"Je dis: une fleur! et, hors de l'oubli où ma voix relègue aucun contour, en tant que quelque chose d'autre que les calice sus, musicalement se lève, idée même et suave, l'absente de tous bouquets."
(Mallarmé)
Senhor Kappus, quando ninguém acredita na poesia,
a não ser aqueles que a não lêem,
a situação fica fácil demais para especularmos juntos
e acabarmos na teoria crítica, na má língua
ou no ressentimento fácil dos pequenos produtores
de curiosidades avulsas. A mulher barbada de Viena
tem agora maior sucesso do que Peter Altenberg.
Mas Altenberg continua lá, em bronze maciço, sentado na sua cadeira do café,
como o nosso poeta na Brasileira - e quem, se eu gritar,
irá voltar o seu rosto para mim, lá do etéreo estado de poesia onde subiu
ou dentro do seu glorioso despojamento de qualidades,
como a pena de pavão ausente de todas as caudas?
Senhor Kappus, quando o ressentimento
ou o respeito humano
despontam entre nós,
esqueça a poesia, poesia é trabalho sério,
é dureza de artesão e rudeza de aprendiz,
esqueça, esqueça, esqueça tudo o que eu lhe disse.
Eu não fui Zaratustra, não tive coragem de enfrentar
a minha águia e a minha serpente
e ouvi demais os tratantes da praça pública.
Olhe, a flor ausente de todos os ramos,
foi afinal a vendedora de flores do Covent Garden,
transformada em princesa,
ou a outra, a que apregoava violetas pelas praças de Madrid,
para consolo de um rei viúvo,
quem nos veio timidamente entregar, pela calada da noite, essa flor,
à hora em que os críticos recolhem a casa e os filósofos ligam a televisão.
Eu não sei quando nos voltaremos a ver, Senhor Kappus.
Talvez quando alguma coisa voltar a existir no fundo dos meus olhos.
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