Sunday, December 30, 2012
Comentário a um artigo de Vasco Pulido Valente
Sobre o artigo no "Público" de hoje: a crença de Vasco Pulido Valente na Inglaterra, essa grande praça de especuladores financeiros situada num país arruinado, enquanto potência alternativa à Alemanha é tão comovedora como a crença das crianças no Pai Natal! Por muito que pese ao eterno doutorando de Oxford, o nosso destino joga-se entre Berlim e um (possível?) eixo do Sul que seja capaz de se consolidar. A Inglaterra de hoje é a de Francis Drake, não a de Winston Churchill.
Saturday, December 29, 2012
Com música de "Vale mais ser alegre que ser triste" ( Vinicius)
Vale mais ser saudável que doente,
se adoeço nao há quem aguente
os remédios para me tratar.
Mas se não há um pouquinho de doença,
como vamos morrer, você não pensa,
e para sempre na despesa cortar?
Friday, December 28, 2012
To have done instead of not doing
What thou lovest well remains, the rest is dross What thou lov'st well shall not be reft from thee What thou lov'st well is thy true heritage Whose world, or mine or theirs or is it of none? First came the seen, then thus the palpable Elysium, though it were in the halls of hell, What thou lovest well is thy true heritage What thou lov'st well shall not be reft from thee The ant's a centaur in his dragon world. Pull down thy vanity, it is not man Made courage, or made order, or made grace, Pull down thy vanity, I say pull down. Learn of the green world what can be thy place In scaled invention or true artistry, Pull down thy vanity, Paquin pull down! The green casque has outdone your elegance. "Master thyself, then others shall thee beare" Pull down thy vanity Thou art a beaten dog beneath the hail, A swollen magpie in a fitful sun, Half black half white Nor knowst'ou wing from tail Pull down thy vanity How mean thy hates Fostered in falsity, Pull down thy vanity, Rathe to destroy, niggard in charity, Pull down thy vanity, I say pull down. But to have done instead of not doing This is not vanity To have, with decency, knocked That a Blunt should open To have gathered from the air a live tradition or from a fine old eye the unconquered flame this is not vanity. Here error is all in the not done, all in the diffidence that faltered . . .
(Ezra Pound, The Pisan Cantos)
De Senectude
Um artigo de Vítor Bento:
Uma das histórias contadas na minha infância – creio que integrava um dos livros de leitura – falava de uma terra onde os filhos costumavam levar os pais velhos, que já não podiam trabalhar, para o cimo de um monte, onde ficavam sozinhos, à espera do fim.
Uma das histórias contadas na minha infância – creio que integrava um dos livros de leitura – falava de uma terra onde os filhos costumavam levar os pais velhos, que já não podiam trabalhar, para o cimo de um monte, onde ficavam sozinhos, à espera do fim.
Certa vez, quando um dos filhos dessa terra cumpria o ritual, colocando o velho pai no tal monte e deixando-lhe uma manta para se abrigar do frio enquanto sobrevivesse, o ancião perguntou-lhe se não teria por acaso uma faca consigo.
Ao que o filho respondeu: "Tenho, sim senhor. Para que a quer?". "Para que cortes esta manta ao meio e guardes metade para ti, para quando o teu filho te trouxer para este lugar!".
Como estas histórias eram destinadas a retirar uma consequência moralizadora, o rapaz percebeu o alcance do pedido, levou o pai de volta para casa e com isso se acabou o terrível costume.
Lembrei-me da história a propósito do artigo 76º do OE 2013 (versão da proposta) e, muito em particular, em particular do seu número 2. Este preceito exige dos reformados - e só deles! - o pagamento de uma "contribuição extraordinária de solidariedade", que, em termos marginais, pode ir até aos 50%, para além do corte de 90% de um subsidio e dos impostos a que as pensões já estão sujeitas - nomeadamente o IRS, progressivo. Isto provoca, em muitos casos, uma drástica redução de rendimento para quem, tendo planeado a fase final do seu ciclo de vida com base numa promessa do contrato social, nuns casos, ou de puros contratos, noutros casos, já não dispõe de condições nem de tempo para reajustar o seu plano de vida à violenta quebra dessa promessa e ao consequente desmoronamento da fase final desse seu plano.
Por isso - e a não ser que me esteja a escapar qualquer coisa que torne este meu raciocínio num grave erro - me parece que aquela norma viola tantos princípios da justiça distributiva - da justiça intergeracional, à equidade, à igualdade, à proporcionalidade, ... -, que não vejo como tal manta possa escapar à faca da vigilância constitucional. E, se não escapar, será um risco desnecessário para a execução orçamental.
E não é apenas a justiça distributiva que está em jogo. É que, ao estender-se às pensões oriundas de fundos de pensões e às rendas vitalícias - que não constituem uma redistribuição contemporânea de rendimento, como é o caso das pensões da Segurança Social ou da Caixa Geral de Aposentações, mas são a distribuição de património já acumulado e que, por direito, pertence aos beneficiários dessas pensões -, a norma pode ainda ser vista como um verdadeiro confisco de património privado.
É pena que tal zelo nunca tenha sido aplicado às rendas no sector não transaccionável. Não só por questões suscitáveis em sede de equidade na distribuição dos imperativos de solidariedade, mas porque aquelas constituem um factor de erosão da competitividade do sector transaccionável, de que depende a recuperação e a sustentabilidade do crescimento da economia.
Enfim, tal como uma andorinha não faz a primavera, uma medida injusta não contamina todo um programa, nem define, só por si, a justiça global desse programa. Embora possa contribuir, desnecessariamente, para a erosão do consenso social e político de que depende o seu sucesso. Preserve-se, pois, o essencial - em que é preciso perseverar, com paciência e estoicismo -, porque ele é indispensável.
Vitor Bento, Economista
(Diário Económico)
Thursday, December 27, 2012
Ainda o burlão: o poder do bacalhau
Ana Gaspar, da VIDA, explicou ao i que Baptista da Silva se apresentou na associação em Agosto, dizendo que queria colaborar e que poderia ser útil pelos conhecimentos em economia social e pelos seus contactos. Confrontados com o estudo sobre pobreza e crescimento, com gráficos digitalizados e em papel normal, começaram a surgir dúvidas, lembra Ana Gaspar, recordando ainda que, internamente, questionaram o facto de o cartão de um consultor da ONU ter um logótipo errado e um email do Gmail em vez de um endereço oficial.
Numa pesquisa na internet, além de não encontrarem referências a Baptista da Silva, perceberam facilmente que a faculdade do Wisconsin não existia e a tese era plagiada. Na continuação da análise da informação dada por Baptista da Silva sucederam--se as incongruências: dizia-se fundador do Instituto Piaget, algo desmentido; dizia-se bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, também em sustentação; mais demorado foi conseguir o desmentido da ONU, mas também esse contacto arranjaram. Ainda em Setembro ficou concluída a investigação, com o veredicto de impostor. Sem faltar a informação de que Baptista da Silva tinha cadastro, obtida na polícia. “Não o voltámos a contactar e decidimos avisar outras organizações”, disse Ana Gaspar, confessando- -se surpresa por, ao contrário do que fez a Associação Abril, o International Club of Portugal ter acusado a recepção do email e ter mantido a conferência.
Questionado sobre como foi possível ignorar um email que continha links para a tese plagiada e contactos da ONU em Nova Iorque, Manuel Ramalho lamentou não lhe ter dado atenção “em tempo útil”, explicando que pesou o contexto em que foram apresentados: um almoço em Maio na Academia do Bacalhau.
(jornal i, ed. digital de hoje)
O burlão
Parece que o famoso burlão (que já era conhecido das ONGs, que até tinham alertado o International Club) copiou todas as suas afirmações de um estudo do Banco Mundial.
Ora, se o copiador é um burlão, as teses copiadas foram-no de um estudo sério, pelo que, se ele próprio não merece crédito, já as ideias que ele papagueia não ficam por esse facto desqualificadas.
Cuidado com as confusões e atenção a quem elas aproveitam!
Ora, se o copiador é um burlão, as teses copiadas foram-no de um estudo sério, pelo que, se ele próprio não merece crédito, já as ideias que ele papagueia não ficam por esse facto desqualificadas.
Cuidado com as confusões e atenção a quem elas aproveitam!
Tuesday, December 25, 2012
Monday, December 24, 2012
Saturday, December 22, 2012
Dois pesos, duas medidas
Porque tanto ódio e desprezo pelo Aragon, por ter sido comunista e estalinista, quando o fascista Ezra Pound e o nazi colaborador anti-semita Céline (Bagatelles pour un massacre) são admirados e desculpados por toda a gente?
Anunciação
Nao fujo ao poema.
Espero-o com a alegria de quem caminha
sobre brasas e destroços
e dele espero a música, toda a música
que não sei dar nem receber.
Antes de fechar as contas, digo eu,
espero o poema
como um riso atrás da cortina
da vida.
Espero-o com a alegria de quem caminha
sobre brasas e destroços
e dele espero a música, toda a música
que não sei dar nem receber.
Antes de fechar as contas, digo eu,
espero o poema
como um riso atrás da cortina
da vida.
Friday, December 21, 2012
Thursday, December 20, 2012
A uma amiga
What thou lovest well remains,
the rest is dross
What thou lov’st well shall not be reft from thee
What thou lov’st well is thy true heritage”
― Ezra Pound, The Pisan Cantos
Sunday, December 16, 2012
Máxima do dia seguinte: what rough beast to be born?
THE SECOND COMING
TURNING and turning in the widening gyre
The falcon cannot hear the falconer;
Things fall apart; the centre cannot hold;
Mere anarchy is loosed upon the world,
The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere
The ceremony of innocence is drowned;
The best lack all conviction, while the worst
Are full of passionate intensity.
Surely some revelation is at hand;
Surely the Second Coming is at hand.
The Second Coming! Hardly are those words out
When a vast image out of Spiritus Mundi
Troubles my sight: somewhere in sands of the desert
A shape with lion body and the head of a man,
A gaze blank and pitiless as the sun,
Is moving its slow thighs, while all about it
Reel shadows of the indignant desert birds.
The darkness drops again; but now I know
That twenty centuries of stony sleep
Were vexed to nightmare by a rocking cradle,
And what rough beast, its hour come round at last,
Slouches towards Bethlehem to be born?
The falcon cannot hear the falconer;
Things fall apart; the centre cannot hold;
Mere anarchy is loosed upon the world,
The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere
The ceremony of innocence is drowned;
The best lack all conviction, while the worst
Are full of passionate intensity.
Surely some revelation is at hand;
Surely the Second Coming is at hand.
The Second Coming! Hardly are those words out
When a vast image out of Spiritus Mundi
Troubles my sight: somewhere in sands of the desert
A shape with lion body and the head of a man,
A gaze blank and pitiless as the sun,
Is moving its slow thighs, while all about it
Reel shadows of the indignant desert birds.
The darkness drops again; but now I know
That twenty centuries of stony sleep
Were vexed to nightmare by a rocking cradle,
And what rough beast, its hour come round at last,
Slouches towards Bethlehem to be born?
William Butler Yeats
Máxima do dia: that is no country for old men
Sailing To Byzantium
I
That is no country for old men. The young
In one another's arms, birds in the trees
---Those dying generations---at their song,
The salmon-falls, the mackerel-crowded seas,
Fish, flesh, or fowl commend all summer long
Whatever is begotten, born, and dies.
Caught in that sensual music all neglect
Monuments of unaging intellect.
II
An aged man is but a paltry thing,
A tattered coat upon a stick, unless
Soul clap its hands and sing, and louder sing
For every tatter in its mortal dress,
Nor is there singing school but studying
Monuments of its own magnificence;
And therefore I have sailed the seas and come
To the holy city of Byzantium.
III
O sages standing in God's holy fire
As in the gold mosaic of a wall,
Come from the holy fire, perne in a gyre,
And be the singing-masters of my soul.
Consume my heart away; sick with desire
And fastened to a dying animal
It knows not what it is; and gather me
Into the artifice of eternity.
IV
Once out of nature I shall never take
My bodily form from any natural thing,
But such a form as Grecian goldsmiths make
Of hammered gold and gold enamelling
To keep a drowsy Emperor awake;
Or set upon a golden bough to sing
To lords and ladies of Byzantium
Of what is past, or passing, or to come.
That is no country for old men. The young
In one another's arms, birds in the trees
---Those dying generations---at their song,
The salmon-falls, the mackerel-crowded seas,
Fish, flesh, or fowl commend all summer long
Whatever is begotten, born, and dies.
Caught in that sensual music all neglect
Monuments of unaging intellect.
II
An aged man is but a paltry thing,
A tattered coat upon a stick, unless
Soul clap its hands and sing, and louder sing
For every tatter in its mortal dress,
Nor is there singing school but studying
Monuments of its own magnificence;
And therefore I have sailed the seas and come
To the holy city of Byzantium.
III
O sages standing in God's holy fire
As in the gold mosaic of a wall,
Come from the holy fire, perne in a gyre,
And be the singing-masters of my soul.
Consume my heart away; sick with desire
And fastened to a dying animal
It knows not what it is; and gather me
Into the artifice of eternity.
IV
Once out of nature I shall never take
My bodily form from any natural thing,
But such a form as Grecian goldsmiths make
Of hammered gold and gold enamelling
To keep a drowsy Emperor awake;
Or set upon a golden bough to sing
To lords and ladies of Byzantium
Of what is past, or passing, or to come.
William Butler Yeats
Friday, December 14, 2012
Ainda sobre caridade ou solidariedade, misericórdia ou direito
LAW LIKE LOVE
Law, say the gardeners, is the sun,
Law is the one
All gardeners obey
To-morrow, yesterday, to-day.
Law is the wisdom of the old,
The impotent grandfathers feebly scold;
The grandchildren put out a treble tongue,
Law is the senses of the young.
Law, says the priest with a priestly look,
Expounding to an unpriestly people,
Law is the words in my priestly book,
Law is my pulpit and my steeple.
Law, says the judge as he looks down his nose,
Speaking clearly and most severely,
Law is as I've told you before,
Law is as you know I suppose,
Law is but let me explain it once more,
Law is The Law.
Yet law-abiding scholars write:
Law is neither wrong nor right,
Law is only crimes
Punished by places and by times,
Law is the clothes men wear
Anytime, anywhere,
Law is Good morning and Good night.
Others say, Law is our Fate;
Others say, Law is our State;
Others say, others say
Law is no more,
Law has gone away.
And always the loud angry crowd,
Very angry and very loud,
Law is We,
And always the soft idiot softly Me.
If we, dear, know we know no more
Than they about the Law,
If I no more than you
Know what we should and should not do
Except that all agree
Gladly or miserably
That the Law is
And that all know this
If therefore thinking it absurd
To identify Law with some other word,
Unlike so many men
I cannot say Law is again,
No more than they can we suppress
The universal wish to guess
Or slip out of our own position
Into an unconcerned condition.
Although I can at least confine
Your vanity and mine
To stating timidly
A timid similarity,
We shall boast anyvay:
Like love I say.
Like love we don't know where or why,
Like love we can't compel or fly,
Like love we often weep,
Like love we seldom keep.
Law, say the gardeners, is the sun,
Law is the one
All gardeners obey
To-morrow, yesterday, to-day.
Law is the wisdom of the old,
The impotent grandfathers feebly scold;
The grandchildren put out a treble tongue,
Law is the senses of the young.
Law, says the priest with a priestly look,
Expounding to an unpriestly people,
Law is the words in my priestly book,
Law is my pulpit and my steeple.
Law, says the judge as he looks down his nose,
Speaking clearly and most severely,
Law is as I've told you before,
Law is as you know I suppose,
Law is but let me explain it once more,
Law is The Law.
Yet law-abiding scholars write:
Law is neither wrong nor right,
Law is only crimes
Punished by places and by times,
Law is the clothes men wear
Anytime, anywhere,
Law is Good morning and Good night.
Others say, Law is our Fate;
Others say, Law is our State;
Others say, others say
Law is no more,
Law has gone away.
And always the loud angry crowd,
Very angry and very loud,
Law is We,
And always the soft idiot softly Me.
If we, dear, know we know no more
Than they about the Law,
If I no more than you
Know what we should and should not do
Except that all agree
Gladly or miserably
That the Law is
And that all know this
If therefore thinking it absurd
To identify Law with some other word,
Unlike so many men
I cannot say Law is again,
No more than they can we suppress
The universal wish to guess
Or slip out of our own position
Into an unconcerned condition.
Although I can at least confine
Your vanity and mine
To stating timidly
A timid similarity,
We shall boast anyvay:
Like love I say.
Like love we don't know where or why,
Like love we can't compel or fly,
Like love we often weep,
Like love we seldom keep.
WH Auden
Wednesday, December 12, 2012
Caridade não é luta ideológica
A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
S. Paulo, 1 Cor 13, 4-13
S. Paulo, 1 Cor 13, 4-13
Tuesday, December 11, 2012
Caridade ou solidariedade?
Desta vez foi muito claro o discurso: preferir a caridade à solidariedade é preferir o arbitrário do amor ao rigor da justiça. É escolher o subjectivismo da compaixão contra as regras dos direitos humanos. A nossa direita nada esqueceu e nada aprendeu, como Talleyrand dizia dos Bourbons.
Sunday, December 9, 2012
A neve e a memória
(Do blog Chaves antiga)
NATAL ... NA PROVÍNCIA NEVA
Recordação de neve na cidade:
às vezes os meus dedos procuravam
um conforto de infância ameaçada.
Nos bolsos esgarçados o cotão,
os restos da ternura nunca dada:
sempre se me fez longe o coração.
E o consolo perfeito, sem idade,
das coisas que há por dentro da lembrança;
recordação de neve na cidade:
foi antes do terror, da esperança.
Seja sempre quem sou esta distância
que muda em mim as coisas conseguidas
em dedos que procuram da infância
cotão, ternura, restos de outras vidas.
LUIS FILIPE CASTRO MENDES, Outras Canções, 1998
Thursday, December 6, 2012
Carta a Miguel Gomes, depois de ver "Tabu"
Olhe, Miguel, a África que imaginamos
é a única verdadeira.
Eu estive lá também e dela lembro
um verso do poeta Maiakovski:
"A terra com quem se teve fome, essa, nunca a podemos esquecer".
Também falei da beleza das garças
a esvoaçar sobre montanhas de lixo
numa Luanda de outros tempos.
A África é um mito e um tabu,
um paraíso que nunca foi
e um desejo que nunca chegou.
O seu filme atravessa a verdade com o cenário sépia
da imaginação amadurecida.
Nem os mais puros e perfeitos escapam...
A economia finlandesa está em queda há dois trimestres consecutivos, devido à diminuição da procura europeia.
O PIB finlandês recuou 0,1% entre Julho e Setembro relativamente ao trimestre anterior, período no qual já havia registado uma quebra de 1,1%, reflectindo a diminuição das exportações para o resto da União Europeia, revelou hoje o gabinete de estatística da Finlândia.
A mesma fonte precisa que, com duas quedas trimestrais consecutivas, a Finlândia encontra-se em recessão técnica, estando com um recuo de 1,2% do seu PIB relativamente ao mesmo período de 2011.
O governo de coligação finlandês, liderado pelos conservadores, já avisou que deverá tomar medidas de auxílio à economia, ao mesmo tempo que irá tentar evitar um aumento da inflação, uma vez que a crise na zona euro já levou as exportações nacionais a recuar 1,8% em termos homólogos.
(Diário Económico)
Wednesday, December 5, 2012
Monday, December 3, 2012
Um bom conselho
Saturday, December 1, 2012
Thursday, November 29, 2012
Wednesday, November 28, 2012
Tuesday, November 27, 2012
Meditação taciturna
A produção da alegria não foi encarada
por nenhum plano.
Os mercados não investem na alegria:
o sangue, o suor, as lágrimas,
já não como matéria de heroísmo,
mas como modo de legitimação moral
da especulação financeira,
tais são os produtos convenientes
ao desequilíbrio constante
em que assenta o capitalismo.
Será esta a verdadeira revolução permanente?
por nenhum plano.
Os mercados não investem na alegria:
o sangue, o suor, as lágrimas,
já não como matéria de heroísmo,
mas como modo de legitimação moral
da especulação financeira,
tais são os produtos convenientes
ao desequilíbrio constante
em que assenta o capitalismo.
Será esta a verdadeira revolução permanente?
Sunday, November 25, 2012
Saturday, November 24, 2012
I had a farm in Africa
"Eu vivia numa casa com jardim e piscina e saí dessa casa porque decidi que tinha que fazer um downsizing do meu lifestyle."
(Margarida Rebelo Pinto, a Karen Blixen que está ao alcance das nossas possibilidades)
(Margarida Rebelo Pinto, a Karen Blixen que está ao alcance das nossas possibilidades)
No porto de Amesterdão
Anoitece no porto de Amesterdão.
Eu nunca sei ao certo onde fui feliz,
mas sei onde me sinto livre:
nas cidades onde não tenho história,
onde nada de mim deixei,
onde uma rua é apenas uma rua e não um encontro antigo,
onde nenhum rosto passado vejo surgir em qualquer lugar,
à mesa do restaurante onde nos juntávamos,
à esquina em que nos vimos sorrir ao mesmo tempo,
no quarto pequeno ao fundo do apartamento amigo,
em todos os assaltos da memória ao coração.
Somos livres onde não temos história,
o coração atento nada lembra:
mas tu junto de mim sorris e dizes-me
onde comprámos flores à beira do canal.
Monday, November 19, 2012
Sunday, November 18, 2012
Sunday, November 11, 2012
Wednesday, November 7, 2012
Thursday, November 1, 2012
Wednesday, October 31, 2012
Vestir os nus
La directive (loi européenne), qui entre en vigueur le 1er novembre, interdit les CDS "à nu" portant sur la dette des Etats et impose plus de transparence pour les ventes à découvert.
Un CDS ("Credit Default Swap") est une sorte de contrat d'assurance contre le risque de non-remboursement d'une société ou d'un pays.
Il est désormais interdit aux investisseurs de souscrire des CDS souverains (concernant un Etat) lorsqu'ils ne détiennent pas les titres de dette correspondants.
Jusque-là, "c'était comme si je m'assurais contre un incendie sur une habitation dont je ne suis ni propriétaire ni locataire. J'avais tout intérêt à ce que cette maison prenne feu pour toucher la prime", explique Paul Jorion, auteur de plusieurs ouvrages sur la finance internationale.
L'interdiction concerne toute l'Union européenne, et notamment la City de Londres d'où opèrent la plupart des fonds spéculatifs ("hedge funds") européens, très friands de ce type de produits.
Pour Frédérik Ducrozet, économiste au Crédit Agricole, "cette mesure est largement anticipée depuis un an, les investisseurs ont eu largement le temps de se débarrasser de leurs CDS +à nu+ et de se couvrir. L'entrée en vigueur devrait donc n'avoir qu'un faible impact".
(Agence France Presse)
Ah, já percebi...
Un CDS ("Credit Default Swap") est une sorte de contrat d'assurance contre le risque de non-remboursement d'une société ou d'un pays.
Il est désormais interdit aux investisseurs de souscrire des CDS souverains (concernant un Etat) lorsqu'ils ne détiennent pas les titres de dette correspondants.
Jusque-là, "c'était comme si je m'assurais contre un incendie sur une habitation dont je ne suis ni propriétaire ni locataire. J'avais tout intérêt à ce que cette maison prenne feu pour toucher la prime", explique Paul Jorion, auteur de plusieurs ouvrages sur la finance internationale.
L'interdiction concerne toute l'Union européenne, et notamment la City de Londres d'où opèrent la plupart des fonds spéculatifs ("hedge funds") européens, très friands de ce type de produits.
Pour Frédérik Ducrozet, économiste au Crédit Agricole, "cette mesure est largement anticipée depuis un an, les investisseurs ont eu largement le temps de se débarrasser de leurs CDS +à nu+ et de se couvrir. L'entrée en vigueur devrait donc n'avoir qu'un faible impact".
(Agence France Presse)
Ah, já percebi...
Toda a nudez será castigada
Les positions nues sur les Credit-Default Swaps portant sur de la dette souveraine seront interdites en zone euro à partir de demain.
Bonne nouvelle : on se souvient du rôle déclencheur qu’avaient joué ces positions spéculatives sur le début de la crise dans la zone euro, la spéculation à la baisse sur la valeur de la dette souveraine grecque ayant utilisé ces positions nues sur CDS comme moyen de grossir artificiellement le montant de la prime de risque inclue dans le coupon (le taux) des instruments de dette émis par la Grèce, précipitant la chute de celle-ci.
(Paul Jorion)
Não me perguntem o que isto quer dizer, mas alguém deve entender...
Bonne nouvelle : on se souvient du rôle déclencheur qu’avaient joué ces positions spéculatives sur le début de la crise dans la zone euro, la spéculation à la baisse sur la valeur de la dette souveraine grecque ayant utilisé ces positions nues sur CDS comme moyen de grossir artificiellement le montant de la prime de risque inclue dans le coupon (le taux) des instruments de dette émis par la Grèce, précipitant la chute de celle-ci.
(Paul Jorion)
Não me perguntem o que isto quer dizer, mas alguém deve entender...
Monday, October 29, 2012
Vigília
Não te deixes adormecer:
é o que dizem a quem luta por estar vivo,
é o que nos dizemos quando
o frio já entrou muito fundo dentro de nós
e toda a vida se deixou cobrir de nevoeiro.
Não, eu não me deixarei dormir.
Descansa, tu que cada madrugada
encontras as minhas mãos
a afastar o frio e o nevoeiro.
Eu não me deixarei dormir.
Nós não nos deixaremos dormir.
O nosso amor é uma vigília sem quebras
e nunca nenhum povo se deixou hibernar.
é o que dizem a quem luta por estar vivo,
é o que nos dizemos quando
o frio já entrou muito fundo dentro de nós
e toda a vida se deixou cobrir de nevoeiro.
Não, eu não me deixarei dormir.
Descansa, tu que cada madrugada
encontras as minhas mãos
a afastar o frio e o nevoeiro.
Eu não me deixarei dormir.
Nós não nos deixaremos dormir.
O nosso amor é uma vigília sem quebras
e nunca nenhum povo se deixou hibernar.
Monday, October 22, 2012
Poema interrompido (a memória de M.A.Pina)
Se desta noite o nada nos sobrar,
que diremos da voz que em nós calou
e fez dos nossos gestos um esgar
que a vergonha não viu e não poupou?
Calemos desde já nossos poemas.
A verdade aparece devagar
e não liga a metáforas ou temas,
só nos resta a imagem mais vulgar.
Foi esta noite e o nada que nos fez.
Interrompo o poema desta vez.
que diremos da voz que em nós calou
e fez dos nossos gestos um esgar
que a vergonha não viu e não poupou?
Calemos desde já nossos poemas.
A verdade aparece devagar
e não liga a metáforas ou temas,
só nos resta a imagem mais vulgar.
Foi esta noite e o nada que nos fez.
Interrompo o poema desta vez.
Sunday, October 21, 2012
Variações sobre o dilema dos prisioneiros
Il y a une conséquence de la mondialisation que je n'avais pas vue venir - je ne suis pas le seul. Nous vivions un lieu commun: l'union fait la force, l' Europe sera plus puissante pour se défendre qu'un pays isolé. Mais la politique menée par l'Allemagne en Europe, puis par la Chine en Asie, montre que la globalisation ne jette pas, seulement ou même prioritairement, les émergents contre les développés. La globalisation conduit à l'affrontement entre voisins. Quand les Allemands mènent une politique de compression salariale pour abaisser le coût du travail, l' impact est nul sur l'économie chinoise, mais considérable pour ses partenaires de la zone euro. Quand la Chine manipule le yuan, c'est contre la Thaïlande, l' Indonésie ou le Brésil, ses concurrents en main d'œuvre à bas coût. Ce que nous constatons c'est une tendance des émergents à se battre entre eux et des développés à s'exterminer industriellement entre eux, avec objectif d'être le dernier à sombrer.
(Emmanuel Todd)
(Emmanuel Todd)
Da apoptose à histerese: o pensamento zombie
De Nadj Popi, no blog de Paul Jorion:
Paul, je souscris pleinement à l’analyse claire, concise et circonstanciée que vous nous livriez dans votre article du Monde daté du mardi 8 octobre dernier intitulé Le comportement suicidaire de la finance, dans lequel vous exposiez à propos des civilisations, la thèse fondamentale de « l’incapacité de leurs élites et de leurs gouvernements à se représenter clairement le processus d’effondrement en cours ».
De facto, le processus que vous dépeignez a été théorisé en sciences sociales (sociologie et économie), tout comme en sciences physiques, par le concept d’hystérèse, dont on peut dire en substance qu’il décrit la persistance d’un comportement, d’une attitude, qui caractérisait un environnement, un monde, un horizon, un univers particulier, comme cadre de représentation alors que précisément nous avons changé, à la suite d’un choc exogène ou d’une crise (rupture du cadre de représentation), de monde, d’univers, d’horizon et de cadre de représentation.
Autrement dit l’hystérèse théorise prosaïquement l’idée de la persistance d’un effet dont la cause a en réalité disparu.
L’effet d’hystérèse a été étudié dans la littérature économique, en théorie du commerce international (analysant le lien entre taux de change et balance commerciale) ainsi qu’en théorie du chômage (l’article de 1986 Summers et Blanchard, « Hysteresis and the European unemployment problem », NBER).
(...)
Hayek quant à lui exprime cette idée de l’hystérèse dans sa théorie du cycle en soutenant que toute politique de relance produit une situation de crise qui rétroactivement modifie la mémoire du système économique, rendant de fait inopérante toute nouvelle politique de relance. C’est sur cet argument de l’hystérèse que se fondent les thuriféraires du capitalisme néolibéral pour justifier le caractère passéiste désuet, périmé, éculé de la politique économique keynésienne qui n’aurait plus d’effet sur la réalité économique en raison de la crise et du changement de structure économique qu’elle a opéré.
A contrario, on pourrait aussi arguer que les chocs d’austérité imposés par les néolibéraux ne produiront pas l’effet escompté précisément en raison de l’effet d’hystérèse et de la persistance d’invariants d’ordre anthropologique et culturel que l’injonction au changement de modèle économique ne saurait infléchir, modifier, amender, voire transformer.
On voit ainsi clairement que le chantage au benchmarking et à l’alignement des modèles économiques et sociaux se trouve frappé d’irrecevabilité en raison de la persistance d’invariants qui structurent les économies : l’effet d’hystérèse invalide donc l’entichement pour le modèle allemand qui n’est en réalité que le reniement du modèle rhénan lui-même.
L’effet d’hystérèse trouve sa manifestation la plus aboutie dans l’expression hayékienne de « mirage de la justice sociale » (Droit Législation et Liberté, volume 2) qui décrit la persistance du concept de justice sociale même à la suite du basculement du monde vers l’horizon du capitalisme néolibéral régenté par les inégalités.
En réalité, cette idée formulée par Hayek ne fait que reprendre l’expression célèbre de Marx immortalisée dans son Manifeste du Parti Communiste : « Un spectre hante l’Europe – le spectre du communisme ». On ne saurait trouver meilleure définition du concept d’hystérèse : le spectre comme le mirage sont deux concepts qui expriment le phénomène hystérétique.
Plus récemment, on retrouve la formulation de l’hystérèse chez le sociologue allemand Ulrich Beck, par son expression (reprise par Emmanuel Todd) de « concept zombie », qui traduit l’idée de la persistance de certains concepts inopérants pour décrire le changement de réalité qui vient de survenir : le libre-échange, la compétitivité, la réduction des déficits et l’efficience des marchés financiers, sont autant de concepts et d’expressions zombies ou spectrales qui persistent malgré le fait qu’elles désignent et décrivent une réalité qui n’existe plus.
Conversa no Tiergarten
Sim, eu li como viveram os seus pais
nesse ano em que perderam a guerra:
nas caves encharcadas de prédios em ruínas,
com esmolas avulsas dos soldados da Ocupação.
Mas reparou
como depois foram tratados pelos vencedores,
o que fizeram por evitar os erros da outra pos-guerra?
Sim, você disse-me muitas vezes
que desde a adolescência nao compreende
que tenha de pagar pelas culpas dos seus pais
e dos criminosos que se apoderaram do seu povo,
antes de você mesmo ter nascido.
Mas se para a vossa língua dívida e culpa
são a mesma palavra,
então somos nós agora que teremos de pagar
até aos netos dos nossos netos?
nesse ano em que perderam a guerra:
nas caves encharcadas de prédios em ruínas,
com esmolas avulsas dos soldados da Ocupação.
Mas reparou
como depois foram tratados pelos vencedores,
o que fizeram por evitar os erros da outra pos-guerra?
Sim, você disse-me muitas vezes
que desde a adolescência nao compreende
que tenha de pagar pelas culpas dos seus pais
e dos criminosos que se apoderaram do seu povo,
antes de você mesmo ter nascido.
Mas se para a vossa língua dívida e culpa
são a mesma palavra,
então somos nós agora que teremos de pagar
até aos netos dos nossos netos?
Friday, October 19, 2012
Manuel António Pina (1943 - 2012)
O MedoNinguém me roubará algumas coisas,
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.
É a sua morte que eu vivo eternamente
quem quer que eu seja e ele seja.
As minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.
Serei capaz
de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?
Manuel António Pina, in "Nenhum Sítio"
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.
É a sua morte que eu vivo eternamente
quem quer que eu seja e ele seja.
As minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.
Serei capaz
de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?
Manuel António Pina, in "Nenhum Sítio"
[AOS MEUS LIVROS]
Chamaram-vos tudo, interessantes, pequenos, grandes,
ou apenas se calaram, ou fecharam os longos ouvidos
à vossa inútil voz passada
em sujos espelhos buscando
o rosto e as lágrimas que (eu é que sei!)
me pertenciam, pois era eu quem chorava.
Um bancário calculava
que tínheis curto saldo
de metáforas; e feitas as contas
(porque os tempos iam para contas)
a questão era outra e ainda menos numerosa
(e seguramente, aliás, em prosa).
Agora, passando ainda para sempre,
olhais-me impacientemente;
como poderíamos, vós e eu, escapar
sem de novo o trair, a esse olhar?
Levai-me então pela mão, como nos levam
os filhos pela mão: sem que se apercebam.
Partiram todos, os salões onde ecoavam
ainda há pouco os risos dos convidados
estão vazios; como vós agora, meus livros:
papéis pelo chão, restos, confusos sentidos.
E só nós sabemos
que morremos sozinhos.
(Ao menos escaparemos
à piedade dos vizinhos)
***
Chamaram-vos tudo, interessantes, pequenos, grandes,
ou apenas se calaram, ou fecharam os longos ouvidos
à vossa inútil voz passada
em sujos espelhos buscando
o rosto e as lágrimas que (eu é que sei!)
me pertenciam, pois era eu quem chorava.
Um bancário calculava
que tínheis curto saldo
de metáforas; e feitas as contas
(porque os tempos iam para contas)
a questão era outra e ainda menos numerosa
(e seguramente, aliás, em prosa).
Agora, passando ainda para sempre,
olhais-me impacientemente;
como poderíamos, vós e eu, escapar
sem de novo o trair, a esse olhar?
Levai-me então pela mão, como nos levam
os filhos pela mão: sem que se apercebam.
Partiram todos, os salões onde ecoavam
ainda há pouco os risos dos convidados
estão vazios; como vós agora, meus livros:
papéis pelo chão, restos, confusos sentidos.
E só nós sabemos
que morremos sozinhos.
(Ao menos escaparemos
à piedade dos vizinhos)
***
MANUEL ANTÒNIO PINA
Monday, October 15, 2012
Saturday, October 13, 2012
Conversa na estação de Tiergarten
Sim, somos do Sul.
Teve razão em reparar em nós.
Somos aqueles que passámos de pedreiros e mulheres a dias,
que cumpriam as suas tarefas com modéstia e simplicidade,
a devedores alegres e inconscientes,
que vivem a custa dos sacrifícios
dos operários da Renânia -Palatinado. Somos nós mesmos, gnaedige Frau
Que lhe posso dizer mais? O seu povo sabe bem o que é culpa
e sacrifício.
O meu talvez não.
Mas, sabe, há uma questão menor que às vezes me ocorre:
porque andam tão zangados os nossos ricos,
agora que estão a ganhar todas as guerras?
Será que se lhes ocorre (a eles que tão pouco lêem)
Stalingrad?
Teve razão em reparar em nós.
Somos aqueles que passámos de pedreiros e mulheres a dias,
que cumpriam as suas tarefas com modéstia e simplicidade,
a devedores alegres e inconscientes,
que vivem a custa dos sacrifícios
dos operários da Renânia -Palatinado. Somos nós mesmos, gnaedige Frau
Que lhe posso dizer mais? O seu povo sabe bem o que é culpa
e sacrifício.
O meu talvez não.
Mas, sabe, há uma questão menor que às vezes me ocorre:
porque andam tão zangados os nossos ricos,
agora que estão a ganhar todas as guerras?
Será que se lhes ocorre (a eles que tão pouco lêem)
Stalingrad?
Monday, October 8, 2012
Ruy Belo, portugalês
PEREGRINO E HÓSPEDE SOBRE A TERRA
Meu único país é sempre onde estou bem
é onde pago o bem com sofrimento
é onde num momento tudo tenho
O meu país agora são os mesmos campos verdes
que no outono vi tristes e desolados
e onde nem me pedem passaporte
pois neles nasci e morro a cada instante
que a paz não é palavra para mim
O malmequer a erva o pessegueiro em flor
asseguram o mínimo de dor indispensável
a quem na felicidade que tivesse
veria uma reforma e um insulto
A vida recomeça e o sol brilha
a tudo isto chamam primavera
mas nada disto cabe numa só palavra
abstracta quando tudo é tão concreto e vário
O meu país são todos os amigos
que conquisto e que perco a cada instante
Os meus amigos são os mais recentes
os dos demais países os que mal conheço e
tenho de abandonar porque me vou embora
pois eu nunca estou bem aonde estou
nem mesmo estou sequer aonde estou
Eu não sou muito grande nasci numa aldeia
mas o país que tinha já de si pequeno
fizeram-no pequeno para mim
os donos das pessoas e das terras
os vendilhões das almas no templo do mundo
Sou donde estou e só sou português
por ter em portugal olhado a luz pela primeira vez
RUY BELO
Meu único país é sempre onde estou bem
é onde pago o bem com sofrimento
é onde num momento tudo tenho
O meu país agora são os mesmos campos verdes
que no outono vi tristes e desolados
e onde nem me pedem passaporte
pois neles nasci e morro a cada instante
que a paz não é palavra para mim
O malmequer a erva o pessegueiro em flor
asseguram o mínimo de dor indispensável
a quem na felicidade que tivesse
veria uma reforma e um insulto
A vida recomeça e o sol brilha
a tudo isto chamam primavera
mas nada disto cabe numa só palavra
abstracta quando tudo é tão concreto e vário
O meu país são todos os amigos
que conquisto e que perco a cada instante
Os meus amigos são os mais recentes
os dos demais países os que mal conheço e
tenho de abandonar porque me vou embora
pois eu nunca estou bem aonde estou
nem mesmo estou sequer aonde estou
Eu não sou muito grande nasci numa aldeia
mas o país que tinha já de si pequeno
fizeram-no pequeno para mim
os donos das pessoas e das terras
os vendilhões das almas no templo do mundo
Sou donde estou e só sou português
por ter em portugal olhado a luz pela primeira vez
RUY BELO
Apoptose
(...) La finance dispose donc des moyens de neutraliser toute tentative de réduire la nocivité de ses pratiques. Elle s’est immunisée contre les efforts engagés par la communauté pour la protéger contre un nouvel effondrement, efforts motivés bien entendu par le souci de se prémunir contre les conséquences économiques et sociales d’une telle catastrophe.
Toute mesure préventive d’un nouveau désastre étant systématiquement désamorcée, celui-ci devient inéluctable. Si les mécanismes par lesquels le monde financier met en œuvre ce comportement suicidaire ne fait pas mystère, sa motivation demeure cependant problématique.
Dans son livre intitulé « Effondrement » (2005), le biologiste Jared Diamond mentionne parmi les raisons pour lesquelles des civilisations anciennes sont mortes, l’incapacité de leurs élites et de leurs gouvernements à se représenter clairement le processus d’effondrement en cours ou, si elles en ont pris conscience, leur incapacité à le prévenir en raison d’une attitude de défense « court-termiste » de leurs privilèges.
Dans son livre intitulé « Effondrement » (2005), le biologiste Jared Diamond mentionne parmi les raisons pour lesquelles des civilisations anciennes sont mortes, l’incapacité de leurs élites et de leurs gouvernements à se représenter clairement le processus d’effondrement en cours ou, si elles en ont pris conscience, leur incapacité à le prévenir en raison d’une attitude de défense « court-termiste » de leurs privilèges.
Les comportements suicidaires ne sont pas absents du monde naturel : on les rencontre par exemple dans la physiologie de la cellule. C’est le phénomène de l’« apoptose » ou « mort cellulaire programmée », quand la cellule entame son autodestruction parce qu’elle reçoit des messages chimiques signalant la mort inévitable de l’organe auquel elle appartient. Souhaitons que ce n’est pas simplement à cela que nous assistons, Arnold J. Toynbee, illustre philosophe de l’histoire, nous a en effet prévenus : « Les civilisations ne meurent pas assassinées, a-t-il écrit, elles se suicident ».
(Paul Jorion)
Sunday, October 7, 2012
Memória
Se tudo o que escreveste foi gravado na parede fria da tua solidão,
algumas palavras ficarão talvez para os que te lerem,
mas da parede fria, dessa ninguém guardará memória.
algumas palavras ficarão talvez para os que te lerem,
mas da parede fria, dessa ninguém guardará memória.
Poética de domingo
Algumas frases deixadas de lado:
ninguém lhes pegou,
mesmo quando ao dizê-las pensavas poder trazer para junto de ti
uma mente que te atraía, que te falava de algo novo,
um coração que, sem tu saberes porquê, se afastava para longe
ou um corpo que fazia da tua imaginação sua presa já vencida.
E dizer que é com essas frases que se fazem os poemas.
ninguém lhes pegou,
mesmo quando ao dizê-las pensavas poder trazer para junto de ti
uma mente que te atraía, que te falava de algo novo,
um coração que, sem tu saberes porquê, se afastava para longe
ou um corpo que fazia da tua imaginação sua presa já vencida.
E dizer que é com essas frases que se fazem os poemas.
Saturday, October 6, 2012
Metamorfoses do riso
Juro que me ri contigo. Porque foi então que disseste
"nunca te vi olhar assim tão triste"
e te afastaste depressa,
como se quisesses ir chorar às escondidas?
E eu juro-te que ria. Como me rio agora,
neste poema.
"nunca te vi olhar assim tão triste"
e te afastaste depressa,
como se quisesses ir chorar às escondidas?
E eu juro-te que ria. Como me rio agora,
neste poema.
Conceito de História
E às vezes a noite dura todo o dia
e às vezes o leite fica à porta:
não importa que cresça a manhã fria,
não importa que a casa esteja morta.
Demorou já demais nossa estadia
e nós com os sapatos por atar.
Enrolados nos panos, no que havia,
temos o corpo pronto para andar.
Não importa que cresça a morte fria
nem que o leite coalhe junto à porta.
Alguém dará sentido a este dia,
seu brilho irá durar numa mão morta.
A história de uma vida pouco é mais
do que a História que lemos nos jornais.
e às vezes o leite fica à porta:
não importa que cresça a manhã fria,
não importa que a casa esteja morta.
Demorou já demais nossa estadia
e nós com os sapatos por atar.
Enrolados nos panos, no que havia,
temos o corpo pronto para andar.
Não importa que cresça a morte fria
nem que o leite coalhe junto à porta.
Alguém dará sentido a este dia,
seu brilho irá durar numa mão morta.
A história de uma vida pouco é mais
do que a História que lemos nos jornais.
Friday, October 5, 2012
Antes da queda
Cada dia contém uma nova ameaça,
por isso a nossa vida nunca está imóvel.
Mexes os braços durante a noite, quase acordas,
mas deixo-te respirar, sossega agora.
O dia vai trazer a sua carga de penas,
de culpas, de indefinidas faltas
por saldar.
Dorme, por enquanto. Amanhã é um novo dia.
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