Alguns dizem não deixaremos a poesia,
ela atravessará connosco a miséria do mundo
e aonde quer que cheguemos ela falará por nós.
Outros pensam só num resto de decência,
para a proteger com as mãos, como uma frágil chama
se protege do vento.
Eu não sei. Todos os poemas queimados em praça pública
por louros estudantes arianos e belos,
todos os poetas exilados
em campos de trabalho e redenção pelo povo,
todos os que tiveram de passear
sob apupos e com orelhas de burro na cabeça,
porque burgueses afinal burgueses,
todos esses tiveram o seu prémio afinal.
Para os novos senhores é indiferente:
um simples jogo de linguagem sem pertinência
e sem valor acrescentado nas palavras
não lhes merece qualquer menção. Deixam-nos para trás,
porque somos todos nós afinal tão supérfluos e irrelevantes
como as palavras que caem
dos nossos livros mortos*
*(guilhotinados, sim, guilhotinados,
como a pobre Maria Antonieta,
depois da gaffe dos brioches).
Ao fim de um determinado número de anos (dez a quinze), todos os exemplares não vendidos de uma edição de um livro são guilhotinados (destruídos) pelos editores
(nota do autor)
ela atravessará connosco a miséria do mundo
e aonde quer que cheguemos ela falará por nós.
Outros pensam só num resto de decência,
para a proteger com as mãos, como uma frágil chama
se protege do vento.
Eu não sei. Todos os poemas queimados em praça pública
por louros estudantes arianos e belos,
todos os poetas exilados
em campos de trabalho e redenção pelo povo,
todos os que tiveram de passear
sob apupos e com orelhas de burro na cabeça,
porque burgueses afinal burgueses,
todos esses tiveram o seu prémio afinal.
Para os novos senhores é indiferente:
um simples jogo de linguagem sem pertinência
e sem valor acrescentado nas palavras
não lhes merece qualquer menção. Deixam-nos para trás,
porque somos todos nós afinal tão supérfluos e irrelevantes
como as palavras que caem
dos nossos livros mortos*
*(guilhotinados, sim, guilhotinados,
como a pobre Maria Antonieta,
depois da gaffe dos brioches).
Ao fim de um determinado número de anos (dez a quinze), todos os exemplares não vendidos de uma edição de um livro são guilhotinados (destruídos) pelos editores
(nota do autor)
Embora arrepiante, é um facto. A menos que os queiramos comprar...ou arranjemos quem os compre.
ReplyDeleteDaqui a minha luta com as minhas editoras para não fazerem tiragens acima de 8000. E vá lá que me não posso queixar. Tenho um público fiel que prefere comprar o meu livro do que comprar uma camisola. Abençoados sejam, porque é deles que vivo...
problema complicado, que se faz com toneladas de livros (de papel) que não se vendem? que não são comprados? oferecê los a bibliotecas? distribui los gratuitamente nas ruas, universidades, prisões, hospitais, jardins? há muitas outras coisas que se reciclam, porque não um livro que não se vende, que passou o seu prazo de validade (oportunidade, popularidade)? dum livro triturado e já sem utilidade apodrecendo num armazém pode nascer outro novo.
ReplyDeletee se o conteúdo do livro é mau, sem valor literário ou cientifico?
em muitos países há os remainders, onde se compram optimos livros por quase nada, mas estas livrarias não consomem tudo, apenas uma pequena parte, mas são uteis.
talvez fosse correcto perguntar ao autor se quer alguns ou todos.
ou eventualmente fazer uma escolha de uns tantos para guardar, 4 ou 5 deste ou daquele autor.
claro, as situações tipo farenheit 451 são outra coisa, os autos da fé com livros.
mas sim, faz sempre pena ver guilhotinar livros, perdoemos lhes porque não sabem o que fazer?
mas o poema trata doutra situação, dos inimigos da cultura independente, dos carrascos de autores e suas obras, dos que são contra a liberdade do saber.
e isto, a leitura do poema, leva me naturalmente a uma situação associada, ao valor que terá a cultura para este governo que nos governa, e para outros, pois nenhum, assim o sinto e é evidente.
vou ver o que foi a gaffe dos brioches, uma piada ofensiva, o brioche é uma boa alternativa ao croissant, adequados para acompanhar o café com leite ao pequeno almoço.