Tuesday, May 20, 2014

A partir de uma carta de Marina Tsvetaeva a Boris Pasternak



Fugir à poesia? É tarde, meu querido Boris.
Fazes-me rir com essa tua pretensão
infantil de pensares que és capaz de escapar a este jogo,
que ninguém na verdade aprende a jogar.
Fugir à poesia? Mas é o que fazemos
em cada verso, em cada poema concebido, trabalhado
ou mesmo jogado para o cesto dos papéis.
Escrever poemas o que é senão fugir à poesia,
a essa morte atroz das palavras estilhaçadas pelas granadas dos versos?
Fugir à poesia? Somos como os soldados de uma trincheira em chamas
que já só podem fugir para a frente. E por isso escrevemos,
meu querido Boris. E por isso
nunca mais poderás fugir à poesia.
(E não porque ela te queira
 ou tu a queiras: é como este nosso amor,
nunca consumado, a não ser nestas cartas que a minha filha
só autorizará que sejam publicadas lá para o ano 2000).

(A correspondência entre Marina Tsvetaeva e Boris Pasternak só foi publicada no ano 2000, em Moscovo, por determinação da filha de Marina Tsvetaeva, Ariadne Efron; as cartas que os dois poetas russos trocaram com Rilke foram, contudo, publicadas anteriormente)




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