Ora o primeiro erro dos Antimaçons consiste em tentar definir o espírito maçónico em geral pelas afirmaçőes de Maçons particulares, escolhidas ordinariamente com grande má fé.
O segundo erro dos Antimaçons consiste em năo querer ver que a Maçonaria, unida espiritualmente, está materialmente dividida, como já expliquei. A sua açăo social varia de país para país, de momento histórico para momento histórico, em funçăo das circunstâncias do meio e da época, que afetam a Maçonaria como afetam toda a gente. A sua açăo social varia, dentro do mesmo país, de Obedięncia para Obedięncia, onde houver mais que uma, em virtude de divergęncias doutrinárias as que provocaram a formaçăo dessas Obedięncias distintas, pois, a haver entre elas acordo em tudo, estariam unidas. Segue daqui que nenhum ato político ocasional de nenhuma Obedięncia pode ser levado ŕ conta da Maçonaria em geral, ou até dessa Obedięncia particular, pois pode provir, como em geral provém, de circunstâncias políticas de momento, que a Maçonaria năo criou.
Resulta de tudo isto que todas as campanhas antimaçónicas baseadas nesta dupla confusăo do particular com o geral e do ocasional com o permanente estăo absolutamente erradas, e que nada até hoje se provou em desabono da Maçonaria. Por esse critério o de avaliar uma instituiçăo pelos seus atos ocasionais porventura infelizes, ou um homem por seus lapsos ou erros ocasionais que haveria neste mundo senăo abominaçăo? Quer o Sr. José Cabral que se avaliem os papas por Rodrigo Bórgia, assassino e incestuoso? Quer que se considere a Igreja de Roma perfeitamente definida em seu íntimo espírito pelas torturas dos Inquisidores (provenientes de um uso profano do tempo) ou pelos massacres dos albigenses e dos piemonteses? E contudo com muito mais razăo se o poderia fazer, pois essas crueldades foram feitas com ordem ou com consentimento dos papas, obrigando assim, espiritualmente, a Igreja inteira.
FERNANDO PESSOA
Declaração de interesses: não sou, nunca fui maçon e nunca tive interesse em sê-lo.
ReplyDeleteEste erro é, infelizmente, muito comum entre nós. E é comum, porque estamos habituados a tomar a árvore pela floresta!
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