Monday, April 7, 2014

O Senhor Poeta e o Senhor Kappus

É quando pesam demais as palavras,
quando se rompe a ordem natural que as suporta,
é nesse momento
que as palavras caem, como frutos maduros, na poesia.
Eu escrevi isso, Senhor Kappus, e agora digo-lhe que o poema
não é uma epifania nem uma consagração:
são as palavras que caem, abatidas pela vida,
e esperam por nós para se erguerem,
como se a música assim pudesse permanecer.

Porque sabemos que temos de continuar,
não porque não pudéssemos viver sem a poesia.
mas porque não sabemos mais fazer outra coisa,
o universo das nossas possibilidades, o infinito das nossas determinações
reduz-se à palavra que cai nas suas mãos, Senhor Poeta,
nas suas mãos que não sabem fazer música.






8 comments:

  1. Gosto imenso desta série de poemas. Oportunos, certeiros, e com aquele quase humor que nos deixa um bocado tristes.

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  2. não, não, não, not at all, pas du tout, ni pensar, neanche pensarci, vejamos, há palavras que eu nunca admitiria em poesia, pesadas ou leves, maduras ou verdes, novas ou velhas, vivas ou mortas, mas quem sou eu, simples leitor e amador...
    sim, deve haver sempre alternativas, etc etc

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  3. O Senhor Branco quer vir tomar um café connosco?

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  4. A 'velha senhora', que diz seguir com muito interesse a saga do Senhor Kappus, interroga-se sobre o comentário do Senhor Branco:

    são palavras tais como esta
    (abaixo, segundo verso)
    que pessoa não detesta,
    o perverso,

    mas que nunca b. patrício,
    ni pensar, admitiria
    que tivessem uso e ofício
    em poesia?

    ****

    A alma humana é porca como um ânus
    E a Vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações.

    Meu coração desgosta-se de tudo com uma náusea do estômago.
    A Távola Redonda foi vendida a peso,
    E a biografia do Rei Artur, um galante escreveu-a.
    Mas a sucata da cavalaria ainda reina nessas almas, como um perfil distante.

    Está frio.
    Ponho sobre os ombros o capote que me lembra um xaile —
    O xaile que minha tia me punha aos ombros na infância.
    Mas os ombros da minha infância sumiram-se antes para dentro dos meus ombros.
    E o meu coração da infância sumiu-se antes para dentro do meu coração.

    Sim, está frio...
    Está frio em tudo que sou, está frio...
    Minhas próprias ideias têm frio, como gente velha...
    E o frio que eu tenho das minhas ideias terem frio é mais frio do que elas.

    Engelho o capote à minha volta...
    O Universo da gente... a gente... as pessoas todas!...
    A multiplicidade da humanidade misturada
    Sim, aquilo a que chamam a vida, como se só houvesse outros e estrelas...
    Sim, a vida...
    Meus ombros descaem tanto que o capote resvala...
    Querem comentário melhor? Puxo-me para cima o capote.

    Ah, parte a cara à vida!
    Levanta-te com estrondo no sossego de ti!

    (Álvaro de Campos)

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  5. Eu sempre disse ao Senhor Poeta para nao abusar da pinga...

    a) Kappus

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  6. senhor alcipe, sim, com prazer, obrigado, gosto de café preto, expresso, forte, curtinho, tenho horários, às 12h, às 17h e às 21h depois do jantar, mas fora e combinado pode ser a outras horas tambem. o café acompanha bem a poesia, afinal

    há as palavras gastas pela própria poesia responsavel por esse uso e abuso e há as palavras que amadurecem e só então estarão prontas para usar em poesia, que é o que o poeta parece querer dizer a kappus
    caro anonymus, magnifico poema da alvaro de campos que não conhecia, obrigado, todas as palavras, incluindo três do 1ro distico, se renderam à poesia magistral do poeta que as domou, etc etc

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  7. Esta 'velha senhora' não sabe calar-se:

    de alcipe não escondo nada
    concordo amor co'o que diz
    eu queria era coitada
    voltar porra a ser feliz

    não tem que ser em paris

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  8. desculpem, enganei-me no envio: a quintilha acima - ou lá o que é - comenta o post de 6 de abril e não este.

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