Tuesday, August 13, 2013

A mudança

Nous vivons dans l oubli de nos metamorphoses
(Paul Eluard)

As nossas modificações tomam-nos sempre de surpresa: pode durante muito tempo ter andado a germinar em nos esta metamorfose, este ovo ou larva de um rosto que se vai fazer o nosso, e sempre por surpresa, num atalho, num encontro anonimo, numa desilusão vulgar, que se nos abre de repente a evidencia do que passamos a ser. Mudar, perder sempre. Mas ao mesmo tempo uma liberdade nova que se abre dolorosamente no peito, como dizia o mestre Caeiro. Sou eu próprio, fiel a mim próprio, a mim me devo, aos outros deixo as suas lealdades e os seus pequenos tráficos. A mim bastam-me me os meus. 

6 comments:

  1. Certamente, alguém mais perderá com o que motiva o seu tom amargo. Vamos somando perdas. Mas que vão permanecendo inteiros os homens fiéis a si próprios e isso é, afinal, o que importa.

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  2. todo o mundo é feito de mudança, afinal, muda-se o ser, muda-se a confiança tomando sempre novas qualidades, mas já nada se muda como soía. não sei se se aplica camões, tanto na mudança como na confiança, mas associei, o tom amargo, a que se deve? pergunta bem ujm
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  3. todo o mundo é feito de mudança, afinal, muda-se o ser, muda-se a confiança tomando sempre novas qualidades, mas já nada se muda como soía. não sei se se aplica camões, tanto na mudança como na confiança, mas associei, o tom amargo, a que se deve? pergunta bem ujm

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  4. Meu caro Alcipe Eluard acompanha-me há tantos anos que já é meu íntimo. Mas eu não vejo no texto amargura, apenas, talvez, alguma tristeza, que a sua vida, que conheço bem, justifica.
    Porém, digo-lhe, desassombradamente, que me considero muito mais interessante hoje do que quando tinha 30 anos!

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  5. Ontem um homem das cidades
    Veio explicar-me os valores da vida.
    Disse-me que a minha sobrevivência era um privilegio
    E o conchego dos banqueiros uma justiça.
    Falou-me de uma nova sociedade, feita de esperteza e agua fresca.
    Deixei-o falar.
    Ele nao sabe que esta tambem do lado dos que perdem
    E até o descobrir virão mais rosas
    E a areia cobrira todos os jardins.

    Alberto Caeiro

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  6. Meu querido amigo
    Desses da cidade e da banca
    Dessas novas sociedades
    De esperteza e água fresca
    Quero é distância...
    Nos jardins, que não tenho,
    Quero flores e quero cheiros,
    Quero lembranças de infâncias felizes
    Quero risos e baloiços
    Quero velhos e crianças!

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