qualquer especie de Rimbaud, e chamo a testemunho os que acarinharam e acalentaram as minhas primícias (o meu acne) de poesia, a Alice Vieira ( as cartas que
ela me mandava para Chaves e as palavras generosas que o Mário Castrim sobre mim escreveu no "Diário de Lisboa Juvenil" chegaram a convencer-me de que eu era um poeta), o Jorge Silva Melo que me ensinou a ser menos sério aos dezassete anos, com a ajuda do João Camilo dos Santos e do José Mariano Gago.
A política desviou as minhas energias e as minhas prioridades de vida nesse momento e estancou-me a poesia. Política nesse tempo era feita de reuniões clandestinas, de medo da policia, de discussões sobre o comportamento a ter durante os interrogatórios, de saídas a noite a medo, a muito medo, para colar panfletos nas paredes, de manifestações à espera sempre da chegada da polícia de choque e das consequentes detenções pela PIDE, de reuniões associativas que desencadeavam greves tremendas onde andávamos todos a pancada (a mim, que era fraquinho, punham-me sempre na retaguarda), como ainda há pouco eu recordava, numa conversa em Paris, com o Jaime Nogueira Pinto, inimigo figadal nesses e noutros tempos - no final "todos burgueses/gatos e ratos", como dizia o Cesariny? - Para não falar dos que tiveram de se exilar ou de entrar na clandestinidade.
(Continua no post seguinte)
Sunday, November 17, 2013
Poetas, políticos e diplomatas(2)
Na livraria dos Bateliers, em Estrasburgo, assisto à apresentação pela sua autora, Henriette Levillain, de uma nova biografia de Saint-John Perse. Estudiosa há muitos anos deste poeta-diplomata (um caso raro de alguém que foi tão grande poeta como grande diplomata), Henriette é figura proeminente da Fundação Saint-John Perse (trabalhou com Vasco Graça Moura na publicação por esta Fundação da correspondência entre Saint-John Perse e Calouste Gulbenkian, que foi mecenas do poeta em tempos bem amargos para o mundo em geral e para a vida deste em particular) e a biografia que agora veio lançar responde à biografia publicada o ano passado por Renauld Meltz, a qual lançava severas censuras a várias atitudes assumidas por Perse (pseudónimo poético do diplomata Alexis Léger) durante a sua carreira diplomática e o seu percurso político (há sempre escolhas políticas a fazer durante uma carreira diplomática, por muito estritamente profissional que se queira ser).
Por ter lido as duas biografias, por me interessar pelo assunto e até por ter tecido algumas breves considerações sobre Perse num artigo meu a sair na revista "Colóquio", estive particularmente atento aos argumentos da autora em defesa do diplomata - que do poeta bastou ouvir a esplendorosa leitura de um excerto de "Amers" para relembrar que, aqui, nada mais poderá afectar a sua grandeza. Mas o homem político que Alexis Léger, de bom grado ou mau grado, também foi interessa-nos e bem merece interessar-nos.
Aceito como boa a defesa de Henriette Levillain quanto à lealdade que o poeta-diplomata teria sempre mantido relativamente ao seu antecessor no cargo de Secretário Geral do Quai d'Orsay, Philippe Berthelot. Este encontrava-se muito obviamente diminuído e fisicamente enfraquecido quando Léger o substituiu, pelo que não custa a crer que não tenha sido propriamente ele a vitima das intrigas do sucessor, antes os rivais deste na ambição pelo cargo.
Já me custa mais a crer na ideia da autora de que Léger, residente em Washington após a sua fuga da França de Pétain (que chegou a retirar-lhe a nacionalidade francesa), conhecido como tendo sido o mais importante diplomata no eixo das decisões da política externa de Paris na década que precedeu a guerra, insuspeito de colaboracionismo - não tenha ainda assim tido a menor influência na reserva, e mesmo hostilidade, com que Roosevelt sempre tratou o general De Gaulle.
Uma questão foi a certa altura levantada pela biógrafa, que disse ser a pergunta para a qual nunca conseguira encontrar resposta: por que razão quis Léger manter-se tão distante de Perse, porquê a sua recusa de escrever, publicar ou sequer aludir à sua obra poética durante os anos em que foi Secretário Geral do Quai d'Orsay?
Tentei uma explicação: é bem diferente, sabe-o quem pertence a esta carreira, estar do lado dos executantes da política externa, por maiores tarefas e responsabilidades que se tenha, e estar do lado dos decisores. Ora, por muito que Léger nos queira deixar a ideia de que foi um mero executante das políticas dos governos que serviu (e, seja dito em sua honra, foi destituído de todas as suas funções pelo governo de Vichy), de todos é sabido que o peso e a influência do experiente e hábil Secretário Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros foi fundamental (e em alguns casos decisivo) nas decisões de poítica externa tomadas pela França entre as duas guerras, com governos de direita e de esquerda. Esbocei então com a minha interlocutora (bem ao corrente dos meandros da diplomacia) uma tipologia dos escritores/diplomatas: aqueles, como Giraudoux ou Morand, para quem a diplomacia é apenas um modo de vida, que encaram de um modo mais mundano ou diletante; aqueles, como Claudel, que levam a carreira diplomática e as suas exigências a sério e lhe consagram sem reservas o seu trabalho e a sua energia, mas que não aspiram a pertencer ao "núcleo duro" dos decisores da política externa; e, no caso de Perse/Léger a antinomia entre a criação e o poder. Será o trabalho da poesia compatível com a luta pelo poder e o seu exercício?
Se assim for, concluíu Henriette Levillain, ficamos a dever ao general De Gaulle (cujo profundo e insuperável ressentimento fez Alexis Léger afastar-se de vez, agora pelo seu pé, da carreira diplomática, pois sabia bem que, face ao general, jamais recuperaria o poder perdido) a plena realização de um grande poeta.
Por ter lido as duas biografias, por me interessar pelo assunto e até por ter tecido algumas breves considerações sobre Perse num artigo meu a sair na revista "Colóquio", estive particularmente atento aos argumentos da autora em defesa do diplomata - que do poeta bastou ouvir a esplendorosa leitura de um excerto de "Amers" para relembrar que, aqui, nada mais poderá afectar a sua grandeza. Mas o homem político que Alexis Léger, de bom grado ou mau grado, também foi interessa-nos e bem merece interessar-nos.
Aceito como boa a defesa de Henriette Levillain quanto à lealdade que o poeta-diplomata teria sempre mantido relativamente ao seu antecessor no cargo de Secretário Geral do Quai d'Orsay, Philippe Berthelot. Este encontrava-se muito obviamente diminuído e fisicamente enfraquecido quando Léger o substituiu, pelo que não custa a crer que não tenha sido propriamente ele a vitima das intrigas do sucessor, antes os rivais deste na ambição pelo cargo.
Já me custa mais a crer na ideia da autora de que Léger, residente em Washington após a sua fuga da França de Pétain (que chegou a retirar-lhe a nacionalidade francesa), conhecido como tendo sido o mais importante diplomata no eixo das decisões da política externa de Paris na década que precedeu a guerra, insuspeito de colaboracionismo - não tenha ainda assim tido a menor influência na reserva, e mesmo hostilidade, com que Roosevelt sempre tratou o general De Gaulle.
Uma questão foi a certa altura levantada pela biógrafa, que disse ser a pergunta para a qual nunca conseguira encontrar resposta: por que razão quis Léger manter-se tão distante de Perse, porquê a sua recusa de escrever, publicar ou sequer aludir à sua obra poética durante os anos em que foi Secretário Geral do Quai d'Orsay?
Tentei uma explicação: é bem diferente, sabe-o quem pertence a esta carreira, estar do lado dos executantes da política externa, por maiores tarefas e responsabilidades que se tenha, e estar do lado dos decisores. Ora, por muito que Léger nos queira deixar a ideia de que foi um mero executante das políticas dos governos que serviu (e, seja dito em sua honra, foi destituído de todas as suas funções pelo governo de Vichy), de todos é sabido que o peso e a influência do experiente e hábil Secretário Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros foi fundamental (e em alguns casos decisivo) nas decisões de poítica externa tomadas pela França entre as duas guerras, com governos de direita e de esquerda. Esbocei então com a minha interlocutora (bem ao corrente dos meandros da diplomacia) uma tipologia dos escritores/diplomatas: aqueles, como Giraudoux ou Morand, para quem a diplomacia é apenas um modo de vida, que encaram de um modo mais mundano ou diletante; aqueles, como Claudel, que levam a carreira diplomática e as suas exigências a sério e lhe consagram sem reservas o seu trabalho e a sua energia, mas que não aspiram a pertencer ao "núcleo duro" dos decisores da política externa; e, no caso de Perse/Léger a antinomia entre a criação e o poder. Será o trabalho da poesia compatível com a luta pelo poder e o seu exercício?
Se assim for, concluíu Henriette Levillain, ficamos a dever ao general De Gaulle (cujo profundo e insuperável ressentimento fez Alexis Léger afastar-se de vez, agora pelo seu pé, da carreira diplomática, pois sabia bem que, face ao general, jamais recuperaria o poder perdido) a plena realização de um grande poeta.
As consequências do mau governo
Aos dezassete anos, ao contrário de Rimbaud (on n'est pas sérieux quand on a dix-sept ans), eu era um menino sério e calado, a ler tudo o que me aparecia à frente, entre as montanhas (vá lá, os montes) que cercam a cidade de Chaves. Foi então que li A Cidade das Flores, de Augusto Abelaira, uma transposição das inquietações da juventude anti-fascista da geração do MUD Juvenil (a geração dos meus pais) para um cenário ficcional de Florença no tempo do fascismo italiano. Para além da óbvia alusão política e do erotismo insistente e luminoso das relações entre os personagens (Rosabianca!) veio trazer esse livro à minha adolescência a notícia da existência de algumas grandes obras de arte, imagens trazidas pelo Abelaira de uma famosa viagem que fez à Itália, conforme soube eu depois.
Uma das referidas era o fresco de Ambrogio Lorenzetti no Palácio Comunal de Siena, pintado em 1338, inicialmente designado A Paz e a Guerra, mais tarde conhecido geralmente como As Consequências do Bom e do Mau Governo. Fiquei com esta referência no museu da minha imaginação (e talvez tenha visto a reprodução numa história da arte lá em casa ou num dos magníficos livros que eu folheava no consultório do Dr. Montalvão Machado). Conhecera, porém, ainda mais pequeno, um fresco português um século posterior, onde se vê clara influência deste mural de Siena, ou pelo menos de convenções que lhes são comuns, O Bom e o Mau Juiz, de Monsaraz.
Só apenas há vinte anos atrás, numa das nossas viagens a Florença a acolher-nos à hospitalidade da Helena Abreu e do Robert Rowland, visitámos Siena e pude finalmente ver os murais do bom e do mau governo.
Porque falo disto? Porque uma obra de arte para nós é sempre mais do que ela própria, porque fica sempre ligada à nossa vivência pessoal e subjectiva dela, como muito melhor do que eu já antes o disse Marcel Proust. E porque neste momento me entusiasmo na leitura de um livro de Patrick Boucheron (Conjurer la Peur - Sienne, 1338) sobre estes frescos de Lorenzetti, uma análise iconográfica, histórica e política de extraordinário vigor e rigor, da qual gostaria de destacar aqui esta frase:
« Qui ne voit, aujourd’hui, qu’une sourde subversion de l’esprit public ronge nos certitudes ? Lorsque manquent les mots de la riposte, le danger devient imminent. Lorenzetti peint aussi cela : la paralysie devant l’ennemi innommable, le péril inqualifiable, l’adversaire dont on connaît le visage sans pouvoir en dire le nom »
Fresco de Monsaraz, O Bom e o Mau Juiz
Saturday, November 16, 2013
Monday, November 11, 2013
Poetas, políticos e diplomatas
A rever as provas de um curto artigo que irei publicar sobre os poetas que sao (ou foram) diplomatas e os diplomatas que sao (ou foram) poetas, dou-me conta que enquanto alguns (e nao dos menores, como Neruda, Joao Cabral de Melo Neto ou Saint-John Perse) foram diplomatas de carreira, isto e, servidores do Estado, funcionários públicos que ascenderam as embaixadas atraves do "cursus" e da tarimba da carreira, outros, como Octávio Paz ou Murilo Mendes, foram diplomatas de nomeação política, isto e, escolhidos pelos seus governos por nomeação directa, fora do contingente da carreira diplomática.
Tive ocasião de o dizer noutra ocasião, em blog amigo, e repito-o: nao tenho, enquanto profissional da diplomacia, a reacção corporativa de defender o feudo; admito que qualquer governo tem o direito de nomear para determinados postos de especial melindre político ou especialização funcional figuras políticas competentes e respeitadas, de comprovada capacidade técnica e politica na área em questão. O que considero inadmissível e afrontoso para a profissão que tenho e para o respeito pela noção mesma de servidor do Estado e a pratica (hoje felizmente abolida entre nos) de transformar o embaixador de nomeação política em embaixador de carreira, passando um nomeado político a servir sucessivos governos de partidos opostos, o que e dever para um funcionário, mas oportunismo para um político.
Isto dito, ocorrem-me os nomes de dois amigos meus, de partidos diferentes, que souberam recusar ou abandonar funções diplomáticas, por naturalmente nao admitirem trabalhar sob a direcção de governos a que se opunham. Justamente por serem políticos e nao funcionários e nao admitirem misturar os estatutos por conveniência pessoal. Penso no Jose Pacheco Pereira e no Eduardo Ferro Rodrigues.
Tive ocasião de o dizer noutra ocasião, em blog amigo, e repito-o: nao tenho, enquanto profissional da diplomacia, a reacção corporativa de defender o feudo; admito que qualquer governo tem o direito de nomear para determinados postos de especial melindre político ou especialização funcional figuras políticas competentes e respeitadas, de comprovada capacidade técnica e politica na área em questão. O que considero inadmissível e afrontoso para a profissão que tenho e para o respeito pela noção mesma de servidor do Estado e a pratica (hoje felizmente abolida entre nos) de transformar o embaixador de nomeação política em embaixador de carreira, passando um nomeado político a servir sucessivos governos de partidos opostos, o que e dever para um funcionário, mas oportunismo para um político.
Isto dito, ocorrem-me os nomes de dois amigos meus, de partidos diferentes, que souberam recusar ou abandonar funções diplomáticas, por naturalmente nao admitirem trabalhar sob a direcção de governos a que se opunham. Justamente por serem políticos e nao funcionários e nao admitirem misturar os estatutos por conveniência pessoal. Penso no Jose Pacheco Pereira e no Eduardo Ferro Rodrigues.
Padres de uma religião feroz
Jusqu’ici, les membres de la Troïka (Commission européenne, Banque centrale européenne, Fonds monétaire international), constituaient pour moi une entité abstraite : il s’agissait de gens existant quelque part, manifestement dans l’erreur, et une erreur coupable et dangereuse, mais j’étais bien incapable de leur mettre un visage, si ce n’est pour leurs principaux dirigeants, lesquels sont engagés désormais dans un bras de fer réjouissant, révélateur du désarroi qui les gagne.
Mais hier, j’ai vu et entendu au Parlement européen, deux membres de la Troïka, et pas des moindres puisqu’ils dirigent l’équipe qui « s’occupe » de la Grèce : Servaas Deroose pour la Commission européenne et Klaus Masuch pour la Banque centrale européenne, et là, mon opinion sur la Troïka a tout à fait changé.
Il ne m’est plus possible désormais d’imaginer qu’il pourrait s’agir avec eux de gens se trompant de bonne foi : je n’ai en effet entendu que des camelots de foire débitant des boniments, appelant « victoires », des déroutes sanglantes, qualifiant de « chiffres encourageants » la mesure quantitative de l’effondrement de la zone euro, prenant appui sur les preuves rétrospectives de leurs errements passés pour appeler à un effort supplémentaire dans la même direction et, à bout d’arguments devant les démentis que leur offre la réalité, blâmant les Grecs qui « refusent de faire ce qu’on leur demande » !
Mais qu’attendre d’autre de la part d’économistes car c’est bien ce qu’ils sont, qui nous expliquent depuis cent quarante ans que si leurs prévisions sont systématiquement fausses, ce n’est pas parce que leurs théories sont sans fondement mais parce que les hommes hélas ne sont pas suffisamment rationnels au sens psychopathique qu’ils ont attribué de leur côté au mot « raison ».
Que pouvons-nous faire pour les ramener précisément à la raison ? Rien hélas : ce sont les prêtres d’une religion féroce qui se co-optent entre eux, loin, bien loin, de toute élection démocratique. Nous en sommes réduits, à l’instar des parlementaires européens hier, à les couvrir de nos quolibets, à les poursuivre de nos lazzi, à chercher à les faire taire sous nos sifflets, mais si cela calme nos nerfs, cela ne suffit pas malheureusement à les empêcher de nuire de plus belle.
Paul Jorion
Sobre as noites de Lisboa canta o poeta de Sintra
SEXTA À NOITE Na "DOIS" DO PROCÓPIO
Vejo perpassar p'lo olhar tristonho
dos únicos dois Luíses ali presentes
a saudade de um tempo mais risonho,
de risos, de brilho, de repentes.
Construíam-se radiosas utopias,
e, logo, por caducas se afastavam.
Por vezes, floresciam poesias,
amores aqui e ali despontavam.
"Nunca mais, nunca mais, oh mocidade,
voltou a Dois à sua glória passada!
Matou-a o reumatismo e a idade..."
Uma lágrima rolou p'la face enrugada
Do Luís que esperava ter na tosta
uma certa Idade d'Ouro reposta.
ANTÓNIO RUSSO DIAS
Vejo perpassar p'lo olhar tristonho
dos únicos dois Luíses ali presentes
a saudade de um tempo mais risonho,
de risos, de brilho, de repentes.
Construíam-se radiosas utopias,
e, logo, por caducas se afastavam.
Por vezes, floresciam poesias,
amores aqui e ali despontavam.
"Nunca mais, nunca mais, oh mocidade,
voltou a Dois à sua glória passada!
Matou-a o reumatismo e a idade..."
Uma lágrima rolou p'la face enrugada
Do Luís que esperava ter na tosta
uma certa Idade d'Ouro reposta.
ANTÓNIO RUSSO DIAS
Saturday, November 9, 2013
Queixa de uma geração perdida
O AUTOR NÃO SE CONFORMA COM A MUDANÇA DE HORÁRIOS DA SUA GERAÇÃO, EXPERIMENTADA NUMA CHEGADA TARDIA AO BAR PROCÓPIO
A juventude toda de Lisboa
enchia as praças, apinhava as ruas;
só no Procópio a mesa dois destoa:
todos já recolhidos lá nas suas!
Saudade de outros tempos prazenteiros,
de madrugadas cheias de emoção!
Diz-me o senhor Luís: "são os primeiros
a recolher aos caldos e à mansão..."
Ó geração perdida doutros anos,
agora a retornar como avezinhas
ao sono ou internet, desenganos
da História e das histórias pequeninas!
Possa eu dos meus sonhos despertar
só quando a tosta mista me chegar!
A juventude toda de Lisboa
enchia as praças, apinhava as ruas;
só no Procópio a mesa dois destoa:
todos já recolhidos lá nas suas!
Saudade de outros tempos prazenteiros,
de madrugadas cheias de emoção!
Diz-me o senhor Luís: "são os primeiros
a recolher aos caldos e à mansão..."
Ó geração perdida doutros anos,
agora a retornar como avezinhas
ao sono ou internet, desenganos
da História e das histórias pequeninas!
Possa eu dos meus sonhos despertar
só quando a tosta mista me chegar!
Tuesday, November 5, 2013
De como para a Associação de Professores de Português o ensino da literatura é uma bizarria!
Também a presidente da Associação de Professores de Português (APP), Edviges Ferreira, reagiu, após uma primeira leitura do programa da sua disciplina, com termos semelhantes aos utilizados pela dirigente da APM.
“Trata-se de uma alteração de fundo e grave, em termos de consequências. O programa é extensíssimo, completamente desadequado, dirigista e, principalmente, vai afastar os alunos das áreas científicas, o que é lamentável”, criticou. Não tem, também, perspectivas em relação à influência das sugestões da associação que, “como sempre, vão com certeza cair em saco roto”, disse.
Para além de registar “alterações incompreensíveis”, como o desaparecimento do Memorial do Convento, de José Saramago, (substituído por A Jangada de Pedra ou O ano da Morte de Ricardo Reis, do mesmo autor), Edviges Ferreira sublinha a entrada no programa “de um sem número de autores e de obras literárias” que transformam o Português numa “disciplina de literatura portuguesa”.
(PUBLICO de hoje, sublinhado meu)
“Trata-se de uma alteração de fundo e grave, em termos de consequências. O programa é extensíssimo, completamente desadequado, dirigista e, principalmente, vai afastar os alunos das áreas científicas, o que é lamentável”, criticou. Não tem, também, perspectivas em relação à influência das sugestões da associação que, “como sempre, vão com certeza cair em saco roto”, disse.
Para além de registar “alterações incompreensíveis”, como o desaparecimento do Memorial do Convento, de José Saramago, (substituído por A Jangada de Pedra ou O ano da Morte de Ricardo Reis, do mesmo autor), Edviges Ferreira sublinha a entrada no programa “de um sem número de autores e de obras literárias” que transformam o Português numa “disciplina de literatura portuguesa”.
(PUBLICO de hoje, sublinhado meu)
Demonstração do poder mágico da poesia
Sozinho em casa espero o artesão
e já o meu futuro antevejo:
gerir o funcionar da solidão
num festim de avarias beira-Tejo...
Não me traz mais consolos a memória
do que a pura alegria que me deu
reviver sem remorso a minha história
- mas onde raio o gajo se meteu?
Recomeço o soneto, mas a hora
de o canalizador aparecer
dilui-se na poesia que desiste
de tornar em palavras bem de agora
a raiva que me faz permanecer
junto a um cano roto que resiste. *
* e ao terminar este soneto, telefonou o canalizador!
e já o meu futuro antevejo:
gerir o funcionar da solidão
num festim de avarias beira-Tejo...
Não me traz mais consolos a memória
do que a pura alegria que me deu
reviver sem remorso a minha história
- mas onde raio o gajo se meteu?
Recomeço o soneto, mas a hora
de o canalizador aparecer
dilui-se na poesia que desiste
de tornar em palavras bem de agora
a raiva que me faz permanecer
junto a um cano roto que resiste. *
* e ao terminar este soneto, telefonou o canalizador!
Sunday, November 3, 2013
Subscribe to:
Posts (Atom)