Friday, May 9, 2014

A crise do verso

Eu vi o peso que aligeira a vida
e sem palavras desde então fiquei:
um travo amargo no sabor da ferida,
um vão soneto a dizer que sei

reconhecer na vida o seu desastre
e olhar para o mais frívolo dos seres,
qualquer poema em que desembarque
meu ego despojado dos haveres

que a poesia nos guarda como tola
governanta que nada soube ver
e na pobre demência que a assola
continua a rimar sem entender

que o verso que morreu e nos assombra
desta casa é fantasma e sua sombra.



  

4 comments:

  1. será o soneto, pergunto me, a forma mais perfeita e exacta para dizer poesia, a adequada medida onde tudo deve caber sem nada sobrar nem faltar? o soneto pode ser a disciplina do poeta, o ideal de poetas, o juiz de poetas que se atrevem a usá lo. houve poetas que o usaram e ainda bem. houve poetas que nunca o deviam ter usado. outros nunca o usaram. o soneto é arquitectura estrutura construção
    mudando de conversa, por vezes noto tambem que o artigo definido, e o indefinido tambem, não são faceis de usar em poesia, estão a mais ou a menos, sobrecarregam ou faltam, o artigo é uma palavra complicada, necessita de todo um tratado.
    sonetos, artigos, haveria tambem que falar dos pronomes, dos pessoais, e de certas conjunções e do seu uso em poesia, etc.
    a crise do verso, a doença da poesia, a morte do poema, o fantasma da poesia, a casa assombrada pelo verso, sim, mas tambem está implicita a sua reanimação ou ressureição, o poeta tem essa obrigação, etc

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  2. Pertinente o seu soneto, além de bonito

    a propósito,

    Agora é da poesia masoquista
    que nasce o verso de vontade estóica
    tomar a palavra como hóstia sofista
    fisga com bodrelhos na tola da troika

    como um lavar as mãos sem memória
    um orgasmo na penumbra como finta,
    sadismo final, campanha da oratória
    já subúrbio, sendo suja a saída limpa

    verdades escondem-se à vista de todos,
    politicas ratoeiras de adolescentes
    mimados, esquecem educação e os modos
    sem respeito, ainda riem entre dentes

    sem razão, o dever de obediência cessa
    e o desejo de liberdade regressa…

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  3. A 'velha senhora' diz gostar muito de poesia:

    alto se ergue a poesia,
    baixo voo em rimalhice:
    não a julgo e nunca iria
    competir com ela. disse.

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