Eu vi o peso que aligeira a vida
e sem palavras desde então fiquei:
um travo amargo no sabor da ferida,
um vão soneto a dizer que sei
reconhecer na vida o seu desastre
e olhar para o mais frívolo dos seres,
qualquer poema em que desembarque
meu ego despojado dos haveres
que a poesia nos guarda como tola
governanta que nada soube ver
e na pobre demência que a assola
continua a rimar sem entender
que o verso que morreu e nos assombra
desta casa é fantasma e sua sombra.
e sem palavras desde então fiquei:
um travo amargo no sabor da ferida,
um vão soneto a dizer que sei
reconhecer na vida o seu desastre
e olhar para o mais frívolo dos seres,
qualquer poema em que desembarque
meu ego despojado dos haveres
que a poesia nos guarda como tola
governanta que nada soube ver
e na pobre demência que a assola
continua a rimar sem entender
que o verso que morreu e nos assombra
desta casa é fantasma e sua sombra.
será o soneto, pergunto me, a forma mais perfeita e exacta para dizer poesia, a adequada medida onde tudo deve caber sem nada sobrar nem faltar? o soneto pode ser a disciplina do poeta, o ideal de poetas, o juiz de poetas que se atrevem a usá lo. houve poetas que o usaram e ainda bem. houve poetas que nunca o deviam ter usado. outros nunca o usaram. o soneto é arquitectura estrutura construção
ReplyDeletemudando de conversa, por vezes noto tambem que o artigo definido, e o indefinido tambem, não são faceis de usar em poesia, estão a mais ou a menos, sobrecarregam ou faltam, o artigo é uma palavra complicada, necessita de todo um tratado.
sonetos, artigos, haveria tambem que falar dos pronomes, dos pessoais, e de certas conjunções e do seu uso em poesia, etc.
a crise do verso, a doença da poesia, a morte do poema, o fantasma da poesia, a casa assombrada pelo verso, sim, mas tambem está implicita a sua reanimação ou ressureição, o poeta tem essa obrigação, etc
Que bonito, Alcipe!
ReplyDeletePertinente o seu soneto, além de bonito
ReplyDeletea propósito,
Agora é da poesia masoquista
que nasce o verso de vontade estóica
tomar a palavra como hóstia sofista
fisga com bodrelhos na tola da troika
como um lavar as mãos sem memória
um orgasmo na penumbra como finta,
sadismo final, campanha da oratória
já subúrbio, sendo suja a saída limpa
verdades escondem-se à vista de todos,
politicas ratoeiras de adolescentes
mimados, esquecem educação e os modos
sem respeito, ainda riem entre dentes
sem razão, o dever de obediência cessa
e o desejo de liberdade regressa…
A 'velha senhora' diz gostar muito de poesia:
ReplyDeletealto se ergue a poesia,
baixo voo em rimalhice:
não a julgo e nunca iria
competir com ela. disse.