Wednesday, March 19, 2014

Dia do Pai

MEMENTO MORI


Death is not in life

(Wittgenstein)

Eu vi morrer três pessoas:
a uma acompanhei até ao fim,
no que seria talvez o que lhe restava de vida
ou porventura o que lhe sobrava de morte;
outra morreu quando eu dormia,
longe do hospital:
e tive que atravessar pela madrugada
uma cidade estrangeira
para chegar à sua morte;
e meu Pai, enquanto eu ia
comprar-lhe uma garrafa de oxigénio,
que nunca soube a quem serviu depois.

Nós nunca vemos ninguém morrer,
porque morrer é por dentro de cada um,
como talvez tudo o que tenha algum sentido,
como talvez o amor.

O que verdadeiramente importa
é opaco ao nosso olhar
e cada prova que vivemos
é só e única:
morrer ou ver morrer

e o amor também.

(De Lendas da Índia, Dom Quixote, Lisboa, 2011)

5 comments:

  1. This comment has been removed by the author.

    ReplyDelete
  2. This comment has been removed by the author.

    ReplyDelete
  3. This comment has been removed by the author.

    ReplyDelete
  4. li o poema sem qualquer relacionamento a factos concretos seus que desconheço em absoluto, são divagações arbitrárias e abstractas à volta do poema que se pode entender de 1.000 maneiras, qualquer semelhança com realidades ou intenções do poeta são puras coincidencias, lamento ter involuntariamente faltado a um respeito e fico confuso pois não percebo como, trata se portanto de materia privada do poeta, etc etc. logo, apague pf meus comentários, seu, pb

    ReplyDelete
  5. Há sensibilidades com algumas coisas que escrevemos, a morte do Pai é sempre uma matéria especial, mesmo em poesia. Mas reconheço que um poema, depois de escrito, deixa de pertencer à subjectividade de quem o escreveu, passa a pertencer aos leitores. Ao Patrício Branco,

    ReplyDelete