Saturday, February 8, 2014

Da Poesia

SONETO

Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.

Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.

Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.

A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.

Carlos de Oliveira, in «Trabalho Poético». Ed. Assírio & Alvim.
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1 comment:

  1. carlos de oliveira fala do trabalho poetico, belo titulo, escrever poesia, compor poesia, se preferirrmos, é um genuino trabalho, isto recorda cesare pavese que diz mais ou menos o mesmo, mas vai mais longe, trabalhar cansa, diz o italiano, e o seu trabalho são os seus versos recolhidos debaixo desse título, é possivel, sabe se lá, que o poortuguês tenha sofrido ifluencias do italiano, não falo de aproximar titulos, nos anos 40 e 50 os portugueses seguiam como uma biblia os italianos, os neorealistas e outros, carlos de oliveira, como ne-realista, assim o classificam, teria lido cesare pavese, a poesia, pois é tudo conjecturas, mas este é um grande soneto, cheio de conteudo e ideias, existenciais, quem o acusará de desalento e mágoa? pois ele faz um aviso, que cantará a luz e que chegarà alegria, é esperar, vão ver, e está bem boa a do vinho da vingança, há portanto tambem raiva, etc etc

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