"O devedor, para inspirar confiança relativamente à sua promessa de reembolso, para oferecer uma garantia da seriedade sagrada da sua promessa, inclusivamente para reforçar na sua própria consciência a obrigação, o dever do reembolso, empenha ao credor - por força de um contrato que será aplicado no caso de não haver pagamento - uma outra coisa que "possua", sobre a qual exerça algum poder, por exemplo o corpo ou a mulher ou a sua liberdade pessoal ou mesmo a vida (...). O credor podia nomeadamente infligir ao corpo do devedor toda a espécie de humilhações e de torturas, por exemplo cortar bocados na quantidade que lhe parecesse apropriada ao tamanho da dívida (...). A equivalência é estabelecida na medida em que, em vez de uma vantagem que compensasse directamente o prejuízo (...) o credor recebe como reembolso e indemnização uma espécie de satisfação interior, a satisfação de, sem remorso, poder exercer o seu poder sobre um impotente, a volúpia de "faire le mal pour le plaisir de le faire", o gozo de violentar, gozo esse que é tanto mais apreciado quanto mais baixo o credor estiver na escala social."
Nietzsche, Para a Genealogia da Moral, II, 4
Nietzsche, Para a Genealogia da Moral, II, 4
Salut, mon cher Alcipe!
ReplyDeleteTão certeira a escolha. E através das palavras consagradas, poder relembrar a mensagem e passa-la.
Sempre me rendi à inteligência. Mas quando esta se alia à finíssima subtileza, fico maravilhada...