Sunday, March 31, 2013

A Poesia Portuguesa tem um papa, um santo taumaturgo e um líder carismático: hosanna, aleluia!



"Quando eu tinha 18 anos, o Manuel de Freitas era uma pop star", diz, n"A Brasileira do Chiado, Ana Salomé, 30 anos. "Foi a minha influência. Ele e os poetas da Averno e da Telhados de Vidro escreviam sobre a vida de uma forma que parecia simples. Tinham uma forma de depurar a linguagem que é difícil de conseguir, mas parecia fácil. Tornava-os próximos, não como os velhos poetas, que parecem viver noutro mundo. Estes eram pessoas desde mundo. Faziam-nos sentir que também nós podíamos escrever".
Diogo Vaz Pinto tem hoje 27 anos. Na adolescência, idolatrava Manuel de Freitas. Com o amigo David Teles Pereira, de quem se tornaria parceiro em vários projectos literários, foi um dia ao funeral do designer Olímpio Ferreira, um dos fundadores da Averno, só para ver Manuel. Não para lhe falar, que a coragem não chegava para tanto. "Eu lia o Manel como uma religião", diz Diogo na Ler Devagar, em Lisboa, depois da apresentação de um livro da sua própria editora. "A sua poesia é excelente, muda a vida de uma pessoa. Depois ele era muito agressivo nos ensaios. E categórico". Essas características angariaram-lhe seguidores. "As pessoas seguiam o Manel, obedeciam-lhe. Naquela altura, se o Manel me mandasse ler qualquer coisa, eu ia a correr. Era um verdadeiro líder. Hoje, há falta deles".
 , 'Ipsilon, Publico, 29/03/2013






Do respeito pelas imunidades diplomáticas

"Là-bas, à l'Élysée, je jouais de la guitare tous les jours, j'en ai même laissé une là-bas... Je jouais dans les salons privés, pas dans celui  des ambassadeurs!"

(Carla Bruni, entrevista ao "Dernières Nouvelles d'Alsace", hoje)

Duplas linguagens ou o futuro é cipriota

Le traitement réservé aux actionnaires et gros créanciers est-il ou non unique, comme Benoit Coeuré et Yves Mersch de la BCE se sont dépêchés de le déclarer à la suite de l’intervention de Jeroen Dijsselbloem qui prétendait en faire un modèle (avant de démentir devant la réaction des marchés) ? Ce dernier a ensuite reçu le renfort du premier ministre finlandais, Jyrki Kaitainen, qui a expliqué : « Partout en Europe nous devrions passer à une économie de marché normale, où les propriétaires et les investisseurs accusent des pertes en cas de faillite bancaire », ainsi que de l’Institute of International Finance, ce qui n’est pas le moindre. Klaas Knot, le gouverneur de la banque centrale néerlandaise, a enfin affirmé à propos de son compatriote que « ses propos se réfèrent à une approche qui est sur la table depuis un moment en Europe. Cette approche fera partie de la politique de liquidation européenne ». Dans ce contexte, la déclaration de Wolfgang Schäuble selon laquelle « Chypre est et restera un cas exceptionnel » apparaît comme un propos de circonstance

(François Leclerc, no blog de Paul Jorion)

Levine (espartaquista alemão fuzilado em 1919, cuja bela frase foi mais tarde erroneamente atribuída a Lenine) disse, ao morrer: "nous sommes tous des morts en permission" (aprendemos esta citação no "Pierrot le fou" de Godard). 

Estaremos todos nós apenas à espera da nossa vez de ser cipriotas? "Des chypriotes en permission"?

Saturday, March 30, 2013

Os alemães

"All nations are tempted - and few have been willing to resist the temptation for long - to clothe their own particular aspirations and actions in the moral purposes of the universe."

(Hans Morgenthau, Politics Among Nations) 

Um pouco de bom senso


The greatest threat to the euro’s survival is the increasingly poisonous politics of bail-outs in both north and south. Northerners have every right to demand responsibility from those they help. But they also have responsibilities of their own: they must show realism in designing bail-outs that do not inflict unnecessary pain; patience to delay austerity at home while others recover; and, above all, haste to rebuild the rickety financial structure of the euro zone. The first step to preventing another southern crisis is not hectoring from snowy forests, but creating a genuine banking union.
(THE ECONOMIST)

Friday, March 29, 2013

Dignidade


Carta aberta ao ministro das Finanças alemão

Jose Silva PenedaO Senhor Ministro afirmou que há países da União Europeia que têm inveja da Alemanha. A primeira observação que quero fazer, Senhor Ministro, é que as relações entre Estados não se regem por sentimentos da natureza que referiu. As relações entre Estados pautam-se por interesses.
Queria dizer-lhe também, Senhor Ministro, que comparar a atitude de alguns Estados a miúdos que na escola têm inveja dos melhores alunos é, no mínimo, ofensivo para milhões de europeus que têm feito sacrifícios brutais nos últimos anos, com redução muito significativa do seu poder de compra, que sofrem com uma recessão económica que já conduziu ao encerramento de muitas empresas, a volumes de desemprego inaceitáveis e a uma perda de esperança no futuro.
E acrescentou o Senhor Ministro: “Os outros países sabem muito bem que assumimos as nossas responsabilidades…”. Fiquei a saber que a nova forma de qualificar o conceito de poder é chamar-lhe responsabilidade!
E disse mais o Senhor Ministro: “Cada um tem de pôr o seu orçamento em ordem, cada um tem de ser economicamente competitivo”. A este respeito gostaria de o informar que já tínhamos percebido, estamos a fazê-lo com muito sacrifício, sem tergiversar e segundo as regras que foram impostas.
Quando o ministro das Finanças do mais poderoso Estado da União Europeia faz afirmações deste jaez, passa a ser um dos responsáveis para que o projeto europeu esteja cada vez mais perto do fim.
Passo a explicar. O grande objetivo do projeto europeu foi garantir a paz na Europa e como escreveu um antigo e muito prestigiado deputado europeu, Francisco Lucas Pires, “… essa paz não foi conquistada pelas armas mas sim através de uma atitude de vontade e inteligência e não como um produto de uma simples necessidade ou automatismo…”. A paz e a prosperidade na Europa só foram possíveis porque no desenvolvimento do projeto político de integração europeia teve-se em conta a grande diversidade de interesses, as diferentes culturas e tradições e os diferentes olhares sobre o mundo. Procurou-se sempre conjugar todas essas variedades, tons e diferenças dos Estados-membros numa matriz de valores comuns.
Esta declaração de Vossa Excelência põe tudo isto em causa, ao apontar o sentimento da inveja como o determinante nas relações entre Estados-membros da União Europeia. Quero dizer-lhe, Senhor Ministro, que o sentimento da inveja anda normalmente associado a uma cultura de confrontação e não tem nada a ver com uma outra cultura, a de cooperação.
Com esta declaração, Vossa Excelência quer de forma subtil remeter para outros Estados a responsabilidade pela confrontação que se anuncia. Essa atitude é revoltante, inaceitável e deve ser denunciada.
A declaração de Vossa Excelência, para além de revelar uma grande ironia, própria dos que se sentem superiores aos outros, não é de todo compatível com a cultura de compromisso que tem sido a matriz essencial da construção do sonho europeu dos últimos 60 anos.
Vossa Excelência, ao expressar-se da forma como o fez, identificando a inveja de outros Estados-membros perante o “sucesso” da Alemanha, está de forma objetiva a contribuir para desvalorizar e até aniquilar todos os progressos feitos na Europa com vista à consolidação da paz e da prosperidade, em liberdade e em solidariedade. Com esta declaração, Vossa Excelência mostra que o espírito europeu para si já não existe.
Eu sei que a unificação alemã veio alterar de forma muito profunda as relações de poder na União Europeia. Mas o que não deveria acontecer é que esse poder acrescido viesse pôr em causa o método comunitário assente na permanente busca de compromissos entre variados e diferentes interesses e que foi adotado com sucesso durante décadas. O caminho que ultimamente vem sendo seguido é o oposto, é errado e terá consequências dramáticas para toda a Europa. Basta ler a história não muito longínqua para o perceber.
Não será boa ideia que as alterações políticas e institucionais necessárias à Europa venham a ser feitas baseadas, quase exclusivamente, nos interesses da Alemanha. Isso seria a negação do espírito europeu. Da mesma forma, também não será do interesse europeu o desenvolvimento de sentimentos anti-Alemanha.
Tenho a perceção de que a distância entre estas duas visões está a aumentar de forma que parece ser cada vez mais rápida e, por isso, são necessários urgentes esforços, visíveis aos olhos da opinião pública, de que a União Europeia só poderá sobreviver se as modificações inadiáveis, especialmente na zona euro, possam garantir que nos próximos anos haverá convergência entre as economias dos diferentes Estados-membros.
As declarações de Vossa Excelência vão no sentido de cavar ainda mais aquele fosso e, por isso, como referiu recentemente Jean-Claude Juncker a uma revista do seu país, os fantasmas da guerra que pensávamos estar definitivamente enterrados, pelos vistos só estão adormecidos. Com esta declaração, Vossa Excelência parece querer despertá-los.
José da Silva Peneda
Presidente do Conselho Económico e Social

Read more at http://www.leituras.eu/?p=3155#CD4s5HTOqmCw55RC.99 

Wednesday, March 27, 2013

Don Giovanni e a estátua do Comendador (actualidade política)


Oscar Lopes

"Os vivos são tão estúpidos quando falam dos mortos"

(Oscar Lopes, citado por Baptista Bastos, numa bela crónica no DN de hoje)

Tuesday, March 26, 2013

Os alemães

Os alemães
têm uns submarinos
em forma de pepinos
que andam no fundo do mar

(canção revisteira interpretada por Beatriz Costa)

Comparar Merkel a Hitler é injusto, estúpido e só confunde o necessário debate. Como o é comparar com Hitler figuras como Bismarck (um mestre da realpolitik ) ou Guilherme II (um doido varrido que afastou Bismarck e desencadeou uma guerra sem querer, "um diletante da acção" como lhe chamou magistralmente o nosso Eça, mas nunca um paranóico racista). Uma coisa é um criminoso patológico, outra dirigentes políticos, cujas acções podem e devem ser discutidas racionalmente.

Ora é um alemão respeitável (Joschka Fischer) que nos alerta que já por três vezes (com o diletante Guilherme II, com o criminoso Hitler e agora com a escrupulosa Merkel) a Alemanha se dedica meticulosamente a dar cabo da Europa.

Será, como diagnosticava A.J.P. Taylor, que a Alemanha é pequena demais para ser uma potência mundial e grande demais para ser uma potência europeia? Temo bem que, com o Reino Unido transformado em mais um casino (ao abrigo, melhor para eles, das recentes fúrias de moralização dos mercados de capitais da Sra. Merkel e do "holandês voador" que ela agora inventou) e a França a render-se dia a dia, cimeira a cimeira, aos alemães, temo, dizia, que depois de desfeita a Europa fique em campo só a Alemanha para enfrentar a vizinha Rússia e (talvez até) a vizinha  Turquia. O nuclear francês e inglês e a força militar ainda válida dos dois velhotes da "Entente Cordiale", dizem vocês? Acham que isso serve de alguma coisa sem os americanos a pôr a mão por trás, como se viu na Líbia e até no Mali (aqui, honra seja feita aos franceses, quand même!)?  Falta só que os alemães dêem o passo a que o MNE da Polónia, Sikorski, os incita constantemente: "Assumam-se plenamente como potência que são, mesmo no campo militar!".  Ou dito em alentejano: " Mandem de uma vez na gente, porra!"

Mas se mandarem os alemães, não voltam por isso as SS. Essa confusão é criminosa e desvia perigosamente o debate. Se eles mandarem será tão só às ordens dos mercados. Que já deixaram cair Chipre, mas estão bem e recomendam-se. Viajam nuns submarinos, em forma de pepinos, que andam no fundo do mar.

  

Monday, March 25, 2013

A noite que cai

No dia em que sabemos o que deixámos nesta terra,
invade-nos primeiro o desalento de tanto que não fizémos.
Depois consideramos a quem démos amor
e de quem o recebemos. Às vezes
surgem amigos do fundo da memória e dizem-nos
"sempre estivémos aqui";
e isso compensa-nos dos que julgávamos amigos e nos traíram,
com a naturalidade de quem também sempre ali esteve
para trair e não espera censuras,
porque essa foi a sua missão na terra.
De resto, trair e ser traído
são muitas vezes as duas faces de um mesmo rosto,
sereno e imutável
face à noite que cai.

Saturday, March 23, 2013

O que T.S.Eliot disse deles...


We are the hollow men
We are the stuffed men
Leaning together
Headpiece filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper together
Are quiet and meaningless
As wind in dry grass
Or rats’ feet over broken glass
In our dry cellar

Shape without form, shade without colour,
Paralysed force, gesture without motion;

Those who have crossed
With direct eyes, to death’s other Kingdom
Remember us—if at all—not as lost
Violent souls, but only
As the hollow men
The stuffed men.

(T.S.Eliot, The Hollow Men)

Oscar Wilde



  1. Oscar Wilde - "Always forgive your enemies
     nothing annoys them so much."

Descartes


Art. 65. L’indignation et la colère.
Tout de même le mal fait par d’autres, n’étant point rapporté à nous, fait seulement que nous avons pour eux de l’indignation ; et lorsqu’il y est rapporté, il émeut aussi la colère.

(Descartes, Traité des Passions de l'Âme, art.65)

Friday, March 22, 2013

Espinoza

A raiva e o ódio são sentimentos que diminuem a nossa potência de agir, a qual só o amor multiplica. Tem razão Espinoza. Mas só nos restam o ódio e a raiva quando não vemos um único ponto na terra onde pousar a alavanca da nossa potência de agir. 

Wednesday, March 20, 2013

Cólera e indignação

" A cólera é o desejo doloroso de nos vingarmos publicamente de um desprezo manifestado publicamente a nosso respeito ou a respeito dos nossos, enquanto a indignação passa pela subordinação do interesse pessoal e pela exclusiva consideração do próximo"

(Aristoteles)

Tuesday, March 19, 2013

Dia do Pai


IN MEMORIAM
A meu pai
Cada dia te víamos andando
mais para dentro de ti mesmo. O tempo
ia ficando parado
à medida que o sangue, mais pequeno,
circulava num espaço
que já era seu próprio esquecimento.
A certa altura, a placidez do campo
lavrava o teu rosto. Que terreno
era então ver-te olhando,
como se o olhar e o fio do centeio
fossem a luz do ano
com nostalgia de parecer eterno.
Foi essa a idade em que haver sido amado
pelo pão, pelo vinho e pelo vento
te trouxe a crestação com que o trabalho
deu tez ao sonho, e honradez e peso
a ficares assim, em paz sentado,
marceneirando teu próprio pensamento.
E, aos poucos, por ele madrugando,
seguiste ainda mais por ele adentro,
de forma que, hoje, nem te vemos. O halo
onde foste minguando é só aceno
de quem se foi pensando
até ao outro lado de si mesmo.
FERNANDO ECHEVARRIA

Sunday, March 17, 2013

Quelqu'un m'a dit (pas Carla Bruni)


Un triple avertissement est adressé par Chypre aux gens suffisamment nantis pour avoir un compte en banque, ce qui représente encore Dieu merci, un nombre significatif d’entre eux dans les pays où l’on a pris l’habitude de me lire.
Le premier avertissement est adressé aux personnes ayant un compte en banque dans un pays de la zone euro. Il dit ceci : « On vous avait dit que les premiers 100.000 euros étaient protégés contre toute perte possible, eh bien on s’était trompé (ça arrive !), on voulait dire, les premiers 93.250 [100.000 - (6,75% x 100.000)], 6,75% étant le niveau de la « taxe exceptionnelle » de restructuration de la dette cypriote ». Et ce premier avertissement se poursuit de la manière suivante : « Quant aux sommes dont vous disposiez en plus et dont il vous reste encore 90,1% (100% – 9,9%), de quoi osez-vous plaindre puisqu’à leur sujet, on ne vous avait rien promis du tout ! »
Le deuxième avertissement s’adresse aux « non-résidents » qui placent leur argent dans un paradis fiscal, parce que Chypre est un paradis fiscal (je ne vais pas vous expliquer cette fois-ci pourquoi – essentiellement parce qu’il est 3h20 du matin) : « Oui, on dit : « paradis » mais c’est une expression, il ne faut pas prendre cela au pied de la lettre, c’est d’ailleurs une mauvaise traduction de l’anglais « haven », qui veut dire « port » mais qu’un Français qui croyait comprendre l’anglais (ne riez pas : il sont très nombreux !) a un jour confondu avec « heaven », qui est lui le vrai mot pour paradis. En fait, il faudrait dire « centre financier international », ce qui signifie simplement que même s’il y a des élections de temps en temps, le pays est dirigé en réalité par le club de golf et le yacht club où l’on n’accepte que des juristes et des comptables passés par des Bizness Schools très bien notées. Eh bien, la finance n’est plus ce qu’elle était, vous avez dû lire cela dans les journaux : pour une personne honnête comme vous, on compte aujourd’hui un nombre étonnant de filous, et nous sommes désormais obligés, à notre très grand regret, d’en tenir compte ! ».
Le troisième avertissement s’adresse à tous les habitants de la zone euro dont le pays dont ils sont les citoyens est un paradis fiscal, oups ! un « centre financier international » et je ne pense pas bien entendu ici seulement aux Cypriotes mais à ceux d’un certain nombre d’autres pays ou de parties de pays (dont je ne dresserai pas la liste parce qu’il est 3h20 du matin et que je ne veux en plus me fâcher avec personne), et cet avertissement, c’est celui-ci : « Vous avez jusqu’ici été très satisfait que dans votre ville, les rues soient propres et les nids-de-poule rapidement bouchés et que dans les parcs, les pelouses soient bien arrosées et vous vous êtes souvent dit : « Savoir pourquoi exactement c’est comme cela, ce n’est pas mon bizness ! À chacun son métier ! » Mais quand vous vous réveillez un matin pour constater que tout euro dans votre compte en banque ne vaut plus que 93,25 centimes, vous ne devriez pas vous en étonner : la richesse dans vos banques, ce sont essentiellement des reconnaissances de dette et, quand tout va bien, une reconnaissance de dette, cela vaut effectivement le chiffre qui est écrit dessus, mais quand tout ne va pas aussi bien, cela ne vaut plus qu’une somme dont le montant se situe quelque part entre le chiffre qui est écrit dessus et zéro. Et c’est exactement cela qui pourrait arriver à votre argent à vous : quand vous l’avez mis à la banque (quand vous le lui avez prêté), la banque vous a donné en échange un relevé, qui n’est rien d’autre qu’une reconnaissance de dette, et le jour où vous voudrez aller rechercher votre argent elle vous dira peut-être : « Ceci est la somme que vous m’avez prêtée et celle-là (d’un montant malheureusement plus réduit) est celle que je peux vous rendre, parce que, hélas, tous ceux qui m’avaient promis à moi de me rembourser, ne l’ont pas fait, ce n’est pas plus compliqué que cela ! Les temps sont durs, mon bon Monsieur ! Et… bonjour chez vous ! »

(Paul Jorion)

Nem pelo buraco de uma agulha...

Portugal é o único país que eu conheço onde a pobreza e o empobrecimento têm uma uma carga moral positiva:  não meramente punitiva, mas transformada ideologicamente em verdadeiro ideal de vida.

É também o país com os ricos mais malcriados e desbocados do mundo. É verdade que só depois de 1974 eles se tiveram verdadeiramente de confrontar com os pobres, antes analfabetos e vegetando pelo campo ou a emigrar (e os que se revoltavam levavam uns safanões a tempo).  Mas a falta de maneiras desses senhores é demasiadamente bem tolerada pelos portugueses, que descarregam toda a sua raiva nos políticos e asseguram a impunidade moral aos ricos que nos insultam.


Saturday, March 16, 2013

Un ami m'a dit


Pour quelles raisons la stratégie de désendettement adoptée par les dirigeants européens est-elle poursuivie contre vents et marées en dépit de son échec manifeste, si nécessaire au prix de rallonges accordées au calendrier de remboursement, quand il s’avère que cela ne sera de toute façon pas possible, comme au Portugal ? S’agit-il du résultat d’un aveuglement doctrinaire ou de la défense (même mal comprise) des intérêts allemands ? De l’occasion qui est fournie d’accélérer les réformes d’inspiration ultra-libérale ? Ou faut-il comprendre que la priorité doit être donnée aux banques pour se financer sur le marché, les États devant céder la place en remboursant leurs dettes ? C’est un peu tout à la fois mais n’épuise pas le sujet.
Il n’y a que deux issues possibles à un surendettement qui a été trop loin : l’inflation, c’est-à-dire « l’euthanasie des rentiers » selon la formule de Keynes – dont on ne retient à tort que la préconisation de la relance par la consommation – ou bien la restructuration de la dette sous ses différentes variantes. Mais les créanciers en font les frais dans les deux cas. Comment l’éviter ? En imposant à tout prix le remboursement de la dette, ce qui a été décidé mais rencontre un sérieux problème d’application qui s’appelle récession. Telle est la véritable nature de la stratégie poursuivie.

(François Leclerc, no blog de Paul Jorion, hoje)

Monday, March 11, 2013

A uma amiga, num dia doloroso


Death

DEATH, be not proud, though some have called thee
Mighty and dreadful, for thou art not so:
For those whom thou think'st thou dost overthrow
Die not, poor Death; nor yet canst thou kill me.
From Rest and Sleep, which but thy picture be,
Much pleasure, then from thee much more must flow;
And soonest our best men with thee do go--
Rest of their bones and souls' delivery!
Thou'rt slave to fate, chance, kings, and desperate men,
And dost with poison, war, and sickness dwell;
And poppy or charms can make us sleep as well
And better than thy stroke. Why swell'st thou then?
   One short sleep past, we wake eternally,
   And Death shall be no more: Death, thou shalt die! 
JOHN DONNE

Sunday, March 10, 2013

Sortez les premiers, Messieurs les Anglais!


A ministra do Interior do Governo Tory de David Cameron e estrela em ascensão dentro do Partido Conservador Theresa May é conhecida pelas suas posições a favor de um maior controlo da imigração no Reino Unido e foi quem deu a cara no recente braço-de-ferro do Governo com os juízes que tratam os casos de imigrantes acusados de crimes. Este fim-de-semana, disse que o país deve retirar-se da Convenção Europeia dos Direitos Humanos.
Os juizes invocam a Convenção Europeia dos Direitos Humanos para defender, nos processos em tribunal, o direito dos imigrantes com antecedentes criminais a estarem junto das suas famílias. Por seu lado, Theresa May, cujo discurso agrada cada vez mais à ala mais conservadora dostories, diz que as ruas da Grã-Bretanha estão a tornar-se mais perigosas porque os juízes não estão a deportar os imigrantes com cadastro. Numa entrevista recente ao jornal conservador The Sunday Telegraph, a ministra afirmou que a atitude dos magistrados em casos de imigração era “inaceitável” e “subvertia” a democracia britânica e defendeu a deportação dos imigrantes acusados de crimes.
No ano passado, o Governo de Cameron, por iniciativa de May, apresentou novas regras aprovadas pelos deputados da Câmara dos Comuns pondo em causa o consagrado na Convenção Europeia dos Direitos Humanos no que diz respeito aos direitos dos imigrantes, autores de crimes, a permanecerem junto das suas famílias no Reino Unido.
Este fim-de-semana, a sua posição foi mais longe. Numa conferência política pró-Tory, May acenou com a hipótese desejável, segundo ela, de a Grã-Bretanha abandonar a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, por esta interferir com a capacidade do Governo em combater o crime e controlar a imigração. E fixou o horizonte temporal no ano em que se realizam as próximas eleições gerais.
“Até 2015, precisaremos de ter um plano para lidar com a Convenção Europeia dos Direitos Humanos”, disse Theresa May citada pela Reuters. “E sim, quero deixar claro que todas as opções – mesmo a de nos retirarmos da convenção – devem estar em cima da mesa.”
Mas isso pode não ser fácil e promete gerar controvérsia, nota a Reuters, embora no manifesto eleitoral de 2010, o Partido Conservador se tenha comprometido a substituir a Lei dos Direitos Humanos, que consagra a convenção europeia na lei britânica, com uma nova legislação. Num país onde não existe uma Constituição escrita que garanta os direitos fundamentais, os defensores da convenção europeia dizem que esta, no minímo, garante esses direitos.
Saída da UE pode ser referendada 
A intervenção de Theresa May este sábado contribuiu para alimentar rumores de que a figura do Governo de Cameron tem a ambição de liderar o partido. Esses desestabilizam Cameron, escreve o site Politics.co.uk que acrescenta que cada vez mais deputados conservadores se sentem à vontade para evocar um possível desafio à liderança de Cameron. Sobretudo se as sondagens continuarem em baixa como estão, a rondar os 27% de opiniões favoráveis, e depois do mau resultado numa eleição local no distrito eleitoral de Eastleigh em que os tories caíram para terceiro lugar, atrás do eurocéptico UKIP (Partido da Independência do Reino Unido) e dos Liberais-Democratas.
Para depois das eleições, David Cameron, primeiro-ministro e líder dos conservadores, prometeu a realização dum referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, no caso de o seu partido sair vencedor. Mas a ala mais conservadora dos tories gostaria de ter uma promessa mais concreta que garantisse uma data e um programa detalhado de como o Reino Unido procederia a essa saída, escreve o mesmo site. 
(PUBLICO de hoje)

De Oslo



Deixo as reflexões sobre a dama do mar e o navio fantasma para trabalho de casa, poupo os meus leitores a mais citações...

Saturday, March 9, 2013

Wagner e Ibsen: "O Holandês Voador" (sinopse)


Wagner insisted that the legend of the Flying Dutchman was essentially Germanic, though the first accounts of this legendary tale were written in English, and its origins probably relate to Anglo-Dutch colonial rivalries in the 17th century. En route to the East Indies, a Dutch sea-captain - in most versions called Vanderdecken, in Wagner's opera awesomely nameless - cursed God while struggling to round the Cape of Good Hope during a ferocious storm, and swore he would complete his voyage, even if it took him until Judgment Day. Satan took him at his word and condemned the Dutchman to sail until the end of time: his ship, crewed by the reanimated corpses of his former sailors, brings ill-luck to any mariner who sees it. The superstition endured well into the 20th century: there were supposed sightings of the Dutchman's ship off the South African coast as late as 1942. But it was in the early 19th century that the legend was wildly popular. Flying Dutchman plays were performed across Europe, and in 1839 - the year Wagner reached London - Captain Frederick Marryat's creepy Dutchman novel The Phantom Ship was a bestseller.
Freeing the Dutchman from his curse soon became integral to the legend, though the means of redemption differ from version to version. Marryat's Vanderdecken finds salvation when he kisses a fragment of Christ's cross that his long-dead wife once wore in a locket.
Wagner, however, took as his principal source Heinrich Heine's From the Memoirs of Herr Schnabelewopski, published in 1834, which introduces the definitive variant. The Dutchman is permitted to come ashore once every seven years, during which the curse will be lifted if he finds a wife capable of being "faithful unto death". Heine, German literature's great ironist, intended his version to be a spoof: finding marriage hideous, his Dutchman is always glad to escape by putting to sea for another seven years.
Wagner, however, treats the idea with deadly seriousness, and also invests the curse with ramifications of alarming complexity. Like Heine's, his Dutchman is cast ashore every seven years to seek his redeeming partner. Any woman who breaks her oath of fidelity, however, is damned for eternity; and should the Dutchman never find redemption, then he in turn will be annihilated, body and soul, on Judgment Day.
The opera dramatises the Dutchman's last incursions to land, where he encounters Senta, the daughter of a Norwegian merchant seaman. Senta obsessively believes herself appointed by destiny to be the Dutchman's redeemer. The curse is lifted when, wrongly accused of infidelity, she drowns herself as he despairingly casts off to sea yet again.



Noruega





O meu amigo diz-me "não somos um povo de marinheiros,
somos um povo de camponeses
a quem saiu a sorte grande com o petróleo".
E, no entanto, tudo aqui nos chama para o mar,
mas um mar terrível, de sombras e desejos escondidos,
um mar que Ibsen levou para este Teatro Nacional, 
situado bem entre o Palácio Real e o Parlamento,
como a dividir os poderes na grande avenida central, 
edifício banal na sua arquitectura, 
tão século XIX no seu fim, tão glória da burguesia ascendente
num Estado recém-nascido!

Ninguém fala de Hamsun, o maldito, mas a fome
nunca fez esta gente perder-se o respeito:
nem os alemães os conseguiram convencer
a trocar a morte pela vida,
o Navio Fantasma pela paz na terra,
o Quisling pelo seu rei.

Nós também somos um povo de camponeses
convencidos que fomos marinheiros.
Mas as nossas ilusões foram sempre maiores, ai,
do que o nosso respeito por nós próprios.

E tu, Noruega?

Oslo de Munch


A Dama do Mar de Ibsen



Ellida (with growing excitement). Wangel, let me tell you this--
tell it you so that he may hear it. You can indeed keep me here!
You have the means and the power to do it. And you intend to do
it. But my mind--all my thoughts, all the longings and desires of
my soul--these you cannot bind! These will rush and press out
into the unknown that I was created for, and that you have kept
from me!

Wangel (in quiet sorrow). I see it, Ellida. Step by step you are
slipping from me. The craving for the boundless, the infinite,
the unattainable will drive your soul into the darkness of night
at last.

Ellida. Yes! I feel it hovering over me like black noiseless
wings.

Wangel. It shall not come to that. No other deliverance is
possible for you. I at least can see no other. And so--so I cry
off our bargain at once. Now you can choose your own path in
perfect--perfect freedom.

Ellida (stares at him a while as if stricken dumb). Is it true--
true what you say? Do you mean that--mean it with all your heart?

Wangel. Yes--with all my sorrowing heart--I mean it.

Ellida. And can you do it? Can you let it be so?

Wangel. Yes, I can. Because I love you so dearly.

Ellida (in a low, trembling voice). And have I come so near--so
close to you?

Wangel. The years and the living together have done that.

Ellida (clasping her hands together). And I--who so little
understood this!

Wangel. Your thoughts went elsewhere. And now--now you are
completely free of me and mine--and--and mine. Now your own true
life may resume its real bent again, for now you can choose in
freedom, and on your own responsibility, Ellida.

Ellida (clasps her head with her hands, and stares at WANGEL). In
freedom, and on my own responsibility! Responsibility, too? That
changes everything.

(The ship bell rings again.)

The Stranger. Do you hear, Ellida? It has rung now for the last
time. Come.

Ellida (turns towards him, looks firmly at him, and speaks in a
resolute voice). I shall never go with you after this!

The Stranger. You will not!

Ellida (clinging to WANGEL). I shall never go away from you after
this.

The Stranger. So it is over?

Ellida. Yes. Over for all time.

The Stranger. I see. There is something here stronger than my
will.

Ellida. Your will has not a shadow of power over me any longer.
To me you are as one dead--who has come home from the sea, and
who returns to it again. I no longer dread you. And I am no
longer drawn to you.

The Stranger. Goodbye, Mrs. Wangel! (He swings himself over the
fence.) Henceforth, you are nothing but a shipwreck in my life
that I have tided over. (He goes out.)

Wangel (looks at her for a while). Ellida, your mind is like the
sea-- it has ebb and flow. Whence came the change?

Ellida. Ah! don't you understand that the change came--was bound
to come when I could choose in freedom?

Wangel. And the unknown?--It no longer lures you?

Ellida. Neither lures nor frightens me. I could have seen it--
gone out into it, if only I myself had willed it. I could have
chosen it. And that is why I could also renounce it.

Wangel. I begin to understand little by little. You think and
conceive in pictures--in visible figures. Your longing and aching
for the sea, your attraction towards this strange man, these were
the expression of an awakening and growing desire for freedom;
nothing else.

Ellida. I don't know about that. But you have been a good
physician for me. You found, and you dared to use the right
remedy--the only one that could help me.

Wangel. Yes, in utmost need and danger we doctors dare much. And
now you are coming back to me again, Ellida?

Ellida. Yes, dear, faithful Wangel--now I am coming back to you
again. Now I can. For now I come to you freely, and on my own
responsibility.


THE END

Vi esta peça pela primeira vez, com 14 anos, na televisão espanhola (em 1965 a televisão portuguesa não chegava a Chaves...). Em 1979 fui a Londres e tive o privilégio de a ver  interpretada pela grande (em todos os sentidos do termo) Vanessa Redgrave. Desde então Ibsen e a sua "Dama do Mar" ficaram naquele acervo de primeiras leituras e primeiras experiências que ajudam para sempre a moldar o que fazemos de nós.

Reli hoje a peça, nesta noite de chegada a Oslo, e ela guardara para mim o mesmo brilho e o mesmo fascínio. Mas pensei (e alguém certamente já terá pensado nisto) quantas semelhanças ou convergências há com "O Holandês Voador" de Wagner - embora Wagner, do mesmo modo que no "Tristão e Isolda", venha para nos dizer que o absoluto do amor só se realiza na Morte, enquanto Ibsen, pelo contrário, está do lado da vida, da vida enquanto escolha e liberdade. 

Thursday, March 7, 2013

De partida para Oslo


Ibsen, Munch, o Holandês Voador
e a delicadeza de Grieg: sei pouco
desta gente e quando os ouço
admiro quem se considera
a perfeição realizada sobre a Terra.

O Holandês Voador raptou Senta
e levou-a para a terra do petróleo e do mel.
Eis que os perfeitos partilham connosco
os seus saberes e o sabor
do seu rigor.

E eu tudo lhes perdoo por causa de Grieg.




Monday, March 4, 2013

Brahms-Un Requiem Allemand -Ein deutsches Requiem - A German Requiem - D...

Um requiem alemão

Ora aqui está, clarinho para sulista perceber:

(artigo de Viriato Soromenho Marques no DN de hoje)


Há um economista que não deixa ninguém indiferente. Chama-se Hans- -Werner Sinn. Dirige o maior instituto de investigação económica germânico, sediado em Munique. Tem sido o campeão das políticas de austeridade. É um firme opositor dos planos de resgate e acusa o Governo de Merkel por não ser suficientemente duro para com a periferia. Apesar da barba lhe dar um ar de clérigo islâmico, a verdade é que a inflexibilidade de raciocínio e a teimosa indiferença face aos sinais da realidade remetem-no para o universo da Schwärmerei, uma forma germânica de fanatismo, sempre com consequências devastadoras para a Europa. Este homem liderou um estudo sobre o estado da economia europeia acessível na Internet ("The EEAG Report on the European Economy 2013"). Enquanto percorríamos as ruas em protesto nas cidades portuguesas, Sinn explicava a um jornal espanhol as teses centrais do estudo: a austeridade na periferia europeia vai durar, pelo menos, mais dez anos. Mais concretamente: "Espanha, Portugal e Grécia necessitam de uma desvalorização interna de 30%; a França, de 20%; a Itália, uma descida de preços de 10%." Mas Sinn vai mais longe, considerando que a Espanha talvez possa permanecer na Zona Euro, mas tanto a Grécia como Portugal estão condenados a sair do euro: "As atuais exigências europeias sacrificam uma geração ao desemprego maciço. Portugal está numa situação semelhante."


Friday, March 1, 2013

Mensagem

Este poema interrompido
ficou escrito num guardanapo de papel
do café em que todos no encontrávamos
para falar da Revolução.
Ao arrumar livros, caiu-me hoje o poema nas mãos
e refez-se por um momento a máquina do mundo,
neste eixo de quarenta anos.