No dia em que sabemos o que deixámos nesta terra,
invade-nos primeiro o desalento de tanto que não fizémos.
Depois consideramos a quem démos amor
e de quem o recebemos. Às vezes
surgem amigos do fundo da memória e dizem-nos
"sempre estivémos aqui";
e isso compensa-nos dos que julgávamos amigos e nos traíram,
com a naturalidade de quem também sempre ali esteve
para trair e não espera censuras,
porque essa foi a sua missão na terra.
De resto, trair e ser traído
são muitas vezes as duas faces de um mesmo rosto,
sereno e imutável
face à noite que cai.
invade-nos primeiro o desalento de tanto que não fizémos.
Depois consideramos a quem démos amor
e de quem o recebemos. Às vezes
surgem amigos do fundo da memória e dizem-nos
"sempre estivémos aqui";
e isso compensa-nos dos que julgávamos amigos e nos traíram,
com a naturalidade de quem também sempre ali esteve
para trair e não espera censuras,
porque essa foi a sua missão na terra.
De resto, trair e ser traído
são muitas vezes as duas faces de um mesmo rosto,
sereno e imutável
face à noite que cai.
Alcipe
ReplyDeleteAinda hoje me pergunto muitas vezes como é que pessoas que amamos nos podem trair e dizer tranquilamente que "apenas foram fieis a si próprios".
Aliás traição é antónimo de quê? De amizade? De amor? De fidelidade?Trai quem omite a verdade? Ou só trai quem mente? Ou, ainda, será que a traição tem graduações?
Receio ser injusta, mas quem me trai, deixa de existir. E, a única excepção que abri a este princípio, só confirmou a regra.
Por isso, tenho dificuldade em aceitar que trair e ser traído sejam faces de um mesmo rosto...
Não sei o que é trair ou ser traída. Sei apenas de desencontros. Linhas de vida diferentes. A vida é curta demais para pensar em traições ou outras coisas desagradáveis. O tempo é pouco para os afectos, tantos afectos para dar e receber.
ReplyDeletePS: Estou a ler o último livro de Pedro Tamen e há na poesia dele afinidades com a sua, não acha? Ou serão afinidades na maneira de ser, talvez, não sei.
A noite que cai por o dia ter traído,
ReplyDeleteRedime-se na alvorada,
Já pelo luar saciada
Sem remorso, sepultado no escuro antes de nascido…
A traição é como a culpa , inventamo-la para exercer poderes, nomeadamente a moral, para criar regras e linhas de conduta que são organizadoras do pensamento permitindo-nos agir em conformidade e com comodidade social...Dá imenso jeito quando somos os pseudotraidos, hum vitimas,estorva quando os sentidosse tornam dinâmicos e ousam mudar de direção, aí no contexto se não ouvirmos traimos ou somos dignos ou fiéis a quem?...
ReplyDeleteA traição só existe nas ruturas de promessa de compra e venda , nas escrituras e quando os feudos ameaçam ruir...
Traição não existe nada...Que ideia, quando muito mudança...
E... Quando amamos por inteiro, mesmo que doa, não inibimos o ser que amamos de ser amado ou de sentir paixão por outras causas que não nós e o nosso egocentrismo ainda que apoiado e validado num juramento castrador da renovação do sentir à luz de uma integridade constante e estável como a rotina de nós...
De resto, concordo que a existir a traiçao e o ser traído e o trair...
"são muitas vezes (quase sempre)as duas faces de um mesmo rosto,"
fui depois ler mateus 26, o da ultima ceia, esse do asseguro-vos que um de vocês me trairá e do antes que o galo cante 3 vezes me negarás e do esta mesma noite vocês todos me abandonarão e onde se diz a minha alma está triste até à morte, fiquem aqui comigo e vigiem...masque figuras fizeram os apóstolos nessa noite, é uma das coisas conclui...
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