Sunday, March 17, 2013

Nem pelo buraco de uma agulha...

Portugal é o único país que eu conheço onde a pobreza e o empobrecimento têm uma uma carga moral positiva:  não meramente punitiva, mas transformada ideologicamente em verdadeiro ideal de vida.

É também o país com os ricos mais malcriados e desbocados do mundo. É verdade que só depois de 1974 eles se tiveram verdadeiramente de confrontar com os pobres, antes analfabetos e vegetando pelo campo ou a emigrar (e os que se revoltavam levavam uns safanões a tempo).  Mas a falta de maneiras desses senhores é demasiadamente bem tolerada pelos portugueses, que descarregam toda a sua raiva nos políticos e asseguram a impunidade moral aos ricos que nos insultam.


6 comments:

  1. a grecia actualmente está no mesmo grupo que portugal, afinal os 2 países são quase gémeos há longa data, desde que ocupam lugares semelhantes na ue, portugal e grecia hoje formam um conjunto.
    mas há outros paises onde a teoria da pobreza social necessária é utilizada e vale a pena estudá-la, na venezuela de hugo chavez p ex, embora aí as diferenças sejam já muitas, por outras razões. mas vejamos: um ex ministro de chavez, general guaicaipuro lameda, descreveu recentemente numa entrevista à jornalista venezuelana carla angola a teoria da pobreza social necessária exposta pelo próprio presidente aos seus colaboradores que estranhavam o rumo da economia não voltada para o crescimento (ver: Angola - Lameda al Ministro Giordani: “Ustedes son...):
    "La estrategia político-económica para mantenerse en el poder es fácil de explicar (conta o ex ministro)Primero, el Gobierno se declara defensor de los pobres con dos intereses: Ser el semi-Dios de los pobres y derrotar al adversario. En este sentido, la revolución divide al país en dos toletes: sus amigos, los pobres; sus enemigos, los “escuálidos, majunches, oligarcas, golpistas, pitiyankees” o como convenga llamarlos según la circunstancia. Su estrategia atiende a los pobres desde el estrato E hacia arriba, el estrato D y algo del C. A esta gente que siempre fue pobre, se le “regala” lo que nunca tuvo y lo que nunca le daría nadie con una política sensata de educación, que más bien querría darles herramientas para valerse por sí mismos y no depender del Estado. Eso tomaría tiempo, así que la revolución se lo da de inmediato. Es muy fácil contentar a gente con tantas penurias. Se les convence de que su mayor riesgo es perder lo que ahora tienen. Se destinan los recursos para ellos y se pasa una “raya” a partir de donde están los enemigos: sector C, B y A. Procurar satisfacción a estos sectores es más costoso, así que se les dedican más bien privaciones a fin de provocarlos y mantenerlos como un enemigo del gobierno y, en consecuencia, enemigo de los únicos amigos del gobierno: los pobres"

    claro que este é um caminho populista com toques marxistas de luta de classes provocada, vai-se oferecendo aos pobres um televisor, uma hortita, um envelope com dinheiro no natal ou numa festa, uma excursão de autocarro com almoço e aguardente incluida para irem a um comicio eleitoral, um mau edificio construido à pressa e sem acessoa a 20 familias prometendo às outras que continuam nos ranchitos que já chegará a sua vez, etc.

    aqui, na ue, portugal e grécia, a coisa é mais limpa e não há rodeios, é tecnocrática, corta-se nos salários e pensões, despede-se, destroiem-se milhares de pequenas empresas que não interessam, sobem-se os impostos para niveis insuportáveis, etc, em poucos anos destroi-se o que estava feito e aí volta de novo uma classe pobre forte (numerosa) que em virtude das dificuldades até poderá aceitar tudo, um desempregado desesperado poderá dentro de algum tempo quando se termine o subsidio de desemprego, se o tinha, aceitar trabalhar por 100€ ao mês.

    tudo isto pode ser curioso do ponto de vista teórico, a experimentação e aplicação destas teorias socio-económicas a tocar extremos, este desprezo pelas pessoas e seu bem estar em nome de algo mais alto (credores, grande capital) mas muito doloroso na realidade e consequencias...
    ps. peço desculpa, tentei ser o menos longo possivel no comentário.

    ReplyDelete
  2. a propósito dos ricos malcriados, acrescento que outra das caracteristicas é o seu total desprezo pela filantropia, entendida no seu significado económico, o que dedicam a causas e organizações de ajuda é nada...

    ReplyDelete
  3. permito-me publicar na pg de fbk esta entrada do seu blogue com indicação de origem, obrigado

    ReplyDelete
  4. É Sr. Embaixador infelizmente...

    ReplyDelete
  5. Tem toda a razão. Abunda-lhes o whisky e falta-lhes o chá. Acontece!

    ReplyDelete
  6. A 'velha senhora' diz-me que gostou muito do texto (e eu também, se me é dado exprimir-me):

    insultada plos ricos malcriados
    assaltada por um governo hiena
    é bom saber de alcipe e seus cuidados
    e concordar co'a jovem boa helena

    ReplyDelete