Anoitece no porto de Amesterdão.
Eu nunca sei ao certo onde fui feliz,
mas sei onde me sinto livre:
nas cidades onde não tenho história,
onde nada de mim deixei,
onde uma rua é apenas uma rua e não um encontro antigo,
onde nenhum rosto passado vejo surgir em qualquer lugar,
à mesa do restaurante onde nos juntávamos,
à esquina em que nos vimos sorrir ao mesmo tempo,
no quarto pequeno ao fundo do apartamento amigo,
em todos os assaltos da memória ao coração.
Somos livres onde não temos história,
o coração atento nada lembra:
mas tu junto de mim sorris e dizes-me
onde comprámos flores à beira do canal.
Ó Alcipe quem escreve assim torna-me tão pequena!
ReplyDeleteMas vai directo ao lado mais escondido de todos nós. Apenas duvido que sejamos livres onde não temos história.
A minha liberdade está profundamente ligada à minha história, à minha memória. De mim, dos meus, e dos outros que atravessaram a rua da minha vida!
Se quem escreve tornasse os leitores mais pequenos, bem pobre escritor seria! Antes seria como o "velho abutre" da Sophia, cujos discursos "tornavam as almas mais pequenas". Não sou tão presunçoso que venha dizer que quem me lê se engrandece, mas também não sou tão modesto que possa dizer que quem me lê fica mais pequeno!
ReplyDeleteSim, a memória é o que faz de nós o que somos. Mas não lhe apetece às vezes ser outra pessoa?
a) Alcipe
Meu querido Alcipe
ReplyDeleteHoje, sei lá bem porquê, é assim que me apetece trata-lo.
De facto, algumas vezes, desejo ser outra pessoa, tornar-me condor, voar alto. Mas sempre que isso acontece não é a liberdade que está em causa. É a fuga, a necessidade de ser outra cuja liberdade não é escolhida. E, para mim, a liberdade é basicamente escolha. Que se tem a coragem ou o medo de fazer.
Roubei-o e reproduzi-o, com todos os créditos, no meu Fio de prumo. Este seu texto, poético, tocou-me de forma particular!
Repare com que ironia a memória aparece no fim, a lembrar umas flores compradas em tempos idos nesta mesma Amesterdão...
ReplyDeleteÓ se reparei...
ReplyDeleteE lembro-me de como fui feliz em Amsterdam!
Gostaria de saber se me cede este poema para
ReplyDeleteeu inserir no meu blogue http://sinfoniaesol.
wordpress.com com os devidos créditos.
Basta que deixe um comentário.Gostei muito dele
e nesse blogue insiro poesia que me é cedida.
Antecipadamente grata.
Um abraço
Irene Alves
Claro que sim!
DeleteDans le port d'Amsterdam y a des marins qui chantent, qui mangent, qui boivent et qui boivent et reboivent encore
ReplyDeletemais à Hambourg, au ciel de pluie,
Laisse donc là tous tes marins !
Laisse donc la mer, et puis viens
quand les nuages vont à pas lents,
comme s'en vont les lourds chalands,
le long des quais, crevant d'ennui,
etc
mas que que têm os portos que provocam nostalgia, desejo de ir ou de não deixar partir?
Obrigada pelo belissimo poema. Como eu o entendo.......
ReplyDeleteSomos livres onde nâo temos história, e livres nos nossos sonhos.
Carmen
A velha senhora retomas as impertinências, caro Alcipe e cara Helena Sacadura Cabral. Bastam-lhe dois ou três Alvarinhos para 'desconseguir' ficar calada. Perdoai-lhe, que já não sabe o que diz, de velha e cansada:
ReplyDeleteai filha filho ternuras
derretem-me o coração
o vinho a mim dá tremuras
não subo assim às alturas
em que um e outra lá vão
brincando nesse entretém
enquanto a morte não vem
tirar tim tim do seu rumo
quebrar o fio de prumo
funesta velha que estou
seu belo poema amigo
lembrou-me o campos antigo
jazigo - porquê?- me evocou
comigo quase acabou
Sem palavras...
ReplyDeleteAi esta Velha Senhora hoje está muito melancólica. Beba um pouco mais, minha amiga, deixe-se de passados, viva o presente enquanto o tem!
ReplyDeleteE mesmo que não suba às alturas, lembre-se que o voo plano também tem os seus encantos...
Je brave les interdits et souscris la "Velha Senhora" qui dit, haut, ce que d'autres pensent et n'ousent pas dire.
ReplyDelete