Thursday, August 22, 2013

Noite em Odeceixe

A noite do mundo alertou-nos muitas vezes
e nunca olhámos bastante os céus perdidos:
agora estou aqui, reduzido ao essencial do meu caminho,
a olhar sem esperança uma luz que me desafia
na casa que vi crescer.

Tenho orgulho no que deixei:
afinal a esperança deu-nos talvez só maus conselhos.
Versos e filhos, amor a refazer-se como as ondas
em palavras e corpos.
Poucas coisas deixo para os animais de rapina,
para os amigos dos ricos que se dizem amigos dos pobres
e em quem eu acreditei.

A grande liberdade de não acreditar em nada.
Foi preciso chegar este verão
para compreender como me fiz livre
de esperanças e ilusões. A casa ergue-se sobre as falésias
e tudo o que nós fazemos é um desafio ao mundo
deixado à complacência dos outros.

Poucas vezes vou por lá. Não preciso de confirmações,
nem de certezas tão irrisórias como o insulto de um político.
A casa aponta o céu num desafio
e a luz chama-nos à certeza do mundo.
De pouco mais preciso.

1 comment:

  1. Essa noite em Odeceixe bem bonita de reflexiva, estimulou a sua dimensão aparentemente cética , niilista com dificuldade em adormecer a amargura...
    De facto de pouco ou de nada mais precisa para expressar a sua sensibilidade...

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