Sunday, April 26, 2009

Memória pessoal

A Revolução, quando na cidade passavam

as suaves raparigas, a Revolução,

o ciclópico acto, o dever comunista

inscrito no devir: 

os seus conceitos eram duros como a pedra

dos poemas de Sophia ou de Cabral:

Marx lido pelas Grandes Écoles de Paris,

 conceitos de rigor impiedosos;

 

e a operariazinha de Santa Iria de Azóia, encontrada

num convívio de estudantes e trabalhadores,

que corou de repente ao despedir-se de mim

(Avante, camarada, avante : deveria?).

 

Os papéis colados pelos muros

na policiesca noite da Lisboa,

os poemas medíocres que cantávamos

e a polícia a carregar por dentro das escolas,

para eu te levar pela mão até à rua…

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