Monday, March 4, 2013

Um requiem alemão

Ora aqui está, clarinho para sulista perceber:

(artigo de Viriato Soromenho Marques no DN de hoje)


Há um economista que não deixa ninguém indiferente. Chama-se Hans- -Werner Sinn. Dirige o maior instituto de investigação económica germânico, sediado em Munique. Tem sido o campeão das políticas de austeridade. É um firme opositor dos planos de resgate e acusa o Governo de Merkel por não ser suficientemente duro para com a periferia. Apesar da barba lhe dar um ar de clérigo islâmico, a verdade é que a inflexibilidade de raciocínio e a teimosa indiferença face aos sinais da realidade remetem-no para o universo da Schwärmerei, uma forma germânica de fanatismo, sempre com consequências devastadoras para a Europa. Este homem liderou um estudo sobre o estado da economia europeia acessível na Internet ("The EEAG Report on the European Economy 2013"). Enquanto percorríamos as ruas em protesto nas cidades portuguesas, Sinn explicava a um jornal espanhol as teses centrais do estudo: a austeridade na periferia europeia vai durar, pelo menos, mais dez anos. Mais concretamente: "Espanha, Portugal e Grécia necessitam de uma desvalorização interna de 30%; a França, de 20%; a Itália, uma descida de preços de 10%." Mas Sinn vai mais longe, considerando que a Espanha talvez possa permanecer na Zona Euro, mas tanto a Grécia como Portugal estão condenados a sair do euro: "As atuais exigências europeias sacrificam uma geração ao desemprego maciço. Portugal está numa situação semelhante."


9 comments:

  1. chegam novamente as ideias de supremacia germanica e inferioridade dos povos do sul, parece.
    no fundo, certos países europeus defendem a existencia duma europa pobre que sirva a europa rica elitista, se necessario empobrecendo à força os paises que estavam a sair dessa pobreza, trata-se portanto duma teoria que defende a necessidade da pobreza, infelizmente, alguns governos destes países menos ricos partilham dessa mesma ideia e governam para reinstaurar a pobreza chez eux...será mesmo o nosso caso !!

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  2. Infelizmente prevejo que Portugal sairá do euro. E, nessa altura, como já teremos desvalorizado muito até lá, a desvalorização total vai ultrapassar os 30%. Há muito que venho dizendo isto, embora ninguém pareça acreditar. Nem aqueles que o podem perceber...

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  3. concordo e prevejo que o € ficará para um nucleo reduzido no qual nem portugal nem grecia terão lugar, é uma moeda centralizada sem nenhuma flexibilidade que não pode servir igualmente todos os paises dum grupo tão dispar, nada homogeneo.

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  4. Os bolchevistas pensavam que a realidade se iria ajustar necessariamente a teoria, porque esta era cientifica . Do outro lado, os estalinistas viram estas teorias como um instrumento para criarem um poder absoluto para o qual o extermínio dos camponeses e a fome na Ucrânia eram necessários para construir o mundo novo. Desse modo criaram o poder soviético, com a cumplicidade dos ideólogos fanáticos.
    De facto isto e História antiga. Porque me fui eu lembrar disto?

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  5. Porque seria, caro Alcipe?!
    Admito:
    1. Pela enorme diferença entre o "antes" e o "depois"
    2. Pela enorme semelhança entre o "antes" e o "depois"
    3. Porque os poetas quando diplomatas, costumam ver longe...

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  6. E depois verificámos que a União Soviética conseguiu convencer milhões de pessoas que o aumento do seu poder no Mundo levava à salvação de toda a Humanidade. A RDA foi uma particular boa aluna deste ideário.
    Mas isto não tem que ver com qualquer fenómeno actual, repito.

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  7. alem disso é um produto muito caro que para certos paises tem que ser subsidiado, o € refiro-me a isso, pelo que só tê-lo como moeda nacional causa já defice...
    sair do € pode dar medo, como um salto no escuro, mas uma vez dado o salto e de nos endireitarmos e limparmos o pó da roupa e das mãos, tudo seguirá, se há que sair que seja quanto antes, pessoalmente até já desejo que portugal saia mesmo(como mais 2 ou 3 membros), uma volta de 180º no que pensava até há pouco...

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  8. Há neste alemão algo que deve ser respeitado. Ele abre uma porta de saída e será por essa porta que, mais mês menos mês, vá lá, mais um ano no máximo dois, nós iremos sair. Não creio que seja esta a estratégia da Alemanha. No princípio, talvez. Agora, creio que não. A Alemanha não está interessada em que os países do sul da Europa (e não falo da França) saiam do euro. Se esses países saíssem do euro, digamos, de uma forma ordenada, o euro valorizar-se-ia. A Alemanha ainda poderá aguentar um euro quase a dois dólares, mas a França nem pensar. E a Holanda, a Áustria e a Finlândia, embora aguentem mais do que a França, também não poderiam acompanhar a Alemanha. Ou seja, o euro tempos mais tarde colapsaria. E quem mais perderia com o colapso do euro é quem mais ganha com um euro sobrevalorizado relativamente à generalidade das economias da zona euro e subvalorizado relativamente à sua.
    Pois bem, apesar do tradicional irracionalismo alemão - tudo o que é real é racional -, não acredito que a política da Alemanha se esteja a encaminhar nesse sentido. A política monetária da Alemanha é uma política de hegemonia. E a hegemonia mantem-se, mantendo o euro. Outra questão é saber por quanto tempo mais os “passos coelhos” da Europa do sul vão poder aceitar esta política. E aqui é que volta novamente à tona o irracionalismo alemão. A Alemanha ao exagerar para lá dos limites do suportável as políticas de austeridade, está a criar as condições para que no sul da Europa haja saídas desordenadas do euro e, então, quem mais se “lixa” é quem mais ganha com a actual situação, embora se lixem todos um bom bocado.
    Mas se assim por que não muda a Alemanha de política? Pois, isso levaria muito tempo a “explicar”, embora a essência da explicação seja fácil de enunciar. “Historicamente tivemos muitas dificuldades com a moeda. Hoje, na República Federal, respeitamos regras (as regras do BuBa transcritas nos estatutos do BCE) que nos garantem uma moeda estável, forte e sem inflação. Se estas regras serviram para nós, por que não hão-de servir para vocês? As regras estão certas, vocês é que estão errados!
    Abraço Alcipe
    CP

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  9. Fizeste bem em chamar à colação a questão da Ucrânia. Já várias vezes aludi a isso, estabelecendo o paralelo possível entre as duas situações à distância de quase 100 anos - não vale a pena dizer que são diferentes nas consequências de quem as sofre, porque toda a gente sabe que são; o que vale a pena dizer é que na década de 20, 30 e 40 do século passado se usavam meios para alcançar certos fins que hoje parece não ser possível usar.
    Seria interessante publicar agora o famoso texto "A vertigem do sucesso". Tenho-o, mas não o encontro ou não o encontro sem gastar muito tempo. Tenho-me lembrado muito desse texto a propósito das avaliações da Troika e inacreditáveis sucessos que temos alcançado!

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