Friday, December 30, 2011

Monday, December 26, 2011

Até amanhã, camaradas

"Cet avenir, qui germe dans le laboratoire de sauvetage de l'euro, dont il est pour ainsi dire un effet secondaire intentionnel, ressemble effectivement, j'ose à peine le dire, à une variante européenne tardive de l'Union soviétique. L'économie planifiée centralisée ne consiste plus ici à élaborer des plans quinquennaux pour produire des biens et des services mais pour réduire la dette. Leur application est confiée à des "commissaires" qui, sur la base de "mécanismes de sanction" (Angela Merkel), sont habilités à tout mettre en oeuvre pour détruire les villages Potemkine de pays notoirement endettés. On connaît le destin de l'Union soviétique."

(Ulrich Beck, in Le Monde, 27 de Dezembro) 

Thursday, December 22, 2011

Ainda queria mais?


Papa diz que Europa é incapaz de fazer sacrifícios

Um pinheiro no Tibet


Wednesday, December 21, 2011

Tu quoque, Brutus?

A agência Moody´s avisou o Reino Unido de que a nota (rating) estável triplo-A da sua dívida soberana tem “uma reduzida capacidade” para absorver mais choques macroeconómicos ou fiscais sem implicações no seu nível, que está no topo da escala.

Contra a germanofobia (2)

O surgimento de uma sociedade internacional em que os Estados (ou as uniões de Estados) constituem apenas uma categoria de sujeitos ou agentes entre os demais (empresas multinacionais, bancos, mafias), num mundo em que se abrem cada vez mais "zonas de ungovernance",  foi aventada por Susan Strange, antes da actual crise, em que os Estados têm vindo a revelar, um a um, a sua impotência.

(Cf. Susan Strange, The Retreat of the State. The Diffusion of Power in World Economy, Cambridge University Press, 1996)

Parece-me, assim, uma perspectiva inactual, por demasiado "westphaliana", falar de uma irresistível "vontade de poder" alemã, que estaria  na base das opções da Sra. Merkel. A Alemanha está a ser tão arrastada pelos "sujeitos não estatais" como todos os outros. Está é a responder a situações novas com ideias velhas. Como todos os outros. Como todos nós.


Sunday, December 18, 2011

Rule Britannia


Crise na zona euro: Relações Exteriores tem plano de retirada de expatriados" é a manchete do jornal The Daily Telegraph. O jornal afirma que os britânicos que vivem em Espanha e em Portugal "podem ter ajuda do Governo para deixarem os países se a crise na zona euro arrastar os seus bancos" e eles deixarem de "ter acesso às suas contas bancárias". 
Segundo o jornal, vivem em Espanha cerca de um milhão de britânicos e 55 mil em Portugal. Ao jornal Sunday Times, o Ministério das Finanças confirmou os planos, mas recusou-se a dar mais detalhes.  
O Ministério das Relações Exteriores disse ao diário que se está a preparar para um "cenário de pesadelo", com milhares de britânicos sem dinheiro a dormir nos aeroportos e sem meios para chegar a casa.  
Entre os planos de contingência que o Governo está a preparar consta o envio de aviões, navios e autocarros. Segundo uma fonte daquele ministério, os planos estão a ser debatidos para entrarem em acção caso se verifique o pior cenário.  
Em causa está a crise da dívida soberana nos países da zona euro que tem estado sobre foco nos principais mercados.

Rule Britannia

Fartos estamos nós de Luís Figo!

Mas quer vender tudo em Portugal por pagar muitos impostos?
Não, quero vender porque estou um bocado farto disto. 



(Luís Figo, grande futebolista, orgulho de Portugal)

Ainda Goa: testemunho de Constantino Xavier



A Índia eliminou há muito os complexos do passado. Lembro-me da estupefacção entre diplomatas portugueses quando, numa recente visita a Lisboa, um oficial da Marinha indiana enalteceu Goa como símbolo de "fusão dos valores luso-indianos" e se referiu a Vasco da Gama como "o descobridor que nos abriu as portas ao mundo". Isto só pode surpreender se continuarmos a ignorar que a maioria dos indianos se orgulha do que Portugal deixou na Índia.Investigador, Universidade Johns Hopkins, EUA Constantino.xavier@gmail.com
(no Público de hoje)

Lembrando Goa

Hoje, 18 de Dezembro


Lembrar-me-ei sempre daquela conferência de imprensa, no final da cimeira luso-indiana em 2007. O Primeiro Ministro Manmohan Singh declarou nessa ocasião "reconhecer e valorizar gratamente o contributo dado à Índia pela presença de Portugal em Goa, Damão e Diu". Os colegas indianos enviaram-nos sorrisos de congratulação e (até) de surpresa.

Mas nem uma palavra desta declaração veio referida sequer na nossa imprensa.  A jornalista portuguesa que estava na conferência perguntou, sim, com pretensões patrióticas e pronúncia lisboeta :  "Como se sente Portugal, depois de ter dominado no passado o comércio com o Oriente, ao vir agora solicitar investimentos à Índia?"

As gargalhadas subsequentes dos colegas indianos far-me-ão sempre recordar aquela rapariga tão patriota...    

Saturday, December 17, 2011

Entre o Papa e Lutero


Voilà pourquoi une Europe uniquement allemande est gravement menacée. La rigueur budgétaire est nécessaire comme politique mais pas comme idéologie.
Comment en sortir? On peut être pessimiste si cela relève du dialogue des religions: entre le pape et Luther, aucune synthèse n'a jamais été trouvée. Si l'Allemagne accepte de venir sur le terrain du pragmatisme, tout est possible. Mais encore faut-il que le monde latin l'occupe et avance des arguments sérieux.
Or, et on ne le dira jamais assez, c'est là le fond du problème: la France n'a plus d'idée européenne. L'Allemagne n'a pas d'idée du monde, il faut lui en soumettre une, mais la France est incapable de livrer le début du commencement d'une théorie de la mondialisation, sauf à radoter que l'Europe doit dépenser et se protéger. Argument papal, non recevable outre-Rhin.
Qu'est-ce qu'un modèle de modernité européenne intégrant les deux nouvelles puissances réelles d'aujourd'hui, les marchés financiers et la Chine? Il n'y aura pas d'Europe sans réponse aux questions en profondeur d'un Schäuble. Le dialogue franco-allemand doit rénover l'idée de justice sociale, de solidarité entre générations, de capitalisme modéré. Et vite. Tous les jours, l'autre monde écrase l'Europe, la France et l'Allemagne.
Eric Le Boucher
Chronique également parue dans Les Echos

À saúde de Eduardo Lourenço


"Seria necessária uma malícia sublime, uma suprema malícia do conhecimento, consciente de si própria, que é parte integrante da grande saúde; seria necessária - para dizer em poucas palavras e de forma terrível - precisamente essa grande saúde! E será que ela ainda é possível?"

(Nietzsche, Para a Genealogia da Moral, II, 24)

Para Eduardo Lourenço, que sempre manteve, no meio de nós, a saúde da sua inteligência e a malícia do seu saber.

Friday, December 16, 2011

Nietzsche sobre a dívida

"O devedor, para inspirar confiança relativamente à sua promessa de reembolso, para oferecer uma garantia da seriedade sagrada da sua promessa, inclusivamente para reforçar na sua própria consciência a obrigação, o dever do reembolso, empenha ao credor - por força de um contrato que será aplicado no caso de não haver pagamento - uma outra coisa que "possua", sobre a qual exerça algum poder, por exemplo o corpo ou a mulher ou a sua liberdade pessoal ou mesmo a vida (...).  O credor podia nomeadamente infligir ao corpo do devedor toda a espécie de humilhações e de torturas, por exemplo cortar bocados na quantidade que lhe parecesse apropriada ao tamanho da dívida (...). A equivalência é estabelecida na medida em que, em vez de uma vantagem que compensasse directamente o prejuízo (...) o credor recebe como reembolso e indemnização uma espécie de satisfação interior, a satisfação de, sem remorso, poder exercer o seu poder sobre um impotente, a volúpia de "faire le mal pour le plaisir de le faire", o gozo de violentar, gozo esse que é tanto mais apreciado quanto mais baixo o credor estiver na escala social."

Nietzsche, Para a Genealogia da Moral, II, 4   

Thursday, December 15, 2011

A ética protestante e o espírito do capitalismo

A intervenção do Presidente do Bundesbank, comparando o problema das dívidas soberanas com o vício do alcoolismo, mostra bem como voltámos na Europa ao tempo das guerras religiosas.

É Lutero que levanta contra Roma a espada e o crucifixo!   

Tuesday, December 13, 2011

Natal e não Dezembro


Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira

Monday, December 12, 2011

Boas Festas


Mário Miranda

Adeus, Mário. Goa ficou mais pobre e nós também.

Saturday, December 10, 2011

A Europa alemã

"Allemagne, notre mère à tous"
(Gérard de Nerval)

à memória de Heinrich Heine

É pela beira do Reno
que hoje me ponho a pensar
e o sossego que temo
faz-se de um adivinhar

de brumas e de rigor
que fazem perder a graça
de Deus e o seu amor
ao que fomos e ao que passa.

Lutero joga ao diabo
o tinteiro na parede:
joguemos sobre o passado
as malhas da velha rede,

a que emerge entre ruínas
e sabe de piores sinas.

Sunday, December 4, 2011

Contra a germanofobia


Podemos ser rigorosamente críticos das posições monetaristas e moralistas da chanceler Angela Merkel. Mas não podemos nunca descambar na germanofobia. A Alemanha é uma grande democracia, hoje colocada numa posição dominante e tendencialmente hegemónica na Europa. Segue uma política em relação à crise que muitos (e dos melhores) consideram cega, ideológica e conducente a um desastre a que a própria Alemanha não escapará. Mas não devemos ter medo da Alemanha - devemos ter medo das políticas que neste momento a Alemanha preconiza.

Saturday, December 3, 2011

Coliseu 2 de Dezembro de 2011

Coliseu, 2 de dezembro de 2011


A festa é do fado e de Lisboa
e o nosso coração esquece mágoas
na lucidez sem paz em que ressoa
o quanto o tempo escorre em turvas águas.

Que sempre o nosso riso teve mágoa
a turvar de vazio o que é contente
e sempre o sol morreu desfeito em água
a apontar para nós o que é ausente.

A festa é do fado e de Lisboa
mas a pura alegria de repente
perdeu rimas e tons e se não voa
é porque olhou mais longe que o presente.

Dou-te a festa e o riso que mais dura
mas nunca o nosso mal irá ter cura.

Thursday, December 1, 2011

À Alemanha

Provérbios da crise

"Si les évènements nous dépassent, feignons de les organiser"

(Jean Cocteau)

Um estilo alemão

Bismarck's greatness lay not in mastering events, but in going with events so as to seem to master them.

(A.J.P. Taylor)