Saturday, May 3, 2014

Animula vagula blandula in the beach


                       David Hockney



Corre, pequena alma, estes caminhos,
não voltes para trás, não penses mais.
Passa a sebe da frente, olha os vizinhos
e toma o autocarro para o cais.

Podes dizer piadas onde vais,
o bronzeado vai ficar-te bem.
Hóspedes o meu corpo terá mais,
parceiros de sobra ganharás também.

Adriano olhava seu amante morto
e escreveu alguns versos imortais.
Eu apenas te vejo noutro porto
e faço daqui gestos e sinais.

Assim nós degradamos a poesia:
e venha outro para colher o dia!


O poema de Adriano:


Animula vagula blandula
Hospes comesque corporis
Quae nunc abibis? In Loca
Pallidula rigida nudula
nec ut soles dabis Iocos.

Tradução de Jorge de Sena:

Alminha, vagabunda, blandiciosa,
Do corpo a moradora e companheira, 
A que lugares te te vais agora,
Tão pálida, tão rígida, tão nua?
Nem mais às graças te darás de outrora.



3 comments:

  1. como soaria aos latinos esta sucessão de 3 palavras?

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  2. Poesia e pintura admiráveis.
    Quem sabe, sabe!

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  3. A tradução de Maria Lamas:

    Pobre alma tão meiguita
    Deste corpo sociazita
    Que para uns duros lugarzitos,
    Escritos, desérticos,
    Sozinha ao presente vás
    Aí nunca mais brincarás...

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