Face às grandes emoções colectivas, Senhor Kappus,
verá que jamais se conseguirá libertar dessa distância
que o comércio com as palavras levantou entre si
e a retórica das proclamações.
Não é um mal nem um bem, repare:
tal não o inibirá de desfilar com os outros,
de cantar a plenos pulmões cantigas como armas
e de continuar a conspirar em sótãos
através das idades. Não.
Apenas uma surda e irónica distância
entre si e as palavras
o fará suspender por vezes a sua convicção
e vaguear os seus olhos por todas as coisas da terra.
Por uma vez sem exemplo, Senhor Kappus,
deixo-o hoje com a citação
de um poema inteiro:
Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada
De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse
Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
verá que jamais se conseguirá libertar dessa distância
que o comércio com as palavras levantou entre si
e a retórica das proclamações.
Não é um mal nem um bem, repare:
tal não o inibirá de desfilar com os outros,
de cantar a plenos pulmões cantigas como armas
e de continuar a conspirar em sótãos
através das idades. Não.
Apenas uma surda e irónica distância
entre si e as palavras
o fará suspender por vezes a sua convicção
e vaguear os seus olhos por todas as coisas da terra.
Por uma vez sem exemplo, Senhor Kappus,
deixo-o hoje com a citação
de um poema inteiro:
Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada
De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse
Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
ou sobre o mau uso da palavra e kappus leu e pensou e onde está um poema de natercia freire que invoca as palavras, não encontro, outros poetas se ocupam da palavra etc
ReplyDeleteOs poetas só se ocupam mesmo das palavras, Patrício Branco.
ReplyDelete